O Nosso Segredo escrita por Angel_Nessa


Capítulo 6
CAPITULO 6 - DO COMEÇO




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A noite terminou comigo indo me deitar com Naruto em sua cama de solteiro. Se continuasse daquele jeito em breve teríamos que comprar uma cama de casal.

 

Ali deitada o vendo dormir, era quase impossível não lembrar-me de nosso passado. Tanta coisa havia acontecido desde que ele chegara a minha casa...

 

Bom, acho que chegou o momento de contar o começo de nossa história, pois somente assim vocês entenderão o quão importante era para eu seguir guardando o nosso segredo.

 

Naruto veio trazido da Inglaterra por meu pai para viver em nossa casa, a mesma casa que hoje eu moro, quando eu tinha 6 anos. Minha mãe não gostou do fato de meu pai trazer um filho “bastardo” para viver conosco, mas depois de uma longa conversa que eles tiveram a portas fechadas, ela aceitou.

 

Meu pai me apresentou ao Naruto como sendo meu irmão e pediu que eu o considerasse como tal. Eu, no começo, tinha receio de me aproximar dele e depois que eu vi algumas vizinhas conversando com minha mãe fiquei mais receosa ainda.

 

- Um filho bastardo! O seu marido não deveria ter o ter trazido para a sua casa, e ainda mais para viver com sua filha – a Sra. Stuart não tinha papas na língua - A maioria dos assassinos são filhos bastardos, sabia? E muitos matam a própria família.

 

- Ele é apenas um menino – minha mãe tentou defendê-lo. Não que ela se afeiçoasse a ele para fazer tal coisa, era só porque ela não queria dar maior ênfase aos comentários dos vizinhos.

 

A Sra. Stuart estava disposta a convencer a minha mãe a fazer meu pai devolver o Naruto para o lugar de onde ele havia saído, ou na melhor das hipóteses o colocar para adoção num orfanato.

 

- Em alguns anos ele será um adolescente! E então acabará se envolvendo com más companhias, virará um viciado e depois é apenas um passo para o crime.

 

Essa foi exatamente a vida do filho mais novo da Sra. Stuart que só para constar não era um filho bastardo, a única coisa foi que ele não matou a própria família, mas matou um homem numa briga de bar numa cidade vizinha.

 

No entanto, Naruto não era do jeito que as pessoas gostavam de pintá-lo. Quando Michelangelo estava esculpindo sua obra mais bela, Davi, um garoto o vendo bater tão forte contra a pedra de mármore perguntou-lhe porque razão fazia aquilo, e eis que Michelangelo lhe respondeu: “É que dentro dessa pedra há um anjo e estou tentando libertá-lo”. Naruto também era um anjo preso em uma pedra rústica de mármore, um garoto problemático cujo coração parecia não caber no peito de tão grande que era.

 

Durante a nossa infância Naruto tentou ser o irmão mais velho protetor, apesar de termos a mesma idade. Ele queria sempre estar comigo, porém eu agia igualzinho aos outros garotos da vizinhança: eu o ignorava e fingia que não tínhamos qualquer parentesco. E mesmo levando bronca de meu pai por conta disso, eu não mudava o meu comportamento; eu detestava tê-lo como meu irmão.

 

No final da sexta série, aos meus 12 anos, eu fiz uma apresentação de balé para pais e professores. Eu estava bem feliz por ser uma das protagonistas junto com a Ino. Pedi aos meus pais que não levassem o Naruto para assistir a apresentação, porque havia algumas garotas do colégio ficavam falando que ele não era meu irmão e que era fruto do pecado. Eu sabia que elas não gostavam dele porque os pais delas não gostavam, e para não ficar as escutando no dia mais especial da minha vida, até aquele momento, eu pedi que meu pai não o levasse. Contrariado por meu pedido, mas convencido por minha mãe que entendia o que eu passava escutando os outros falando coisas más do filho que nascera de uma relação extra-conjugal, meu pai deixou Naruto em casa aos cuidados de uma babá. 

 

 A apresentação de balé “O lago dos cisnes” foi maravilhosa e eu me senti a pessoa mais especial de todo o mundo.

 

Na volta para casa, meu pai decidiu conversar comigo sobre o Naruto.

 

- Sakura, eu sei que você não gosta do Naruto porque as pessoas o menosprezam por ele não ser uma criança que nasceu do casamento meu e de sua mãe, mas tem algo importante que eu quero que saiba sobre seu irmão.

 

Entediada e antecipando o que viria, em minha opinião um sermão sobre como eu deveria tratar melhor meu meio-irmão, eu olhava pela janela embaçada pelas gotas de chuva o lado de fora do carro. Os relâmpagos cortavam o céu escuro e iluminavam o mar que ficava ao final da encosta, a chuva caia torrencialmente e era quase impossível de se ter uma visão boa da parte de fora.

