Apenas Um Olhar escrita por Dih_dangerous


Capítulo 10
Capítulo 04 - Última parte.


Notas iniciais do capítulo

Os personagens citados aqui pertecem á Masashi Kishimoto. A história pertence no entanto a minha amiga Rafa que meu deu autorização para poder posta-la !Boa leitura x3



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Nós já estávamos no terceiro andar, quando aconteceu – desgraça quando vem, não quer deixar serviço a desejar, te rouba desde a dignidade até a aquela sua pantufa do pateta que ninguém sabe que você tem – uma garotinha vinha descendo, pulando degrau por degrau, com lacinho na cabeça, uma bonequinha de pano e um vestido rodado azul pra esconder o rabo. Ela passou pelo Sasuke, e tudo bem continuou descendo, cantando um tra lá lá. Quando ela me olhou subindo, ela parou e ficou me encarando, com a maior cara de curiosidade. Tinha um bilhete na minha testa dizendo “Eu odeio os Backyardigans” ou coisa parecida?

— Anh, algum problema? – perguntei com a maior boa intenção do mundo.

— É que, moça, - ela falou com os olhos brilhando – me dá a sua peruca? – pediu do nada, ora claro eu raspo a minha cabeça e dou os fios pra ela fazer uma peruca e não chorar e virar uma criança traumatizada, até parece.

— Ah, não é peruca não, é meu mesmo – respondi sem graça. Não foi a primeira vez que meu cabelo diferente foi um problema.

— Então você não vai me dar? – falou com um choro engolido na garganta.

— Não posso ele é meu, amor – respondi sorrindo calmamente, tentando dizer de um modo que ela entendesse.

Ela não disse nada, só continuou a caminhar. Eu pensei que ela tinha entendido, que nada, crianças são muito vingativas, demônios em corpos de porquinhos da índia.

Eu continuei a subir os degraus, Sasuke agora já estava bem à frente. Ao chegar na metade do caminho para o quarto andar eu ouvi a voz da menininha lá em baixo, gritando: “Você é uma bruxa e é feia também! Idiota!” – ela não aprendeu a falar desse jeito com o Barney.

 Gritando isso ela atirou aquela boneca em mim, e a pestinha tinha pontaria porque me acertou na cabaça. A pancada fez com que eu me desequilibrasse, meu pé escorregou do degrau e eu caí. Igual jabuticaba madura. Rodei as escadas até voltar ao terceiro andar. E a garota saiu correndo, nem me ajudar a desgraça foi. Quando eu finalmente parei, fiquei de mau jeito com a cabeça encostada na parede e o cabelo, antes amarrado, agora totalmente bagunçado. Eu sentia uma dor aguda no pé direito, o machucado do meu joelho abriu e eu devia ter quebrado algumas costelas. Mesmo com toda aquela dor puxei tudo que me sobrava de forças e gritei o mais alto que meus pulmões permitiam:

VOCÊ NUNCA VAI ACHAR TINTA DE CABELO DESSA COR, PIRRALHA DO INFERNO!

E lá estava eu, faltando três andares para subir, parecendo uma cortocionista paraguaia. Eu percebi a sombra de alguém sobre mim. Papai Noel?

—  Você está bem? – era a voz do Sasuke, provavelmente ele viu a situação e voltou para me ajudar, menos mal.

—  Sim estou ótima. Na verdade achei essa posição tão confortável que eu vou ficar assim mais um pouquinho se você não se importar – aquilo lá era hora pra pergunta idiota?

" Ela deve estar ótima se tem tempo para piadinhas, essa garota é louca”. Sem sarcasmos. Consegue caminhar? – perguntou me ajudando a desenrolar as penas e os braços.
— Claro que eu consigo, eu já até estou... – eu tentei me levantar sozinha, mas senti uma dor horrível soltei um gemido indesejado – me sentando bem aqui para te mostrar que eu estou muito bem.

— Espera não se mexe, deixe-me ver seu tornozelo – disse se agachando e com a mão erguida – deve estar torcido – agora virou House é?

— Não precisa to legal.

— Sério?

Ele apertou meu tornozelo e eu gemi outra vez. Mas se eu chutasse ele nas áreas baixas ele também iria gemer.

— Você tem que colocar gelo aqui.

— Tudo bem, quando eu chegar em casa eu coloco – falei com a expressão de alguém que tinha acabado de chupar um limão bem azedo – valeu.

Ele suspirou descontente e abaixou-se de costas para mim.

— Sobe aqui nas minhas costas que eu te levo – falou desanimado – você não vai conseguir sozinha.

— Mas é que...

— Sobe logo, chega de ser teimosa – disse com um tom de voz passivo e firme.

Eu pisquei algumas vezes e totalmente embaraçada, subi nas costas dele devagar. Ele segurou minhas pernas e eu passei os braços por sobre seus ombros. Depois ele levantou-se e começou a subir os degraus, com cuidado e aleatoriamente.

Nenhuma palavra a mais foi trocada enquanto ele me carregava.

em posso descrever o quanto foi estranho. Pensando bem, acho que até posso, é tipo, sei lá, comer doce com salgado, chupar limão, beber pimenta, assistir novela mexicana. Tudo isso junto e misturado. Ele foi muito gentil comigo, e eu achava que ele me odiava, pela historia da sapatada sabe? Ele me chamou de tudo aquilo, eu fiquei puta com ele, disse também que ele era um filhinho de papai que me dava nojo. Se bem que ele não deu a mínima para meus insultos, e eu ficava odiada quando ele fazia cara de “To nem aí” para mim. Eu às vezes me pegava pensando nas suas atitudes – uma vez na vida, viu - tão intransigentes, tão estúpidas, e sempre acabavam deixando ele e Naruto em pé de guerra. E o mais engraçado é que, só na companhia de Naruto ele era diferente, não diferente sorrindo, conversando, brincando, fazendo palhaçadas como os outros. Diferente não sendo tão vilão de novela, não sendo tão sem sentimentos, ele era mais sincero, e Naruto sabia como se portar com ele – claro, sempre existe um período de vale-tudo onde eles se encaravam, faziam cara feia, se espancavam e ficavam todos cheios de machucados, mas eles superavam – era também frustrante não compreender o que se passa com essa criatura. O que o mundo havia feito com ele para acabar ficando daquele jeito. Será que comeram o último pedaço de pizza dele? Não sei, era um mistério. Mistério. Era exatamente a palavra exata com a qual eu poderia descrevê-lo, além de estúpido, bobão, chatão, cara-de-pau, etc.

