O Soldado da Rosa Vermelha escrita por Mari_Masen


Capítulo 28
O sabor de sua inocência.


Notas iniciais do capítulo

Oe! Cá estou com mais um novo capitulo fresquinho para você que, agora, conhecerão o outro lado da historia: Edward.

Boa leitura.



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O sabor de sua inocência.

Sinto falta do seu cabelo em meu rosto.

E do sabor de sua inocência.

Acho que você deveria saber disto:

Você merece algo muito melhor do que eu”.

(Hinder)

Não havia céu. Não existia sol ou então a brisa da manhã – que acaricia as faces desejando um bom dia. Não havia pássaros ou até mesmo árvores que serviriam de abrigo.

Não havia inocência em algo tão errado como um campo de batalha.

O cheiro de morte impregnado no ar era um claro sinal de que a vida não era comemorada; os gritos e pedidos de piedade eram a única coisa que quebravam os sons que armas e canhões produziam – como trilha sonora.

Homens, trajados em fardas manchadas de sangue, matavam e viviam pelo mesmo ideal para qual todos morriam: vitória.

_ Cullen! _ Urrou o sargento, sua voz ecoando em algum lugar da enorme trincheira.

_ Cullen! _ Gritou novamente.

Edward estava deitado atrás de três corpos – em estado de putrefação – com a arma apontada para o norte enquanto ele atirava e recarregava repetidas vezes – algo que fizera durantes meses.

Havia o sangue de seus inimigos em seu rosto e roupa, e o cheiro pútrido daquele local já não era mais perceptível.

O soldado matara centenas de homens durante os meses que se seguiam, porém, aquele trabalho já não era feito com prazer. A adrenalina que a guerra provocara em seu corpo já o deixara, e batalhar em algo assim era tudo, menos algo agradável de fazer.

Edward rastejou no chão novamente e, em um rápido movimento, se jogou para dentro da trincheira – lugar, buraco, onde centenas de soldados ingleses estavam. Ele se levantou e caminhou até o sargento – que estava sentado sob a perna baleada enquanto o paramédico costurava seu braço.

_ Senhor. _ Edward chamou-lhe a atenção.

_Onde está o Vanderfield? _ Perguntou o superior entre dentes, agüentando a imensa dor que sentira a cada agulhada que recebia.

_ Ao meu lado, sob os corpos, acima da trincheira. _ Respondeu o soldado.

_ Vocês dois vão para o leste, próximo a fronteira. _ O sargento parou de falar para colocar uma das mãos sob a boca, se impedindo de gritar. _ Usarão o canhão até segunda ordem. _ Retomou.

_ Frank está lá senhor. _ Contestou.

_ Frank está morto. Vocês estão em seu lugar agora. Agora vá logo! _ Ordenou o superior.

Edward se pôs a procurar seu parceiro – Thomas Vanderfield – que ficaria com ele na fronteira. Minutos depois ele o encontrou agachado detrás da ruína de uma casa.

_ Vanderfield! _ Chamou Edward. O menino se virou para o soldado enquanto carregava sua arma.

Thomas era um rapaz de dezenove anos recrutado contra a sua vontade. Ele possuía olhos azuis e sorriso fácil. E tinha nas mãos uma fina aliança de compromisso.

_ Pois não, senhor?

_ Vamos para o leste cobrir o canhão. _ Edward disse antes de se jogar sob o chão, desviando das balas apontadas para ele. Um estrondo ecoou longe e o soldado tivera a certeza de que eram minas explodindo.

_ É suicídio ir até lá, senhor! _ Thomas gritou para Edward; a voz eclipsada pelos barulhos que sua arma produzia. O menino não tirou os olhos do inimigo mesmo atirando e conversando ao mesmo tempo.

_ É uma ordem, soldado! _ Rugiu Edward. Thomas parou de atirar para fitar o homem diante de si, com a farda manchada e expressão severa, desafiando-o com os olhos.

_ Não vou até lá, senhor. É suicídio atravessar todo o campo. _ O rapaz, em um ato ousado, desafiou Edward.

O homem caminhou até Thomas e o ergueu rudemente, expondo-os para o inimigo, correndo riscos. Em seus olhos existia a faísca de uma fúria crescente.