 

- Sakura, preste atenção no que eu vou te contar. Talvez você seja muito nova para entender, porém eu sei que no tempo certo você vai ser capaz de aceitar o que eu fiz e entenderá o meu desejo de protegê-lo.

 

Meu pai começou a falar de coisas de seu passado que até aquele momento eu desconhecia, e contou também como ele trouxera Naruto para a nossa casa; em resumo ele contou para mim tudo o que havia dito a minha mãe a portas fechadas. Ao final da história eu estava pasmada em saber de como tudo realmente havia acontecido, lembro-me de ter olhado para minha mãe, e tê-la visto olhando para o lado de fora do carro com uma expressão triste no rosto.

 

- Sakura, me prometa que jamais irá contar nada do que eu lhe falei para ninguém. Principalmente para o Naruto – meu pai me pediu.

 

- Mas o Naruto...

 

- Ele vai saber da verdade quando chegar o momento certo – meu pai virou a cabeça para trás - Por enquanto, será melhor que ele acredite...

 

De repente eu senti o carro tremer com um forte impacto na porta lateral contrária ao lado que eu estava. Meu corpo tombou para trás e colidiu contra o vidro da janela do carro, ao mesmo tempo o carro girou em volta de seu próprio eixo, o vidro se rompeu e eu caí para fora do carro; em seguida tudo ficou escuro e eu não fui capaz de sentir ou ouvir mais nada.

 

Acordei no dia seguinte no hospital. Eu tinha o braço quebrado e muitos cortes pelo corpo e na testa.

 

Milagre. Foi essa palavra que os médico disseram para mim depois que contaram que meus pais haviam morrido e eu fora a única que sobrevivera ao acidente. Eles contaram que um carro havia batido na porta traseira do carro em que eu estava, e que meu pai havia perdido o controle que acabou desceu pela encosta até o mar afundando nos primeiros metros de água; eu havia sobrevivido porque estava sem o cinto de segurança e acabei sendo jogada para fora do carro quando este tombou com o forte impacto da batida.

 

Lembro-me que chorei muito e por muitos dias. Naruto veio me visitar no hospital junto com o Sr. Sarutobi, um velho amigo da família. Ele me trouxe um ramo de margaridas brancas pequenas as quais colocou rapidamente sobre minhas coxas.

 

- Sakura, você está bem... – ele disse enquanto limpava as lágrimas com o dorso das mãos.

 

Aquela foi a primeira vez que eu olhei para o Naruto com um olhar diferente do qual eu estava acostumada a olhar.

 

- Obrigado pelas flores...

 

- Naruto escolheu-as pessoalmente – disse o Sr. Sarutobi mostrando-se sorridente – Ele disse que apesar da tragédia estava feliz porque você havia sobrevivido. Agora vocês precisam cuidar um do outro.

 

Ao ouvir aquilo eu me dei conta que agora seria apenas eu e o Naruto no mundo. Estávamos completamente sozinhos, e acho que foi por isso que eu estranhamente me aproximei mais dele. Naruto passou a ser meu único parente, uma vez que meus pais haviam vindo do Japão e meus avôs me rejeitavam por causa do casamento não autorizado de meus pais. 

 

Como eu e o Naruto ainda éramos crianças nós precisávamos de um tutor legal, ou do contrário, teríamos que ir morar num orfanato. E como não tínhamos família ou qualquer pessoa que pudesse se responsabilizar por nós, o Naruto e eu tivemos que ir morar num orfanato em Konoha.

 

O lugar parecia uma grande e antiga casa e ficava situado no centro de Konoha há cinco quadras de nossa casa. Eu não queria sair do lugar que eu conhecia como lar de maneira alguma, mas com 12 anos eu não poderia viver sozinha, nem mesmo tendo condições financeiras para isso.

 

- Eu vou estar sempre com você, Sakura .

 

Foi essa frase que Naruto disse quando estávamos no portão de entrada do orfanato. Às nossas costas estava a assistente social, uma mulher magricela de idade avançada que usava óculos de aros redondos que cobriam boa parte de seu rosto, o cabelo crespo desgrenhado era horripilante.

 

- Naruto, me promete que nunca vai me deixar sozinha? – eu pedi para ele baixinho numa tentativa inútil e infantil de fazer com que a assistente social não me ouvisse.

 

Ele colocou a mãos cruzadas atrás da nuca e me respondeu sorrindo.

 

- Eu sempre vou estar ao seu lado!