Mas, pelo menos nos últimos minutos, ele estava sendo gentil comigo pela primeira vez desde que cheguei. Não vou mentir e dizer que não gostei. Ele era tudo que eu mais odiava, mas eu sentia uma certa atração por aquele Uchiha. Pode ser só besteira minha, não eu tenho certeza de que é pura besteira minha. Afinal, vai me dizer que ninguém nunca reparou que ele tem aqueles cabelos sedosos, brilhantes – acho que mais até do que os meus, saco – com aquele perfume que dá até para tirar a concentração? As garotas daqui deviam babar em cima dele, eu sei como é esse tipo de coisa. Eu não sou assim, nem nunca fui. Sempre achei ridículo aquelas líderes de torcida, com seus pompons e pulando com seus peitões balançando para chamar a tenção dos meninos. Nunca fui de correr atrás de ninguém, faço muito mais o estilo independente, sem depender de ninguém, muito menos de um namorado querendo saber onde estou, com quem estou, a que horas eu volto, querendo discutir a relação e mandar na minha vida. Até parece. Era mais fácil eu virar solteirona para o resto da minha vida, nem me importava. Sérinho.

Enquanto estava sendo carregada, também pensei que seria necessária uma quantidade industrial de analgésico. Eu estava precisando era de anestesia geral, apagar por uma semana e acordar desmemoriada desse infeliz acidente com a garotinha demoníaca. O que eu fiz de errado para as crianças do mundo? Porque todas me odeiam? Porque? PORQUE?

Meu devaneio foi interrompido pela inconfundível voz dele:

— Onde está a chave de seu apartamento? – falou num tom calmo e ritmado. Cara, ele subiu uns três andares comigo nas costas dele e não ficou nem sequer ofegante? Será que ele era um andróide?
— Está aqui – respondi automaticamente entregando a chave com o chaveiro de cereja na mão dele.

Ele abriu a porta e entrou em meu apartamento comigo nas costas.
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-O que eu vou fazer? – pensou Hinata consigo mesma – eu não sei se tenho coragem de dizer a ele o que sinto mas...

A garota suspirou desanimada, deitada em sua cama, procurando uma resposta para seus problemas.

-Eu o amo – falou baixinho.

-Talvez ele precise saber, se eu falasse... – continuou balbuciando – mas isso poderia estragar nossa amizade... não, não quero que isso aconteça – agitou a cabeça espantando as imagens ruins que vinham à sua cabeça – se ele disser algo que eu não quero ouvir, prefiro ficar em silêncio.

Um sorriso melancólico invadiu sua face alva.

-Eu prefiro amá-lo em silêncio, a perdê-lo para sempre.

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— Atcho!

— Será que eu vou ficar resfriado? – falou Naruto, esfregando o nariz.

Shikamaru instantaneamente olhou-o assustadoramente e disse:

— Suína?

Naruto apavorou-se, e ficou com o rosto pálido como neve.

— Eu estou só brincando! – sorriu Shikamaru alegremente, dizem que quando você espirra é porque alguém está pensando ou falando em você.

— É? E eu digo que quando a gente espirra, temos que procurar um médico ou tomar um xarope, dattebayo! - falou indo a direção à cozinha procurar um xarope que bobeava por lá há muito, muito tempo.


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Depois que entramos em meu apartamento, Sasuke me colocou no sofá – a meu pedido, eu não queria ficar na cama, mas no fundo era desculpa era desculpa pra ele não ver meu quarto, tava mais bagunçado do que vestiário masculino depois de jogo de futebol.
Eu estava lá, morrendo de dor e implorando por uma morte indolor no sofá da minha própria residência. Uma palavra. Deplorável.
A dor era mais aguda na região do tórax, eu devia ter batido bem forte enquanto rolava os degraus, o ferimento do meu joelho tinha sido aberto e sangrava de novo. E estava com os cotovelos esfolados, um quadro médico de moleque de doze anos que quase morreu caindo de skate. Eu não queria ir para o hospital, era uma das coisas que mais me apavorava. Agulhas, injeções, facas e outros acessórios pontiagudos. O fim. Prefiro ficar desse jeito mesmo.

Sasuke havia ido até seu apartamento pegar a maleta de primeiros socorros e já voltara.

— Primeiro eu vou fazer um curativo novo no seu joelho, depois eu vou limpar as outras feridas – falou o açougueiro, estava tirando um monte de frascos daquela maleta, o que ele ia fazer? Colocar álcool, merthiolate, fazer um curativo e depois passar talquinho no bumbum?

— Você não vai passar aquele troço branco que a Hinata passou em mim mais cedo, vai? – perguntei desconfiada, vendo aqueles frascos, gazes e esparadrapos.


— Olha, não vai fazer aquela birra toda de novo, ok? – disse rigidamente – você precisa que eu passe isso, senão as feridas irão infeccionar e você pode até morrer – ele deixa tudo muito pior do que parece, ta? Não dava pra morrer com aquilo.

— Que é isso Sasuke? – falei choramingando, me afastando para o fim do sofá cuidadosamente – eu nem to tão mal assim, isso sempre acontece, amanhã eu já estarei muito bem – tentei convencê-lo de não me fazer passar por aquela tortura novamente.

— Você é louca? ’Porque ainda pergunto?’ Não importa o que diga, não quero ir preso por não prestar socorro a você! – bradou intransigente – nunca vi pessoa mais desastrada do que você, Sakura. Como pode? Só hoje, levou um soco, te esfolaram o joelho e te jogaram de uma escada. Nem sei como ainda está viva – disse calmamente, qual é? Ele devia era me ver quando eu morava com meu pai, esse dia não foi nada – por favor, deixe-me fazer o curativo, estou cansado e ainda tenho que trabalhar, não tenho tempo para ficar cuidando de vizinhas malucas.

