Irresistível Presença escrita por M-Duda


Capítulo 23
Capítulo XXIII - Irresistível




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/91019/chapter/23

 

Capítulo XXIII

 

Quando finalmente consegui abrir os olhos, depois de lutar um pouco contra a fadiga e a claridade, me senti ainda dentro daquele pesadelo angustiante, no qual tentava a todo custo encontrar o rosto de Edward perdido na escuridão. Sua voz atormentada, me chamando em meio a outros ruídos, me dava forças para não desistir de procurá-lo. Precisava dizer que o ajudaria, e que jamais o abandonaria – por que ele achava que eu seria capaz de fazer isso?... - mas tudo parecia impossível até aquele momento. No entanto, acordada não seria a palavra certa para definir minha condição, pois os sons estranhos continuavam a penetrar em meus ouvidos, a única diferença era a ausência da voz de Edward - o que me mortificava. Porém, antes que eu pudesse buscar por respostas, ou outras mudanças mais no ambiente iluminado, um jato horrível de ar foi lançado para dentro dos meus pulmões, me fazendo esquecer de tudo o que julgava ser preocupante para me concentrar no aterrorizante instante em que me encontrava. O que estava acontecendo?

- Ela acordou! – escutei uma voz, mas me desesperei ao constatar a existência de um tubo em minha boca, descendo por minha garganta.

Pânico. Agitei-me apavorada e senti uma forte dor latejar pelo corpo inteiro. Uma segunda lufada de ar obrigou-me a novamente insuflar os pulmões enquanto os sons intermitentes, antes constantes e baixos, tornaram-se apitos escandalosos.

- Acalma-se! Acalme-se! Está tudo bem, querida. – uma mulher, trajando roupas e touca azuis, com um sorriso encorajador, tentou me acalmar tocando levemente em meu ombro direito. – Tente não se agitar tanto. – continuou sussurrando agora acariciando minha cabeça. Eu estava deitada e não conseguia me levantar, por isso não fora possível decifrar que lugar era aquele. Como se pudesse ouvir meus pensamentos, um dos dois homens que se aproximavam, vestidos igualmente a mulher que se manteve ao meu lado, me explicou com serenidade:

- Você está em um hospital, Isabella...mas agora está tudo bem. Consegue me entender? – franzi o cenho e assenti, tentando entender as informações quando outro jato de ar mais uma vez deixou-me desassossegada. O homem, vendo a minha luta particular, continuou com sua explicação em tom gentil – Não se desespere com isso. O respirador foi importante até agora, mas você já não precisa mais dele. Rebeca Moore...a fisioterapeuta – apontou com uma das mãos a mulher que me apoiava ainda com um sorriso enternecido – Irá extubá-la. Meu nome é Bradley Macdoven, e sou o seu médico intensivista.

Como assim meu médico intensivista? Acaso eu estava em uma UTI? Pestanejei alarmada e, só então, me lembrei de algo horrível...o carro! Oh Deus, e minha filha? Não pude perguntar devido ao tubo que me impedia, mas levei minha mão direita à barriga – sem me incomodar com o repuxão de pele causado pela agulha, em meu braço, que se movimentou devido ao meu gesto intempestivo - com a estranha sensação de vazio. Ela não estava mais dentro de mim, podia sentir sua ausência. Minha menininha, minha companheira, minha pequena jóia e grande alegria, minha Marie...não estava mais comigo. Eu não consegui protege-la. A dor que me inundou não podia ser pior. Poderia suportar mil facadas, mas não àquilo...como estaria Edward? Edward...precisava vê-lo. Precisava de seu abraço.

- Sua filha está bem... – Rebeca garantiu, segurando minha mão agarrada ao tecido que cobria a barriga. Encarei seus olhos tentando expressar minha gratidão e minhas súplicas. Desejava obter mais detalhes – O importante é saber que tudo está bem, agora, querida. Vamos primeiro livrá-la desse tubo – fez careta encenada transmitindo-me coragem. – E então, Dr. Macdoven poderá tirar todas as suas dúvidas. Certo? - assenti com um piscar de pálpebras. Onde estaria Edward?

- Exatamente – o médico concordou – Agora irei falar com o seu marido, Isabella. Gostaria de vê-lo? – claro que gostaria. Fiz um gesto com os olhos esperando que aquilo bastasse para expressar minha afirmativa. – Ótimo – então, Dr. Bradley se retirou, deixando-me aos cuidados da fisioterapeuta e do outro rapaz que percebi ser o mais jovem dos três.

- Olá, Isabella – ele me saudou com leve entusiasmo.

