Capítulo 14 – Um futuro incerto.

Jacob saíra do quarto dando passadas largas e tentando a todo custo controlar a raiva que aflorava em seu peito. Por pouco não tinha explodido e se transformado em um enorme lobo castanho avermelhado cheio de fúria. Acabaria pior se assim fosse.

Ao chegar ao escritório, puxou o celular de seu bolso e mandou um alerta para Bill, um dos anciões que eram amigos de seu pai, Billy. Bill atendera ao telefone da pequena casinha e logo se aprontou para ir até a casa de Quil Ateara, onde soltou o alarme. Em poucos minutos, todos os lobos do bando e alguns transmorfos foram estavam adentrando as propriedades de Jacob Black.

A noite havia ficado mais calma por um momento, a ventania havia cessado e os relâmpagos acalmaram. O mar estava agitado ainda, e as nuvens cinzentas cobriam boa parte do céu. Era possível ver um quarto da lua naquele dia.

Alice dançava pela sala de estar, com Jasper ao seu lado, enquanto Edward deslizava seus dedos rapidamente pelas teclas de marfim do maravilhoso piano de cauda preto. A tampa aberta fazia a composição ressonar por toda a casa, enchendo aquele ambiente com um clima agradável. Carlisle tomou Esme pela mão e guiou-a por entre o salão. Os vestidos esvoaçantes das damas cintilavam junto com sua pele marmórea na luz do luar.

O clima permaneceu o mesmo, até que a vampira-vidente estacara e mantinha seus olhos abertos. As teclas foram apertadas de uma só vez, cortando a sincronia dos acordes musicais.

- Está acontecendo. – Ela disse baixo, tentando absorver as ondas de calma que Jasper lhe enviava quando as visões lhe invadiam o presente.

- Não tente ver, Edward. Preste atenção em mim. – Esme prendia o olhar do vampiro de cabelos cor de cobre.

- Eles brigam. Ele... Acabou de fazer aquilo. – Ela narrava. - Andou tendo conversas com sua mãe, Isabella?, ele pergunta. Andei, ela diz depois de um tempo. Ela sabe sobre Rachell, ela sabe que era irmã dele e em instantes vai descobrir o que ela realmente era. Eles vão brigar.

Alice apertava os dedos em volta das mãos de Jasper. As pontadas invadiam sua mente junto com as visões quase nítidas. Ela sentia que alguma coisa ofuscava sua visão total. Talvez fosse seu dom que não funcionava direito com uma escolhida, Alice dizia para si mesma enquanto buscava por algo mais.

- O que vai acontecer depois? – Matt perguntou.

- Eu não sei. Não posso ver. Ainda não está decidido. – Ela reclamou. – Mas eu vejo que uma garota, morena de cabelos curtos, alta, amiga de Isabella vai influenciar na decisão. Só as vejo juntas.

- Leah.

O nome curto saiu pelos lábios de Matt num silvo baixo. Seu mundo girou ao ouvir o nome dela e pensar que ela estaria metida numa briga. Ele fechou os olhos e deixou que aquilo dentro de si lhe guiasse até onde a dona de sua impressão estava. Leah sentiu um calor percorrer seu corpo e seus pensamentos foram levados ao vampiro-lobo.

Matthew suspirou.

- O que foi isso? – Jasper perguntou. – Eu nunca vi uma mistura tão complexa de sentimentos, Matt.

- Isso meu querido, é a prova de que todos nós temos alma. – Esme disse sorrindo. – Uma impressão é a marca que uma alma tem para com a outra, ele consegue sentir Leah e ela o sente também. Isso é lindo, Matt querido. Posso sentir em você, você emana uma aura tão linda e maravilhosa que fico perdida em sua luz.

Matthew abaixou a cabeça e jogou-se no sofá. Estava amuado e com uma expressão triste em seu rosto. Esme sentiu a tristeza reverberar na aura brilhante, manchando-a de negro.

- Eu não posso fazer isso. – Ele disse baixo, sabendo que todos o ouviriam.

- Não pode fazer o quê, exatamente? – Emmett finalmente falou.

- Continuar com isso. Eu... Eu simplesmente não posso ficar contra Leah, a idéia de tê-la longe dói, mesmo que isso seja só causa dessa mágica antiga, mesmo que eu ainda não a ame.

- Essa decisão vai mudar o rumo das coisas. – Alice disse cegada por visões embaralhadas de um futuro incerto.

- O que pretendem? – Tanya perguntou baixo, afagando os cabelos de Edward. – Ainda existe uma guerra iminente.

- Tanya têm razão. A garota ainda é o objeto de desejo de todos, não é mesmo?

- Sim, Rose. Ela é e todas sempre serão. – Carlisle murmurou. – Seja qual for nossa decisão, a guerra ainda será nossa. Nós nunca escaparemos dela, haverá perdas, pois eles estão em maior número. Talvez exista outra alternativa.

- Seja qual for essa outra alternativa, vou proteger Leah, e isso significa que protegerei Isabella também. – Matthew murmurou. Ele estava decidido.

- Por que ela? – Edward ergueu o olhar ao irmão adotivo.

- Porque Leah é a transmorfa que foi escolhida para protegê-la. E eu fui escolhido para estar com ela.

- Não posso deixar meu irmão protegendo uma loba e uma humana. – Edward murmurou levantando-se da banqueta do piano. – Ficarei ao seu lado.

- Eu vou estar ao lado de Leah independentemente de qualquer decisão, não importa se isso vá contra os lobos ou contra você, Carlisle.