 

No fundo Naruto estava com tanto medo quanto eu de ficar naquele lugar, mas ele se esforçou para me fazer acreditar que tudo ficaria bem, e eu acreditei nisso. Eu sabia que não importava o que havia dentro daquele lugar, eu sempre estaria protegida porque o Naruto estaria sempre comigo; ele passara a ser pessoa em que eu mais confiava.

 

De uma coisa eu estava certa, gostando ou não, eu teria que ficar quatro anos no orfanato. Eu esperei ansiosamente para completar 16 anos e assim poder pedir a minha emancipação para a Juvenile Court. Eu preenchia quase todos os requisitos para a emancipação: eu podia me sustentar sozinha, meu pai havia deixado uma boa quantia de dinheiro no banco e uma empresa que seria administrada por seu sócio; e eu também era totalmente responsável. Faltou-me mesmo ter a idade; claro que havia a opção de casar-me legalmente, entretanto essa era uma opção não válida para mim.

 

Os anos que passamos nos orfanato fizeram com que eu e Naruto nos aproximássemos mais, e ao mesmo tempo brigássemos mais. As nossas brigas não começaram no primeiro ano que passamos lá, ao contrário, o nosso primeiro ano serviu para que nos apoiássemos em nossa dor.

 

O primeiro Natal sem meus pais foi muito triste. Enquanto as crianças montavam a árvore e ensaiavam cânticos natalinos, eu preferia ficar reclusa sentada em meio aos troncos do castanheiro que de tão grandes haviam arrebentado o chão de pedra cinza que recobria todo o espaço que eles chamavam de jardim.

 

- Hey Sakura. Você não vai ajudar a colocar os enfeites na árvore?

 

Naruto havia se adaptado mais rapidamente a nova realidade do que eu.

 

- Eu não quero comemorar o Natal. Eu não quero mais ficar nesse lugar!

 

O rosto dele ficou sério.

 

Olhei para cima e vi os ramos do castanheiro que se prolongavam até atravessarem o muro. Não era difícil fugir do orfanato, eu só precisava escalar a árvore e pular o muro; o único problema era a altura que havia do muro até a calçada, seria preciso uma escada do outro lado.

 

Em silêncio Naruto caminhou até mim e sentou-se ao meu lado.

 

- Eu também sinto falta dos nossos pais... Mas eles não estão mais aqui. Quando eu completar 16 anos, nós poderemos voltar para casa.

 

O aniversário de Naruto era dois meses antes do meu.

 

Limpei as lágrimas de meu rosto e esforcei-me para sorrir.

 

- Eu não chorarei mais.

 

Não consegui cumprir o que prometi, e durante a ceia de Natal eu fui novamente me refugiar no jardim. E novamente Naruto veio sentar-se ao meu lado.

 

Ele trouxe um cobertor e colocou-o sobre minhas pernas que estavam a mostra por causa da saia de pregas azul-marinho que usava em conjunto com o sobretudo e a camisa branca. Naruto não disse nada, ele ficou em silêncio olhando a neve cair.

 

Ficamos assim por pouco tempo, pois a assistente social que estava participando da ceia do orfanato veio até nós.

 

- O que estão fazendo em meio a essa neve? Vão acabar doentes.

 

- A Sakura não estava se sentindo bem.

 

- Então é melhor que ela vá para o quarto – a voz da assistente social me pareceu ríspida.

 

- Sim – Naruto concordou de pronto.

 

A assistente social girou os calcanhares e voltou toda alegre para a sala.

 

Naruto fez menção de se levantar, mas eu segurei em seu braço.

 

- Não me deixa sozinha essa noite.

 

Ele arregalou os olhos e abriu ligeiramente a boca.

 

- Vamos para o sótão – eu sugeri e ele concordou balançando a cabeça.

 

Na parte de cima do velho casarão havia um sótão onde eram guardadas coisas que não mais se usava. As crianças menores tinham muito medo daquele lugar por estar vazio e abandonado, mas eu sempre ia lá para fugir de todos; por vezes Naruto me acompanhava, e juntos ficávamos admirando a paisagem da cidade através de uma pequena janela circular.

 

Passei a noite de Natal dormindo com a cabeça recostada no ombro de Naruto. Eu sentia o calor do corpo dele aquecendo o meu, e foi bom ficar ali ouvindo a euforia das crianças no andar de baixo.

 

Não esperamos pelo Papai Noel e nem por um milagre natalino porque sabíamos que nenhum dos dois viria. Naquela noite tão mágica nos contos natalinos, apenas havia tristeza em meu coração... Uma tristeza consolada pela presença do garoto que eu tanto desprezara um dia.

 

 


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Notas finais do capítulo

nota da autora: É hora de começar a contar um pouco da vida da Sakura e do Naruto quando eles eram crianças. É preciso voltar ao passado para que vcs possam entender o amor dos dois no presente.



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