Ao ouvir suas últimas palavras, choquei-me de surpresa.

— Como é que pode?

— Hn?

— É incrível. Ao mesmo tempo você é legal, gentil e extremamente idiota – sorri com a minha descoberta, era verdade.

Ele não esboçou nenhuma reação. Devia estar acostumado a tais comentários.

Ele estendeu a mão, que estava segurando um algodão molhado.

— Me dá o seu joelho.

— Com uma condição – respondi penosamente.

Ele suspirou exausto, não era sempre que ele tinha que ficar insistindo para conseguir algo, nunca precisara debater tanto quanto comigo.

— O quê?

— Me diz ’PORQUÊ’.

Ele não entendeu a minha pergunta. Não estava sendo clara o suficiente. Mas não desisti.

— Porque você é assim, Sasuke? – perguntei calmamente, eu sinceramente queria entendê-lo, se fosse possível, claro.

Ele continuou calado, me olhou por um instante, para demonstrar o quanto não estava com saco para falar, e tentou pegar meu joelho. Eu esquivei, e perguntei novamente, com toda a paciência do mundo.

— Onegai – bom, eu pensei ’Quem sabe se eu implorar e fazer aqueles olhinhos do gatinho do Shrek ele diz’, mas eu não iria implorar, era muita humilhação.

Ele ficou parado, com uma cara de vazio.

— É um acordo – não me preocupei em deixá-lo pensar. Senão ele provavelmente não falaria nada. A questão era ser rápida o suficiente – apenas me diga, por favor – eu estava sendo sincera, e com educação impecável para com ele pela primeira vez, RESPONDEE! – você tem amigos que se preocupam com você, que GOSTAM de você – ênfase na palavra gostar – então porque é assim com todo mundo? Sinceramente, não te entendo. Você parece ter tudo. Se fosse como eu, até teria uns motivos para ficar assim – falei entre umas tossidinhas – às vezes parece um emo – sorri tentando quebrar o clima das afirmações que tinha dito. Não queria ofendê-lo.
Ele ouviu tudo aquilo olhando para o assoalho, e depois que eu acabei, ele me olhou de novo e sorriu melancolicamente.

— Está errado – falou de um jeito tão triste que eu me arrependi de fazer aquela pergunta – eu daria tudo para ter uma vida como a sua.

Aquilo me pegara de surpresa. Eu podia notar como o que eu havia dito o afetara. Minhas mãos ficaram trêmulas por um instante quando seu olhar encontrou com o meu. Eram olhos de uma pessoa extremamente triste, e solitária. Desejara eu poder parar com aquilo já. Mas não podia, queria mesmo saber. Estava muito curiosa.

— C-como assim?

— Você tem uma vida que eu daria tudo para ter. E você sequer imagina.

Meus olhos se encheram de lágrimas ao ouvi-lo falar aquilo, mas não conseguia compreender, o que eu tinha que fazia a ele tanta falta?

— Mas – a voz que saiu de minha boca estava trêmula, baixa e vazia – você tem amigos, tem o seu trabalho tem...

Ele me interrompeu, falando triste:

— Mas enquanto você pode abraçar seu pai, sua mãe – ele disse fraquejando – eu sequer posso vê-los, sequer posso tocá-los, e vivo com o receio de que um dia eu acorde e, as únicas lembranças que ainda mantenho vivas deles, de minha infância, desapareçam, e eu não lembre mais de como era o rosto da minha própria mãe, eu não tenho o mais importante. Não tenho minha família. Eles morreram quando tinha apenas seis anos, eu não fiz nada, foram assassinados, na minha frente e até hoje é algo que não possa ser perdoado. Nenhum amigo pode mudar isso.
Quando ele falou isso, as lágrimas que antes segurava no canto dos olhos molharam meu rosto. Era muito triste, como isso foi acontecer com uma criança? Então era isso que eu tinha que ele não? Por isso era tão frio, nem mantinha uma relação de amizade com ninguém, praticamente? Pensar nas palavras que tinha dito a ele tempo atrás fazia eu me sentir a pior pessoa do mundo, eu nunca passara por tal coisa e acabei falando muita besteira sem saber.

— Me desculpe – disse chorando incontrolavelmente, minha visão estava embaçada e não enxergava quase nada, mas não importava, as lágrimas não deixavam de descer por meus olhos.

Um turbilhão de pensamentos invadiu minha cabeça naquela hora. O que será que ele tinha passado?

Eu sempre me pego pensando em como a separação de meus pais foi um transtorno para mim. Os dois de separaram quando eu tinha seis anos, a exata idade em que Sasuke perdeu seus pais. E lembro-me de como encarei mal essa situação. Não queria os dois separados de mim, era um incomodo. Mas como terá sido para ele? Perder os pais... para sempre. Enquanto eu ainda podia ao menos ver o rosto dos meus. Senti-me egoísta quando lembrei disso, era tão estranho. Primeiro, eu me senti despencar de um abismo dentro de mim mesma. Uma coisa da qual, por mais que eu insistisse em me libertar, não conseguia me livrar. Era como um vazio no peito, algo estava faltando. Não sabia se um dia ele iria acabar.
E para ele? Como ele encarou esse desafio. Duplamente difícil, já que, segundo o próprio, seus pais foram assassinados em frente a seus olhos. Qual fora o tamanho do vazio que ficou em seu peito? Talvez era por isso que seu relacionamento com pessoas era tão escasso. Só se sentia à vontade ao lado de Naruto, já que eles se consideram muito ‘parecidos’ – vai entender – o seu abismo devia ser maior, mais escuro, e o pior, além de não saber onde cairia, ele não tinha a certeza se um dia ele sequer acabaria. Era terrível.


O que eu fizera?

