Percy Jackson e o Enigma de Afrodite escrita por Anne Sophie


Capítulo 29
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Notas iniciais do capítulo

Leiam, leiam, leiam!



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 Vamos pensar em qual parte o plano deu errado.

 Primeiro, passar pelo Cérbero, o famoso cachorrão de três cabeças que ama Annabeth. Certo, foi moleza, até brincamos com ele um pouquinho!

 Depois passar pelas Benevolentes. Fácil, fácil. Elas até iam nos atacar, mas foi só Nico mostrar a espadinha preta dele que elas saíram voando pra longe.

 Atravessar o jardim de Perséfone? Ah, apesar da fome que eu estava sentindo, eu consegui me controlar, porque ou é ficar com fome ou é morrer na certa.

 Falar com o meu querido titio Hades e sairmos serelepes e saltitantes para o mundo superior segurando o fantasma de Rachel? Pééééé, foi aí que deu errado!

 Eu e Nico entramos na sala do trono e de cara vimos o deus todo deprimido e raivoso. Claro, o humor dele alterou um pouquinho quando nos viu - acho que felicidade por ver Nico e um certo ódio por me ver -, e pediu para que nos ajoelhássemos.

 Claro que Nico foi de prontidão, mas eu olhei para a cara dele descrente e a única coisa que ele fez foi entrar na minha cabeça e mostrar aquelas imagens horríveis de pessoas morrendo. Aí sim eu ajoelhei.

 - Olha, olha, olha, o que vemos aqui! - Ele deu uma risadinha. - Perseu Jackson? Qual é a encrenca dessa vez?

 Eu suspirei pesadamente, mas foi Nico quem respondeu:

 - Pai, viemos pedir um favor ao senhor. - As sobrancelhas de Hades se arquearam. - Nos deixe levar uma alma de volta.

 Hades se ajeitou no trono e começou a rir fazendo os fantasmas costurados em seu manto se contorcerem. Os guarda-esqueletos acompanharam a risada com seus sorrisos maléficos.

 - Ora Nico! Você acha que sou tolo? - Ele riu mais uma vez - Isso vai contra as antigas leis!

 - Mas pai! É realmente preciso! - Nico quase gritou. Hades fechou os olhos.

 - Me escutem bem. Eu não vou ressuscitar namoradinhas mortais idiotas, não. - Ele respirou fundo. - Morreu? Procura outra! Tem várias vivas no Mundo Superior!

 - Mas ela não é minha namorada. - Nico fez uma careta. - E ela não é uma mortal qualquer, é o Oráculo.

 A cena seguinte seria muito engraçada se não fosse tensa. Hades arregalou os olhos, Nico olhou assustado para mim e eu fiquei encarando Hades, que começou a nos encarar furiosamente.

  - Eu. Não. Admito. Isso. - Hades levantou subitamente e apontou o dedo na cara de Nico. - Logo você Nico, você! Sabe o que o Oráculo fez com sua mãe, você sabe! Deveria se juntar a mim e combater a volta desse ser amaldiçoado!

 -Pai, o senhor sabe que aquele foi um preço que mamãe pagou! Ela quis ficar com o senhor! O Oráculo o avisou, mas ela não quis te obedecer! - Nico berrou a plenos pulmões. - A culpa é dela, só dela.

 Os olhos de Hades ficaram vermelhos como sangue. Ele levantou a mão direita e apontou para uma porta gritando:

 - Tirem-nos daqui! Para as masmorras! Quero que apodreçam pensando no que falaram!

 Os guardas nos algemaram e nos arrastaram até as masmorras, onde nos colocaram novamente naquelas celas completamente fechadas. Só que essa tinha um diferencial: tem uma parede invisível mágica entre a minha cela e a de Nico. Descobri da pior forma tentando bater nele, o que resultou em um galo bem feio na testa.

 - Eu não acredito! Tão pouco, tão pouco! - Comecei a berrar. Nico se jogou no chão de sua cela. - Pra morrer daqui a menos de uma hora sufocado. Argh!

