Capítulo 21 – Armação.

Bella

Num determinado momento, eu estava na campina, onde Jacob insistira em me levar, ocasionando quase um desastre natural. Minha culpa. Fato. No outro, eu estava na minha cama na casa dos Cullen, com Leah sentada ao meu lado e Alice com uma expressão de decepção ou tristeza.

Eu sentia meu corpo leve, mas minha cabeça pesou quando as memórias dos últimos momentos me invadiram. Um arrepio percorreu todo o meu corpo com a lembrança de Edward sendo mordido por Jacob, mas depois daquilo, era como se uma espessa névoa estivesse sobre aquelas lembranças. Meus olhos se abriram novamente e eu arfei, voltando à realidade.

- B.? – Leah me chamou.

- O... Que houve? – Eu perguntei numa voz trêmula.

- Você desmaiou depois que Edward bebeu de você. – Leah respondeu. Então era verdade. Eu levei minha mão sobre o pescoço e senti duas pequenas cicatrizes. - O que foi, Alice?

- Me desculpa! – Ela exclamou, ajoelhando-se ao lado da cama. – Se eu não tivesse com... Se eu tivesse visto as decisões do cachorro, nada disso teria acontecido.

- Allie... – Eu sorri. – Não se preocupe. Estou bem agora... E... Como...

- Ele está bem. Vocês dois precisam conversar. – Ela sorriu. – Esme vai trazer algo para você comer.

- Eu vou descer. – Eu falei. – Obrigada.

Assim que Alice saiu, eu levantei e fui procurar algo para vestir, entre as inúmeras peças de Alice, achei uma calça de moletom, parecida com a minha e uma camiseta. Quando sai do closet, Leah me encarava com uma expressão séria.

- O quão ruim foi? – Perguntei.

- Depende. Qual das partes? A parte em que você fica totalmente descontrolada, inerte a tudo; a parte em que você dá seu sangue a ele; ou quando você desmaia? – Ela enumerou.

- Desculpe. Deve ter sido difícil para você ver aquilo. – Eu suspirei. – Mas eu escolhi meu lado, Lee.

- Só tente não machucar meu irmão. – Ela sorriu e deu um abraço. – Fico feliz que você esteja bem.

- Obrigada. Desculpe por qualquer coisa.

Depois disso, nós duas descemos. Eu estava vermelha como pimenta. Entrei na cozinha, era horário do almoço, então eu devo ter ficado desacordada por mais de doze horas, pelas minhas contas. Céus, eu poderia ter feito um estrago maior.

- Oi. – Eu disse baixo para todos ali.

Carlisle havia saído com Jasper e Matthew; Emmett ajudava Esme com algumas louças – quando não quebrava os pratos -; Alice estava num canto com Rose e Tanya. Eu fui direto a uma fruteira e peguei algumas laranjas para um suco, enquanto Leah ajudava Esme com o almoço. Edward não estava em nenhum lugar.

- Não fique amuada, querida. - A vampira mãe disse sorrindo, de uma forma tão gentil, que eu podia sentir o amor dela penetrando pelos meus poros. – Você é jovem e está sob pressão. O que aconteceu era de se esperar.

- Mas eu disse que não podia perder o controle. – Murmurei.

- Você perdeu o controle quando viu que a situação ia ficar pior. Isso acontece, aconteceu comigo muitas e muitas vezes. – Ela sorriu novamente. – Quando você perde o controle, o poder toma conta de você. Ele sabe que deve proteger aqueles que você ama por isso aquele escudo foi expelido.

- Por que Leah não conseguiu entrar?

- Porque você estava fora de si. Isso acontece, é normal. Mas agora isso não vai acontecer com tanta freqüência, porque você sabe do seu potencial e do seu poder, Bella. E agora Edward é capaz disso.

Edward. Eu pensei. Eu havia dito a ele que tinha escolhido meu lado. Eu havia dito a ele que não podia deixar que nada acontecesse com ele. Meu coração palpitava só de ouvir seu nome.

- O que foi, Allie? – Perguntei.

- Ela teve uma visão. – Rose disse. – E borrou minha unha. – Eu ri.

Alice olhou para Tanya, que assentiu, sem que ninguém mais percebesse, além de mim claro. Eu não sabia o que aquelas duas estavam aprontando, mas de alguma forma, eu sentia que estava envolvida.

