Em meio a um grande espaço aberto, preenchido por um bosque e lindos jardins com as mais diversas espécies de rosas, estava onipresente um imenso prédio. Se é que podemos dizer que aquilo era um prédio. Na verdade, era praticamente uma cidade. Pequena, mas era. Um aglomerado de construções, muito bem definidas e organizadas resumiam o complexo de VOCALOID.

         Na construção principal, ao centro desse complexo, havia uma edificação com a escrita VOCALOID’S bem acima de sua porta. Era possível ler essa escrita, já que o sol começava a raiar no horizonte, refletindo as belas letras que compunham tal placa. Mais um dia estava para começar...

         “Mas por que eu tenho a impressão de que hoje não é um dia comum?”

         Kaito abria seus olhos, ainda deitado em sua cama e olhava o quarto ao seu redor. Que bagunça! Definitivamente, ele não queria levantar... Resolveu virar para o canto e voltar a dormir. Mas algo (ou alguém) não deixou:

         - Kaito-kun!!!! – Uma voz tipicamente infantil ecoava pelo lado de fora da porta – Acorde, ou você vai se atrasar de novo! Não se esqueça que você tem que regravar Alice Sacrifice hoje com a Meiko! Ela vai bater em você se você não for! Ande logo!!!

         - Hai, hai, Rin, já vou descer... – Ele realmente não queria levantar.

         Mas fazer o que?! Mais um dia de “trabalho” estava para começar. Kaito resolveu levantar-se. Abriu as cortinas. Que lindo dia ensolarado! Talvez, tão normal quanto os outros...

         - O.K, vamos lá! – E Kaito já se punha para fora de seu quarto.

         Escadas enormes davam direto a um hall com vários portões. Por lá, já circulavam vários outros jovens, todos trajados com roupas coloridas e com microfones presos junto ao rosto.

         - Ah, bom dia, Kaito! – Um alto jovem de cabelos roxos sorria para nosso rapaz de cabelos azuis.

         - Gakupo?! Por que toda essa animação?! – Kaito estava visivelmente desanimado e com sono.

         - Hahaha, melhore essa cara, Kaito! Bom, eu tenho umas três músicas para gravar hoje, então...

         - Hum, você se anima fácil também...

         - Nada, eu só me sinto muito bem essa manhã! – Gakupo já saia rindo para um dos portões desse hall.

         - Sei... – Kaito resolveu segui-lo, afinal, sabia que os “outros” estariam lá também.

         “Uma manhã tipicamente normal?!...”

         - Kaito! Seu preguiçoso!!! Onde você estava!?!!?! – Uma garota de cabelos castanhos berrava sem parar.

         - Meiko! Pare de gritar! Eu já estou aqui, oras – Mas que chateação...

         - Depois não reclame se não der tempo de fazermos os preparativos para a festa— Meiko parou de falar bruscamente.

         - Que festa?! – Uma jovem de cabelos verdes apareceu, curiosa, sorrindo e dando bom dia a todos.

         Era Hatsune Miku. Como todos a chamavam apenas de Miku, vamos assim deixar. Por que será que Kaito também não disse nada?!

         - Ah, ah, nada não, Miku-chan... – Meiko tentava disfarçar – É só mais um divertimento meu!

         - Normal, não é, Meiko-chan?! – Miku continuava sorrindo.

         Ah, como aquele sorriso era encantador. Aos olhos de Kaito, não poderia haver nada de melhor para iluminar sua manhã. A presença de Miku sempre o animava. E isso já era visível para todo mundo.

         - Bom dia pessoal, bom dia, Kaito-kun! – Miku dizia animada.

         - Ah... bom dia, Miku... – Kaito resolveu abrir um sorriso também.

         - Bom, preparados para mais um dia de trabalho?! Hoje temos muitas coisas a fazer! – Ela fazia pose.

         E fazia jus a essa pose de “chefe”. Afinal, ela era o vocaloid número 01. A primeira escolhida para tal trabalho de dar vida a todas as músicas que chegavam àquele prédio. Mas logo ela perdia essa pose para Megurine Luka, a jovem mais madura, digamos, dali.

         - Miku está certa, vamos trabalhar! – Luka chegava e falava decidida.

         - Luka-channnnn! – Duas “crianças” já apertavam as bochechas de Luka.

         - Ahhhhh, Rin, Len! Parem com isso!!!!

         - Luka-chan, será que eu posso sair hoje?! Eu prometi me encontrar com a Gumi para darmos uma volta! – A pequena garota loira com uma faixa na cabeça falava sem parar.

         - Sim sim, deixa eu ir também! – O garoto era o reflexo da primeira. Eram os gêmeos Kagamine.

         - Rin, você pode ir sim, agora Len, você fica! O senhor sabe muito bem que você tem que gravar sua versão de The world is mine!

         - Ahhh, não, isso é injustiça! – Len emburrou!

         - Hahaha, baybay irmãozinho, até depois! – Rin saiu zombando do irmão. Deu até dó.

         - Hahaha, esses dois... – Kaito deixou o desânimo pra lá e riu.

         - Kaito! Vamos logo começar a gravar, antes que fique tarde! – Meiko puxou Kaito para uma das salas de gravação.

         - Tudo bem... – Sendo arrastado...

         Como mais um dia normal para todos...

         E como o tempo passa depressa quando se está fazendo algo que se gosta, não?!

         - Vou descansar um pouco... – Kaito saia da sala de gravação pra tomar um ar.

         - Não demore! Estamos quase terminando! – Meiko gritava lá de dentro.

         Algumas horas já haviam se passado. Todos estavam trabalhando duro. E Kaito resolveu ver como seus amigos estavam.