- Este é Juan Sullivan. O melhor enfermeiro do hospital. – Rebeca apresentou sorrindo, enaltecendo o ego do companheiro de trabalho. Eles tentavam fazer a situação parecer menos desagradável.

 

Massageei - com a mão livre de agulhas - o pescoço, depois da péssima experiência de ter um tubo sendo retirado da garganta. Respondi as perguntas que testavam meu nível de consciência e pigarreei um pouco antes de tentar forçar a voz:

- Ed-ward? – mas saiu baixa e rouca demais.

Mal terminei de perguntar para a fisioterapeuta e ele já estava ali, parado à minha frente, com olhos brilhantes e arregalados e um sorriso que misturava alegria, alívio, medo e amor. Edward estava notoriamente cansado, mas ainda assim, o ser humano mais belo do mundo.

- Bella... – sussurrou ao se aproximar. Ergui a mão, ignorando o quanto ela tremia pela fraqueza, para acariciar-lhe a face, mas Edward a segurou entre as suas enquanto beijava-a e passava-a em seu próprio rosto. – Meu amor...como se sente?

- Não chore! – pedi, tentando enxugar as lágrimas que molhavam meus dedos. - Estou bem. – ele beijou demoradamente minha testa – Não fique assim, não sofra...

- Não estou sofrendo, meu amor – Edward disse, colando sua testa na minha – Estou feliz! – então roçou os lábios nos meus. – Aliviado – roçou mais uma vez – Você voltou para mim. – pestanejei vendo-o me encarar como se eu fosse irreal.

- Voltei? – na verdade eu ainda não sabia o que tinha me ocorrido - O que aconteceu? E Marie? Por favor, me diga tudo. – a garganta ainda estava ruim, mas não podia mais controlar minhas perguntas.

- Não se lembra de nada? – Edward perguntou ainda bem perto.

- Apenas do carro... – franzi a testa – Tentei proteger Marie...mas... – meneei a cabeça achando difícil obter êxito naquela atuação. Rebeca garantira que minha filha estava bem, mas já não sabia se aquilo era somente para me deixar menos agitada. – Não minta, Edward – agarrei-o pela camisa – Por favor, o que aconteceu com ela? 

- Shh...calma, calma, Bella, ela está bem. – ele disse, e então pude me sentir mais tranquila. Confiava na palavra de Edward. – Marie nasceu antes do tempo, e por isso terá que ficar algum tempo na incubadora, mas não corre nenhum risco. – sorriu, passeando o dedo indicador por meu rosto – Ela é linda...como você. – rolei os olhos, sabendo que Marie seria muito mais feliz se parecesse com o pai. Então ela estava na incubadora? Sentia-me incapaz só de imaginá-la naquela situação.

- Quero vê-la...

- E irá – o médico se pronunciou e eu não seria capaz de dizer se ele havia acabado de chegar ou se esteve ali o tempo todo. – Mas não agora, primeiro precisamos cuidar de você e esclarecer as tuas dúvidas.

Após ouvir tudo o que acontecera comigo, fiquei sem reação. O fato de ter fraturado duas costelas e sofrido escoriações por todo o corpo não era nada perto da perda do útero. O médico permitiu que Edward ficasse mais um tempinho na UTI, afim de conversarmos em particular.

- Bella, amor... – ele começou com cuidado – Você escutou o que Dr. Macdoven disse. A retirada do útero não lhe prejudicará em nada...

- Exceto uma coisa... – o interrompi e Edward bem sabia o que eu diria a seguir. Mesmo assim me deixou continuar, com paciência – Não poderei mais ter filhos. – o fitei sentindo um mal por dizer as palavras em voz alta, como se daquela forma elas se tornassem reais. – Nunca gostei de ser filha única... – dei de ombros resignada – Pensei que pudesse construir uma família maior ao teu lado, mas veja o que aconteceu... – suspirei rendida. Ele me lançou um olhar sereno e acariciou meu rosto.

- A nossa família será do tamanho que quisermos, amor. – garantiu - Mais do que adultos desesperados por um filho, existem crianças desesperadas por um lar. – Edward refletiu por um momento e voltou a falar – Você acha que poderia amar uma criança que não fosse, biologicamente, nossa?

- Claro que sim. – me apressei em responder, chorando de alívio. – Fico tão feliz que pense assim, Edward...eu te amo tanto! – minha voz já nem saia mais. Era emoção e cansaço temperando o meu pranto – Não sei o que seria de mim sem você.

- Nem tente imaginar, então. – brincou beijando delicadamente minhas faces, meu nariz, meus lábios, como se pudesse me quebrar caso descuidasse com a pressão exercida. – Mas por favor, se controle...caso contrário não te deixarão sair tão cedo desta UTI.

