Irresistível Presença escrita por M-Duda


Capítulo 21
Capítulo XXI - Inevitável




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Capítulo XXI

 

Os braços afrouxados em minha cintura me abandonaram de vez e dando um passo para trás, Edward se distanciou de mim. Com o semblante severo e maxilar travado, perscrutou-me em silêncio com olhos indignados. De repente, me senti uma cobra venenosa da qual a presa tenta se desvencilhar com cautela.

- Que brincadeira ridícula é essa? – interrogou com seriedade.

- Jamais brincaria com isso. – meneei a cabeça sutilmente fitando as íris douradas que aos poucos iam se escurecendo, pressagiando uma tempestade – Estive com Elizabeth Masen. – dizer o nome com segurança não foi tão difícil quanto imaginei. Difícil foi assistir Edward, com expressão atormentada, me encarar como se tivesse sido apunhalado pelas costas. Precisava me explicar antes que a conclusão de traidora se intensificasse em sua mente.

- Edward, ela me ligou dizendo que precisava falar comigo, por favor, me escute... – confiante, avancei o passo que nos separava, mas ele se afastou ainda mais, evitando o toque da minha mão que ia de encontro a sua face.

- Não, Isabella. Escute-me você. – paralisei frente à voz ríspida que, até então, conseguira se manter contida – Pensei ter sido claro o suficiente a ponto de te fazer entender que não quero Elizabeth em minha vida, o que significa Sra. Cullen – ironizou meu título de esposa – Que não a quero em tua vida, também. Entendeu? – raiva era pouco para definir o estado de Edward, contudo, eu já esperava aquela reação.

- Mas... – tentei me manifestar, sendo interrompida novamente.

- Ainda quer argumentar? Não tente fazer isso, Isabella, porque se você abrir a boca, talvez fique ainda mais difícil conseguir te perdoar. – levou as mãos à cabeça, agarrando os próprios cabelos e antes de continuar cerrou as pálpebras – Deus sabe o quanto estou apelando para a tua ingenuidade, nesse exato momento. - franzi o cenho. Queria dizer que não era ingênua, mas antes que pudesse, ele abaixou os braços e apontou-me com o indicador direito, voltando a me fitar – Você está grávida e acredita que todas as mães compartilhem desse teu mesmo sentimento maternal de amor – então, o semblante furioso passou a se revelar consternado - Mas não se iluda, Bella... – aproximou-se, puxando-me para seu peito. Abracei-o também pela cintura enquanto ele, agora, prosseguia em tom gentil, com o queixo apoiado em minha cabeça - Elizabeth nunca sentiu por mim o que você já sente pelo nosso filho. Não se deixe levar pelas mentiras de uma mulher astuta que, só por estar em dificuldades financeiras, tenta se reaproximar do filho renegado.

- Ela não quer o teu dinheiro – garanti e Edward novamente se enrijeceu.

- Já pedi, Bella, não tente comentar nada a respeito do seu encontro. – advertiu com inflexibilidade.

Na verdade ele podia esbravejar e brigar à vontade. Eu não me intimidaria e seguiria com meu propósito até o fim. Agarrei-o com mais força entre meu abraço, na tentativa de impedir seu distanciamento depois que começasse meu discurso.

- Pelo menos, me escute... – Edward facilmente se livrou de minhas mãos em suas costas e me afastou pelos ombros.

- Pra que? – indagou friamente – Para ter a certeza de que minha esposa, a mulher que escolhi para compartilhar a minha vida, não respeita as minhas decisões?  - ergueu as sobrancelhas voltando a me fitar com rancor – Elizabeth é o meu inferno pessoal, Bella. Ela nunca contribuiu para qualquer uma das poucas boas lembranças que trago da minha infância ou adolescência, muito pelo contrário – revirou os olhos - E eu não a quero, justo agora, estragando a melhor fase da minha vida.

- Mas ela não vai estragar nada. - falei rapidamente – Entenda que a tua vida será bem melhor se você conseguir se livrar dessa mágoa que tanto te machuca...