_ Escute aqui moleque... _ Cuspiu o Cullen. _ Achas que sua vida vale algo além da minha ou de qualquer maldito inimigo que matamos? _ Rosnou furioso, fitando os orbes assustados do menino.

_ Não senhor...

_ Então atravesse aquele maldito campo antes que eu o jogue lá sem arma ou explosivos. _ Edward disse em voz baixa, ameaçadora. Quando libertou o menino ele – mais que depressa – pegou sua arma com as mãos trêmulas e, respirando fundo, se pôs a correr em campo aberto até a distante trincheira do lado leste.

Os franceses, ao verem um soldado adversário correndo até o extremo do campo, logo direcionaram a mira das armas para o rapaz, assim começando a tentativa de matá-lo. O rapaz milagrosamente desviava de todas as possíveis balas que poderiam o atingir – não encontrando tempo para revidar o ataque.

Thomas corria velozmente em campo aberto, a adrenalina pulsava de um jeito prazeroso em sua veia, e para cada desvio que sofria uma sensação eufórica dominava seu ser. Porém, em um momento de distração, o rapaz atreveu-se a olhar para trás por um momento para procurar Edward, mas seu deslize refletiu a conseqüência de um tiro em sua perna direita.

Thomas não sentiu o impacto ou a dor do ferimento de maneira instantânea, mas segundos depois – quando conseguira avistar a trincheira com o canhão – sua perna se dobrou e ele caiu no campo, entre dezenas de mortos. A arma ficou para trás.

Os olhos azuis – que um dia já brilharam – fitaram a enorme mancha de sangue que crescia cada vez mais em sua farda. As mãos do menino pressionaram o ferimento e um rugido de dor escapou por seus lábios.

Naquele momento Thomas rezou para que sua morte fosse rápida.

Mas ela não veio.

O rapaz sentiu seu corpo ser erguido do pútrido chão e ao olhar para cima pôde ver a face feroz de Edward, os olhos verdes concentrados em um ponto logo a sua frente. Segundos depois seu corpo fora jogado na trincheira abandonada, ao lado do corpo do falecido Frank.

Thomas rangeu os dentes ao sentir a dor lacerante em sua perna.

_ Malditos... _ Urrou o menino. _ Atiraram em mim.

_ Por que não continuastes a correr? _ Edward ralhou enquanto se ajoelhava de frente ao garoto e – usando um pedaço retirado de sua farda – pressionava seu ferimento, tentando estancar o sangramento. _ Por que olhou para trás?

_ Procurei pelo senhor. Temi que estivesse ferido. _ Aquela revelação tão simples, vinda de um rapaz pobre e ferido fez com que a face de Edward assumisse uma nova expressão: espanto.

Thomas havia sido baleado porque se preocupou com o próximo, com Edward. Aquele rapaz condenou sua vida, pois se atrevera a olhar para trás em um ato de humildade para quem não merecia.

O jovem apaixonado morreria por pensar no próximo no lugar onde a compaixão havia se esgotado.

Aquele sentimento tão puro fez com que Edward recordasse de sua mulher Isabella.

A dor que aquele soldado sentira no coração – ao pensar em sua amada – não poderia ser comparada a dor que Thomas sofrera. Pois não existiam comparações para isso.

A visão da delicada face de sua esposa preenchera os olhos de Edward que – em um ato ousado – voltaram a brilhar. Ele sentiu falta das carícias suaves que recebia das mãos de Bella e de como os orbes chocolates o fitavam de maneira tão amorosa.

Em um momento de devaneio, sua mente foi capaz de imaginar o crescimento de seu filho, no vente de Bella, e de como ela estava magnífica grávida.

Céus! Ficar longe de sua mulher por tanto tempo era impossível.

Porém os gritos agonizantes de Thomas quebraram o devaneio e o trouxe para a realidade.

_ Aguente firme, Thomas. Ficarás bem. _ Murmurou o soldado, os olhos fora de foco.

_ Não senhor... _ A voz do garoto se tornara um sussurro e o corpo, de repente, ficara pálido. _ Não há mais volta. _ Os orbes azuis perderam o foco.

_ Deixe de asneiras moleque. _ O soldado rosnou em vão. Não havia mais brilho nos olhos do rapaz, e o sangue parara de sair. Mas seu corpo ainda se mexia suavemente com sua respiração prestes a acabar.