A tensão pairou. Carlisle ponderava as últimas palavras do vampiro. Ele tem razão. Pensou ceticamente. Talvez seja a hora de mudarmos a maneira de agir. Disse para si mesmo. Edward encarou-o, erguendo uma sobrancelha. Ele ainda pensava se estava atado ou não a ter a garota. Talvez haja outra forma.

- ... Talvez ela possa decidir sozinha. – Ele completou em voz alta seu pensamento.

- É uma opção. – Esme murmurou. – É viável, Alice?

- Hum... Não consigo ver. Elas ainda não se decidiram.

- Talvez se eu...

- Não!!

- Não, o quê, Ed? – Emmett interferiu. – Ele ir atrás da loba e dizer a ela para tomarem uma decisão porque Alice não consegue prever o futuro e assim nós saberíamos como agir?

Todos olharam de olhos arregalados para o vampiro mais alto e musculoso. Emmett ergueu uma sobrancelha e deu de ombros. Ás vezes eu penso antes de agir. Disse para si mesmo, mas sabendo que seus pensamentos não estavam privados do irmão telepata.

[...]

Bella estava encostada na cabeceira de sua cama. Ela estava frustrada. Pensei que poderia ser fácil. Ela se lembrava do episódio que ocorrera uma hora atrás. Não sabia o que deveria sentir por Jacob, mas uma coisa ela sabia: Não é amor. Nem nunca será. Dizia isso constantemente para seu eu interior e tinha certeza que se lembraria sempre disso.

Leah também estava quieta. Agora estamos presas. Pensava ela. Talvez pudesse cogitar fugir pela janela e descer pelos telhados. Mas então fazer o quê? Não tinha como tirar Bella dali. Talvez pudesse pedir ajuda a Matthew.

- Não sei o que fazer. Não temos como fugir. – Leah disse.

- Não pense em tentar resolver tudo, Lee. Nós duas vamos dar um jeito. – Bella tentou ser positiva.

- Como? Diga-me apenas isso? Como vamos sair daqui com todos aqueles lobos entrando neste exato momento nessas terras?

- Argh, então vamos, Leah, vamos fugir! – Bella levantou-se e correu até a janela. – Vai dar certo, posso correr com a Estel.

Leah ponderou. Sabia como os esquemas de proteção de Jacob funcionavam. Elas teriam cerca de vinte minutos para que pudessem sair sem serem vistas pelo bando nos fundos da imensa casa. E só teriam dez minutos para fugirem em disparada pela floresta.

Cerca de cinco minutos depois que Jacob avisou a Bill sobre o que havia acontecido, vários lobos – os principais do bando – estavam parados, na trilha que dividia as terras de Jacob e as da pequena aldeia. Enquanto os membros integrantes da matilha de lobisomens discutiam o que devia ser feito, nenhuma atenção era dirigida à casa.

Talvez eu possa tentar chamar Matthew de alguma forma... Leah pensou. Se havia alguém que podia ajudá-la era ele.

Assim que colocou algumas coisas numa mochila, Bella abriu a janela e desceu pelo apoio que os tijolos faziam contra a parede. O vento lá de cima era mais forte e açoitava seu corpo que cambaleava. Por favor, mamãe, se puder me ajudar, não me deixe cair!! Ela desesperava-se.

“Vai dar tudo certo, querida, confie em si mesma!” Uma voz doce soou em sua cabeça.

Quando desceu cerca de três metros, pôde pisar na fina grade da varanda do segundo andar e então pisar no chão novamente. Logo em seguida, Leah pousou com delicadeza sobre o azulejo branco. O trinco da porta estava aberto e elas tomaram cuidado para que o vento não agitasse muito e pudesse indicar aos lobos que elas haviam fugido. Entrando no corredor principal, desceram rápida e silenciosamente uma escada caracol, que descia diretamente para o porão.

A porta felizmente não rangeu ao ser aberta. Era daquelas enormes portas de madeira, com pinos grandes e um trinco de ferro maciço. Quando foi aberta, mostrou mais alguns degraus que tornavam a descer em caracol, dois metros abaixo do piso térreo da casa. Uma outra porta de madeira, dessa vez mais leve, foi aberta por Bella. Ali era o porão. Não era assustador como parecem ser os porões escuros, aquele era só... um porão.

Bella tateou a lanterna que ficava no rodapé, encostada à parede. Aquela era uma lanterna para emergências, que ela e Leah haviam deixado ali todas as vezes que fugiam da casa. Leah tratou de trancar a porta e apressou Bella, que entrou num pequeno túnel, sem qualquer porta, somente o corredor com a escada que subia. Ele era encoberto por uma estante grande, que ficava a frente da entrada. Leah puxou as caixas em seu lugar, tampando a vista e furtivamente seguiu a amiga.

- Desligue a lanterna. – Leah sussurrou quando chegavam até a saída, bloqueada por pilhas de feno.

Leah parou na saída, tirou suas roupas rapidamente e enfiou-as dentro da bolsa e entregou à Bella, que foi em direção a Estel, a égua branca de focinho e patas pretas. Uma agitação fez com que Estel relinchasse, juntamente com outros cavalos. Logo, uma grande e negra pantera saia do túnel da antiga casa. Leah ergueu as orelhas e prestou atenção aos sons. Jacob já começaria a vigília da propriedade. A pantera agitou sua cauda e juntamente com Bella, correram para a trilha ao lado das altas cercas vivas.

Matt, preciso de sua ajuda! É Leah, estou correndo para os limites, estarei na baixada da floresta, ao pé montanha. Se me ouvir, por favor, ME AJUDE!!! – Leah gritou em pensamento, afinal, aquela estranha impressão teria que prestar para alguma coisa além de ligar duas pessoas, não é?