- Como é? – pestanejou alarmado – Você quer que eu finja que nada aconteceu? É isso? De onde tirou essa idéia ridícula?

- Não é isso. – corrigi calmamente - Não dá para fingir que nada aconteceu, Edward, porque aconteceu. Não dá para mudar o passado, mas talvez, o futuro possa ser diferente...

- Não. – exigiu com toda autoridade de uma voz assustadora. Aquele tom em outros tempos teria me apavorado, mas não naquele momento, onde tudo o que eu mais queria era ser capaz de concluir uma frase que fosse. Caramba! Já estava ficando irada por Edward me cortar toda hora – Não prossiga, pois se você ousar a falar que é favorável a uma reconciliação...

 - Pare de ser teimoso e me escute, Edward. – dessa vez falei mais alto, e ele se calou – A única coisa que ouso em dizer é que quero te ver completamente feliz. Sei que você ainda sofre muito com essa história toda do passado e entendo perfeitamente os teus motivos. Acho apenas que te faria bem encarar Elizabeth de frente, mesmo que seja apenas para brigar e despejar tudo o que pesou no teu coração durante todos esses anos. Você se sentiria aliviado. – obviamente gostaria que ele se acertasse com a mãe, mas era evidente também que o primeiro encontro dos dois seria estressante, e não seria pedindo para que fosse tolerante que eu conseguiria colocá-lo diante Elizabeth. Precisava ser inteligente ao escolher as palavras; e por mais que sentisse minhas pernas tremerem ao ter que lidar com um Edward ríspido, precisava também me mostrar segura dentro da discussão.

Ele não disse nada, e com uma postura desafiadora me encarou exasperado. Não sabia por mais quanto tempo conseguiria manter meu falso controle de mulher-forte-destemida, pois na realidade minha vontade era de correr para debaixo da mesa feito um gatinho medroso, que se encolhe ao escutar os trovões de uma tempestade. Sentindo a respiração começar a falhar tentei apelar para a lembrança de uma das nossas conversas:

- Certa vez você disse que eu poderia falar sempre o que quisesse, sem medo. – ele franziu o cenho.

- Disse também que não queria saber de Elizabeth. – asseverou arqueando uma sobrancelha – Ou você se esqueceu dessa parte? – contorceu os lábios, numa mistura de zombaria e fúria. – Parece que você só escuta aquilo que lhe convém.

- Não... – não suportei mais sustentar a máscara de fortaleza após escutar tal acusação. Senti um misto de culpa e dor. Deus! Será que eu estava fazendo tudo errado? - Eu não teria lhe contado nada se...se Elizabeth tivesse me passado uma impressão ruim. – sussurrei mais para mim do que para ele.

- Vou tomar meu banho, e depois dormir. – anunciou friamente - Não me espere para jantar. Perdi a fome. – então foi para o quarto.

Sentei no sofá percebendo os tremores fraquejando meu corpo. Estava me sentindo uma fracassada. Com um suspiro, escondi o rosto na almofada que havia puxado para meu colo, tentando reorganizar os pensamentos, mas estava muito frustrada para ser racional. O certo seria deixar a mente esfriar, para depois, com calma, reavaliar o ocorrido.

 

- Não foi fácil, Alice. – admiti na lanchonete da faculdade, após detalhar os acontecimentos da noite anterior para minha amiga, onde tomávamos um cremoso chocolate quente, antes de irmos embora cada uma para sua casa. – Ontem, Edward dormiu sem falar comigo e hoje cedo saiu sem tomar o café-da-manhã. Ele está me dando um gelo.

- Ele está confuso, Bella. Apenas isso.

- Não. Ele está irritado, Alice. – fechei os olhos sentindo o aperto no peito característico da tristeza. - E se Edward quiser o divórcio? – mal consegui me pronunciar.

- Não seja tola! – Alice me repreendeu com uma audível risada – Casais se desentendem às vezes, é normal.

- Mas eu mexi na maior ferida de Edward...

- Você fez tudo certo. Eu teria feito exatamente igual.