- Tudo bem...não aguento mais ficar aqui. Quero me livrar dessas agulhas e sondas...Não sei como consegue ficar perto de mim. Estou fedendo.

- Não diga bobagens. – me censurou com brandura, afagando meus cabelos.

- Precisa mesmo sair daqui? – não dava para disfarçar meu descontentamento.

- Não se preocupe – disse beijando minha mão – Você irá dormir agora.

- Vai ver Marie?

- Claro! Estou louco para deixá-la por dentro das novidades. Ela ficará radiante quando souber que a mamãe acordou. – sorri timidamente. Edward falava de um jeito tão engraçado. Era como se eles já se conhecessem há anos, e eu, no entanto, ali estava, sem nem saber como eram as feições de minha filha.

- Queria tanto vê-la – suspirei sentindo o corpo cada vez mais pesado. O sono estava querendo me levar para longe de meu marido. Apertei com um pouco mais de força a mão de Edward, já não conseguindo me atentar ao que ele dizia.

 

No dia seguinte ao nascimento de Marie – e ao meu renascimento – fui transferida para um quarto particular, por já me encontrar, segundo os médicos, em quadro clínico estável.

- Nem consigo acreditar que tudo isso tenha acontecido em tão pouco tempo – murmurei assim que meus pais saíram do meu novo aposento hospitalar, no início da tarde. Eles haviam passado a noite toda acordados e estavam caindo de cansaço. Edward havia organizado nossa casa a fim de recebê-los para essa visita forçada e era pra lá que os dois se dirigiam. Phil viera com minha mãe, mas retornou a Phoenix logo após ter me visto sã e salva. Nunca neguei que ele fosse um bom padrasto.

- Pouco tempo? – Edward não gostou do meu comentário – Pra mim foi uma eternidade.

Pobre marido. Imagino o quanto tudo não tenha sido difícil para ele.

- Eu sei...não foi isso que quis dizer. É só que não consigo acreditar em tudo o que aconteceu de ontem para hoje...parece irreal. – não fosse pelo meu dolorido corpo atropelado, quebrado e suturado...

Edward deu um longo suspiro, sentado em uma poltrona próximo a cama, e apoiou levemente a testa em minha mão.

- Também preferia que nada disso fosse real, mas só de você e Marie estarem bem, é o que importa.

- Será que agora posso vê-la? – quis saber ansiosa.

Sentia-me injustiçada por ser a única a não ter visto ainda minha própria filha. Todos que haviam me visitado naquela manhã após ter sido instalada no quarto da enfermaria, comentaram algo sobre Marie. Jasper dissera que ela era a pequenininha mais linda que já havia visto. Alice garantira que Edward teria trabalho se ele fosse ciumento. Rose revelara que Marie havia despertado seus instintos maternos, meus pais estavam babando, Phil se sentia avô, Carlisle e Esme estavam encantados e Emmett jurava ter sido privilegiado por um sorriso de minha filha. Acompanhei o riso geral pelo último comentário, o que resultou em uma dor difícil de não demonstrar. Edward, rápido em sua percepção, acabou colocando todos para fora, dizendo que eu precisava dormir, porém, o que eu precisava era conhecer Marie.

Antes que Edward respondesse ao meu desejo, uma batida sutil se faz na porta. Era Elizabeth, perguntando se podia entrar.

- Claro. – a voz baixa não ajudava a demonstrar minha satisfação.

- Oh, minha querida – ela atravessou o quarto em minha direção e então se abaixou e beijou-me na testa. – Como é bom vê-la sorrindo. – compartilhou um olhar com Edward antes de beijá-lo na cabeça.

- Não sabe o quanto estou feliz por vocês... – não podiam mesmo mensurar o quanto meu coração se alegrou quando Edward me atualizou sobre aquele assunto. Não tinha dúvidas de que agora meu marido se sentiria pleno e até mais leve, sem o peso do rancor em sua vida.

- Oh, sei sim... – ela garantiu alisando meus cabelos – Você lutou muito por essa aproximação...Desculpe ter saído antes de você vir para o quarto, mas precisei buscar alguém no aeroporto.

- Quem? – indaguei desconfiada, suspeitando de apenas uma pessoa. Mirei Edward e enxerguei um brilho de expectativa em seus olhos. – Teu pai, Elizabeth? – hesitei e ela apenas sorriu. Aquele sorriso confirmava minhas suspeitas.

– Ele pode entrar? – ela perguntou.

