Bella

Olhando agora para minha nova casa, finalmente minha casa. Não sabia dizer se o gostinho era tão bom quanto pensei que seria. Me imaginava em um senário totalmente diferente desse, a não ser pela minha família que está comigo. Podia está vivendo um pequeno conto de fadas, mas a vida resolveu brincar comigo e me fazer acordar para me dizer que contos de fadas não existem.

Sentei no primeiro degrau da exagerada escada de mármore claro, enquanto via os empregados da empresa de mudanças trabalhar. Eles passavam por mim como se eu não estivesse ali no caminho, e agradeci imensamente por isso. Precisava ficar sozinha, mas não havia lugar, mesmo nessa imensa mansão.

Era ridículo como um momento de decisão pode mudar de uma hora para outra. Eu apenas queria exorcizar os fantasmas que me assombram, e não trazer a tona o meu passado. Não era isso que havia planejado com a reunião de mais cedo. Não estava pronta para reviver todo aquele tormento novamente.

FASH BLACK ON

– Bella. – ouvi a voz de Jacob insisti em uma resposta.

Fechei os olhos com força, buscando a Isabella que havia dentro de mim, antes de abrir os olhos e encarar a todos.

– Não reuni vocês para reviver um passado que para mim já morreu, Jacob. – despejei antes que eu fraquejasse novamente. – Não interessa o que houve, apenas aconteceu e agora já é tarde para tentarmos mudar as coisas. – cruzei os braços me protegendo. – Não te devo satisfação. Me desculpe se te decepcionei, mas usado uma das famosas frases de Sarah; precisamos fazer escolhas na vida, e nós fizemos nossas escolhas. – falei tentando não me importar com as caretas que Jacob fazia.

Todos continuaram em silêncio mesmo depois que me calei.

– Bem, já que não há mais nada a resolver... – Blly pegou a palavra - Vou chamar Quill, assinar essa papelada e dar a demissão que tanto querem. – ele avisou antes de voltar para sua mesa e pegar o telefone para ligar para Quill o advogado da família.

– Não acredito que você fará isso, Billy. Eles ao podem...

– CALA A BOCA, MÃE! – Jacob gritou chamando a atenção de todos. – Já chega!

– Jacob! – ela tentou.

– Não. Você e eu, agora, na casa da piscina. – ele convocou passando por nós. – Não vou pedir novamente. – ele avisou antes de passar pela porta. Nunca o vi tão nervoso.

Sarah colocou sua mão na altura do colo, como se estivesse surpresa com a atitude do filho, o que eu acredito, pois todos nós estávamos, mas no caso dela foi um pouco mais teatral.

Billy largou o telefone.

– Sarah...

– Não, estou bem. – ela se consertou. – Vou ver o que nosso filho quer comigo, dessa vez. – ela limpou uma sujeira invisível da roupa antes de ir.

– Pai... – Seth olhou apreensivo para Billy.

– Vá com ela. Estarei lá assim que der.

FASH BLACK OFF

Bufei, fechando os olhos, ao lembrar de toda a confusão. E aqui estávamos todos nós, na nossa casa em meio a uma mudança.

– Bella... ? – ouvi a voz de Renata atrás de mim.

A olhei forçando um sorriso que não era meu, não naquele momento, mesmo sabendo que não precisava, pois ela me conhecia como se fosse uma mãe. A mãe que me faltava.

– Por favor. – ela sorriu antes de se sentar ao meu lado. – Você sempre foi uma péssima mentirosa. Não tente fingir que está bem.

Ri fracamente de seu comentário.

– Eu nem disse nada. – me defendi.

– E nem não precisa. – ela me abraçou. – Me desculpe minha querida.

Tentei me separar dela para olhá-la, mas ela não permitiu.

– Te desculpar? Pelo quê? – perguntei sendo esmagada.

Não havia nada para desculpá-la, muito pelo contrário. Renata sempre me ajudou quando pode.

– Por não está com você quando mais precisou. – ela finalmente me soltou.

– Renata, eu sei que...

– Shh... – ela me calou. – Estive ausente nos dois momentos mais marcantes da sua vida; sua ida e seu retorno aquela casa. – ela explicou tristemente.

– Eu não me importo, sei que foi por motivos sérios. – segurei sua mão.

Renata morava longe da família e ia visita-los uma vez ao ano. Sorte ou azar; ela esteve longe quando eu precisei realmente.

Ela sorriu fracamente.

– Sinto como se tivesse rompido minha promessa.

– Promessa?

– Sua mãe. Prometi a ela que cuidaria de você em qualquer situação.

– E você o fez, cuidou de mim. Ajudou Charlie a cuidar de mim. – segurei seu rosto. – Acho que ele ficaria louco se não fosse por você.

Ela riu.

– Sim, eu também acho. – ela admitiu com o olhar ainda vago.

