Percy Jackson e o Enigma de Afrodite escrita por Anne Sophie


Capítulo 30
Tudo está bem.




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Eu ouvia vozes de todos os lugares. Minha cabeça parecia uma bomba prestes a explodir de tanta dor. Fiquei de olhos fechados tentando identificar todas aquelas vozes, mas era uma confusão. Com muito esforço eu consegui colocar minha mão em minha testa e o que eu senti foi uma gosma nojenta. Abri os olhos por impulso e a luz me segou. Praguejei em grego enquanto tentava controlar a dor.

 - Percy!  Alguém exclamou e várias pessoas arquejaram. Eu senti a movimentação ao meu redor, mas apenas abri os olhos para olhar a minha mão.

 - Mas que droga é essa?  Perguntei vendo aquela gosma verde fluorescente tomar conta dos meus dedos. Levei-a até meu nariz e cheirei-a.  Argh! Que cheiro horrível!

 - Priminho!  Berrou Apolo sentando com tudo em minha cama, me fazendo pular.  Estou vendo que meu tratamento funcionou, hein!

 Peguei um pano que estava na cômoda ao lado da cama e o passei sobre a testa, tirando todos os resíduos. Coloquei de volta na mesma com nojo.

 - Isso tem um cheiro horrível.  Falei resmungando e ele riu.

 - É que isso exala o pior cheiro que achamos que existe no mundo. Pra você pode ser um cheiro, mas para mim é outro, entendeu?  Ele falou animadamente. 

 - Ah, por isso tem o cheiro do Gabe.  Falei por alto. Apolo ergueu as sobrancelhas.  Que foi? Ele fede pra caramba!

 Nós dois rimos e de repente a porta foi aberta num estrondo. Depois disso eu só vi uma cabeleira loira vindo em minha direção.

 - Seu babaca, quase me matou de susto!  Annabeth me bateu com força no braço e eu reclamei.  Eu quero é te matar!

 Arqueei as sobrancelhas para ela, mostrando o quão idiota foi o que ela disse. Annabeth apenas rolou os olhos e me abraçou com força.

 - Só tente não quase-morrer de novo, tudo bem?  Ela perguntou baixinho e eu assenti.  Ah, Senhor Apolo, Senhorita Ártemis está te esperando nos jardins.

 Apolo na hora levantou e saiu correndo, sem nem mesmo dar um tchau. Eu e Annabeth nos encaramos.

 - O que deu nesses dois?  Perguntei me ajeitando na cama.

 - Longa história.  A olhei entediado.  Que foi? Vou contar!

  Ela sentou ao meu lado com as costas apoiadas na guarda da cama e segurou o travesseiro, brincando com as pontas do mesmo.

 - Bom, depois que você apagou aconteceu algo muito estranho, Rachel e o antigo Oráculo se iluminaram de verde fluorescente, a luz era tão clara que se alguém não tivesse fechado os olhos teria ficado cego.

 Depois a luz cessou e tudo ficou num silêncio terrível. Eu estava em choque. As duas começaram a caminhar em direção a Apolo. Elas deram as mãos, uma de frente para a outra e começaram a cantar em uma língua mais antiga que o grego antigo, algo sobre ressurreição e vidas perdidas, ambas com as vozes triplicadas. Eu olhei para Ártemis e ela estava chorando. Ela tinha me segurado porque eu queria te tirar de lá, mas ela disse que qualquer interrupção acabaria com tudo.

 A canção levou muito tempo para acabar e quando finalmente chegou ao fim Senhor Apolo abriu os olhos. Ele parecia um zumbi. Segurou as mãos de Rachel e do Oráculo e começou a cantar sozinho, mas quando ele cantou foi tão diferente, tão surreal. Sua voz entrava de forma doce nos ouvidos e no fundo dava para ouvir o som de harpas e violinos tocando. A letra era sobre uma mortal que cedeu a sua vida para que os deuses aproveitassem de seus poderes de vidência. A música era tão linda, mas tão triste que eu senti meu coração se despedaçar. Foi um impressionante.

  No fim da canção ele não parecia mais hipnotizado. Olhou para Rachel e a perguntou, falando em grego antigo, se ela aceitava se abdicar do amor e seguir os mandamentos da profetização, sempre os pondo em primeiro lugar. Ela disse sim e teve que repetir o juramento que Lorde Apolo falou. No fim ele completou dizendo que finalmente Rachel era o novo Oráculo, e ela levou uma lufada de vento e uma fumaça verde a rodeou e entrou por sua boca.

 Quando Lorde Apolo terminou de oficializar o ritual, ele segurou as duas mãos do antigo Oráculo, fez uma prece e a soltou, fazendo o corpo vazio que antes habitava o espírito de Delfos cair no chão. Porém quando este ia encontrar o solo se transformou em um pó tão brilhante como o ouro, que foi levado pelo vento.

 - Depois disso Apolo e Rachel desmaiaram de novo. Lady Ártemis foi correndo até Lorde Apolo, enquanto eu fui colocar você e Rachel na cama.  Ela terminou de contar a história e eu assoviei chocado.