- Claro – Edward se apressou em dizer. Achei-o tão vulnerável naquele instante, como uma criança a espera do Papai-Noel nas noites de Natal. Então ele pestanejou, recordando-se de algo – Quero dizer...tudo bem pra você, amor? Não prefere descansar um pouco antes de receber mais visitas? Sei que está exausta, com dor...

- Não – sussurrei – Quero conhecer o bisavô da nossa filha. – até porque eu não descansaria antes mesmo de conhecer a criança em questão.

Edmund Masen era encantador, além de ser um senhor muito elegante. Emocione-me quando o avô de Edward chorou em silêncio ao ter o neto envolvido em seu abraço. Foi uma cena digna de lágrimas, mas meu marido resistiu bravamente, optando por estampar um sorriso sincero em seu lindo rosto.

Após alguns minutos de conversa, eu era mais ouvinte do que participante, afinal, falar realmente exigia muita energia. Mesmo assim, gostava de pelo menos poder assistir o semblante regozijado de Edward.

- Papai, já ficamos o suficiente por hoje. Bella precisa de repouso. – Elizabeth comentou.

- Não, não...é tão bom tê-los aqui. Faz-me esquecer que estou em um leito de hospital. E na verdade não vou fechar os olhos antes de ver minha filha...

 

Edward, mesmo preocupado com meu estado, não tentou dissuadir-me da idéia de ir até Marie, dizendo entender perfeitamente minha aflição. Sentada em uma cadeira de rodas, fui empurrada por Edward para dentro da UTI neonatal, rumo à linda menininha de cabelos claros que dormia tranquilamente dentro da incubadora. Marie...

Não tentei bloquear as lágrimas.

- Vocês podem tocá-la dentro da incubadora, se quiserem...mas rapidinho. – a enfermeira explicou, deixando-me extasiada.

- Mesmo? – Edward parecia confuso e me encarou sorrindo – Ainda não havia podido fazer isso. Para ser mais exato, não tinha nem mesmo chegado tão perto de nossa filha.

Como a incubadora era alta para mim, que estava sentada na cadeira de rodas, Edward me ergueu com cuidado e me sustentou, de costas para ele, entre um de seus braços e seu corpo, apoiando-me de modo que pudéssemos - juntos - tocar Marie, através das entradas daquele aparelho indispensável para sua vida. Acariciei seu bracinho direito enquanto Edward fazia o mesmo em sua perninha direita. Ela se mexeu ao sentir nosso toque, o que me levou a chorar ainda mais, tamanho contentamento.

- Marie...tão linda! – murmurei ciente do meu enorme sorriso e Edward beijou minha cabeça – Estava mais gostoso dentro da mamãe, meu anjo? – percorri com meu indicador todo o corpinho de Marie, certificando-me de que além de real, ela estava bem.

Edward me aconchegou ainda mais em seu sustento e soprou em meu ouvido:

- Amo vocês! – então, permanecemos ali, apreciando nossa maior riqueza.

 

Quatro dias depois, além de ter recebido várias visitas, como as de Jacob – meu amigo-irmão - que viera de Forks apenas para me ver e conhecer a “sobrinha”; e de Shane com Jessica, que pareciam ter nascido um para o outro; e de alguns amigos da faculdade; recebi também, por fim, a minha alta hospitalar. Mas como Marie teria que ficar ainda mais algum tempo internada, só pudemos voltar para casa - com a família completa - após os três dias extras de minha filha.

- Seja bem-vinda, meu anjinho. – sussurrei para o bebezinho, agora mais forte e de aparência saudável, que estava em meus braços, assim que entramos em nosso apartamento.

Edward, que me escoltava como se eu pudesse cair a qualquer momento, abaixou a cabeça para roçar seus lábios nos meus e depois beijou a testa da filha. Ela se remexeu abrindo a boquinha, procurando por algo e antes mesmo que começasse a resmungar, tanto Edward quanto eu, já sabíamos o que ela queria.

- Quanto desespero... – ele riu vendo o rostinho miúdo se retorcer angustiado e me acompanhou até o quarto de Marie, tendo-a pela primeira vez naquele lugar preparado especialmente para ela. – Você fica pior do que a tua mãe quando está com fome. – papeou debochadamente com Marie.

- Como assim? – censurei-o fingindo zanga. – Só porque eu quase destruo a casa quando estou de estômago vazio não significa que esteja brava.

- E quem disse que você fica brava? – satirizou mais ainda e eu nem me preocupei em pedir explicações, pois minha filha parecia querer toda a atenção só para ela.