Só queria tentar consertar – um pouco – essa situação, então não medi esforços para tentar abraçá-lo, esqueci da dor, dos machucados, do sangue, de tudo. Mas quando me levantei muito rápido do sofá senti uma pontada, que me fez desabar de dor ao chão.

— Desculp... AAI!

Antes que eu pudesse cair NOVAMENTE, Sasuke me segurou. Ele me virou cuidadosamente e colocou-me em seus braços. Depois de um segundo notei seu olhar voltar ao de antes, desinteresse e monotonia. Ele falou num tom calmo.

— Eu respondi o que você queria saber, agora chega de teimosia e me deixe cuidar de seus ferimentos.

Vagarosamente ele me levou até meu quarto.
— Ótimo. Parece que finalmente irá colaborar.

Dizendo isso, ele me deitou na cama. Enquanto eu lutava para as palavras saírem de minha boca, mas elas permaneciam presas em minha garganta.

Eu estava acabada. Tanto fisicamente quanto mentalmente. Sentia-me em trapos. Sasuke pegou um pedaço de algodão e começou a limpar o ferimento do meu joelho. O ardor incômodo me fez gemer.

— Fique quieta. Assim eu não consigo limpar direito e vai demorar mais – repreendeu-me tentando segurar a minha perna.

— Desculpe, eu vou tentar – falei com morbidez na voz. Não sei se o que mais me incomodou foi a revelação de Sasuke ou a sua irrelevância para com a mesma.

Ele terminou de limpá-lo, fez um novo curativo. Depois limpou os machucados nas pernas, nos cotovelos, no ombro e no pescoço.

— Tome, isso é um analgésico. Vai fazer a dor aliviar um pouco.

Ele me entregou uma pílula, metade verde metade amarela – peraí! Isso é benegripe! – e trouxe água da cozinha.

— Obrigado.

Sentei-me na cama com um pouco de dificuldade, tomei a pílula e coloquei o copo na mesa de cabeceira ao lado da cama. Enquanto isso, Sasuke arrumava tudo de volta à maleta. Ele pegou alguns pedaços de algodão, um vidro de álcool e outros apetrechos – que coisa mais “Três espiãs demais”, credo.

Depois, virou-se e perguntou:

— Onde posso jogar esses pedaços de algodão sujos de sangue?

— Ah, não precisa. Depois eu limpo tudo – falei tentando sorrir, sem muito sucesso.

Ele se surpreendeu por um minuto e depois disse:

— Você? Limpa tudo? Não, não. É melhor EU limpar logo – falou com um tom zombeteiro.

— Porque? Acha que eu não consigo? – perguntei-lhe com a voz atravessada.
— Claro que não consegue – respondeu com um riso preso e um ar de superioridade, que era o que me fazia odiá-lo – deve ter quebrado uma costela quando aquela garotinha te empurrou uns dois andares na escada. Ou será que apenas eu me lembro disso?

— Não tente ser irônico. Isso o deixa extremamente egocêntrico.

Ele riu deliberadamente.

— Se não concorda, vamos, pegue esse algodão que está perto do meu pé esquerdo – falou apontando para uma bolinha vermelha no chão, estava vermelha de sangue. Que nojo, isso sempre me nauseava, mas eu não ia deixar ele saber disso.

— Não agora. Depois eu pego, estou cansada – tagarelei teimosamente – e isso não tem nada haver com alguma incapacidade por minha parte.

— Que absurdo! Como você pode ser tão irritante? – grunhiu com uma ruga na testa.

— Eu faço o melhor que posso.

Um silêncio repentino tomou conta do cômodo. Ele não parecia se importar com o que dizia, e senti-me um tanto constrangida.

O próprio, quebrou o silêncio.

— Amanhã terá de ir ao médico – falou seriamente – pode ter quebrado alo de verdade, deve fazer alguns exames.

— Não precisa. Amanhã estarei ótima - respondi convicta.

Por um instante, ele olhou-me com certa fúria, o que me fez arrepiar. Depois ele fechou os olhos, respirou fundo e disse num tom autoritário:

— Venho buscá-la às 7:00, esteja pronta.

Surpreendi-me por um instante. Então uma pontada de orgulho e raiva surgiu em minha mente.

— Não manda em mim, Sasuke – as palavras saíram inteiras, como eu desejava.
Ele continuou com os olhos fechados, depois se virou e falou num tom mais alto, e amedrontador.

— É melhor que esteja pronta, ou eu não me importo em tirá-la dessa cama e fazer com que tome um banho, troque de roupa e vá até o hospital. Nem que eu mesmo tenha que fazer tudo isso. Você escolhe: o jeito fácil ou o difícil.

— Não ousaria – dessa vez, minha voz saiu desordenada, a imagem que passou por minha mente me fez suar frio. Eu me odiei por isso. Devo ter auto aversão, ou coisa assim.


— Está avisada – foi a última coisa que ouvi antes de ele abrir a porta e sair de meu apartamento.



Mas que... filho da mãe.



E agora José? Como eu me livro dessa roubada? Acho que a desculpa de “Estou doente, não vai dar!” não vai colar. Era o programa de meus sonhos: Ir ao hospital. Não, pior. Ir ao hospital com o Sasuke. Eu estava quase convencida de que ele era bipolar, tinha dupla personalidade, essa coisas. Numa hora ele é legal, te carrega nas costas quando você desaba da escada por culpa de seus cabelos fora do comum, e na outra ele volta a ser o vizinho mandão, chato e irresistível que vai te levar no hospital. Eu também tinha quase certeza de que tinha veneno pra rato em algum lugar da casa. Mas era uma questão a se avaliar.

Oh inferno! Quer uma psicóloga, vai pagar cem reais pra uma mulher que você nem conhece dar palpite nos seus problemas!

Só tinha uma coisa que eu poderia fazer.


Apelar.
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— Alô?

— Hinata?

— Sim, Sakura-san. Tudo bem?

— Ahnn, depende. O seu ‘tudo bem’ vale para quedas de escadas?

— Como é? Você...

— Caí, DE NOVO. Mas não se preocupe eu estou bem...
eu queria que...