Ainda tinha algo no ar.

– O que houve? – resolvi perguntar.

Ela hesitou por alguns segundos.

– Acho que a melhor maneira de contar é com uma história.

– Iguais as que você contava para mim e para Kim antes de dormir? – brinquei.

Ela sorriu.

– Talvez com um pouco de verdade. – ela voltou a ficar séria, me levando a fazer o mesmo. – Era uma vez...

– Renata... – fiz careta pela maneira infantil de começar a história.

– Shh... – ela pediu. – Era uma vez quatro jovens. Não, na verdade, quatro amigos; Renée Dwyer, Billy Black, Renata Sheen e Charlie Swan.

Minha atenção ficou ainda mais aguçada com os nomes que ela passou.

Algumas horas atrás, na casa da piscina...

Jacob

Andava de um lado para o outro na pequena sala da casa, tentando entender o que havia acontecido naquela terrível manhã. Ela não pode ter feito isso, ela não pode. Sarah não era a melhor pessoa do mundo, eu sempre soube disso, mas ela era a minha mãe. Ela não podia ter feito isso.

– E então. – ouvi sua voz seguida pelo som da porta se fechando. – Já estou aqui. O que foi aquele showzinho que você deu lá dentro?

Respirei fundo antes de me virar para ela.

– Diz que você não teve nada a ver com a partida da Bella daqui de casa. – pedi.

– Quando? Agora que ela decidiu levar todos os empregados com ela, ou quando ela decidiu te deixar? Porque para mim é a mesma...

– Mãe... Não complique as coisas para você.

– O que é isso?! Agora recebo ameaça do meu próprio filho?

– Não é ameaça, é um aviso.

– Dá no mesmo. Não vou ficar aqui e ouvir desaforos de você. – ela tentou sair, mas Seth a impediu aparecendo na porta.

– Desculpe mãe, mas não vou deixa-la sair. – ele se colocou no caminho. – Sempre achei estranha a partida de Bela daqui de casa e também quero saber o que houve.

Ela nos encarou simultaneamente.

– Que apropriado! Meus próprios filhos estão criando um motim contra mim. – ela dramatizou.

– Não é nada disso, eu apenas quero saber o que...

– Quer saber o que houve? É isso? Pois eu te digo; ELA NUNDA GOSTOU DE VOCÊ MEU FILHO, NUNCA! – ela gritou se aproximando de mim. – Você era o brinquedinho dela, o banana que ela gostava de brincar, a massinha de modelar na mão dela. O garoto ingênuo que caiu nas garras daquela víbora. Você não entende?

– Mãe. – Seth pediu.

– Deixa ela falar, eu quero ouvir. – a voz imponente, de Billy, soou atrás dela fazendo-a se assustar. – Vamos Sarah, o que você estava dizendo?

Agora...

Bella

– Mas então... Vocês se conheciam, todos vocês? – queria entender. – Por que nunca nos contaram?

Ela deu de ombro.

– Não achamos necessário.

Me calei tentando entender. Os quatro eram amigos desde jovens? Eu sempre soube que Billy, Charlie se conheciam desde a juventude, agora, amigos?!

– Difícil de entender? – ela perguntou achando graça de minhas caretas.

– Não, apenas confuso. – respondi. – Mas acho que o que é realmente confuso é o romance da minha mãe e Billy.

Foi a vez dela fazer careta.

– Perfeita definição. Confuso. Sempre procurei uma definição para o relacionamento deles. – ela deu uma leve risada. – Mas ainda sim eles eram perfeitos juntos. Tudo se encaixava.

Perfeito juntos? Nunca pensei em Renée sem liga-la a Charlie.

– Tem certeza que estamos falando da minha mãe e do pai de Jacob?

– Sim. – ela respondeu. – Mas pensando bem realmente pareceu estranho mesmo. – ela admitiu pensativa. – Tanta coisa aconteceu durante esses anos que isso tudo parece um lindo conto de fadas.

– Renata. – a chamei. – Pode me contar a história novamente? Quero dizer, a parte da minha mãe e Billy.

– Sim, claro. – ela sorriu. – Renée se mudou para a mansão com sua avó quando tinha quinze anos, e devo admitir, ela sempre fora a garota mais linda da vizinhança. Tudo nela era encantador, até mesmo quando estava nervosa. – ela riu, talvez lembrando de alguma coisa.

– E essa beleza toda chamou a atenção de Charlie e Billy. – lembrei do que ela havia me contado.

– Sim. Dois grandes amigos disputando a mesma garota. – ela voltou a contar. – Não que Renée incentivasse essa disputa, mas acredito que não havia muito o que fazer.

– Até que ela se decidiu pelo Billy. – parecia uma gravação repetindo tudo o que ela havia dito, mas eu precisava repetir para tentar entender.

– Sim, seu coração escolheu Billy.