Acomodei-me na poltrona, me preparando para – pela segunda vez na vida – amamentá-la. A primeira havia sido no hospital, como um teste para saber se Marie já estava preparada para abandonar a sonda que lhe nutriu até então. Visto que o resultado fora positivo, ali estávamos nós, no quarto infantil decorado por Tanya, acalmando a boquinha mais nervosa da casa. Apesar de ser meio dolorido, o ato de amamentar era extremamente prazeroso.

 

Quatro semanas mais tarde voltei a frequentar a faculdade. Não fosse pela insistência de Edward e de Elizabeth, que estavam se dando muito bem como filho e mãe, talvez eu tivesse abandonado a turma e esperado a seguinte para me formar - mesmo estando no começo de junho e sendo aquele o penúltimo mês de estudo - mas como podia contar com a ajuda da sogra verdadeira e da postiça – Esme – então resolvi ouvir os conselhos e correr para acompanhar o meu grupo na reta final do curso.

- Bella... – Alice me gritou da porta da sala de aula, pela qual eu havia passado feito um tiro. Parei para ouvir minha amiga – Está indo pra casa?

- Sim, Marie já deve estar acordando. – rolei os olhos – Minha filha é um amor, Alice, tranquila demais, porém, quando está com fome...vira um monstro devorador.

- Sim, sim...exatamente como Emmett diz: Marie Nessie – o mostro do lago Ness.

- Espero que esse apelidinho não pegue.

- Já pegou, amiga. – Alice arregalou os olhos me fazendo acompanhar sua risada. – Então...queria saber se posso ir junto para tua casa. Estou com saudade de Marie.

- Claro. Nem precisava perguntar uma coisa dessas.

 

No final daquela sexta-feira, além de Alice, estiveram também Jasper, Rose e Emmett jantando comigo e com Edward em nosso apartamento. Como as nossas sagradas pizzas de quinta já haviam ido para o espaço devido a todos os meus contratempos – como eu preferia denominar – então, aproveitávamos qualquer oportunidade para reunir o pequeno grupo de amigos.

- Bom... – Emmett se levantou da cadeira pedindo atenção aos que permaneceram sentados  – Já que minha linda loira está doida para dar um priminho, ou priminha à Nessie...quero dizer, à Mari – se corrigiu diante meu olhar assassino – Ah, Bella, não tenho culpa se tua filha exagera...tenho medo até de colocar um dedo perto da boca dela quando está com fome. – sacudi a cabeça me controlando para não rir junto com os demais – Mas enfim, como eu ia dizendo...sei que poderia ser mais romântico se estivéssemos sozinhos – disse diretamente para Rosalie – Mas gosto de fazer tudo diferente do esperado, então... – tirou uma caixinha preta de dentro do bolso da calça, me fazendo lembrar de uma cena muito parecida protagonizada por mim e por Edward meses atrás. – Quer se casar comigo?

- Ah! – a surpresa foi geral.

Rose olhou para o namorado como se ele fosse um extraterrestre. Parecia ter perdido a fala.

- Que-que-ro. – respondeu abobada, estendendo a mão para que Emmett colocasse a lindo anel de compromisso em seu dedo anelar.

Edward se retirou e logo retornou com uma garrafa de champanhe, propondo um brinde ao casal.

 

- Você sabia que Emmett pediria Rose em casamento? – perguntei ao meu marido assim que nos acomodamos em nossa cama para dormir.

- Sim, mas não sabia que seria hoje.

- Hum...você e Emmett são terríveis. – pisquei – Ele sabia das suas intenções quando você me pediu em casamento?

- Ele sabia das minhas intenções antes mesmo que eu soubesse quais eram.

- Como assim? – ri confusa e Edward fez cara de suspense, aumentando minha curiosidade – Conta logo!

- Assim que Emmett ficou sabendo que eu tinha marcado aquela entrevista com você e com Alice, ele não parou mais de me infernizar... Era Bella pra lá e Bella pra cá o tempo todo em meus ouvidos.

- Hum...entendi. – Edward me encarou e arqueou as sobrancelhas como se duvidasse de mim. Então me expliquei – Como Alice era namorada de Jasper, obviamente ele deduziu que o motivo para que o todo poderoso Cullen agendasse um horário com as duas pobres estudantes seria a chance de dar uns pegas na solteira.

Ele gargalhou com gosto e então se aproximou e começou a beijar meu pescoço, causando-me arrepios.

- Aposto que mesmo sem a entrevista eu teria dado uns pegas na solteira. – provocou com seus lábios tentadores e hálito quente contra minha pele.

- Teria mesmo, seu metido. – gemi, praticamente rendida ao assédio que estava sofrendo em seus braços - Não sabe que sempre te achei irresistível?