— Não se mexa. Eu chego aí num minuto. Você é louca, Sakura? Não se mova daí entendeu? Nem pense nisso, é melhor nem respirar! Tudo o que você faz vira tragédia. To chegando, tchau!

A linha do telefone foi cortada.

— ... você me fizesse um favor. Pode vir aqui em casa? Pode? Legal, obrigada.Beijo.

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Ai ai, qualquer coisa é melhor que o cheiro de naftalina. Concentre-se.


Alguns minutos depois, como havia prometido, Hinata chegou lá em casa. Não precisou bater, pois ela tinha uma cópia da chave, caso alguma coisa ‘terrível’ acontecesse ela estar preparada para tal situação. Coisa dela, sei lá.
Ela só não pareceu muito alegre quando veio falar comigo.

— Essas coisas só acontecem com você! – falou olhando-me com pesar – nunca vi alguém atrair tantos acidentes, num só dia! Você tem seguro de vida né?

— Isso não vem ao caso! – chorei inconsolável, todos só viviam me falando de como eu sou desastrada, como eu sou azarada, como eu só sei me machucar, era disco repetido esse. Tão repetido que até furou. Até parece que eu não sabia disso – Por favor Hinata você precisa me ajudar, é um problema muito maior que esses machucadinhos! É vida ou morte!

— O que pode ser mais urgente do que isso Sakura?

— É que...

— É que...?

— O Sasuke quer me levar ao hospital! Por favor Hinata me ajuda!

— Ah, é? Você quer ajuda para se arrumar, tomar banho? Porque eu pos...

— NÃO! Eu quero ajuda é pra fugir dessa!

— O quê?
— Não preciso ir ao hospital, Hina, sério, Hinazinha, meu doce, lindinha, amor da minha vida, razão do meu existir, fala com o Sasuke?

— Pra quê, Sakura?

— Você parece ser a única pessoa que ele escuta de verdade. Se você falar com ele e dizer que eu vou ficar bem amanhã, ele não vai me levar, POR FAVOR! – implorei com meus olhos brilhando como o gatinho do Shrek, faria de tudo para me livrar. Até me humilhar se necessário. Mas nenhum açougueiro iria enfiar coisas pontiagudas no meu braço, nem vem.

— Mas você não vai ficar BEM amanhã – falou restritamente – você vai é parar num necrotério se não for ao hospital.

— Hein?

— Eu não vou pedir isso a ele, Sakura – disse negativamente, ela sabia que eu não aceitaria isso.

— Mas...

— Nada de mais. Eu vou falar com ele, mas não disso que você quer, vou dizer que amanhã bem cedo eu venho aqui te arrumar pra ele te levar ao hospital – disse tentando me fazer aceitar aquela, aquela traição.

— Não Hinata! Eu não vou ao hospital! Por favor – dessa vez chorei de verdade, quem sabe emocionava? – você sabe que eu tenho medo. Pelo menos me leva.

— Não posso. Eu tenho que trabalhar amanhã. E eu tirei folga hoje pra ir ver o filme na casa dos garotos, não posso tirar outro dia de folga. Desculpe – desculpou-se, sentindo-se um pouco culpada – mas, se ele se ofereceu, porque não quer que ele te leve?


— Porque ele é um vampiro! E quer o meu sangue, Hinataa!

Ela ficou assustada com o que eu disse, não pelo vampiro lá no meio. Mas sim pela bobagem que estava saindo de minha boca.

— Sakura, você está vendo muitos filmes de ficção, chega, você vai ao hospital e ponto final!



Meleca.

Eu passei aquela noite pensando em uma maneira convincente de não ir ao hospital. E não encontrei nenhuma que envolvesse seres sobrenaturais, a máfia ou um homicídio. Graças às paredes finas, ouvi Hinata falando com Sasuke, e ela viria me arrumar bem cedinho para ele poder me levar. Eu sei que eu ia pra um hospital, mas me sentia como numa armadilha, que iriam jogar uma bomba lá dentro e que eu nunca mais veria a luz do sol. Não é exagero. Aqueles prédios com paredes daquelas cores sem vida, é tudo um plano do governo para nos aprisionar e fritar os nossos cérebros.

Acabei dormindo amaldiçoando meu vizinho, e esperando que ele tivesse um sono muito pesado, e seu despertador quebrasse.

Sonhei que estava em casa, com minha mãe. Deitada numa rede na varanda. Eu adorava, era tão tranqüilo, eu me sentia muito bem, sério mesmo, era a coisa que eu mais gostava de fazer, ficar com ela lá, parada, só olhando as estrelas. Era uma situação tão confortável, que sentia meu coração ficar mais leve e os problemas me fugiam. Sentia saudade disso, desse momento com ela. Eu e minha mãe sempre fomos muito amigas, ela é minha confidente, a questão é que ela é muito descuidada, sempre tinha que ficar de olho, pra saber se ela estava com outro namorado idiota. Ela ficava apaixonada muito facilmente. Lembro do dia em que ela esqueceu o dinheiro do ônibus, mas o cobrador deixou ela passar pela catraca. Depois de um café e um jantar. O cara pensava que estava morando na minha casa, que já era meu ‘papai’ e que já podia mudar até o seu endereço para minha casa. Cada maluco. E era só o que ela arranjava. O cara do ônibus – como eu o chamava – só saiu de lá de casa quando eu comprei uma galinha e dei de presente para ele. Vai entender? Ele pediu.
Por isso, eu penei pra ela me deixar ficar em casa com ela. Tenho medo de que ela não possa se virar sozinha. Ela é incrivelmente ingênua. Sempre tenho que expulsar os namorados loucos que ela arruma no ônibus, na barraquinha de churros, no banheiro feminino – espiando as mulheres – e até no dentista. Eu era a mãe dela em certas ocasiões. E eu tinha que protegê-la contra coisas que ela não sabia se defender sozinha. Como o meu pai. Ele era ótimo em criticá-la. Mas isso sempre me fez criar uma barreira com ele, minha mãe é minha heroína e quando ele dizia que ela me dava maus exemplos. Era o fim da minha paciência. Ela com apenas um emprego, conseguiu me colocar numa boa escola, me colocou até para fazer aulas de piano. Era o sonho dela tocar, mas eu odiava. Até hoje me arrependo de não ter me esforçado de verdade para aprender, ela ficou um pouco decepcionada. Mas eu pelo menos aprendi a fazer uma macarronada que ela adorava, e que tirava sempre o seu mau humor. Ao menos, eu cozinhava bem. Quando lembro dela, sempre dá vontade de largar tudo aqui em Tókio. Mas dessa vez não vou decepcioná-la, além disso, eu encontrei ótimos amigos por aqui, fazem do meu dia-a-dia uma festa sem fim.