- Verdade? – perguntei como se Alice pudesse me isentar de qualquer acusação.

- Verdade. – afirmou – Qual é, Bella? Você não cometeu nenhum crime. Pare de se condenar.

- Aí que você se engana – meneei a cabeça lentamente – Para Edward, eu cometi sim um crime. Gravíssimo.

- Mas não cometeu. Você não enganou, não mentiu, e ainda escutou a versão de Elizabeth. Nada digno de cadeira elétrica. – piscou. Só Alice mesmo para brincar e me fazer sorrir diante uma crise como aquela. - Falando nisso... – continuou – Quando encontrará Elizabeth novamente?

- Ela ficou de me ligar na sexta-feira.

- E o que você vai dizer?

- Não sei ainda. Eu gostaria de poder dizer “sim, vou continuar ajudando”. Mas como fazer isso, se Edward nem conversando comigo está?

- Bem...hoje ainda é terça. Talvez até lá possa haver alguma mudança...

- Só se acontecesse um milagre, do tipo: o sol virar lua.

- Eclipses acontecem, Bella, e não são milagres, são apenas fenômenos da natureza – ela deu de ombros. – Edward te ama e faz parte da natureza dele te ver feliz. Vai por mim...Elizabeth não podia ter escolhido caminho melhor para chegar até o filho.

 

A conversa com Alice como sempre, fora de grande valia. Minha amiga tinha me injetado confiança, e com isso, voltei para casa animada, me perguntando o motivo por ela não ter pensado em estudar psicologia, afinal, se conseguia lidar tão bem com a minha mente atrapalhada, certamente se daria bem com qualquer outro paciente.

Tomei meu banho, me agasalhei, e então, fui para a cozinha preparar um creme de batatas que Edward tanto gostava, para o jantar. Porém, como já devia ter previsto, ele chegou em casa duas horas depois do habitual. Provavelmente me evitando. Passava das 21h00min quando, admirando o quarto do nosso bebê, escutei o barulho da porta de entrada sendo aberta. Caminhei sem lerdeza alguma para a sala, a fim de encontrá-lo. Meu peito doía de saudade. Queria abraçá-lo.

Ao perceber minha presença, Edward apenas murmurou um oi enquanto colocava a pasta, o celular e as chaves sobre a mesa da sala de jantar para logo livrar-se do pesado sobretudo preto. Eu não hesitei em me aproximar e envolve-lo entre meus braços. Precisava sentir o calor que emanava apenas de seu corpo. Apertei-me em seu peito, mas ele me distanciou pelos ombros, sem retribuir meu gesto.

- Como passou o dia? – indagou com formalidade.

- Bem... – respondi aturdida, pestanejando diante a recusa de carinho – E você?

- Trabalhando muito. – disse impassível – Estou cansado. Vou tomar meu banho e depois dormir, não precisa me esperar para jantar – informou já se afastando, dando-me as costas.

- Não vai comer? – me apressei em saber antes que ele chegasse ao corredor que o levaria para nosso quarto.

- Comi qualquer coisa no escritório. – falou por sobre o ombro esquerdo sem virar para me encarar.

 

Sentada na alta cadeira da bancada da cozinha, engoli minha refeição sem a menor vontade, ciente de que creme-quente algum resolveria o frio que chacoalhava meu corpo todo. Estava me sentindo gelada, angustiada, pequena... Se não resolvesse minha situação com Edward, seria capaz de explodir. Não suportaria viver mais um minuto que fosse daquela maneira. Precisava falar com ele, e decidida, saltei da cadeira e caminhei rumo ao quarto, depois de deixar o prato usado dentro da pia.

Logo que abri a porta, o cheiro no ambiente de Edward pós-banho não passou despercebido por mim; fui até o banheiro me arrumar para dormir e quando voltei para o quarto, me livrei das pantufas que aqueciam meus pés e subi na cama, onde Edward já estava acomodado ignorando minha chegada. Precisava acabar logo com aquela distância.