- Bom saber...mas só para deixar claro, minha adorável tolinha... – continuou com voz sexy e dedos brincalhões - Emmett percebeu que eu estava encantado por você, só por isso se viu no direito de não me dar sossego.

- Hum... – já estava cega pelas carícias – Por isso ele falou...ah...do celular...hum...na boate? – ah caramba, o que eu estava dizendo mesmo?

- Que boate? – indagou se divertindo com minha incoerência, mordiscando e umedecendo com a língua as laterais da minha boca.

- Aquela...ah Edward! – protestei frustrada quando ele afastou os lábios.

- Qual boate? Agora fiquei curioso. – vendo que daquele mato não sairia coelho se não me concentrasse em contar sobre as mensagens de celular trocadas entre ele e o primo na comemoração do aniversário de Alice, então resolvi acalmar minha respiração e dizer tranquilamente tudo o que minhas amigas haviam descoberto naquela noite.

Epa! Só depois me recordei que Rose tinha feito tudo sem a autorização de Emmett, mas aquilo já não tinha mais importância.

- Ah, sua endiabrada! – Edward me encarava incredulamente divertido – Então você me pegou no flagra?

- Eu não... – chacoalhei as mãos me isentando de culpa – Só fiquei sabendo.

- Quanta injustiça! – meneou a cabeça e me fitou com olhos semicerrados e uma linha cruel nos lábios.

- O que foi? – hesitei.

- Estou decidindo qual a melhor forma de puní-la por esse crime.

- Quer ajuda? – beijei-o no pescoço – Quais são as opções? – Edward gemeu e eu sorri. Também sabia tentá-lo.

- Vou te mostrar agora.

E rolando sobre o meu corpo, me torturou até me ouvir implorar para que estivesse dentro de mim.

 

- Você está linda! – Edward aprovou meu vestido longo azul, e dei uma voltinha charmosa para que ele visse o modelo por todos os ângulos.

- E você está, como sempre, divino. – gabei-o. – Elizabeth já deve estar chegando.

- Ela não perde uma oportunidade para ficar sozinha com a neta, não é mesmo? - brincou me puxando pela cintura.

- Verdade... – beijei-o sem me incomodar com a maquiagem que poderia ser desfeita. Depois era só retocar o batom. – Só não acredito que ela irá perder o casamento de Emmett e Rose...

- Coisas de avó, Bella. A melhor festa pra ela é ficar com Marie.

- E com você também, meu amor, não seja injusto com a tua mãe...nem ciumento. – ele me lançou o seu melhor sorriso torto e me apertou mais entre os braços possessivos.

- Ciúme só tenho de você. Imagino o quanto vou ter que me preocupar esta noite. – rolei os olhos pelo absurdo dito e na mesma hora o interfone tocou.

- Ela chegou. – anunciei sabendo ser minha sogra.

Elizabeth já estava acostumada a ficar com Marie, mas mesmo assim fiz a minha ladainha de sempre, sobre onde estava o leite e medidor, o chazinho que podia beber se acordasse antes do meu retorno, o remédio para cólica, e assim por diante. Elizabeth nem se incomodava em ter que ouvir as mesmas recomendações pela milésima vez.

- Minha mãe já sabe de tudo isso, Bella. Agora temos que ir, ou então chegaremos depois da noiva.

Prendi a respiração vendo que Elizabeth congelara no meio da sala. Por mais que Edward e ela estivessem vivendo uma ótima relação, meu marido nunca a tinha tratado por “mãe” antes. Sabia que aquele devia estar sendo um dos momentos mais sublimes na vida de Elizabeth, por isso, para não quebrar o clima descontraído de Edward, tratei de agir com naturalidade.

- Então vamos. Não quero fazer a noiva esperar pela madrinha atrasada!

Após ir ao quarto de Marie, que dormia no berço, dar um beijo no seu rostinho, saímos para o nosso compromisso.

- Estou muito feliz por você. – comentei com Edward já dentro do carro em movimento pelas ruas de Chicago. Ele sabia que me referia ao seu caso com a mãe.

- Eu também, amor. – pegou minha mão esquerda e a beijou, ora olhando para mim, ora olhando o caminho – Obrigado por ter me ajudado.

- Apenas dei um pequeno empurrão. O principal foi com vocês dois. – acariciei-lhe a face com a mão que antes ele segurava.

 

Rosalie e Emmett disseram “sim” no dia dezessete de outubro. Nessa data Marie estava quase completando seus seis meses de vida, e era a criança mais linda que já tinha visto. Fora os olhos castanhos que eram idênticos aos meus, o resto era a cópia do pai. Até mesmo seus cabelinhos que antes eram clarinhos, em pouco tempo assumiram a mesma tonalidade bronze dos de Edward. Ela era calma e estava sempre sorrindo, e vê-la sorrir, enchia meu mundo de alegria.