_ Não voltarei para minha Sophie. _ Suspirou como se fosse a última fez. _ Minha... Sophie. _ Disse o menino uma última vez antes que seu corpo amolecesse e a cabeça tombasse.

Os olhos azuis se fecharam lentamente. Não havia mais vida ali.

Os sussurros de Thomas ficaram gravados na memória de Edward. Os últimos instantes de sua vida foram gastos em uma lamúria para a mulher que o rapaz amara... A mulher para qual Thomas não voltaria. A singela aliança em sua gélida mão brilhou intensamente – refletindo a luz das explosões – chamando a atenção de Edward.

O soldado retirou suas mãos ensangüentadas da perna de Thomas e as limpou em sua farda. A morte do menino não era motivo de comemoração, porém não haveria tempo para corpos enterrados ou orações feitas, pois Edward estava em uma guerra. Mortes como aquelas eram comuns de ver.

Mas por mais que as armas disparassem e os terrenos explodissem, não havia meios de se continuar com aquilo. Não era possível retornar a matar e mutilar com o conhecimento de que alguém não voltaria para casa.

E naquele instante, ao lado do corpo de Thomas e Frank, Edward sentiu o súbito desespero que a falta de Isabella provocara em seu ser.

Edward se sentou no chão e levou suas mãos a cabeça – agarrando-se a esperança de voltar para Isabella – e puxou seu cabelos fortemente, uma fracassada tentativa de aliviar o desespero interno. Os olhos se fecharam e respirar tornara-se algo difícil para o homem.

Ele queria estar lá, ao lado de sua esposa, vendo sua barriga crescer com um filho que já era amado; beijá-la sem pudor e intensamente no aconchego de seu quarto enquanto fazia amor com ela lenta e prazerosamente; ser o primeiro a acordar para depois observá-la dormir aninhada em seu corpo com a expressão serena e um suave sorriso nos lábios; murmurar algo em seu ouvido que iria provocar o rubor em sua face e sorrir do jeito que ela o olhava enquanto ele trabalhava.

Edward estava em desespero por ter a consciência de que voltar para Bella seria algo difícil de acontecer. O soldado havia prometido a sua amada que voltar era um dever que cumpriria, porém, a realidade que a guerra proporcionou fora forte o suficiente para quebrar aquela promessa e preencher o soldado de incerteza.

Porém, no momento de temor o homem agarrou-se a uma faísca de esperança que poderia levá-lo para casa: era preciso matar o rei francês para que sua volta abandonasse a espera, tornando-se algo concreto.

Fora aquela pequena faísca que fez o soldado se levantar e armar o cachão, instantes depois atacando o inimigo com todo o poder que tinha.

Edward matou milhares de franceses que – numa atitude ousada – saíam de suas trincheiras e tentavam atravessar o campo. Era um contra ataque, o soldado concluiu, os franceses estavam saindo, pois iriam enfrentar os ingleses corpo a corpo.

Minutos mais tarde o soldado percebeu que os ingleses também saíam das trincheiras e corriam na direção dos franceses. Era uma luta corpórea.

Edward abandonou o canhão para pegar sua arma e, assim como os ingleses, sair de sua trincheira para combater o inimigo. Mas quando sua arma estava pronta para atirar – com a mira no inimigo a sua frente –, algo aconteceu.

 O soldado não vira um francês se aproximar por trás, assim não conseguindo impedir que algo forte o golpeasse na cabeça – tornando a visão embaçada e o corpo fraco demais para se manter de pé. Sangue saiu de suas narinas e a visão escureceu.

Antes de Edward cair sob o chão e se render ao inimigo, uma prece fora feita para que algo milagroso não transformasse aquilo em sua morte.

E então, as luzes se apagaram.

**** **** ****

Quando o soldado abriu os olhos, a única coisa que fora capaz de distinguir fora zumbidos de diferentes timbres eram ouvidos por ele que – deitado em uma maca improvisada – lutava para se levantar. Ele sentia todo seu corpo doer como se um elefante estivesse sobre si, mas dor nenhuma em seu corpo superaria a de sua cabeça – que latejava de maneira insuportável.

Os olhos se acostumaram à luz do ambiente e de imediato fitaram o tecido verde que revestia boa parte do lugar onde estava. Ao olhar em seu redor, o homem pôde perceber que estava em uma tenda médica.