De repente, minha mãe me cutucava no ombro, com uma voz estranha. Sabia que não era dela. Mas era conhecida também.

— Ahn, mãe... deixa eu ficar aqui mais um pouco, a rede ta tão boa...

— Sakura, eu não sou a sua mãe, acorde por favor.

— Não, você não pode ficar com o carinha da loja de materiais esportivos... ele não presta...

— Ela deve estar delirando Hinata, acorde-a logo.
— Mas é que... vamos Sakura acorde!

— O quê? Hein?

— Ótimo acordou, agora se levante não podemos nos atrasar. Temos hora marcada.

Ouvi aquela voz rouca linda, que obviamente era do meu vizinho. E cerrei um pouco os olhos para me acostumar com a luz artificial que irradiava. Vi a garota de cabelos azuis, minha amiga que era preocupada demais, exagerada demais, e que sempre dava um jeito de me convencer. Assim como a todos em sua volta. Hinata Hyuuga.

— Hinata...?

— Vamos, você tem que se arrumar, Sasuke está esperando na sala.

Falando isso, senti sua mão quente segurar o meu braço e fazer uma força para levantar-me, aderi a sua ação sem nenhuma repressão. Ela me levou ao banheiro, estava tonta, mais por culpa do sono. E uma dor persistente em meu corpo, estava tudo dormente. Sempre dizem que o dia após o acidente ocorrido é pior do que ele próprio.

— Precisa de ajuda, ou consegue sozinha? – falou Hinata ainda segurando-me, passando comigo pela porta do banheiro, que ficava em meu quarto.

— Não, eu consigo – balbuciei sonolenta – de verdade, sem nenhum problema.

— Tudo bem então, vou esperar por você na sala, com Sasuke-san - disse soltando meu braço de seu apoio. Depois saiu do quarto fechando a porta, para que eu tivesse o mínimo de privacidade.

Tirei a camisola e entrei dentro do chuveiro, meus músculos estavam tensos, doloridos. Quando a água quente caiu por sobre meu corpo cansado, senti um arrepio e tensão se aliviou um pouco, fiquei um tempo só parada, deixando a água me molhar, não estava pensando em nada. Só relaxando. Esquecendo de meu pesadelo do dia de hoje. Só queria ficar um pouco comigo mesma. E dar um jeito de ficar bem e de não me apavorar.

Saí do banho me sentindo melhor, escovei os dentes preguiçosamente e vesti um vestido azul que imagino que Hinata tenha deixado lá antes de sair. Deixei meu cabelo solto. Batendo até minha cintura. Estavam muito longos realmente.
Cheguei na sala, já pronta. Devia estar adiantada, porque nenhum dos dois foi me chamar ou ralhar comigo. Estavam no sofá, conversando e quando me viram. Acho que eu estava com uma cara nada amigável, porque eles seguraram um pouco o riso.

Suspirei derrotada e falei:

— Nenhuma escapatória?

Os dois se entreolharam num momento descontraído – somente entre eles, eu estava quase tenho um ataque de pânico – e responderam num coro chatinho:
— NÃO!

— Ótimo, beleza, tudo bem. Mas se eu morrer ou se eu perder os movimentos de um lado do meu corpo... a culpa é toda de vocês! Entenderam? – gaguejei nervosa.

— Eu acho que vamos correr o risco – riu torto Sasuke, e era um sorriso lindo – não é Hinata?

— Acho que sim, Sasuke-san – respondeu sorrindo timidamente, depois ela deu uma olhada no relógio em forma de gatinho que ficava em cima de uma escrivaninha – ai, desculpem mas está na hora de ir trabalhar. Não posso me atrasar. Sasuke cuida dela por mim, ok?

Ele não respondeu, assentiu com a cabeça positivamente. Isso queria dizer que ele não cuidaria de mim, ele iria mandar um homem de branco enfiar uma agulha no meu olho! Eu quero o Superman!

— Vamos, um amigo meu vai te atender, ele é um ótimo médico, não há com o que se preocupar – falou abrindo a porta para mim, eu apenas segui em frente, mas as minhas pernas pareciam ser de borracha. Tava me borrando.

Ele me levou até seu carro. E dirigiu para o tal do hospital em que esse amigo dele trabalhava. Aposto que esse amigo dele, no mínimo é um serial killer procurado, trabalhando disfarçado. Sendo amigo dele, tenho que pelo menos suspeitar, né?

Quando eu vi aquele prédio enorme, com umas ambulâncias na porta da frente, senti ânsia. Nada podia ser pior. E eu ainda teria que entrar lá. Eu não era tão corajosa assim, prefiro morrer em casa de dor, a morrer aqui de medo.

— Vamos, já está na hora – Sasuke pegou minha mão e me levou pra dentro ‘daquilo’. Ai que inferno.
— Temos hora marcada, está no nome de Uchiha Sasuke – falou calmamente com a recepcionista.

Ela quando viu Sasuke, parece que tava vendo sei lá, o Orlando Bloom, ficou toda envergonhada, mas um envergonhada diferente da Hinata, ela tava era interessada nele. Ficou toda sem graça, com a vozinha doce e melodiosa. Só fiquei com mais vontade de vomitar. Aquela mulher não ajudava também.

— Um momento por favor, o doutor Hatake Kakashi logo irá atendê-los – falou toda sorridente a vadia – quer tomar algo?