Após minha formatura, consegui um emprego de meio período em um jornal impresso conhecido de Chicago. Além de considerar o salário muito bom para uma iniciante, gostava de me inteirar no mundo do jornalismo e me sentir realmente uma profissional, mesmo que em começo de carreira. Edward insistira para que me juntasse à equipe de redação da E2C, mas eu precisava daquele tipo de experiência, e mesmo pensando seriamente em aceitar a proposta do meu marido, primeiro iria conquistar certa maturidade profissional longe de sua super-proteção.   

Alice decidira tentar entrar para a equipe de um jornal televisivo e conseguira passar na entrevista concorrida por até mesmo profissionais mais experientes. Ela fazia parte da redação, mas tinha certeza que ainda seria repórter de campo, pois além de ter uma ótima aparência, minha amiga se comunicava muito bem.

- E aí Jazz, não se anima, não? – Emmett cutucou meu amigo para que o casamento dele com Alice saísse logo.

- Ainda não...Alice e eu queremos viver em pecado durante mais algum tempo. – piscou para a namorada que compartilhava de sua opinião – Não se esqueça de que ainda sou novo demais para isso, Emm...velhos aqui, só você e Edward. – riu da cara dos Cullen.

- Velho? – Emmett questionou indignado – Estou com trinta e Edward vinte e nove, não sei onde tem velho por aqui.

- Amor, assim você broxa o noivo antes da noite de núpcias – Alice colocou mais lenha na fogueira.

- Rose não te perdoaria por isso, Jazz – não resisti ficar de fora da brincadeira.

- Edward, me ajuda irmão... – Emmett implorou, mas Edward estava claramente se divertindo com tudo aquilo - Vou sair daqui. – e bufando, saiu da mesa para encontrar Rosalie que conversava com outros convidados, deixando-nos entregues às risadas.

 

No nosso primeiro ano de casados, fizemos uma viagem de quinze dias para a Grécia. Como não conseguiria deixar Marie para trás, acabei levando-a junto. Na verdade ela passava as noites e a maior parte das tardes com Elizabeth na casa de Edmund, para que Edward e eu aproveitássemos a lua-de-mel que não tivemos; mas víamos nossa filha todos os dias e fazíamos pelo menos uma refeição em sua presença. Se não fosse o café-da-manhã, então era o almoço.

A viagem foi maravilhosa, e além de visitar lugares incríveis e ganhar uma cor dourada nas ilhas gregas, ainda pude testemunhar a alegria que minha pequena família proporcionava ao avô de Edward, que se assemelhava mais à uma criança perto de Marie do que à um banqueiro de renome.

 

E assim a vida caminhou tranquilamente. Cada dia me sentia mais realizada. Minha filha crescia com saúde e rodeada por amor. Todos a queriam bem, e isso era o mais importante para mim, e certamente também para Edward.

- Agora sua vez, papai. – Marie, com seus três aninhos, estava sentada no colo de Edward com um vestido branco e azul, quando pegou com a colherzinha um pouco do sorvete de morango que segurava e enfiou na boca do pai, lambuzando-o todo. Ela jogou a cabecinha para trás, balançando seus lindos e longos cabelos, e gargalhou ao ver a lambreca que aprontara. – Sujou tudo, papai.

- Ah é? – ele provocou – Então agora vou beijar quem fez isso comigo.

- Não! – ela gritou se divertindo – Mamãe... – não conseguia falar, pois não parava de rir – Socorro...ajuda, mamãe. – e esticou os bracinhos para que eu a pegasse.    

- A mamãe não vai conseguir te livrar dessa, “princesa do sorvete” – Edward falou com a voz engraçada, que ele dizia ser de bruxo e que Marie tanto gostava de ouvir. – Ninguém pode contra os meus poderes.

- Ah! – ela gritava conforme ele ia se aproximando para beijá-la, chamando a atenção de todos que estavam na sorveteria. A cena era linda, mas se eu não fizesse algo rapidamente, logo Marie ficaria com medo de verdade. Crianças...facilmente entram em suas próprias brincadeiras de faz de conta!

- Não se preocupe princesa...vou ajudá-la! – então peguei um guardanapo de papel e limpei a boca de Edward, e Marie adorou ver a cara de incredulidade que o pai fez.

- Agora pode beijar... – ela disse afundando um indicador na bochecha, indicando onde queria o beijo, e não tinha como resistir a tal pedido. Edward se derretia quando ela fazia aquilo. Aliás, quem não se derreteria?

