O tempo passou rapidamente enquanto tentávamos viver uma vida normal. Pela primeira vez em muito tempo abri a porta do jardim e fui até a piscina que estava vazia. Achei que aquele pequeno pedaço da casa precisava de uma reforma.

No final da tarde, após preparar o jantar eu fui até a sala e encontrei-me com Naruto sentado no chão próximo a lareira. Parei ao lado dele.

- Fique em pé – eu ordenei.

De pronto ele se levantou, vi que seus olhos curiosos examinavam meu rosto em busca de respostas, pois de certo havia muitas perguntas em sua cabeça; especialmente porque eu estava com o mesmo vestido eu usara no baile do nosso último ano no colégio: de cor vinho com mangas longas e um decote V profundo que deixava uma parte de meu colo e minhas pernas a mostra.

 - Você está me devendo uma dança, Naruto. Naquele dia, você não dançou comigo no baile.

Ele abriu um largo sorriso.

- Sabe que eu não sei dançar, Sakura!

Arqueei as sombrancelhas e fiz uma cara séria.

- Entendi agora porque você estava no corredor beijando a Hinata e não no salão de festas.

Ele corou.

- Você nos viu, né?

- É... Eu estava um pouco bêbada, mas eu vi vocês se beijando.

O olhar dele se desviou para a lareira.

-Você bebeu bastante. Eu fiquei preocupado.

Eu dei dois passos a frente e me posicionei a sua frente. Seus olhos azuis estavam iluminados pela luz das chamas.

- Naquela noite você me trouxe para casa e quando estávamos no banheiro, você disse que gostava de mim; e eu disse que também gostava de você – fiz uma pequena pausa - O que aconteceu depois?

Naruto ficou estranhamente corado.

- O que aconteceu depois? – voltei a insistir.

O olhar dele se desviou para o chão e eu vi que suas bochechas estavam ainda mais vermelhas.

- Nada... – ele disse num tom baixo de voz – Por que está perguntando isso agora?

Eu sorri e disse alto:

- Você me beijou!

Naruto deu um passo para trás e fez uma expressão de susto.

- Por que nunca me contou?

Ele desviou o olhar para a janela, colocou as mãos atrás da nuca e logo voltou a olhar para mim.

- Você teria me matado se soubesse.

 Eu comecei a rir.

- Hey, isso não tem graça! – ele reclamou comigo.

- E eu sempre pensei que eu é que havia roubado seu beijo na manhã seguinte ao baile.

Suas mãos agarraram minha cintura e ele me puxou para mais junto de seu corpo.

- Você me assustou quando me beijou.

- Foi a única forma de ter perto de mim.

 - Sakura...

Quando ele não sabia o que falar, ele simplesmente pronunciava o meu nome. Aproximei-me dele e o beijei.

Num movimento rápido ele me pegou no colo. Eu parei de beijá-lo e olhei-o nos olhos.

- Eu não me lembro do nosso primeiro beijo, mas lembro perfeitamente da nossa primeira vez... Também me lembro que você me pediu para ficar com você... E lembro que eu te disse que não dava para ficar a vida inteira esperando para ficar ao seu lado.

- Por que está falando essas coisas? – ele me perguntou preocupado.

Meus olhos se encheram de lágrimas e um nó se formou em minha garganta.

- É mentira... É mentira, Naruto! Eu posso esperar a minha vida inteira para ficar com você.

Abaixando a cabeça, ele encostou sua testa na lateral de minha cabeça.

- Você é a única mulher que eu vou amar na vida, Sakura.

- Eu sei... – as lágrimas começaram a correr por minhas bochechas - E é por também te amar que me custa tanto te deixar partir.

Naruto andou em direção a escada, e subiu os degraus me levando até o meu quarto. Ele me colocou sobre a cama e começou a tirar a blusa de malha que ele estava usando, sentei-me na cama e fiquei o observando em silêncio, atônica. De maneira desajeitada, ele tentou retirar o meu vestido, eu não ofereci resistência e apenas levantei os braços. Seus lábios se colaram ao meu pescoço e foram descendo por meu tórax nu, senti meu corpo se arrepiar e as lágrimas quentes de Naruto sobre a minha pele.

Ele agarrou a alça do meu sutiã e o puxou para baixo, seu corpo estava posicionado sobre o meu.

- Não importa o que aconteça, Sakura... Eu quero que continue... Você tem que viver...

Minhas mãos agarraram seu rosto. A luz que vinha do corredor era a única fonte de iluminação do quarto.

- Eu vou viver com você – eu consegui falar com algum esforço.