 - Para de reclamar. - Nico ralhou comigo. Parei de andar e o olhei incrédulo.

 - Para de reclamar? PARA DE RECLAMAR? - Encostei-me à parede mágica. - Seu otário, eu tenho que salvar essa bosta de mundo que não consegue se salvar sozinho, e você pedindo pra eu calar a boca!

 Comecei a socar a parede furiosamente, enxergando tudo em vermelho, de tanta raiva. Nico só afiava a lâmina da sua maldita espada.

 Então ele parou. Parou do nada e ficou encarando um ponto fixo da parede. Eu parei de bater na parede mágica.

 - Que houve? Percebeu que tem distúrbios anormais agora? Que come cocô no café da manhã? - Comecei a insultá-lo.

 - Cala a boca. - Ele nem me encarou. Xinguei-o mais uma vez. - Cala a boca. Você não está vendo que eu tô tentando fazer alguma coisa pra fugir, ao contrário de você?

 Ele finalmente tinha me olhado. E o que ele me disse me chocou. Joguei-me contra a parede e fui escorregando até sentar no chão.

 - Eu tenho um plano. - Ela falou bem baixo. - E você vai fazer tudo que eu mandar de bico fechado, entendido?

 Eu assenti ainda chocado. Ele levantou e chegou perto da barreira. 

 - Pega sua espada. - Fiz o que ele mandou e logo Contracorrente estava sendo segurada por meus dedos. - Preste bem a atenção no que eu vou te dizer, senão isso pode ser sua morte. Coloque a espada verticalmente reta contra a barreira e empurre-a com a maior força que tiver. Mas não mova a espada para nenhum outro lado, sempre reto e pra frente, entendeu?

 Eu assenti e Nico se distanciou. Posicionei a espada o mais reto que eu podia imaginar e comecei a empurrá-la. A força que eu fiz poderia ser comparada à de quando eu segurei o céu, foi imensa. A barreira mágica parecia que ia perfurar a minha pele como uma britadeira. No fundo eu ouvia o apoio moral de Nico.

 Quando eu já não tinha quase nenhuma força eu senti como se tivesse no ar, mas foi tarde demais que eu percebi que estava indo de encontro ao chão e foi lá que eu fiquei, com a cara toda amassada e possivelmente com o nariz quebrado.

 - Muito bom! - Nico me congratulou enquanto me ajudava a levantar. - Agora é a minha vez.

 Fiquei esfregando o nariz e vendo ele se posicionar de frente para uma parede negra de tijolos. Eu realmente não estava entendendo nada até ele perfurar a parede falando em grego antigo e uns jatos pretos saírem dela. Nico parecia quase um fantasma. Ele continuou fazendo força até conseguir explodir a parede, voando uma gosma preta e tijolos para todos os lados. 

 - AGORA CORRE! - Ele berrou. 

 Eu entrei em ação. Saí daquela cela e fui de encontro para um corredor cheio de guarda-esqueletos. Enquanto eu batia neles eu vi com o canto dos olhos Nico convocar uns 10 esqueletos e sair pelo corredor escuro. Ele fez um gesto para eu segui-lo.

 Eu já tinha derrotado quase todos os guardas, então eu dei um golpe final em um e deixei os esqueletos de Nico para controlar a situação e saí correndo. Mais a frente eu achei um Nico semi-desmaiado no chão.

 - Siga em frente. - Ele falou sussurrando. Agachei-me ao seu lado. - Você achará uma porta enorme e preta, com vários dizeres em grego antigo. Entre, mas tente não cair.

 Ele estava mais dormindo do que acordado, então dei uns tapas em seu rosto.

 - Nico, eu não posso deixar você aqui. - Falei desesperado.

 - Não tem problema, vai logo. - Ele soltou um barulho estranho. Acho que foi um ronco. - Quando você sair chame Blackjack, ele vai estar pelos arredores.

