Capítulo 06 – Um Passado Distante

Em mais uma tarde de calor e demasiadamente ensolarada na região de Treesville, os vampiros dormiam e os humanos seguiam com sua vida, alguns, alheios ao perigo iminente de ambos os lados. Os raios de sol refletiam na vegetação rasteira dos campos que rodeavam as terras de Jacob, refletiam as pequenas gotículas de água e reforçavam o cheiro do mar.

Nesta tarde, Jacob saiu em direção á praia de La Push, seguindo por uma trilha lateral, mas não indo em direção ao penhasco, e sim à uma pequena vila que ali tinha. Leah observava de longe, do alto do morro, estreitando os olhos. O vento vindo do mar acariciava a pelagem dourada que sua forma de lince possuía. A cauda era abanada e a pupila dilatava-se; sua visão e audição aguçada permitia-a ver mais adiante que um humano qualquer. Poucos minutos depois, Leah levantou-se e andou vagarosamente por entre os arbustos baixos, como um verdadeiro felino sorrateiro.

- Jacob? – Paul perguntou ao vê-lo andando pelo vilarejo próximo as propriedades de Jacob. – O que faz aqui?

- O que você faz aqui?

- Sabe que venho acompanhar o Quil... Alguém precisará ajudá-lo com a ossada. – Paul referia-se ao velho Quil Ateara, morto em uma guerra contra os vampiros. Neste ano, Paul havia se incumbido de ajudar Quil com a ossada do avô morto.

Jacob ignorou totalmente o companheiro, seguiu seu caminho entre a trilha mais estreita, até um pequeno jardim, circundado por pequenas flores brancas e vermelhas. A grama verde, fofa e as plantas trepadeiras nos troncos das árvores, criavam um ambiente de paz, algo que Jacob Black não tinha.

- Boa tarde. – Ele sussurrou perante ás duas lápides. Uma delas dizia: “Amado pai. William Black. Saudoso guerreiro”. A outra havia a incrição: “Rachell Black. Feroz como um felino. Delicada como uma rosa. Amada irmã e filha.”

Jacob sentou-se a sombra da árvore e encarou ás duas lápides. Seu pai e sua irmã haviam morrido na mesma batalha que o avô de Quill. William Black, chamado de Bill, encarava em seus olhos um cenário devastado, lobos morriam, mulheres e crianças eram poupadas e o corpo de uma humana-prodígio era jogado numa fogueira. Os rosnados dos vampiros tomava conta do campo de batalha. Jacob não conseguira impedir que Edward Cullen cravasse suas presas no pescoço de sua adorada irmã.

Na frustrada tentativa de salvá-la, seu pai havia cravado uma estaca no coração de Edward, paralisando-o. Mas a essa altura, Rachell já estava morta e seu espírito buscava seus ancestrais.

- Eu os farei pagar. – Jacob dizia baixo.

Jacob contava com Bella para isso. Ele contava com a noite que ele teria com ela em menos de dois anos, ele contava com aquele poder ainda adormecido E desconhecido. Ele contava com sua fiel matilha. Jacob não fazia idéia de que os vampiros tinham voltado a se reorganizar. Aos poucos, todos os vampiros do condados de Treesville já sabiam que em breve, uma nova guerra surgiria e desta vez, eles não tinham a intenção de perdê-la.

Era uma tarde vermelha, muito sangue havia sido derramado na noite e manhã anteriores á aquele dia. A cidade de Treesville e seus descampados, eram palco de uma disputa sangrenta por poder.

- Os Quileutes vão atacar! – Emmett rosnou.

Naquele dia, quando o sol já se escondia entre os montes, o uivo de um lobo acinzentado ecoou por toda a cidade. Logo, mais e mais uivos formaram o coro de aviso. O bater das patas em direção aos campos, os rosnados vindo dos pulmões daqueles enormes lobos e os dentes pontiagudos á mostra, não chegavam, nem sequer a intimidar os lobos.

Perto dali, numa estrada deserta, coberta pela copa verde das árvores, estava Edward, o mais velho dos irmãos Cullen – Emmett e Rosalie -, fugindo com uma jovem. Aquela jovem, detinha em seu sangue, o poder – a força -, que Edward precisava para acabar com aquela guerra sem sentido.

- Rachel!!! – Billy Black gritou ao vê-la em posse de um frio. – Solte-a!

- Nunca. – Edward rosnou. – Jamais imaginou que a maldição pudesse cair sobre sua família, não é, Black?