Deslizei minhas mãos por seu corpo até chegar ao cós de sua calça. Ergui meu tronco e comecei a puxar a calça dele para baixo, Naruto se ajeitou na cama e tirou a calça enquanto eu fiz o mesmo com minha calcinha.

Nossas mãos tocaram o corpo um do outro em caricias ternas e cheias de amor. Não havia pressa em consumar o ato de amor, ao contrário, queríamos extender aqueles minutos o máximo que podíamos, pois no fundo sabíamos que poderia aquele ser o nosso último momento juntos.

Sem palavras decidimos não falarmos mais sobre a partida de Naruto que ocorreria na manhã seguinte. Limitamos-nos aos gestos de carinho em meio ao nosso silêncio e a tentarmos em vão dormirmos. Nenhum queria atrapalhar o sono do outro que acabou por não chegar a ambos.

A manhã seguinte trouxe apenas mais tristeza. Antes das seis horas, Naruto já estava desperto e andava de um lado para outro da casa recolhendo tudo aquilo que levaria, enquanto isso eu estava deitada na cama fingindo que estava dormindo. A irritante agitação de Naruto me fez levantar-me as seis e quinze, e vestindo um roupão foi procurá-lo.

Encontrei-o sentado na cozinha olhando para a porta da sala. Não sei dizer se ele estava se despedindo da casa, ou esperando que eu viesse para que tomássemos o café da manhã juntos. Ao ver-me, ele abriu um largo sorriso e levantando-se foi até a geladeira pegar os ovos e o leite.

 - Eu te ajudo a preparar o café da manhã! – ele disse todo animado.

- Acho que prefiro fazer... – não tive coragem de dizer “sozinha” ao ver que o sorriso dele desvanecia à medida que eu falava – Eu prefiro mesmo fazer com você. Assim eu posso te ensinar algumas coisas.

Ele assentiu com a cabeça.

- O que vai querer?  - eu perguntei olhando para os ovos e o leite em cima da pia.

- Panquecas e ovos com bacon!

- Certo – arregacei as mangas do roupão e pus a mão na massa, literalmente – Eu cuido das panquecas e você me ajuda com os ovos e o bacon.

Coloquei todos os ingredientes da panqueca em um pote e comecei a misturá-los, ao olhar para o lado eu vi Naruto parado olhando para os ovos batidos na tigela.

- Hey, Naruto!

Ele me olhou com ternura e sorriu.

- Eu adorava os ovos com bacon que a mamãe fazia... São iguais aos seus.

Estranhei ele mencionar a minha mãe depois de tantos anos passados de sua morte, ainda mais estranho foi ele a chamar de “mamãe” como costumava a fazer quando criança. Desde que descobrira que não éramos irmãos, ele costumava a se referir as pessoas que o adotaram como sendo apenas meus pais.

- Se queria que eu fizesse os ovos com bacon podia ter dito.

Ele largou os ovos batidos na tigela em cima da pia e deu meia volta.

- Vou buscar a minha mala.

Fiz menção de falar, mas a voz não saiu. Eu não sabia o que dizer que não terminasse conosco chorando novamente ou que não soasse como uma despedida dramática.

Eu rapidamente terminei de preparar o café da manhã e arrumei a mesa. Naruto não havia descido, e por isso decidi ir até o andar de cima procurá-lo.

Vi que seu quarto estava vazio, então fui em sequência para o meu. Naruto estava deitado em minha cama com os olhos fechados e a sua mala estava aos pés da cama jogada de qualquer jeito.

Beijei seus cabelos e ele abriu os olhos assustado.

- Sakura!

- Os ovos com bacon vão esfriar.

Rapidamente ele se levantou e me abraçou.

- Eu vou sentir a sua falta.

Eu retribuí seu abraço.

- Bobo, são apenas dois anos. Nós já ficamos separados por tanto tempo...

- Eu vou voltar para você, Sakura. Eu prometo.

Afastei-me de seu corpo e olhei-o com ternura.

- Eu sei que vai. E eu vou estar aqui te esperando todos os dias.

Ele me beijou e eu fiz o máximo que pude para prolongar aquele beijo.

Depois de um café da manhã cheio de silêncios dolorosos, Naruto se levantou da mesa pegou sua mala no sofá da sala e se dirigiu a porta.

- Tchau, Sakura.

E com uma despedida tão simples, ele se foi. Pensei em correr até o jardim e dizer mais uma vez que o amava, porém não o fiz, e tive medo de não ter a oportunidade de nunca mais ter a chance de dizer “eu te amo”; tratei-me de consolar-me com o pensamento que haveria ainda muitos dias para que eu lhe dissesse o quanto o queria.