- Edward? – sussurrei gentilmente próximo ao seu ouvido. Ele estava virado para o outro lado, e como não respondeu ao meu chamado, acariciei seu ombro na tentativa de acordá-lo com cuidado. Se é que realmente estava dormindo.

- O que foi, Bella? – respondeu emanando tensão.

- Quero falar com você.

- Amanhã. Agora quero dormir.

- Edward, por favor, vire-se para mim... – tentei puxa-lo forçando onde minha mão repousava, mas me assustei com o pulo que ele deu para fora da cama.

- Já disse: agora não. – esbravejou - Que inferno. – pegou o travesseiro e atravessou o quarto, e só depois de ouvir a porta bater é que fui me dar conta de que ele fora dormir em outro lugar.

Demorou um pouco também para que eu voltasse a respirar, e mais ainda para que me recuperasse do susto. Edward estava possesso e minhas esperanças de diálogo foram para o espaço.

 

Nada me agradava naquele ambiente. Além dos barulhos estranhos que ressoavam em meus ouvidos, tinha também o fator escuridão. Estava incomodada por não saber que lugar era aquele. Precisava acender as luzes, mas eu sempre esbarrava a perna em algo quando tentava dar um passo. De repente, para a minha mais completa aflição, escutei o voz sofrida de Edward:

- Bella...Bella...

- Estou aqui, Edward... – procurei às cegas por seu contato, mas minhas mãos nada alcançaram.

- Bella...cuide dela... – me pediu.

- De quem? – meu desespero aumentou ouvindo a tom atormentado.

- Bella...me ajude, meu amor...

- Edward? – gritei, tentando correr, precisava pelo menos encontrar o interruptor na parede e acender as luzes, mas eu tropeçava muito, não conseguia sair do lugar – Eu estou aqui. Confie em mim, eu vou te ajudar... – mas não sabia como.

Comecei a chorar ao considerar minha incapacidade. Edward precisava de mim e eu não sabia como socorrê-lo. 

- Edward? – gritei sentindo uma dor aterrorizante no coração. – Como?... Como? – queria perguntar como ajudá-lo, mas tudo fugia de minha mente.

- Bella? – a voz agora não parecia mais temerosa e sim preocupada.

- Edward? – continuava chorando quando senti mãos quentes encontrarem meus ombros.

- Estou aqui. Abra os olhos, Bella...acorde. – as mãos sacudiram-me com firmeza.

- Edward? – agarrei-me a ele – Como, Edward? Como? – ainda em prantos, apertava meus olhos tentando descobrir como socorrê-lo.

- Shh...está tudo bem agora, não se preocupe – garantiu com doçura – Estou aqui. Foi só um pesadelo. Já passou...

- Pesadelo? – murmurei desconfiada percebendo as mudanças ao meu redor.  Mas tudo tinha sido tão real, e meu peito ainda doía devido às pancadas do meu coração e meus dentes ainda batiam uns contra os outros pelo pânico experimentado, no entanto, após abrir os olhos constatei o silêncio tranquilo do nosso quarto e meu corpo sentado no meio da cama, envolvido pelo de Edward...

- Sim, e agora está tudo bem. – ele assegurou serenamente, acariciando meus cabelos e minha face. Naquele momento me senti tão culpada por não tê-lo ajudado no sonho que voltei a chorar agarrando-o pelo pescoço.

- Ah, Edward...me desculpe. Eu tentei, juro que tentei...

- Bella, acalme-se, meu amor. Já acabou.

- Mas você estava sofrendo tanto... e eu não fui capaz de... – engoli em seco e um tremor percorreu minha espinha ao relembrar com detalhe a cena vivida.

 - Não estou sofrendo. Eu estou bem. Esqueça o sonho. – me acalentava como se eu fosse um bebezinho.

Aos poucos fui percebendo que de repente eu tinha saído de um pesadelo horrendo para entrar em um sonho maravilhoso, porém irreal, no qual Edward não se mostrava mais zangado comigo.