- Hum... Tanya, porque não mostra para a Bella a nova pintura que você está fazendo? – Alice disse sorrindo. Eu ergui uma sobrancelha. Uma vampira, succubus – só para constar – e artista? Não.

- Você? Pintando?

- Claro. Tive um século para praticar. – Ela sorriu. – Agora vamos, é a minha melhor representação de Monet.

Eu ouvi uma risadinha baixa quando saí da cozinha. Tanya estava sorrindo largamente e me levando para cima. Quando nós chegamos, ela me levou até a varanda e disse para esperar lá. Eu olhei ao meu redor e vi que no canto havia uma escada, Tanya estava demorando, então subi. Ali era uma outra varanda, maior, encostada com o telhado da casa branca. Edward estava de costas, observando o horizonte.

Eu sabia que por mais silenciosa que tentasse ser, não iria conseguir e ele me ouviria, então só parei na entrada da varanda. Eu não iria ver nenhuma representação de Monet. Elas armaram isso.

- Oi. – Eu murmurei.

- Oi. – Ele sibilou.

- Você... Está bravo comigo, ou com algo que fiz? – Perguntei devagar.

- Não. – Ele falou baixo.

- O que foi, Edward? – Seu nome saiu trêmulo pelos meus lábios. Meu coração acelerou novamente.

- Você já escolheu seu lado. – Ele disse minhas palavras. Eu assenti. – Por mais que tenha sido por força maior, eu preciso saber de você, Bella. Eu preciso ouvir as palavras saindo da sua boca.

- Eu sei disso. – Murmurei me aproximando de onde ele estava, encostando na grade e observando a paisagem. – Não vou mudar de idéia. Jamais vou escolher salvar o assassino dos meus pais, achei que isso tinha ficado claro ontem, quando você... – Eu fiz uma careta.

- Ficou. Obrigada por isso. – Ele falou baixo, aproximando seus dedos dos meus. – Você sabe que agora está ligada a mim, não é?

- O quê? Por que? – Perguntei.

- Porque foi o seu sangue que me tornou mais forte, Bella. – Ele disse sorrindo.

- Se for para que algo como aquilo não aconteça de novo... E se for para você ficar bem... Não me importo. – Murmurei de cabeça baixa. – De qualquer maneira, você parece ser o único capaz de me tirar daquele estado. Nem Leah consegue mais.

- Seus poderes meio que se equiparam ao meu. – Ele falou entrelaçando nossos dedos. – Eu sou um telepata Bella, um dos telepatas mais poderosos que existem. Posso ler mentes e colocar meu pensamento na cabeça de qualquer um. E seus poderes agora são parecidos. Você mexe com a mente, você não manipula, mas consegue colocar, da mesma forma que eu, seus pensamentos na mente de outras pessoas e usa a telecinese.

- Pelo jeito escolhi o lado certo. Ou, parece-me que o destino já me pré-dispôs para isso. – Murmurei.

Mas eu não me importava. Por mais que parecesse terrível ter que dar a alma para um frio, como Jacob dizia, eu não me importava. Não havia motivos para lutar contra, pelo menos para dar a alma a alguém como Edward. Formaríamos um belo casal.

Formar um belo casal... Minhas próprias palavras fizeram eco na minha mente agora vazia. Eu ia matar Alice e todas elas. Ia matar e matá-las de novo! Senti minhas bochechas arderem. Era óbvio que Tanya não iria implicar comigo, porque Alice deve ter visto Edward comigo e provavelmente contado a Tanya. Alice, Rosalie e Tanya estavam armando para me juntar com Edward. Esme sabia de tudo. Todos sabiam de tudo!

- Por que está vermelha? – Edward perguntou divertido.

- Você sabia de tudo não é? – Perguntei irritada. Ele parecia não se importar.

- Eu sabia do quê, exatamente?

“Que aquela... Coisa pequena e irritante estava... Céus! Por acaso isso não foi nenhuma artimanha para se aproveitar de mim, não né?” Coloquei minhas palavras na cabeça dele. Eu não tinha coragem de dizê-la em voz alta. Pelo menos isso veio numa boa hora.