Jacob lembrava-se de cada cena, de cada sentimento daquele horrível instante. A memória de um lobo nunca falhava. As lembranças sempre permaneciam lá.

- Maldição... – Ele murmurou. – Em alguma coisa ele tinha razão... Era um beco sem saída.

- Não existe saída para vocês, quileutes. – Edward murmurava, com suas mãos fechando-se em torno da cintura da jovem Rachel. Quando deu por si, Rachel já estava sobre os ombros do vampiro, sendo levada velozmente pela floresta.

Billy Black havia ordenado uma busca. Que seria em vão.

Não muito longe dali, Leah voltava para dentro da casa e encontrava Bella, amontoada no sofá da sala, vendo um filme qualquer na TV. Ela sentou-se ao lado da jovem e deixou a cabeça cair no encosto do sofá. Sou o ar, vagarosamente, dos pulmões, tentando acalmar-se. Bella a encarou, não muito surpresa, só então quebrou o silencio.

- O que foi?

- Todos os anos ele sai daqui, neste mesmo dia... então segue até o vilarejo.

- Sim e daí?

- Já percebeu que nós nunca podemos ir? Já percebeu que só ficamos enfurnadas nesta casa, sem podermos ter qualquer outro tipo de contato ou relação social com alguém? Bella... Existe algo que ele está nos escondendo.

- Eu sei. – Bella sorriu. – Estava esperando você chegar. Agora vá e transforme-se em qualquer gato pequeno.

Não entendo o que a amiga queria dizer, Leah subiu para seu quarto, largou as roupas que antes estavam em seu corpo, sobre a cama e deixou sua mente e corpo se levar pelo calor que lhe subia. Aos poucos, foi encolhendo-se, até que sua pele desse lugar á uma camada de pêlos finos e suas pernas dessem lugar ás patas. A figura quase imponente de um gato selvagem saiu pela porta entreaberta do quarto e desceu até o pé da escada, onde Bella a esperava.

Bella entrou no escritório de Jacob e então trancou a porta atrás de si. Virou-se para Leah e encarou-a sorrindo.

- Ele com certeza tem alguma coisa guarda aqui. Eu procuro e você vigia. Vai saber quando ele estiver voltando. – Disse ela. A gata prostrou-se na poltrona perto da janela e ficou atenta ao horizonte.

Bella parou no meio do escritório e olhou em torno de si mesma. Decidiu por começar primeiro pela mesa, afim de encontrar algo que pudesse ao menos, contar um pouco da história misteriosa que as cercavam, porque lá no fundo, ela sabia que Leah estava metida nisto e, não era somente por ser sua amiga.

Leah continuava olhando pela janela. Voltou seus olhos para as mãos, quase hábeis de Bella, folheando um livro de registros. A gata desceu de onde estava e foi até em baixo da mesa, onde um papel estava caído. Ela colocou o papel entre os dentes e subiu na poltrona novamente, colocando sob suas patas. Bella olhou para o que Leah tinha achado e foi até ela.

“Lisa Edelstein. Port Land.

Rachell Black. Treesville.

Maya Wood. Seattle.

Isabella Swan. Treesville.”

Leah bufou e saltou da cadeira. Era possível vislumbrar a imagem do cavalo castanho de Jacob entrando nas propriedades. Bella e Leah subiram para seus quartos e lá trancaram-se. O som do aparelho de som foi ligado, para abafar qualquer conversa.

As mãos de Bella tremiam, pois agora, mais que nunca, ela sabia que havia algo que explicaria muitos mistérios em torno de sua vida. Leah a encarava, silenciosa. Parecia que o nome de Bella estava em negrito e letras grandes, embora não o tivesse.

- Olhe, Lee... – Bella mostrou. – Rachell Black era a irmã de Jacob. Aquela que ele disse que foi morta por um frio.

- Acho que agora nós temos que arrumar um jeito de descobrir tudo. - Leah falou meio pensativa.

- isso tudo... só me leva a pensar numa coisa...

- No que? – Leah retrucou.

- Você disse que o Jake gostava de mim, lembra? Talvez... Só talvez... Eu seja uma peça no tabuleiro... Talvez ele esteja...

- Shii!!! Não termine. Nós vamos descobrir o que está por trás de tudo. – Ela colocou uma mão sobre o ombro de Bella.

Jacob mal sabia que seu passado e o passado de todos ali estava por um fio, um único fio que se romperia quando Bella descobrisse toda a verdade. A nuvem negra que estava sobre sua mente começava a se dissipar, abrindo-lhe os olhos.

- Eu vou vingar sua morte Rach. Eu vou... Eu juro que vou.