 - Nico, como eu faço para sair daqui? - Perguntei o chacoalhando. Ele abriu os olhos assustado.

 - Descarga para cima, não para baixo. - E caiu no mundo de Morfeu.

 - Aaah, deuses. - Coloquei Nico deitado e saí correndo. Eu ouvia o barulho da batalha a poucos metros de mim. 

 Eu fiquei correndo em linha reta por um tempo, até que eu achei a porta que Nico havia me descrito. Nem parei para ler o que tinha escrito em relevo, apenas entrei com tudo. O que eu não deveria ter feito.

 - Por Poseidon! - Exclamei tentando me equilibrar na beira de um precipício sem fim. Consegui agarrar-me a uma das paredes feitas de pedra em relevo e assim fiquei. A porta atrás de mim se fechou num baque surdo. - Nossa!

 Fiquei encarando aquilo, realmente parecia um vaso sanitário enorme. As almas desciam para aquele infinito profundo em movimento circular, como um redemoinho.

 - Onde está Rachel agora? - Fiquei encarando aquele fundo, até que eu olhei para frente e vi um espectro particularmente conhecido. - Ah, fala sério, sempre complicam as coisas, por que ela não poderia estar aqui do meu lado?

 Fiquei resmungando por um tempo enquanto tentava achar uma solução para chegar até Rachel. Então eu comecei a perceber uma coisa: o redemoinho recuou e logo começou a subir até chegar ao topo da caverna, que tinha um buraco que mostrava a conhecida luz do dia. Era como se o redemoinho vomitasse. O problema é quando ele começa a descer e sugar tudo que tem perto, inclusive a mim.

 - Opa! - Segurei-me nas pedras enquanto sentia os meus cabelos e minha pele serem quase arrancados.

 De repente essa força toda parou e tudo ficou parado, tranquilo. Respirei fundo e fui escalando de lado as paredes até chegar onde Rachel estava.

 Durante o percurso eu fui percebendo que o precipício "vomitava" a cada cinco minutos, e todo espectro que saída pelo buraco era sugado de volta. E também percebi que eu não precisava prender a respiração toda a vez que a "maré" subia.

 Numa das vezes que o mar de espectros começou a subir e eu fui afogado por ela, eu vi que me tornava velho, minhas mãos ficavam tão enrugadas quanto às de um velho de noventa anos. Quando eu finalmente estava perto de Rachel eu vi a porta se abrir e milhares de guardas despreparados caírem no precipício. Atrás dos que se seguraram eu vi um Hades furioso apontar para mim.

 - Peguem-no! Atirem, Matem-no! 

  Os guarda-esqueletos começaram a escalar as paredes, mas eles não possuíam tato para segurar nas pedras e acabavam escorregando para o buraco negro. Os que perceberam isso começaram a atirar em mim.

 Num momento de impulso eu finalmente consegui agarrar o espectro de Rachel com a mão direita. A dor eclodiu em meu corpo e eu soltei um berro estrangulado. Por entre a alma semitransparente de Rachel eu via a minha cicatriz arder e encolher cada vez mais.

 - Não! - Eu berrei. Uma flecha passou zunindo perto da minha orelha. 

 O abismo começou a fazer um barulho estranho, mas forte que os outros anteriormente e começou a recuar mais ainda. De longe eu ouvi Hades gritar para que os guardas recuassem e logo em seguida as portas serem fechadas.

 O barulho parou e por um momento eu pensei que foi só uma indigestão que ele teve, mas no segundo seguinte o precipício cuspiu tudo de uma vez e eu tentei me segurar na parede. Mas eu me lembrei do que Nico havia me dito, "Descarga para cima, não para baixo". Eu não deveria cair no precipício, mas deveria deixar o precipício me levar quando ele cuspir. Foi aí que eu me joguei.

 A única coisa que eu me preocupava era de segurar Rachel bem firme. Eu via as minhas mãos enrugarem e a pele dos meus braços ficar mais fina, até o momento de eu ser jogado para fora do Mundo Inferior. 