 

- Até amanhã, patroa. – Jasper se despediu assim que terminei meu trabalho.

- Até amanhã, chefe. – devolvi com o mesmo sorriso que ele me dava.

Meu amigo conquistara a chefia do setor de redação da E2C há cinco meses atrás, após o antigo ter se mudado com a família para a Europa. Edward até perguntou se eu pretendia assumir o cargo, mas achei melhor que meu amigo – que era bem mais preparado e qualificado – tomasse para si tamanha responsabilidade.

Fazia um ano e meio que me juntara ao time da E2C e estava muito feliz com a equipe e com meu próprio desempenho profissional. Mais feliz ainda por trabalhar apenas meio período. Todos me tratavam bem e ninguém tinha motivos para dizer que eu estava ali apenas porque era a esposa de Edward, já que havia ralado muito para conquistar o prêmio de Originalidade para a empresa, através de uma campanha publicitária para perfumes.

Alice, como eu previra, depois de algum tempo trabalhando nos “bastidores”, tornara-se não só repórter, como também âncora do principal jornal televisivo de Chicago. Agora, além de senhora Hale, minha amiga era um rostinho famoso por toda a cidade.

Rosalie tivera seu primeiro filho há oito meses. Alec Hale Cullen parecia um bonequinho, com cabelos escuros iguais aos de Emmett e o formato do queixinho igual ao da mãe. Marie estava fascinada pelo priminho e vivia pedindo para visitá-lo.

 

- Tio Emm! – Marie gritou, correndo pela sala, quando entramos na residência da família Hale Cullen.

- Cuidado filha! – Edward a advertiu.

- Nessie! – sim. Emmett continuava usando aquele apelido horroroso. Ainda bem que ninguém mais aderira à moda.

Emmett a pegou no colo e mordeu sua barriga como de costume e depois encheu suas bochechas de beijos.

- Quero ver o Alec, agora... – ela pediu quando percebeu que o tio não a deixaria em paz tão cedo.

- Ah...mas e o beijo da tia? – Rose esticou o pescoço para que Marie a beijasse no rosto, e assim minha filha fez, para logo abrir um sorriso e observar Alec nos braços da mãe.

- Acho que Marie precisa de um irmãozinho. – Edward cochichou no meu ouvido antes de me dar um beijo e ir cumprimentar o primo e sua esposa.

O jantar foi delicioso e como sempre animado, e quando voltamos para casa, Marie já estava dormindo. Esgotada.

- Sabe o que estive pensando, amor? – Edward começou logo que apagamos a luz do quarto de nossa filha e saímos para o corredor.

- O que?

- Que deveríamos nos mudar para uma casa. O que acha? – mirei-o por sob os cílios.

- Uma vez você me disse que preferia apartamento a casa.

- Eu sei – deu de ombros - Mas isso foi antes de ter uma família e antes de precisar de um lugar com mais espaço...para que as crianças possam brincar a vontade... – me olhou com expectativa e eu sabia que não era só pela casa. A pergunta principal fora feita nas entrelinhas.

- Acho ótimo! – respondi simplesmente e ele arqueou as sobrancelhas.

- Mesmo?

- Mesmo. – assenti sorrindo. - Três, quatro anos...é uma ótima diferença entre irmãos.

Edward me puxou sem avisar e me rodopiou em seus braços.

- Você é um excelente pai, sabia disso? – indaguei e o beijei com amor e logo acrescentei – E um marido perfeito.

- E você uma ótima mãe, além de esposa maravilhosa...viu como nascemos um para o outro?

- Nunca duvidei disso.

Então, fomos para o quarto desfrutar do nosso grande e infinito amor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi, amores...gostaram do capítulo?
Este, sem dúvida, termina a estória...mas ainda tem o epílogo, ok? ;)

Mas enfim...gostaram da Marie? ;) Linda não? Ahhhh, não resisti e acabei chamando-a de Nessie (O monstro do lago Ness)!!!!!!!! Hahahahaa
Quanto aos acontecimentos com Bella, tipo a perda do útero e tal...quis fazer algo meio parecido com a Bella verdadeira...vocês sabem que ela também nunca mais poderá ter um bebezinho, então...
Além do mais, quis mostrar que a felicidade só depende de nós...e não de fatores que a maioria considera indispensável para a vida.

Obrigada por todos os comentários, avaliações e indicações! ;)

Ahhhh...e mais um detalhe...rs
Mostrei um pouquinho da minha profissão neste capítulo!! ;) Sou fisioterapeuta.

Beijos e até o epílogo!!
Duda