– E meu pai?

– Ela o via como amigo, um ótimo e querido amigo.

– Nossa! – alisei meu cabelo. – Que história maluca.

Ela apenas sorriu.

– Foi a Sarah que acabou com o romance deles? – perguntei amargamente.

– Sim. Ela apareceu na vida de Billy como um furacão. Não sei nem se eu me recordo da primeira vez que ela apareceu, foi tudo tão rápido. – ele pensou. – Bem, o que me recordo perfeitamente é da confusão que teve na mansão e de Renée chorando desesperada.

– Por causa do Jacob. – não foi uma pergunta.

– Mas quer saber de uma coisa? – ela falou baixo, como se fosse um segredo. – Para mim isso foi uma armadilha dela e da família para conseguir se reerguer financeiramente.

– Mas Sarah não fez nada sozinha, se Billy amasse mesmo minha mãe...

– Não, não vá por esse caminho. – ela me interrompeu. – Como eu disse, a história deles sempre fora confusa, a única certeza que eles tinham era que se amavam, e muito.

Ficamos em silêncio por alguns segundos.

– E eu?

– Você foi exatamente como Charlie te contou todos esses anos, porém, com algumas páginas arrancadas. – ela piscou. – Após a descoberta da gravides de Sarah, Charlie fora o único refugio de Renée. Eu estava por perto também, mas achei melhor me afastar um pouco. Talvez assim ele teria alguma chance com ela. – Renata desviou o olhar rapidamente antes de continuar. – E acho que estava certa, não? – ela forçou uma risada.

Continuei encarando-a. Céus! Como nunca percebi?!

– Renata, você ama meu pai. – afirmei.

Ela me encarou surpresa.

– Oh não, Bella. Eu apenas... Só... Eu... – ela gaguejou nervosa.

Ri com sua cara de menininha apaixonada.

– Já falou com ele? – perguntei divertida vendo-a encabular.

Renata era uma jovem senhora encantadora. Seus traços fortes eram marcantes.

– Falou o que com quem? – Charlie apareceu segurando algumas sacolas de comida.

Algumas horas atrás, na casa da piscina...

Jacob

– Por que estão todos me olhando como se eu fosse a bruxa má da história? Só estou tentando abrir os olhos do meu filho. – Sarah se defendeu.

– Você sabe muito bem que a Bella não é esse monstro que você quer pintar. – Billy fechou a porta atrás dele. – Ela ama nosso filho, sempre amou.

Ama. Sorri, internamente, com essa declaração.

– Então deve ser por isso que ela o abandonou, por amor. – ela ironizou. – Ótima história de amor, meu querido, mas na vida real não é assim.

– Sabe o que eu acho. – Seth já havia se sentado. – Acho que a mamãe fez a Bella ir embora. – ele falou tranquilamente. – Só não consegui arrancar do pessoal o argumento que ela usou. Mas tenho certeza que ela jogou sujo.

– Seth, como ousa?! – Sarah se irritou.

– Simples, ele te conhece. Todos nós te conhecemos. – finalmente consegui falar.

Minha voz havia se perdido em minha garganta até esse momento. Era doloroso demais descobrir, mesmo sem ter certeza, que minha própria mãe jogou com a minha felicidade. Que ela não pensou duas vezes antes de acabar com meu futuro.

– Já disse que não vou ser tachada de bruxa má. Tudo o que eu fiz foi pensando na nossa família. – ela se defendeu.

– Então é verdade? – Seth se levantou. – A senhora fez a Bella ir embora?

Ela nos olhou demoradamente.

– Não, eu apenas a fiz enxergar o erro que ela estava cometendo em desistir da grande chance de sua vida. – ela explicou. – Ela seria muito imatura se desistisse, não acham?

– Eu que pedi que desistisse. – confessei. – Não queria ficar longe dela, achava que não conseguiria.

– Mas agora todos nós sabemos que você consegue. – ela ajeitou o cabelo. – E olhem para ela agora, eu a ajudei a se tornar quem ela é.

– Ah, faça-me o favor, mãe. – Seth exclamou. – A senhora nunca se importou com ela! – ele despejou. – Querem saber?! Eu já estou cheio! Nossa família é uma mentira. Isso tudo é uma mentira. – ele apontou para casa. – E nossos únicos amigos, os que a gente podia contar verdadeiramente, foram embora por causa dela. – Seth desabafou. – Eu te amo mãe, amo de verdade, mas para mim já deu. Não sirvo para essa farsa de vocês. – ele terminou se virando para sair, sem antes bater a porta.

Me movi, pensando em ir atrás dele, mas Billy me impediu.

– Deixe ele, Jacob. Foi bom ele sair. Agora podemos conversar abertamente. – ele desviou seu olhar para Sarah. – Sua mãe ainda não nos contou como foi que ela abriu os olhos de Bella.

Continua...