         Mas ao escutar a voz de Miku, resolveu segui-la. Estava na primeira sala, gravando o clipe de The world is mine. Len a acompanhava com o piano, esperando sua vez de cantar.

         Kaito ficou a observá-la. Encantadora. Sua voz, claro. E ela mesma. Ele corou e continuou ouvindo.

         - Quando você vai falar pra ela?! – Gakupo chegou sorrateiro.

         - Eh?! Falar?! O quê?! – Kaito tentava fugir do assunto.

         - Aham, Kaito, você vai tentar esconder que gosta da Miku?! Esconder de mim!? Seu melhor amigo?!!?!? Não faça esse belo e esguio samurai te cortar com sua katana!!! WAAAAA!! – Gakupo tirou a katana da bainha e por alguns centímetros, quase acertou Kaito.

         - Gakupo!!! Guarde essa coisa! Você não pode ficar brincando com coisas pontudas, sabe disso! E desde quando você sabe usar tão bem sua katana?!

         - Já disse que acordei muito bem essa manhã – Gakupo sorriu como nunca.

         “Por que aquele sorriso me pareceu tão sombrio?!”

         - Pare de falar besteiras! Eu não tenho nada o que falar com a Miku!

         - Ah, você quem sabe! – Gakupo já ia saindo – Mas não reclame se ela te der um fora depois!

         - Hunf... – Kaito emburrou e voltou-se para a sala novamente. Miku continuava cantando.

         Quando será que ele falaria... que a amava?!

         “Mais tarde pode ser tarde demais...”

         O sol já se punha no horizonte. Alguns vocaloids já iam retornando aos seus quartos. Outros apenas saiam para se divertir. Em uma sala reservada, Luka já dava alguns avisos importantes...

         - Bom trabalho por hoje, pessoal! Espero que todos tenham cumprido suas tarefas!

         - Eu não consegui fazer tudo... – Len queixava-se – Sem a Rin para me apressar, não deu não...

         - Hahaha, boa chibi Len! – Meiko ria – Então, já posso sair pra beber um pouco?! – Eram suas manias: festas e bebida. Que coisa...

         - Bom, espere que eu divida os trabalhos de amanhã, pois todos terão músicas para gravar em grupo...

         - Hai, hai...

         - Len, você, Gakupo e Kaito irão gravar o clipe de Imitation Black, tudo bem!? A música já está sendo editada pelo Kiyoteru. E parabéns pelo trabalho! Imitation Black está em primeiro lugar no acesso do nosso banco de dados! – Luka sorria.

         - Yay! Somos fodas! – Gakupo ria feito bobo.

         - Claro que somos! – Len concordava.

         - Trabalho de equipe! – Kaito também riu.

         Luka continuou a distribuir as tarefas a cada um. Parece que amanhã seria um longo dia.

         - Ah! Antes que eu me esqueça! Miku-chan, você irá gravar Magnet amanhã.

         - Claro! Com que dessa vez?! – Miku estava curiosa.

         - Bom, dessa vez... – Luka olhava nos papeis – Você irá com Kaito!

         Kaito parou bruscamente. Ele iria cantar com Miku!

         Apenas virou-se e encontrou o sorriso da garota de cabelos e olhos verdes vindo em sua direção:

         - Vamos trabalhar muito amanhã, não é, Kaito-kun?!

         - ... Claro – E Kaito sorriu novamente.

         Chance?!

         (...)

        Que dia cansativo, afinal! Kaito já voltava a seu quarto depois de jogar algumas horas de vídeo-game com Len. Afinal, Rin não tinha voltado ainda.

        Ele sentou-se em frente ao espelho que havia em seu quarto, exausto. Tirou seu fone e bagunçou um pouco seus cabelos azuis. Ficou olhando para si mesmo.

        Amanhã, ele iria ficar cara a cara com Miku. Só de pensar, seu coração já acelerava. Por que ele teve que se apaixonar justo por ela?! Apesar de amigos, sua relação com ela não passava disso. E ele não tinha coragem de dizer para ela o que sentia.

        Ahhh, mas que coisa! Em que enrascada ele foi se meter?!

        Estava realmente cansado. Foi até a sua cama e deitou-se. Já fechava os olhos, até que murmurou algo pra si:

        - Bom dia Miku... eu te am— Oh, ele cochilou antes de terminar a frase.

        “O dia acabou?!”

        - AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!

         Kaito abriu os olhos assustado. Que grito foi aquele! Antes que ele tivesse tempo para pensar, outro barulho ecoou. Um estrondo muito forte, parecendo um tiro.

         Ele estava ofegante. Seu coração tinha acelerado. Ele sentia o ambiente mais frio e mais escuro. Que sensação era aquela!?

         Apesar de assustado, ele teria que ir ver o que fora aquele barulho. Poderia só estar sonhando, afinal...

         Mas uma estranha melodia começou a tocar. Kaito não conhecia tal música, mas se arrepiou com ela. Era uma música sombria, meio triste. Decidiu segui-la...

        Todos os quartos estavam com suas luzes apagadas. Provavelmente, todos dormiam. Kaito apressou o passo e foi até onde aquele grito e posterior a esse, aquele “tiro” ecoou. Aquela melodia estranha continuava a tocar. Era bem próximo ao jardim lateral.

        A lua iluminava tudo no local. Apesar de estarem chegando ao verão, o clima era realmente frio e a brisa que pairava sobre aquele local era gélida.

        Kaito chegou ao jardim. Nada. A música havia parado. Apenas um perfume de rosas, inconfundível, penetrou por entre ele. Que perfume era esse?! De onde estava vindo!?

        Que grito foi aquele?!

        Estaria apenas sonhando?!

        (...)