As lágrimas escorriam de seu rosto como feitas de refúgio para si mesmo. Seu ser buscava uma resposta, mas de alguma forma, estava tão perturbado que sentia medo...

 

         Mas não sabia de quê.

 

         Ou de quem...

 

         (...)

 

         O sol já havia raiado no horizonte e a manhã se apresentava bela e onipotente. As primeiras melodias já ecoavam por VOCALOID. Todos já estavam trabalhando.

 

         Mas por mais que Kaito não quisesse acreditar no que tinha acontecido novamente, seus olhos o desobedeciam.

 

         E cerraram-se durante a noite.

 

         Algo dizia a seu coração para abrir os olhos. Uma coisa estava estranha. E ele precisava descobrir o que era.

 

         Nosso jovem de cabelos azuis ainda encontrava-se no quarto de Len. Estava sentado próximo à janela, com as pernas juntas ao corpo e os braços envoltos das mesmas. Um jeito um pouco incômodo de dormir, talvez. Mas o cansaço e... o medo eram maiores.

 

         Ao tirar o rosto de entre os braços e levantá-lo, deparou-se com uma cena quer perturbara seu ser, mais ainda...

 

         Os gêmeos Kagamine fitavam seus olhos, da maneira mais sombria. Seu olhar não tinha foco, não possuía brilho. Os dois pequenos sorriam, com a cabeça um pouco tombada para o lado.

 

         Kaito espantou-se. Ele nada podia dizer.

 

         - Pobre humano... – Len afirmava.

 

         - Por que “ele” não faz o mesmo com esse daqui!? – Rin perguntou.

 

         - Não cabe a nós saber – Len deliciou-se com a expressão amedrontada de Kaito.

 

         Mas o que aconteceu a eles?!

 

         Os gêmeos já se levantavam e iam em direção á porta do quarto. Pararam, viraram-se para Kaito novamente e fizeram o gesto que já conhecemos.

 

         - BANG! – Len e Rin apontaram os dedos para Kaito e “atiraram” nele.

 

         Kaito precisava fazer algo. Mas seu corpo não se movia.

 

         - Es... – Ele tentou dizer algo.

 

         E conseguiu se levantar.

 

         - Esperem! – Kaito saiu correndo atrás dos dois – Esperem!!! – ele gritava com mais força.

 

         Mas Len e Rin já haviam colocado o primeiro pé para fora do quarto. Nisso, antes de Kaito alcançá-los, sua visão ficou embaçada e ele só conseguiu ver um vulto de alguém conhecido (ou não) na porta. Caiu ajoelhado no chão com uma profunda dor de cabeça.

 

         Mas uma voz atingiu seus ouvidos.

 

         E era aconchegante ouvi-la.

 

         - Kaito-kun!? Kaito-kun!? Tudo bem com você?! Kaito-kun!!!!

 

         Era a voz da pessoa que ele mais amava.

 

         Miku estava ao lado dele.

 

         - Mi-Miku!? – Kaito levantava o rosto.

 

         - Sim, sou eu. Tudo bem com você?! O que está fazendo caído aí no chão?!

 

         - Eu... – Kaito colocou a mão na cabeça. Estava doendo. Não possuía palavras para explicar para Miku tudo que havia acontecido – Len... Len e Rin! Onde... eles estão!?!??!

 

         - Eu não os vi, Kaito-kun...

 

         - Mas eles acabaram de sair daqui!

 

         - Kaito-kun, não tinha ninguém nesse quarto... – Miku assustou-se – Você está mesmo bem!?

 

         E Kaito novamente se perguntava se tudo não havia passado de um sonho. Mas como?!

 

         “Não sinto vida neles...”

 

         Outra voz conhecida vinha do corredor. Era Meiko, chamando pelo nosso casal.

 

         - Miku-chan! Kaito! Onde vocês estão!? – Meiko os encontrou no quarto de Len – Ehhh?! O que estão fazendo aí, sozinhos!? – Ela sorriu maliciosamente.

 

         - Meiko-chan, o Kaito-kun não está se sentindo muito bem, então eu—

 

         - Não, tudo bem comigo, Miku... – Kaito interrompeu a garota – Vamos descer, está tudo bem... – E então se levantou.

 

         Afinal, ele precisava entender o que era tudo aquilo.

 

         E por mais que quisesse esquecer, aquela melodia ainda pairava sobre sua mente.

 

         Kaito desceu até o hall principal junto de Miku e Meiko, que conversavam descontraidamente.

 

         - Kaito... mas, que cara é essa!? – Gakupo já chegava perto do trio.

 

         - Gakupo...

 

         - Andou chorando a noite?! Seus olhos estão inchados!

 

         - Eu...

 

         - Gakupo-senpai, ele não está se sentindo muito bem hoje – Miku interrompeu o questionamento do samurai.

 

         - Ah... eh?! E por quê?!

 

         Kaito queria contar para Gakupo tudo que aconteceu. Talvez ele fosse o único que compreenderia. Eles eram amigos. E muito bons amigos. Nosso jovem resolveu puxar o samurai pelo braço e levá-lo a um lugar mais calmo, em qualquer parte do jardim da frente.

 

         - Etto... O que foi, cara?!

 

         - Gakupo, me ouça...