O soldado não sabia ao certo há quanto tempo estivera deitado ali, mas alguns gritos e gargalhadas, que chegavam até ele, lhe davam a impressão de que as pessoas a sua volta comemoravam algo.

Ele pôde ver que algumas pessoas caminhavam apressadamente a sua volta – alguns eram enfermeiros e outros soldados que carregavam sacolas em suas costas –, outras estavam deitadas ao seu lado, adormecidas, e mais algumas conversavam animadamente entre si.

O homem estava curioso com toda a correria, porém, ao se levantar, sentira uma mão o empurrar de volta para a maca.

_ Fique aí soldado. Ainda não vieram buscar você. _ Uma mulher gorda murmurara enquanto o pressionada de volta.

_ Onde estou? _ A voz do homem saíra rouca e áspera.

_ Estás em algum lugar da França, rapaz. Mas daqui a algumas poucas horas estarás em um navio de volta para casa. _ A velha sorriu diante a surpresa do soldado.

_ Casa? O que...

_ Acharam-no desmaiado entre os derrotados e o trouxeram para cá. _ A velha respondera com um suave sorriso. _ Precisastes de alguns pontos em sua cabeça, mas já estás bom o suficiente para voltar para casa. _ Sorriu abertamente. _ A guerra acabou há alguns dias querido.

Aquilo bastou para o soldado saltasse de sua cama.

_ Não se levante! _ A velha exclamou, obtendo ignorância em resposta. _ Precisas repousar!

_ Não preciso. _ O homem respondera enquanto retirava a faixa que adornava sua cabeça e abotoava o colete da farda – ignorando as ordens da enfermeira. Quando ficou pronto tentou sair da tenda, porém a mulher o parara.

_ Não...

_ Não abra a boca para dizer o que devo ou não fazer, enfermeira. _ O homem a cortou rispidamente, fazendo com que a mulher – assustada – soltasse seu braço. _ Voltarei para casa. Meu trabalho aqui está acabado. _ E virou as costas novamente.

_ Espere senhor! _ A enfermeira correu novamente atrás do soldado. _ Diga-me seu nome que lhe direi qual navio pegar.

_ Só diga qual desses... _ Apontou para o cais, onde dezenas de barcos estavam ancorados. _ Irá para a Irlanda.

A mulher tornou a puxá-lo pelo braço, mas dessa vez para que o soldado conseguisse ver qual era o barco certo. Ela lhe passou as informações e mais algumas prescrições que o homem deveria tomar para com a ferida. Em seguida o libertou.

_ Obrigada. _ Agradeceu o homem apressadamente enquanto dava as costas e dirigia-se para o grande barco que o levaria de para casa.

_ Diga-me o nome soldado. _ A enfermeira gritou há alguns metros de distância. O soldado dessa vez parou e se virou para ela. Os olhos agora suaves, mas a face ainda séria.

_ Edward Cullen.

Apesar de todas as palavras ríspidas que recebera, a enfermeira sorriu amavelmente.

_ Volte em segurança para sua amada, Edward. _ A velha sorriu. _ A guerra acabou.

Edward assentiu, voltando a caminhar para o navio.

Ao embarcar fora inevitável controlar o sorriso que surgira com o simples pensamento de que a guerra estava acabada, e que agora era uma questão de horas até reencontrar Isabella e seu filho novamente.

Dessa vez, para nunca mais se separar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Comentem e recomendem porque o próximo capitulo é... digamos... emocionante e do jeitinho que você gostam.

Só um avisinho: Não adianta que algumas leitoras venham me "ameaçar" por causa do que o Edward sofreu na guerra. É fato de que essa fanfic sem vocês não é nada, porém tenho um roteiro que tenho que seguir. Não mudarei o rumo da fanfic e muito menos o modo em que escrevo porque algumas leitoras ameaçam abandona-la.

Não me preocupo com ESSE tipo de coisa.
Tenho leitoras (os) competentes o suficiente para entenderem e aceitarem, o que é - obviamente - uma maioria dominante sobre aquelas que acham que ameaçar adianta alguma coisa.

Peço desculpas a quem não tem culpa de nada e lê isso aqui. Mas é que eu precisava deixar bem claro como e com QUEM eu trabalho.

Escrever fanfic não é brincadeira...
É arte.

Beijos e até a próxima.