E eu? E se eu estivesse com sede? Ela nem perguntou. Só estava interessada em matar a sede do Sasuke. Saquei.

— Não queremos nada, obrigada – ele foi direto e não muita atenção à mulher, mas não me surpreendi tanto, ele agia assim com todo mundo, mas a coitada queria se enfiar dentro do bolso do próprio jaleco.

Nós sentamos e esperamos apenas um minuto. A mesma moça logo nos informou que seríamos atendidos. “Seríamos” uma ova, eu é que iria sofrer.

Estava passando pelos corredores brancos e idênticos, com todas aquelas pessoas, feridas, doentes, com gesso nas pernas, nos braços, com agulhas intravenosas, outras indo para a emergência com algum ferimento grave, ossos expostos e dor. O cheiro de sangue me deixou ainda mais nauseada, caminhava com uma sensação tão horrível, que parecia que a qualquer momento eu desmaiaria. Eu realmente sou muito fraca para essas coisas.

— Chegamos, é essa sala – falou Sasuke direcionando-me para uma sala igual a todas as outras pelas quais havíamos passado – Sakura, você está bem? – perguntou olhando assustado para mim – você está muito pálida, está sentindo alguma coisa?

— Eu... não gosto de hospitais Sasuke – respondi ainda desnorteada – realmente não gosto.
— Nossa, você tem é pavor – falou me segurando para eu não cair no chão, tonta – não se preocupe, ele é profissional.

Ele abriu a porta e nós entramos na sala.

Quando entrei, vi aquela cena, parecendo jogos mortais – do nada isso – o senhor doutor estava sentado na sua mesa. Um homem alto – mas ele tava sentado, cara que idiota – com o cabelo grande espetado para cima, com uma cor que eu definiria como branco prateado, e uma máscara que cobria seu rosto quase que por completo, desde o queixo até o olho direito. O outro olho era tudo que estava à mostra. Uma maca estava do lado esquerdo da sala, e em uma mesa de madeira, estavam os instrumentos de tortura que são usados nos presídios em Bagdá. Facas, bisturis, agulhas, injeções e ... ai, não desmaia, por favor.

— Sentem-se aqui por favor – falou educadamente com sua voz firme e tranqüila – há quanto tempo, Sasuke, pensei que não se lembrava mais de um velho amigo.

— Você sabe que não, Kakashi – respondeu irônico – agora, ao que interessa, sim?

— Claro, claro – sorriu – sem tempos para conversas, como sempre.

— E então? Quem é a linda moça que está com você? – falou se dirigindo a mim com educação e respeito – parece que é você que precisa de ajuda, Deus como está pálida. Ela se alimentou Sasuke?

— Sim, ela tem um certo ‘medo’ dessas situações. Se é que me entende.

— Sim, entendo. Então me diga, o que aconteceu?

— Ela caiu de dois andares de uma escada. Acho que algo deve estar quebrado.

— Nossa, não achou outro jeito de se livrar da vizinha perturbadora Sasuke? – perguntou com ironia, mas eu achei muito aterrorizador, isso sim.

— Sem brincadeiras, por favor.
— Desculpe, bom eu preciso examiná-la – falou lavando as mãos – por favor se retire.

— Hum.

— Bom, relaxe, não vou lhe fazer mal algum – sorriu despreocupado – pode sentar-se naquela maca por favor?

Eu só assenti e fui me sentar naquela coisa.

Assustei-me de repente quando senti algo gelado encostar-se a minhas costas. E saltei instintivamente.

— Não se assuste, é apenas o estetoscópio. Para ouvir os batimentos, só isso. Respire fundo quando eu disser, ok?

— S-sim.


...

Ele me examinou de todas as maneiras que eu sabia – e de outras que eu não sabia – e chamou Sasuke para a sala novamente.

Depois de umas brincadeiras por parte dele, e uma conversa sobre o desenho do Super Bola, um desenho que eu descobri que ele amava e eu também, fiquei bem mais à vontade. Não era difícil, ele era uma pessoa que sabia como tranqüilizar os outros. Talvez pelos anos como médico.

— Bom, ela vai ficar ótima, só preciso de um raio x, para ter certeza de que nenhuma costela está quebrada – falou preenchendo uma lista – vou encaminhá-la para o raio x imediatamente.

Ele pegou o interfone e falou com a recepcionista. Depois se voltou para nós dois.

— E então... vocês dois são... namorados? – disse com uma cara muito ridícula.

Nós dois caímos para trás. Depois Sasuke se levantou e ficou com uma cara que eu diria que foi de um desembaraço total. E eu fiquei lá parada, com o rosto fumaçando, não sei se de vergonha ou de raiva por tal suposição.

— De onde tirou tamanha loucura, Kakashi? – falou contrariado.

— Não é loucura nenhuma, Sasuke meu amigo – respondeu com um sorriso contagiante – já está mais do que na hora de você arranjar uma namorada, sabe, os rostos bonitos não ficam para sempre, tem que aproveitar muito enquanto você ainda está tão ‘irresistível’ para as mulheres – disse num tom hilário.
— Não fale bobagens! – falou com um avermelhado quase imperceptível no rosto, mas eu notei – sabe que não tenho tempo para isso!

— Calma, não precisa ficar tão nervoso, isso é uma coisa normal.

Duas batidas na porta foram ouvidas, e a conversa logo foi encerrada. Para o fim de meu constrangimento. Será que todas as pessoas que viram ele me levando ao hospital pensavam isso? Que vergonha, cara.

— Com licença doutor Kakashi, você me chamou? – falou um homem já de certa idade, com uma feição alegre e descontraída.

— Sim, Jiraya, por favor leve essa senhorita até o raio x, e tire um do tórax. Quero dar uma olhada.

— Claro, doutor – respondeu ainda risonho – por aqui senhorita, me acompanhe por favor.


Eu segui aquele ‘velhinho’ já de cabelos grisalhos, enormes, chegavam abaixo de sua cintura. E uma ruga do lado do nariz. Mas me senti incomodada com um certo olhar que ele me lançava. Ele me analisou de baixo pra cima minuciosamente. Era muito constrangedor. Quando cheguei na sala para tirar o bendito raio x, vi que não tinha ninguém, e isso me assolou. Mas ele era um profissional, não havia com o que me preocupar. Ele arrumou lá a maquininha e colocou luvas.