 - Eu fiquei fora do ar por quanto tempo?  Perguntei casualmente.

 - Uma semana.  Arregalei os olhos.  Você perdeu muita coisa, Percy. Rachel já está melhor, Grover veio te visitar, sua mãe quase enlouqueceu pensando que você estava morto, seu pai veio te visitar, Nico trouxe Hades para te pedir desculpas, nossa, é tanta coisa que eu preciso de um tempo pra lembrar!

 - Espera. Você disse que Nico trouxe Hades até aqui para me desculpar?  Questionei em tom de riso.

 - Percy, eu disse que sua mãe quase enlouqueceu e você está preocupado se Hades veio ou não te pedir desculpas?  Annabeth me perguntou incrédula.

 - É?  Falei em tom óbvio.

 - Percy!  Annabeth me bateu com a almofada.  Coitada da sua mãe!

 - Calma! Eu sei que você cuidou dela por mim, por isso que não estou preocupado!  Falei tentando me defender. Ela parou de jogar o travesseiro em mim e ficou me encarando.

 - Ah, que lindo!  Ela falou me abraçando.

 - Eu sei que sou.  Debochei e ela me deu um tapa no braço rindo. A encarei por um tempo e fiquei fazendo um carinho em seu rosto.  Eu te amo, muito.

 - Eu também te amo.  E então ela me puxou para um beijo. Beijo então que duraria muito se ela não tivesse interrompido para falar coisas que eu não gostaria de saber.  Ah, preciso te contar uma coisa.

 - Fala.  Resmunguei.

 - Eu espero que não fique muito chocado, mas Ártemis e Apolo assumiram o namoro ontem.  Arregalei os olhos.  Essa não é a pior. Seu pai e minha mãe assumiram o namoro faz uns seis dias e anunciaram o casamento antes de ontem.

 Eu me engasguei na hora. Comecei a tossir e respirar com força para buscar o ar, mas minha traquéia tinha fechado. Annabeth entrou em desespero e começou a bater em minhas costas. Em uma dessas ela me bateu tão forte que o fôlego voltou.

 - Pelos deuses, você só pode estar brincando!  Falei em choque. Ela negou rindo.

 - Pelo incrível que pareça, não. Eu fui contra no começo, mas vi que eles realmente se amam.  Fiquei a encarando ambismado. 

 - É, pode ser, mas vai levar um tempo pra eu me acostumar. Um bom e longo tempo.

 Ouvi batidas na porta e logo em seguida Rachel, Nico, Grover e Thalia entraram no quarto. Rachel veio correndo em minha direção.

 - Percy!  Ela se jogou me dando um abraço.  Muito obrigada por me salvar, você está melhor?

 - Estou sim.  Falei bagunçando seu cabelo e ela me deu um tapa.

 - Nem pense em fazer isso de novo, senão eu preverei um futuro cheio de horrores pra você.  Ela me ameaçou e eu ergui as mãos em rendição.

 - Peeeeeeeeercy!  Grover veio balindo. Seus chifres e sua barba estavam bem maiores.  Cara, eu fiquei muito preocupado com você! Eu tinha que ter te ajudado!

 - Calma, homem-bode, está tudo bem!  Falei dando um abraço nele.  Você tinha coisas mais importantes, eu entendo. Está conseguindo recrutar seres da natureza?

 - Ah sim! Várias ninfas estão me ajudando, elas já estão passando a informação para outras da Europa e América Central. Logo, logo todos já estarão conscientizados!  Eu sorri e ele se sentou do meu lado, conversando com Annabeth.

 - Faísca!  Quase gritei o novo apelido de Thalia. Ela devolveu fazendo uma careta e me dando um choque.  Ai! Por que você sempre tem que fazer isso?

 - Costume.  Ela deu de ombros.  E aí, sentindo muita dor?

 - Por aí. E aí, caçando muito? 

 - É, quase isso. Eu decidi dar um tempo na caçada, sabe?  E ela olhou para Nico. Arqueei as sobrancelhas.

 - Hã, acho que não sei, não.  Falei meio pateta. Os dois me encararam.  Annabeth, acho que você esqueceu-se de me contar uma coisa...

 - O que? Acho que eu te contei tudo!  Ela falou me encarando.

 - Tudo bem, eu e o Nico estamos nos conhecendo, não é?  Nico concordou. Eu, Annabeth, Rachel e Grover ficamos de queixos caídos.

 - O que?  Berramos ao mesmo tempo. Os dois rolaram os olhos.

 - É? Algum problema?  Nico perguntou ficando enfezado.

 - Como Lady Ártemis está namorando ela nos deu permissão para namorarmos, já que seria injusto jurar lealdade e abdicar o amor a alguém que se perdeu nele.  Torci o nariz do modo de Thalia falar. Tão Zöe Doce-Amarga!

 - Mas como isso aconteceu?  Annabeth perguntou.

 - Bom, foi há um tempinho...  Nossas bocas se abriram mais, se for possível.