 No impulso eu segurei na primeira coisa que eu vi e me agarrei com força nela. No momento seguinte o buraco começou a sugar tudo que tinha perdido. Parecia que um furacão estava do meu lado e que queria me levar a todo custo. Eu quase desisti de tanta dor que eu sentia, mas parece que o buraco desistiu de mim antes.

 Respirei fundo e tratei de sair aos tropeços daquele lugar. Parecia um ferro-velho abandonado no século atrás e tinha de tudo nele. Tudo mesmo. Quando eu atravessei o muro de madeira aos tropeços eu me vi diante de uma das movimentadas ruas de Manhattan. 

 Então eu olhei para trás, mas eu não vi mais o ferro-velho, e sim uma enorme loja de artigos de decoração. Saí correndo até o Central Park e assobiei, esperando Blackjack chegar.

 Joguei-me embaixo de uma sombra de uma árvore e tratei de esconder o espectro de Rachel. Não conseguia nem pensar no que os mortais achariam. Fiquei segurando com força a palma da minha mão, vendo a cicatriz encolher cada vez mais, virando um pequeno círculo. A dor era tanta que eu não abria os olhos.

 Fiquei murmurando coisas sem sentido até eu ouvir um relincho familiar e cascos baterem contra o chão ao meu lado.

Chefe, você está horrível!

Blackjack relinchou preocupado. Tentei me levantar.

 - Eu sei disso cara. - Ele me ajudou a ficar de pé. - Tem como você levar eu e a Rachel para o Olimpo?

 Tirei Rachel do esconderijo e Blackjack deu um relincho assustado, andando para trás.

Chefe, por favor, não me faça carregar isso!

- Por favor, Blackjack, isso é muito importante. - Dei um berro de dor e larguei Rachel no chão para segurar minha mão. A cicatriz estava minúscula. - Agora.

 Blackjack atendeu a minha ordem e em um segundo eu já estava montado em suas costas segurando o fantasma de Rachel com força e tentando não desmaiar.

 - Mais rápido, mais rápido - Eu mandava e Blackjack tentava voar cada vez mais rápido, eu suava frio. Então invadimos o quarto de Apolo pela varanda.

 Eu saí aos tropeços até o corpo de Rachel, que estava deitado em uma cama do lado direito de Apolo. O corpo do Oráculo se encontrava na cama do outro lado de Apolo.

 Annabeth tentou vir ao meu encontro, mas Ártemis a segurou.

 - Não. Só ele pode fazer isso. - Elas encostaram-se a uma das paredes.

 Eu me ajoelhei ao lado do corpo de Rachel, segurando sua alma acima do seu corpo, mas em um momento de distração eu olhei para palma da minha mão e vi que a cicatriz não passava de um ponto escuro. No momento em que eu coloquei a alma no corpo de Rachel o prazo acabou.

 Parecia que eu estava recebendo uma descarga elétrica. Meu corpo chacoalhava muito. Eu ouvia os berros de Ártemis e Annabeth, vi luzes eclodirem por todos os lados. O problema é que quando Apolo, o antigo Oráculo e Rachel se levantaram ao mesmo tempo eu senti como se tivesse levado um tiro de fuzil na cabeça e então eu apaguei, caindo com tudo no chão.

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Muahahahaha a história tá acabando!!! lalalalalala

Eu vim pedir desculpas pelo atraso, mas eu tive uma semana beeeeeeeeeeeeeeeeem conturbada de provas e nesse feriado que teve eu não pude postar x.x

Mas que gostou levanta a mão!

Ah, vocês sabem, né? A história acaba daqui a no máximo 3 capítulos!!! DD:

SIM, meus caros, depois de dois longos anos a história finalmente acabará! ALELUIA!

Ook, não vou perder o tempo de vocês com isso.

Até a próxima e até os reviews!!!

Bjs


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