- Ah! – me entristeci vendo a verdade, então abaixei a cabeça e deixei meus braços caírem de seu pescoço para minhas pernas, desanimadamente. – Isso não é real, é só mais um sonho. – ele riu baixinho. – Você nem parece bravo comigo.

- Você não está sonhando. – puxou meu queixo para que nos olhássemos – E não estou bravo com você.

- Não? – seria possível que não estivesse mesmo sonhando? Ele apenas negou com a cabeça. – Por quê? Só por causa do meu pesadelo? – perguntei descrente.

- Não – encostou seus lábios macios e quentes nos meus por alguns segundos e revelou – Você estava dormindo quando voltei para o quarto. Queria conversar, mas preferi não te acordar.

- Mesmo? Quer conversar agora? – uma esperança ameaçava gritar dentro de mim. Será que ele havia decidido falar com a mãe?

- Só queria dizer que não faz sentido ficar chateado com você por causa de Elizabeth. – afastou uma mecha de cabelo que insistia em cair no meu olho esquerdo. – Não me oponho que se relacione com ela, se é isso o que deseja, mas infelizmente sei que um dia irá se desapontar.

Então ele estava me deixando à vontade para sozinha “aprender com a queda”?

- Sério? Você não ficaria irado se eu tentasse entender Elizabeth? – ele ergueu as sobrancelhas e suspirou.

- Desde que você não tente marcar um encontro entre nós dois, ou que não a traga para dentro de nossa casa. Então, não. Não vou ficar irado. – abraçou-me apertado, proporcionando imensurável alívio para o meu coração.

 

Mesmo com todos garantindo que de costas seria impossível dizer que se tratava de uma grávida, eu já me sentia enorme aos sete meses e meio da gestação. Eu podia ser pequena e magra, no entanto, minha menininha - como revelara a ultrassonografia - parecia ser o oposto da mãe. O médico afirmara que minha elefantinha tinha o peso ideal para a idade gestacional, porém, era o bastante para me deixar ofegante e com as pernas doloridas após certo tempo em pé. Ainda assim, era maravilhoso abriga-la e senti-la dentro de mim.

Edward estava radiante com a proximidade do nascimento, e orgulhoso por ser reconhecido, pela filha, sempre que estava presente. Era incrível, mas bastava ele abrir a boca ou acariciar minha barriga para que ela se agitasse, desenhando ondas em minha pele, enquanto se derretia pelo pai. Eu me divertia vendo a expressão satisfeita e abobada de Edward sempre que isso acontecia.

 

- Amor, amanhã, como não terei aula no período da tarde, irei almoçar com a tua mãe. Tudo bem para você? – Edward revirou os olhos mas não disse nada, além de um “tudo bem”. Ele nem perdia mais o tempo em me repreender por usar o título materno para Elizabeth e parecia já ter se acostumado com os nossos encontros, que não eram esporádicos.

Na verdade, depois do primeiro, Elizabeth passara a me ver todas as semanas e nosso laço de amizade havia se estreitado bastante. Ela era uma mulher fabulosa. Inteligente, moderna e divertida. Para mim, ela em nada se assemelhava a uma avó, mas a mesma dizia que faria questão de ser chamada como tal.

Edward não comentava nada a respeito da amizade e tão pouco perguntava sobre Elizabeth, mas eu - às vezes -, como quem não quisesse nada, revelava temas de nossas conversas ou outros pontos dos nossos encontros, sempre que possível. Como por exemplo, certa vez, deixei “escapar” o quanto eles se pareciam fisicamente e numa outra oportunidade contei, rapidamente, que o pai de Elizabeth se emocionara ao descobrir que seria bisavô e que tinha muita vontade de voltar a ver o único neto. Fiquei atenta às reações, mas meu marido não revelou nenhuma ao se dar conta de que tinha um avô e que sua mãe nunca tivera outros filhos.

Era assim que, aos poucos, eu ia introduzindo um na vida do outro e ao que parecia, estava sendo boa a experiência para Edward; que mesmo avesso a uma reaproximação, pelo menos não se torturava mais ao ouvir o nome da mãe. Sem se dar conta, ele estava se imunizando contra as dores do passado; e aquele já era um bom resultado.