— Estou pronto, pode abaixar seu vestido – falou seriamente.

Eu me assustei com aquela proposta, e já estava lembrando como era que se defendia de um perseguidor, já tive aulas de defesa pessoal, eu adorava bater no professor, era demais, deixar um homem no chinelo. Dei um passo atrás e perguntei revoltada:

— Como é que é?

— Não espera que eu tire o raio x com você vestida não é? – falou descontraído – seria impossível, desculpe, não queria assustá-la.

Eu me senti uma idiota quando ele falou aquilo, é que eu não era acostumada com nada de hospital. E, apesar de todas minhas loucas aventuras e acidentes desastrosos, nunca precisei tirar raio x na vida.

— Desculpe – falei sem graça.

— Tudo bem, sem problema. E então, pronta agora?

— Sim, eu espero.

___________________________________________

— Ela parece ser muito legal, Sasuke – falou Kakashi alegremente – de onde vocês se conhecem?

— Hunf. Isso é porque você não convive – falou num tom aborrecido – é a garota mais maluca que eu já vi, e ela é minha vizinha agora.

— Maluca? Então porque veio trazer essa maluca ao hospital, Sasuke? – questionou – deixasse que ela se virasse.

— O quê? – disse convencido – do jeito que ela é, tinha arranjado um jeito de me processar por não oferecer ajuda, ou coisa parecida.

— Sei, sei – disse rindo – e você do jeito que é, com toda a sua influência, fornecida pela empresa Uchiha, se sentiu ameaçado por uma simples universitária? Conte isso para outra pessoa que talvez ela acredite, mas não eu.

— O que quis dizer Kakashi? – perguntou descontente.

— Eu quis dizer que você...

POFT

Um objeto rápido atravessou em frente a eles, rápido como um vulto.

— Mas isso é uma prancheta? De onde veio? – perguntou de levantando-se e procurando de onde aquela prancheta viera.

TARAADOO!
— O quê? Mas... é a voz da Sakura! – assustou-se Sasuke e correu para ir até a sala onde eu estava.

— Mas o que é que ta havendo aqui? – perguntou abrindo a porta com força, e com Kakashi ao seu lado, também surpreso.

A cena:

Eu com um jaleco que encontrei por acaso cobrindo meu busto, o vestido abaixado até a cintura e uma bengala que sei lá como estava lá na mão. E o Jiraya, vovozão cafetão, estirado no chão, com a mão na cabeça e só de cueca.

— Esse, esse... pervertido, me agarrou! – gritei ainda na adrenalina do momento.

— O quê? – os dois falaram abismados, lançaram um olhar furioso para o velho, caído lá no chão.

— Não... n-não senhor! Eu apenas a toquei para posicioná-la direito, para tirar o raio x que o senhor me pediu, doutor – falou rapidamente o velho vagabundo.

— Onde você tocou, não tava nem perto de onde você devia tirar o maldito raio x! Velho babão! – gritei, ainda com raiva e desacreditada do que havia acontecido – e você ta de cueca! Pelo amor de Deus!

— Isso é inaceitável, Jiraya – falou Kakashi rispidamente – venha comigo agora mesmo, tomarei as devidas providências.

— E você, vem comigo Sakura – falou Sasuke, furioso – se vista agora.

Eu me virei de costas, e coloquei os vestido no lugar que ele tem que ficar. Depois saí com ele da sala, deixando uma boa dor de cabeça naquele velho.

— Ainda bem que eu sei uns golpes de defesa pessoal, senão... – falei correndo pelos corredores do hospital, com Sasuke puxando-me pelo antebraço.

— Nem pense numa coisa dessas! – brigou comigo, os olhos ardiam de ódio – eu devia ter dado uma lição naquele pervertido!

— Kakashi disse que tomará providências.

— Não é o suficiente! – gritou, nós já estávamos no estacionamento do hospital, ele abriu a porta do carro e me ‘jogou’ lá dentro – você sabe o que ele acaba de fazer?

— Aham, sei sim – respondi – levou o golpe do macaco retorcido, aprendi com o professor Ushiro – disse satisfeita.
— Não! Aquilo foi abuso! – disse saindo do estacionamento cantando pneus – aquele homem nunca mais trabalhará nesta cidade!

— Fique calmo, Sasuke – falei preocupada.

— Não me diga o que fazer... – balbuciou entre dentes – como pode ter tal reação?

— Não aconteceu nada, vocês chegaram...

— Nada? Então, onde foi que ele tocou? – perguntou.

— Não vou dizer! – disse indignada, era pessoal e, apesar dele ter feito aquilo, eu tinha vergonha de dizer.

— Porque não? Ele não tocou? Porque tem vergonha?

— Porque você ta pior do que ele, cara – falei rapidamente – não vou deixar você me tocar, é doentio. Relaxa, nem eu fiquei assim.

— Meu Deus! Como pode?

— O que agora, criatura?

— Como você consegue? – fechou os olhos e respirou por um momento – você vai me deixar louco!

— Você me deixa louco, Sakura!

                                                                          

                                                               Fim do capítulo.





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Notas finais do capítulo

Uff, finalmente esse capítulo gigantesco acabou. Ok pode começar a me bater e jogar pedras.. eu sei, eu sei atrasei MUITO o capítulo.. Só que tenho uma explicação u_uMeu pc pifou, é, isso mesmo, deu pau .__. Fiquei a semana toda sem net e só tive meu pc devolta ontem a noite. Não tinha como eu postar porque tinha várias coisas pra resolver... enfim, está aí a continução do BIG post não acham ? puf, cansei sério u_u, tive que editar tudo.. enfim espero que gostem e fiquei feliz com as reviws, de verdade ^_^Infelizmente não tenho tempo de responder, mas eu sempre leio com bastante carinho então continuem mandando s2Próximo capítulo sexta/sábado.