O rosto sereno de Naruto dormindo deixava meu coração em paz.

Nós estávamos juntos depois de tantas coisas e agora não havia nenhum segredo entre nós. Eu finalmente havia conseguido contar a ele o porquê de eu jamais querer que a verdade sobre nosso amor fosse revelada e eu estava me sentindo bem por tê-lo feito. Fiquei pensando durante a madrugada se eu deveria ter contado antes o que eu escondia do Naruto, mas logo tive a certeza de que em qualquer outro momento que houvesse contado o resultado seria diferente do que acabou sendo. O Naruto teria ido para a Inglaterra, mesmo baixo os meus protestos, e ainda que eu não soubesse se o assassino dos pais de Naruto que jurou matá-lo estava vivo ou não, me apavorava a idéia de que ele fosse e encontrasse com esse homem; no entanto, agora o Naruto não iria mais para a Inglaterra porque havia assumido um compromisso com o exército dos Estados Unidos da América.

Levantei-me e fui até a janela. As árvores recobertas pela neve no alto da montanha que ladeava o mar balançavam ao ritmo do vento que soprava. As ondas batiam com força contra os rochedos, o mar estava estranhamente agitado, Tritão deveria estar furioso.

Vesti a jaqueta, e ao fazê-lo acabei olhando para minha mão direita; não havia mais um anel com solitária de diamante ali, perguntei o que havia acontecido ao meu anel. Estiquei a mão até o pescoço e toquei na corrente com pingente de floco de neve e não pude deixar de me alegrar ao pensar num futuro ao lado da pessoa que eu realmente amava; um futuro tão frágil como aquele pingente de cristal.

Abri a porta. O vento frio bateu em meu rosto e fez meu corpo tremer.

- Está muito frio aqui!

Comecei a rir ao me lembrar das constantes reclamações de Naruto sobre o frio. Desde criança o Naruto sempre reclamava no inverno e muitas vezes se recusava a sair da cama, isso provocava a ira de minha mãe que começava a gritar para ele se levantar e depois da morte dela fui eu a incubida da difícil missão de tirá-lo da cama nos dias de frio. Surpreende-me que ele tenha ido morar sozinho no Canadá, deve ter ser difícil para ele morar sem mim; só agora percebo isso.

Voltei para dentro de casa e olhei para cama. Naruto ainda repousava com barriga virada para cim. Eu subi na cama de joelhos e foi andando de gatinhas por sobre o corpo dele. Ao ficar com o rosto emparelhado com o dele, eu abaixei minha cabeça e o beijei.

Seus olhos se entreabriram.

- Hey... – ele me saudou sonolento.

- Feliz Natal, Naruto.

Ele forçou a abrir mais seus olhos e ficou me encarando em silêncio, a seriedade em seu olhar me preocupou.

- Sakura, casa comigo?

Eu perdi as forças e antes que eu tombasse para fora da cama, Naruto sentou-se e me tomou em seus braços. Eu sentei sobre suas coxas.

- Você me faz um pedido de casamento desse jeito?

Naruto posicionou seu queixo em meu ombro.

- Você é a única com quem eu quero estar.

Eu o abracei e comecei a acariciar seus cabelos. Nessa hora, eu percebi que não haviam restado mágoas por eu ter mantido o segredo sobre sua origem por tantos anos.

- Como eu posso casar com você, se eu sou sua irmã?

Ele se mexeu inquieto em meus braços e por um momento pensei que ele se distanciaria de meu corpo.

Não era preciso que eu explicasse mais nada, Naruto havia entendido a minha posição com aquela pergunta.

- Não me importo se pensam que você é a minha irmã.

A resposta dele me deixou atônica. Minhas mãos pararam de acariciar seus cabelos e eu desfiz o abraço.

- Incesto é crime... – eu disse baixinho.

O corpo de Naruto recuou para trás e ele me olhou nos olhos.

- E o que eu faço para ficar com você? – ele me perguntou usando um tom de voz triste.

Eu saí de seu colo e fiquei em pé.

- O que está disposto a sacrificar? – eu lhe perguntei mantendo o tom sério.

Naruto se pôs em pé num sobressalto e começou a gritar comigo.

- Não é preciso mais sacrifícios, Sakura! Não há mais segredos!

- Para você... – eu gritei em resposta, senti uma pontada de dor quando o diafragma encostou a costela machucada – Para você, Naruto, não há mais segredos.

- Eu não vou te perder, Sakura!

- E o que vai sacrificar? – eu voltei a perguntar a ele – Vai sacrificar sua estadia no país? Sua liberdade? Ou será que sacrificará seu sonho de lutar com seus amigos nessa maldita guerra? – meu tom de voz ficou mais alto – O que pode ser sacrificado pelo meu amor?

- Tudo! – ele me respondeu de imediato.

O silêncio veio em seguida, apenas o eco de sua voz ficou ressoando nas paredes do quarto. Nós ficamos nos olhando sem conseguirmos falar mais nada, Naruto tinha um olhar decidido que me fez ter a certeza de ele não estava brincando quando dissera que sacrificaria tudo por meu amor, e quanto a mim, eu o olhava assustada, pois não esperava que ele me dissesse aquilo.