- Aquela história de que Elizabeth não pode entrar aqui ainda está valendo? – questionei acariciando seu peito após subir ao paraíso com a ajuda de Edward. Embora o sexo estivesse ficando difícil, sempre dávamos um jeito.

- Está. – disse simplesmente.

- Hum...preferia convida-la a vir almoçar aqui. Minhas pernas agradeceriam se pudesse chegar mais cedo em casa. – sabia que estava abusando da paciência de Edward, mas ele apenas sugeriu ao meu comentário:

- Cancele o encontro.

 

Na manhã seguinte ao comunicado, acordei com um péssimo pressentimento. Não sabia o motivo, mas me recordava das sensações daquele pesadelo - de tantos meses atrás - onde não conseguia socorrer Edward, que suplicava por minha ajuda. Era estranho porque nunca mais tivera qualquer outro sonho ruim, muito menos ficara relembrando aquele. Contudo, antes mesmo de abrir os olhos, os arrepios percorreram meu corpo assim que minha mente reviveu com clareza aquela angústia esquecida.

- Edward? – saltei da cama e fui para o banheiro onde ele se enxugava do banho matinal – Por favor, não sei o que é...mas não vá trabalhar hoje. – implorei agoniada – Fique em casa até eu voltar da faculdade e depois permaneça comigo o tempo todo.

- Por que está pedindo isso? – quis saber desconfiado

- Não sei explicar...mas não estou tendo um bom pressentimento. – estremeci vendo Edward espremer um olho e puxar o canto da boca numa expressão de desconfiança.

- Você não ia sair com Elizabeth?

- Eu desmarco.

- Sei – cruzou os braços sobre o peito.

- É sério, Edward!... O que foi? Acha que estou tramando algum tipo de encontro? – sacudi a cabeça – Não estou. Eu desmarco, prometo que não farei nada contra a tua vontade.

- Bella, amor... – abraçou-me com carinho, assim que se embrulhou no roupão – Eu não posso deixar de ir à empresa hoje. Mas não se preocupe, essas sensações são por causa dos seus hormônios alterados pela gravidez.

- Não são meus hormônios – declarei convicta – Edward...eu não posso deixar você sozinho. Eu não vou aguentar se algo lhe acontecer... – chorei em desespero.

- Não fique assim. – limpou minhas lágrimas com os dedos – O que poderia me acontecer? – deu de ombros – Irei apenas para a E2C e só sairei de lá quando for hora de voltar pra casa. – beijou minha boca.

- Você vai precisar de mim, Edward, e eu vou me culpar se não puder fazer nada para te ajudar.

- Que bobagem, meu amor – repreendeu-me com ternura - Prometo tomar cuidado. Não se preocupe comigo.

 

Não consegui me concentrar nas aulas da manhã. Meu coração doía sempre que me vinha à memória o sorriso confiante que Edward me lançara antes de sair de casa. Podia ser maluquice, mas havia me sentido impotente, como se estivesse de mãos amarradas. Minha vontade fora colocá-lo a força dentro de minha bolsa para carregá-lo comigo e protege-lo de qualquer perigo. 

Não esperei o final da segunda aula para me retirar da sala e ligar no celular de Edward. Como ele não atendeu, liguei na empresa.

- Oi Bella! – a secretária me cumprimentou com alegria – Como você está? E a gravidez?

- Estou bem, Jessica, er...está tudo bem, obrigada. – respondi mais aliviada sabendo que ela não estaria tão tranquila se algo tivesse acontecido ao patrão. – Eu tentei falar com Edward no celular, mas não consegui, ele está muito ocupado?

- Na verdade sim. – se preocupou percebendo que meu tom não era dos mais animados, como das últimas vezes em que havíamos nos falado. – Mas se for urgente eu posso interromper a reunião.

- Não, não. – garanti apressadamente, forçando um risinho – Não é nada urgente. Mas peça para ele me retornar assim que terminar a reunião, sim?

- Sim, claro.

