Depois da conversa com a Ino, eu saí do píer e fui visitar até o apartamento do Sasuke. As primeiras estrelas já apareciam no céu.

Sem traumas do acidente, dirigi-me velozmente o carro que o seguro havia mandado para que eu usasse até que eu recebesse a apólice e comprasse um carro novo. Foi bom o perito da polícia ter constado que tudo foi um acidente, mas para chegar a essa conclusão a Ino me contou que ele fez dosagem de alcóol e drogas no meu sangue, além de verificar se eu estava tomando algum medicamento antidepressivo ou de uso controlado.  

Estacionei o carro do lado oposto da rua do prédio.

A rotina de visita ao apartamento de Sasuke não havia mudado. Após me identificar na recepção, subi e abri a porta do apartamento que estava sem a tranca; ele ainda não fazia a gentileza de abrir a porta para eu entrasse.

A sala estava mergulhada na penumbra, apenas as pequenas luzes amarelas no teto iluminavam um pouco o ambiente.

- Onde esteve? – ele foi logo me questionando.

Num primeiro momento eu não sabia onde ele estava, mas seguindo o som de sua voz, eu o encontrei em pé próximo a porta com um copo de wisky na mão.

- Para onde foi depois que saiu do hospital, Sakura? – a voz colérica dele me assustou.

- Eu fui viajar – eu não me deixei intimidar - Eu precisava de um tempo.

Sasuke segurou o copo com wisky e gelo na mão esquerda e com a mão direita agarrou meu braço.

- Para que queria um tempo? Está tão nervosa assim com o nosso casamento?

Seu bafo de álcool invadiu minhas narinas, ele estava bêbado.

- Eu já disse que não vou me casar com você!

Sasuke jogou o copo no chão. O vidro estilhaçado se espalhou pelo chão junto com os wisky e o gelo. Assustada, deixei a bolsa que eu segurava cair no chão.

- Não estrague tudo, Sakura – ele me prensou contra a parede usando as duas mãos - Você me ama!

- Eu não te amo! – eu gritei em resposta, e em seguida minha voz ficou baixa - Não mais...

O olhar de Sasuke ficou estreito e maligno. Seus olhos queimavam brasas de ódio.

- Eu sou o único homem que você ama!

- E eu sou a mulher que você ama? Sasuke, se você sabia que nunca iria me amar, então por que me tornou sua noiva? Apenas queria ter aquilo que achava que o Naruto nunca teria?

- Eu não preciso disputar você com ele!

Tomando coragem fiz aquilo que a Ino me aconselhou a fazer: contar a verdade.

- O Naruto pode ter negado, mas eu não vou fazê-lo. Eu amo o Naruto e nós dormimos juntos. Mais do que uma vez, eu me entreguei a ele!

As labaredas de fogo se acenderam mais em seu olhar. Diferente da vez anterior, dessa vez eu não estava dizendo que dormi com o Naruto simplesmente para magoá-lo.

- Como se entregou ao seu próprio irmão?! – havia uma mistura de ódio e desprezo em sua voz.

- O Naruto e eu não somos irmãos. O Naruto foi adotado. E você estava errado em pensar que ele nunca poderia me ter!

- Ele nunca a terá! – sua voz colérica ecoava pelo apartamento - Antes eu mato os dois!

Ele me beijou a força e começou a tocar meu corpo. Suas mãos ágeis desabotoaram minha calça jeans e a puxou para baixo.

- Pare com isso! – eu ordenei.

- O que foi, Sakura? Você sempre gostou quando eu te tocava.

Ele colocou sua mão suja em meu pescoço e apertou-o. Eu quis gritar, mas não consegui. Com sua mão direita puxou minha calcinha para baixo fazendo-a descer até a metade das coxas. Eu tentava me defender, mas a cada movimento meu, sua mão direita pressionava mais o meu pescoço. Sasuke abaixou suas calças e pressionou seu corpo contra o meu, ele não se importou se minha costela machucada ainda doía, ou se eu estava me sentindo bem o suficiente para transar com ele; ele apenas seguiu seu instinto e quis mostrar que eu ainda era sua propriedade, por isso ele me tomou a força.