- Eu sei o que é pensar que eu te perdi, Sakura. Eu sei o que é ficar longe de você. Eu sei o que te ver com outra pessoa. E... Eu sei que é isso que não quero viver mais.

Não contive as lágrimas e comecei a chorar. Naruto me abraçou.

- Sim... Eu me caso com você.

Ele desfez o abraço e me olhou nos olhos. A felicidade estava estampada em seu rosto.

Limpei as lágrimas com a manga da blusa e falei:

- Eu vou encontrar uma maneira de ficarmos juntos.

- Eu sempre vou ficar com você, Sakura.

- Eu também... Agora, eu acho que vou preparar o café da manhã. O que acha? – perguntei abrindo um sorriso.

- Tô morrendo de fome!

- Vou ver se tem alguma comida por aqui.

Fui para a cozinha preparar o café da manhã. Havia algumas bolachas e pó para café no armário. Depois que preparei tudo, nós fomos comer na cama.

A manhã de Natal passou tranqüila. Naruto e eu aproveitamos a companhia um do outro e ficamos no chalé relembrando a nossa infância. Depois do almoço, que foi uma simples macarronada já que não houve como fazer algumas preparações típicas do Natal, Naruto foi andar pela praia, enquanto eu fiquei no chalé, pois não me sentia bem disposta para caminhadas.

Fiquei na varanda o observando caminhar pelas areias frias da praia. Quando ele retornou de sua caminhada, ele se deteve em frente ao mar e ficou olhando para o horizonte; eu me levantei e fui ter com ele.

Agarrei em seu braço e ele se assustou, eu apenas sorri de forma travessa.

- Sabe Naruto, eu ainda me lembro do dia que você me trouxe para a praia.

Seus lábios se inclinaram numa curva côncava.

- Você estava feliz naquele dia, Sakura.

- Eu nunca te agradeci por ter me trazido para a praia. Obrigado. Não sabe como aquele dia foi importante para mim.

Ele colocou sua mão sobre a minha que estava em seu braço e apertou bem forte. Eu fechei meus olhos e encostei minha cabeça em seu braço. O vento soprou mais forte e arrastou as areias da praia que estavam misturadas com o gelo.

- Eu gosto quando você sorri – ele me disse num sussurro que o vento levou até os meus ouvidos.

Eu abri meus olhos e o puxei de volta para o chalé. Nós nos sentamos em um largo banco de madeira talhada que havia na varada e enrolados em um cobertor, que eu fui buscar, nós ficamos admirando a bela paisagem do lugar.

Desejei que o tempo parasse, mas invejoso da felicidade alheia, ele continuou correndo. A luz do dia aos poucos foi embora, e no céu a noite sorrateiramente se aproximava.

- Vou preparar um jantar especial para nós – eu disse me levantando.

Já que o tempo não parava de correr, eu quis desfrutar o maxímo da companhia de Naruto. E também quis fazer coisas especiais para ele para que assim aquilo que eu fiz sempre fosse lembrado.

Abri a porta e fiquei parada na soleira observando Naruto olhar o mar a sua frente. Ele parecia hipnotizado pela paisagem.

- Hey, Naruto... – eu chamei sua atenção visto que ele parecia estar com os pensamentos bem longe dali.

Ele virou-se em minha direção e sorriu. Fiz menção de entrar novamente, mas ele me impediu.

- Sakura, não se mexa.

- O que foi? – perguntei preocupada.

Naruto correu até mim e de maneira um pouco desajeitada me beijou. Eu comecei a rir.

- O que está fazendo?

Erguendo a mão, ele apontou para cima. Levantei minha cabeça e vi pendurado no batente da porta um ramo de visco.

- Quem colocou isso aí? – eu perguntei de forma jocosa.

No passado, quando Naruto beijou a Hinata pela primeira vez embaixo do visco, eu disse que o amor era um mal que crescia que em nós, assim como o visco que crescia em árvores velhas e doentes; porém eu estava errada, o amor não era algo ruim, pois o amor é o sentimento mais lindo que existe. Como a Ino disse: o amor é o laço mais forte que te une a alguém.

Naruto me pegou no colo e me levou para dentro do chalé. Ele caminhou até o espelho comprido que havia no quarto e parou em frente a ele.

- Olha – ele me ordenou.

- O que você quer que eu veja? – eu o questionei um pouco triste.

- Sakura, eu quero te apresentar a garota por quem eu me apaixonei - ele me contou todo animado.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Naruto se lembrava que uma vez eu o fizera prometer que ele me apresentaria a garota por quem ele havia se apaixonado.

- Ela é muito bonita – eu comentei sorrindo – Só que talvez não fosse a garota certa por quem você deveria se apaixonar... – através do espelho eu vi o olhar de tristeza surgindo em seu rosto – Isso não importa, porque a verdade é que eu nunca aprovaria nehuma garota que você se apaixonasse. Eu sou muito ciumenta.

Naruto riu e o olhar de tristeza instantaneamente sumiu.

- Vamos contar a todos sobre nós. Não importa o que pensem.

Em meu interior ainda havia a pergunta: “O que nós estamos fazendo?”. E a resposta era: “Lutando por nosso amor”.

Certa vez vi escrito em um livro: “o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíeveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”. E foi com Naruto que eu aprendi o verdadeiro significado dessa frase.