 - Mas e a caçada?  Grover exclamou. Seus olhos quase saíam da cara.

 - Eu vou ficar mais um tempo na caçada, até Nico completar mais ou menos a idade que eu aparento ter e sairei somente se isso der certo.

 - E vocês já combinaram isso tudo?  Rachel perguntou. Os dois assentiram.  Nossa, mas que bem-resolvidos!

 Eles riram e nós acompanhamos, ainda chocados. Nico começou a me perguntar sobre várias coisas do tipo O que você imagina quando está desmaiado?, típico do Nico.

 - Mas é verdade que você trouxe seu pai até aqui para me pedir desculpas?  Perguntei querendo sua confirmação.

 - Claro, ele só estava brincando com a gente, você acredita?  Ele falou incrédulo, mas depois começou a rir.  Você tinha que ver a cara de alívio que ele fez quando disseram que você ainda estava desmaiado.

 Nós dois começamos a rir e ele jurou que ia fazer o pai me pedir desculpas na festa que teria hoje à noite, feita por Dionísio, claro. Ficamos os seis conversando e fazendo brincadeiras uns com os outros até Hermes colocar a cabeça para dentro do quarto.

 - Opa! Olá gente! Percy, você está bem?  Assenti.  Ainda bem, temos um Dionísio irritado doido para dar uma festa, mas reclamando que o convidado principal é um enrolado. Está todo mundo pronto?

 - Estamos sim.  Annabeth falou.  Vá se arrumar, Percy.

 Levantei-me e fui em direção ao banheiro. Tomei um banho merecido e me arrumei, tentando ser o mais rápido possível. Não queria ser transformado em um boto pelo deus do vinho.

 - Aleluia!  Todos exclamaram quando eu saí do banheiro. 

 - Dionísio passou por aqui umas três vezes e nos ameaçou umas dez!  Nico exclamou.  Vamos logo que eu não quero virar um cacho de uvas!

 Todos saíram rapidamente pela porta. Ofereci meu braço à Annabeth e ela aceitou. Saímos caminhando pelos corredores até o salão principal.

 A festa estava incrível! Tudo estava iluminado, barulhento. Os seres mitológicos conversavam alegremente e pelas enormes janelas de vidro as mansões estavam totalmente iluminadas. O Olimpo estava em ativa novamente.

 - Meu filho!  Ouvi uma voz esbravejar atrás de mim e me virei imediatamente.  Finalmente está acordado!

 As rugas em volta dos seus olhos se contraíram por conta do sorriso que dava. Sorri de volta e aceitei o aperto de mão que ele oferecia.

 - Olá Senhor. Pai.  Falei ainda meio envergonhado. Poseidon me puxou para um abraço.

 - Sem formalidades, Percy!  Ele riu.  Fiquei realmente preocupado com você! Achei que não ia aguentar. A sorte foi os encantamentos de Apolo. Ainda bem que está aqui, filho.

 - Eu estou bem, pai.  Falei tentando demonstrar sinceridade.  Posso te fazer uma pergunta? Vai mesmo se casar com Atena?

 - Vou sim, como sabe disso?  Ele me perguntou duvidoso.  Ah, Annabeth, não é?

 Assenti e vi Atena se aproximar. Ela parou do lado do meu pai e ele rodeou sua cintura com o braço. Controlei-me para não fazer uma cara de desgosto.

 - Lady Atena.  Cumprimentei-a cordialmente. Ela sorriu para mim abertamente.

 - Olá Percy. Que bom que está melhor.  Tive que prender com força a minha mandíbula para que meu queixo não caísse.  Querido, estou com sede, será que você poderia trazer uma bebida para mim?

 - Claro.  Ele a deu um selinho e piscou para mim, saindo atrás de um garçom.

 - Eu vou tentar te aceitar melhor, Percy Jackson. Você ganhou créditos comigo depois de salvar Apolo, mas não vou começar a te adorar por ser filho do meu noivo.  Atena mudou completamente o seu tom de voz, me assustando.  Ah, espero que não machuque a minha filha, se algo acontecer não medirei esforços para te transformar em cinzas. Com licença.

 E saiu andando em direção ao meu pai. Pisquei algumas vezes atordoado. Foi muito estranho. Decidi sair por aí cumprimentando as pessoas, afinal eu era o convidado de honra, não podia fazer feio.     

 Quando eu fui ao bar pedir uma bebida fui puxado pela gola da camisa por uma Annabeth determinada. Fomos parar no meio da pista. No fundo eu ouvia uma batida agitada, apesar de muitos casais estarem dançando em ritmo lento.

 - Vamos dançar.  Ela me pediu. Imediatamente a música agitada foi trocada por uma lenta. Eu envolvi a cintura sua com meus braços e ela segurou meu pescoço. Começamos a nos movimentar lentamente.  Ainda bem que está tudo bem, não é?

 - Sim, ainda bem.  Eu sorri me aproximei, dando-a o melhor beijo de toda a minha vida.

 Realmente, ainda bem que está tudo bem.


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