 

         - Kaito, você está muito estranho... o que aconteceu!?

 

         - Tem algo acontecendo aqui em VOCALOID. Tem alguém... – seus lábios começaram a tremer. Seus olhos não focalizavam o rosto de Gakupo. Parecia que queria fugir de algo.

 

         - Kaito!?

 

         - Você... não ouviu?!

 

         - Ouvi o quê!?

        

         - Ontem à noite... aquela música e... aquele tiro. Você...

 

         - Mas que música?! Kaito, eu estou ficando preocupado! O que—

 

         - Você não percebe!?!??! – Kaito gritou com Gakupo. Estava notavelmente perturbado.

 

         - ...

 

         - Por que... por que ninguém escuta? Por que ninguém percebe!? Primeiro foi a Rin e agora...

 

         - Kaito, o que você—

 

         O diálogo dos dois foi prontamente interrompido quando Gakupo viu os olhos de Kaito arregalarem-se e olharem por detrás de si. O jovem samurai virou-se e encontrou Len e Rin, parados, focando os dois vocaloids.

 

         - Vocês... – Kaito não conseguia pronunciar muita coisa.

 

         E antes de terminar sua frase, com sempre, os gêmeos Kagamine apontaram novamente os dedos, formando duas armas. Já se preparavam para “atirar”, mas algo fez com que os dois parassem.

 

         O ar foi tomado por um estranho sentimento. Tudo parecia vazio. Kaito havia entendido que aqueles poderiam não ser os gêmeos que ele tanto conhecia.

 

         Len e Rin abaixaram as mãos, olharam cada um para um lado, como se incomodados e se retiraram. Kaito não entendeu. Gakupo não havia dito nada. Nosso jovem estava atrás do samurai e não conseguiu ver a expressão que pairou em seu rosto.

 

         Gakupo apenas fitou os olhos dos gêmeos.

 

         E sorriu.

 

         Mas Kaito não pudera ver isso.

 

         (...)

 

         - Kaito, Gakupo! Onde vocês se meteram!? – Luka dizia, um pouco nervosa.

 

         - Ahhh... é que o Blue Hair e eu aqui fomos ter um particular, sabe?! – Gakupo jogava seus longos cabelos para o lado. Bem irônico.

 

         - Particular, eh?! Sei... – Meiko riu maliciosamente, mais uma vez.

 

         Kaito tentava refugiar-se em si mesmo, Mas não podia. Gakupo não o havia compreendido. Len e Rin pareciam vazios, sem consciência alguma. Realmente, ele tinha medo do que poderia acontecer naquela noite novamente. Então, mesmo que por poucos segundos, Kaito encontrou o olhar de Miku. Ela parecia tentar compreender o que estava havendo com ele.

 

         Realmente, seus olhos verdes confortavam o coração de Kaito. Ele até corou e virou-se para outro lado.

 

         - E onde estão Len e Rin!? Vocês sabem muito bem que hoje é dia de estudar as partituras de cada música, exceto para Miku e Kaito, que já deviam ter começado a gravação de Magnet à dois dias! – Luka realmente estava um pouco nervosa, mas nada de mais.

 

         O que Kaito iria responder?! Onde estavam os Kagamine?!

 

         - Bom, eu acho que os gêmeos estão se divertindo em algum lugar por aí... – Gakupo respondeu por ele.

 

         - Luka-senpai, eu acho que deveríamos adiar a gravação de Magnet para amanhã...

 

         - Mas, Miku...

 

         - Kaito-kun não está bem hoje, então eu acho que—

 

         - Já disse que está tudo bem comigo, Miku, não se preocupe. Poderemos gravar Magnet hoje, afinal, você deve estar com muitos outros trabalhos. Não quero te atrapalhar...

 

         - Kaito-kun...

 

         Ele queria retribuir o aconchego que Miku lhe oferecia, apenas com sua presença. Era impossível negar que a amava.

 

         Mas talvez nunca fosse capaz de lhe confessar isso.

 

         E por mais turbulenta que tenha sido a noite anterior e aquela manhã, estando ao lado de Miku, Kaito via-se tranqüilo, sereno, sem preocupações.

 

         Os dois já colocavam seus fones adornados com asas de borboletas e preparavam-se para começar a gravação de Magnet. Kaito estava visivelmente nervoso. Não pelos acontecimentos, mas pelo fato de ter que ficar tão perto de Miku.

 

         - Kaito-kun, tudo bem. Se não quiser gravar, eu entendo. Não se preocupe com meus outros trabalhos, eu posso adiá-los também. Mas confesso que é difícil ser vip... – Miku brincava, tentando mudar a feição de Kaito.

 

         Kaito retribuiu o sorriso.

 

         - Ah, claro, me perdoe, chefinha... – Kaito ironizou num tom de brincadeira.

 

         Miku sorriu novamente. Como era encantadora! Kaito a amava profundamente, mas selava esse sentimento em seu coração.

 

         Mesmo que difícil, ele acorrentou esse amor.

 

         E quem sabe realmente quando ele iria se libertar?!

 

         O som do piano tomou todo o estúdio.

 

         A gravação começou.

 

         E Gakupo fixou seu olhar, por entre a porta, nos dois, que sorriam um para o outro.

 

         Um olhar... de arrependimento?

 

         (...)