Aquele ato tão unilateral de prazer, apenas aumentou o meu desprezo por ele. As mágoas que escondi durante os anos que passei ao lado desse homem que tanto me fez sofrer, se transformaram em raiva dentro de mim e suas carícias brutas tornavam-se cada vez mais insuportáveis. Eu sentia nojo dele.

Juro que eu tentei me libertar de suas carícias, porém minha condição física debilitava pela recuperação do acidente não possibilitou uma luta justa. Eu pedia em lágrimas que ele parasse, mas meus apelos resultavam inúteis; cansada de lutar em vão entreguei-me a ele sem resistência; a única coisa que guardei foi meu coração, porque isso ele jamais o teria outra vez.

O que começou em pé contra a parede terminou no sofá branco da sala.

Assim que se sentiu satisfeito, Sasuke me deixou estirada no sofá sendo iluminada por uma fraca luz amarela.

- Você é minha mulher! – ele disse se levantando.

Sasuke começou a vestir suas calças, e eu apenas olhava-o assustada e ao mesmo tempo com raiva. Entendi a vontade que muitas mulheres sentem em matar alguém que lhes provoca uma grande dor como aquela que Sasuke havia provocado em mim, e não estou falando de uma dor física que passaria com o tempo.

Levantei-me e coloquei minha calça que estava no chão da sala. Eu me sentia suja e desejava um banho, porém não estava disposta a ficar no apartamento dele nem por mais um minuto.

O olhar de Sasuke continuou me assustando. Ele tinha a maldade nos olhos.

- Nada me fará ser sua novamente. Eu não tenho medo de você e nem das suas ameaças. Eu amo o Naruto, e isso jamais mudará.

Sasuke agarrou meu rosto.

- Então espero que aproveite o pouco tempo que lhes restam juntos – o olhei com espanto e isso pareceu agradá-lo – O que foi Sakura? O Naruto não te contou que ele está partindo para o Afeganistão em duas semanas?

Eu segurei a camisa de Sasuke.

- Como sabe disso?

- O Naruto está no mesmo batalhão que o meu. Nós partiremos em duas semanas.

Minhas mãos perderam a força e soltaram a camisa de Sasuke. Enquanto eu submergia em minha tristeza e angústia, Sasuke seguia me provocando.

- A guerra está terrível por lá. É provável que nunca mais veja seu amado irmão adotado.

Reprimi as lágrimas que queriam cair. A minha dor alimentava sua satisfação.

- Eu não acredito no que você diz, porque eu sei que ele vai voltar. O Naruto vai cumprir a promessa de voltar para mim!

Peguei a minha bolsa do chão e saí do apartamento de Sasuke batendo a porta.

A rua escura estava vazia, não precisei do que mais que três segundos para atravessar a rua e abrir a porta do carro. Entrei e joguei minha bolsa no banco do passageiro. Eu sentia uma forte dor aguda do lado da costela machucada.

- Droga! O Naruto deve estar preocupado...

Peguei meu celular e vi que havia umas vinte chamadas não atendidas do celular do Naruto. A última chamada havia sido feita as oito e cinco da noite, olhei no relógio do celular e vi que eram dez e vinte e cinco. Em duas horas e meia Naruto não havia feito nehuma ligação para o meu celular.

- Preciso voltar para casa.

Eu sabia de antemão que contar a verdade para o Sasuke seria a parte mais difícil, só não imaginava que isso me ferisse tão profundamente. Ele havia me tratado como uma boneca que pertencia unicamente a ele, não havia se importado com as minhas suplícas ou medo, ele apenas queria provar que eu era dele. Porém, foi a revelação de que Naruto estava a apenas duas semanas de ir para a guerra que me levou de vez para o fundo do abismo.