 

Quando meu celular tocou, eu já estava entrando no carro para ir ao encontro de Elizabeth.

- Edward? Está tudo bem? – perguntei ainda no estacionamento da universidade.

- Tudo ótimo. Desculpe a demora, mas a reunião terminou agora. Aconteceu algum problema?

- Não. Só estava aflita pensando em você. – ele riu baixinho.

- Onde está?

- Neste momento, dentro do meu carro.

- Vai almoçar?

- Sim. Quer almoçar comigo? – se ele quisesse, desmarcaria com Elizabeth no ato, sem peso na consciência.

- Não posso. – seu tom seco me fez entender o receio.

- Seríamos só nós dois, Edward. – adiantei.

- Não posso mesmo. Tenho uma reunião com o setor de marketing, agora.

- Tudo bem. Se mudar de idéia estarei no La Cambusa. – um restaurante italiano, moderno e aconchegante, cuja cozinha e ambiente agradavam a Edward.

- Anotado, amore mio. – brincou com as palavras de uma das línguas que ele dominava muito bem.

 

O tempo sempre voava quando estava na companhia de Elizabeth, sendo assim, nosso almoço chegara ao fim antes mesmo que eu me desse conta. Conversar com ela fora bom para me distrair um pouco, mas mesmo assim ainda me via preocupada com Edward. Não descansaria enquanto não o visse em casa.

- Uma pena Alice não ter vindo dessa vez. – lamentou Elizabeth assim que terminamos nosso café – Ela é uma ótima pessoa.

- Sim, muito. – concordei – Ela bem que ficou tentada a vir, Elizabeth, mas Alice está fazendo um artigo para uma revista. – Shane havia convidado minha amiga para participar, também, da coluna dedicada aos novatos do jornalismo.

Elizabeth estava feliz em saber que Edward já não tinha tanta aversão à sua pessoa, mas ainda se entristecia pelo fato do filho não demonstrar nenhuma mudança em sua decisão de não querer vê-la.

- Tenha paciência, Elizabeth. Edward já deu um grande passo ao aceitar nossa amizade.

- Eu sei, minha querida. – suspirou – Eu sei.

Despedimo-nos na porta do restaurante pouco tempo depois. Eu precisava ir embora, livrar meus pés daqueles sapatos e colocá-los em cima de um monte de almofadas com toda a urgência do mundo.

Iniciei o trajeto pela calçada, indo de encontro ao meu carro, estacionado a poucos metros de distância, logo após acenar para Elizabeth que prometera me ligar em breve. Procurava minha chave dentro da bolsa, tumultuada pelas necessidades femininas, sem saber o quê um absorvente ainda fazia em meio aos pertences de uma grávida, quando senti o celular vibrar. Meu coração gelou. Edward não costumava ligar naquela hora. Seria alguma notícia que não gostaria de receber? “Não pense besteiras, Isabella”, me censurei quase chorando.

Remexi apressadamente a pequena bagunça, buscando pelo aparelho agitado que parecia zombar do meu autocontrole, e então, ao alcançá-lo, escutei apenas alguém gritar “cuidado”. Mas quando ergui a cabeça, já era tarde. Não tinha mais como fugir do carro que vinha derrapando ao meu encontro. Sabia que não escaparia; no entanto, em uma reação instintiva, abracei minha barriga e me virei, tentando proteger minha filha da pancada inevitável. Apertei os olhos e em seguida, não vi mais nada.


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Notas finais do capítulo

[:O] Estou viva, ainda? Oh, Oh...confesso que fiquei com medo de postar este capítulo!! hehehe
Por favor, amores...se vocês me matarem, ninguém mais poderá "tentar" salvar a Bella!! hahahahaha Pelo menos, não nesta fic!! :/

Bom...é isso...espero que tenham gostado! rs
Próximo capítulo, Bellinha nos contará como é a vida no céu, rodeada por anjinhos fofinhos!! hahaha

Mais uma vez, obrigada pelos comentários...
Beijos e até amanhã!!!!!!!!!!!!!!! ;)
Duda