“Isso me insulta.” Ele fez uma careta de decepção. “Sim, eu sabia que elas estavam armando para nos juntar. Alice teve duas visões. Uma em que você morre numa batalha e eu sofro; e a outra em que estamos juntos e felizes.”

“E você não se importa? Não se importa se eu for a pessoa que está causando essa guerra e às vezes causar problemas para você?” Perguntei incrédula. Como ele podia acreditar numa visão daquelas?

“Bella, você é uma boa pessoa. Por alguma obra estranha do destino, você foi a pessoa escolhida para ser minha. Eu não vejo como Jacob utilizaria seu poder, não há mais utilidade para ele.” Edward sorriu gentilmente e em seguida, me mostrou algumas de suas lembranças, desde o momento em que ele me viu.

Naquelas imagens, eu podia sentir o que ele sentia. Havia compaixão, carinho e bem lá no fundo, amor. Então eu percebi que Alice era uma boa vampira e uma vidente exímia; não havia como lutar contra suas visões... Pelo menos não contra esta. Mas pelo visto, eu não estava disposta a remar contra a maré. Minha mãe também sabia que eu já estava destinada a isso, ela sabia sobre a família de Esme e sabia sobre Edward. Minha mãe sempre soube que eu seria a pessoa perfeita para estar ao lado dele, assim como ele ao meu lado.

Depois das lembranças de uma semana atrás, vieram as de ontem. Eu podia sentir uma dor dilacerante consumindo meu peito ao ver tudo pelos olhos dele. Minhas lembranças voltaram ao mesmo tempo e eu começava a me perder entre elas. Eu queria sair daquela maré que voltava a me afundar, mas a compreensão se esvaia entre meus dedos.

- Bella. – Os lábios de Edward sibilaram meu nome. Em seguida, sua boca estava na minha e eu estava de volta. As mãos ágeis de Edward me puxaram contra seu peito marmóreo e largo; sua língua passou a brincar com a minha num beijo de tirar o fôlego. Eu me sentia envolta numa névoa tranqüila. O hálito refrescante de Edward invadia minhas narinas.

- Ok. – Eu disse recuperando o ar.

Não foi preciso dizer mais nada, não porque não tínhamos o que dizer, mas porque não havia o que ser dito. Eu precisava agradecer Alice por armar aquela confusão, por Esme apoiar... E Tanya, por não me matar. “Vamos sacanear algumas vampiras intrometidas.” Eu disse a ele. Edward riu e assentiu. Dei passos mais largos e desci a escada antes dele, indo direto para a cozinha. Havia risadas vindo de lá. Emmett e os outros estavam de volta.

- Então você armou para mim? – Perguntei cínica. – Vocês todos armaram para mim!

- Bellinha o que houve? – Alice perguntou inocentemente.

- Se eu pudesse, matava cada uma de vocês. E especialmente você Alice, matava e matava de novo! – Eu exclamei me virando para o balcão e sentando ao lado de Leah, que tentou segurar o riso.

- Mas porque eu ainda vejo vocês juntos? – Alice tornou a perguntar. Todos ficaram quietos.

- É, seu plano falhou. – Emmett disse.

- Não é justo Bellinha... – Alice reclamou, quando Edward apareceu na cozinha com uma expressão séria... Fria.

- Não seria justo se nós não déssemos o troco em três vampiras xeretas. – Ele disse divertido.

- Muito bom... Alguém enganou a fadinha! – Emmett e Matt gargalharam.

- Você é muito pequena Alice, como consegue ser tão irritante? – Eu perguntei rindo.

- Ah, Bellinha finalmente entra para a família!! – Alice me abraçou e deu um beijo na bochecha. – Sabe que todos nós te adoramos, né?

- Todos? – Tanya disse erguendo uma sobrancelha.

O silêncio pairou na cozinha.

- Acredite, eu dou dor de cabeça. – Eu disse a vampira loira morango.

- Prefiro não tê-las. – Tanya riu. – Mas só gosto de você porque é alguém legal e merece o Ed.

- Eu mereço o... Ed? – Eu ri.

- Merece. – Ela sorriu e me deu um abraço gentil.

- Certo, a ex já deu o aval. Os sogros têm algo a dizer? – Emmett perguntou.

- Bem vinda à família! – Eles disseram.