Um provérbio chinês diz que há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. No entanto, eu queria acreditar que eu podia fazer o tempo voltar atrás; eu só precisava de coragem para enfrentar aquilo que eu não fui capaz de enfrentar no passado.

Ergui minha mão e toquei meu pescoço. A corrente de pingente de floco de neve não estava mais ali há três anos, entretanto, ironicamente, o anel de noivado de Sasuke continuava em meu dedo como uma prova de meu compromisso com ele.

O vento arrastou as folhas secas caídas no chão de pedra cinza. Algumas folhas, presas a seus galhos, resistiam bravamente à ação do vento, mas por mais que lutassem uma forte corrente de ar sempre as acabava levando para longe. Talvez eu fosse como uma folha tentando resistir a uma força que me empurrava para o fundo do abismo, ou talvez eu fosse mesmo uma rocha presa ao meu lugar apenas recebendo os fortes golpes de água salgada. Não importava a metáfora, eu era alguém que por vezes parecia querer lutar e por outros simplesmente aceitava ser golpeada.

Flashback

O Natal de meus 17 anos, o nosso último antes da viagem de Naruto ao Canadá, deixou O Naruto e eu mais próximos, porém a realidade que vivíamos não nos permitia contar a todos o que sentíamos um pelo outro.

No Ano Novo, depois de me ter dito que não era errado amar alguém, enquanto observávamos os fogos de artifício da pequena varanda que havia na entrada da casa, ele segurou discretamente em minha mão e sem me olhar nos olhos me disse:

- Não é certo nos amarmos, não é mesmo Sakura?

Com um nó em minha garganta, eu concordei com ele.

- Não é certo, Naruto... Na frente de todos, nós somos irmãos.

Senti que ele apertou mais forte a minha mão e, em silêncio, nós fizemos o nosso pacto de continuar mantendo o nosso segredo; e para mantê-lo era preciso sacrificar o que sentíamos um pelo o outro.

O tempo foi passando rápido, e a medida que eu me afundava nos livros para passar na faculdade de medicina, Naruto se empenhava cada vez nos treinos de hockey. Sob o comando de Shikamaru, o Konoha chegou até a ganhar a liga amadora de hockey no gelo.

O talento de Naruto não passou desaspercebido pelos olheiros e no começo da primavera veio a proposta.

- Eu fui convidado para jogar no Lakehead Thunderwolves.

Ele me contou isso enquanto tomávamos café da manhã num raro momento que partilhávamos juntos. Eu fingi ficar feliz por ele, mesmo sabendo perfeitamente onde era a casa dos Lakehead Thunderwolves.

- Isso é ótimo. Você terá grandes chances se aceitar.

- Sakura, eu vou ter que mudar para o Canadá! – ele fez questão de me explicar como se eu não houvesse entendido toda a situação.

Eu já sabia que o Lakehead Thunderwolves era o grupo de hockey no gelo masculino pertencente a Universidade de Lakehead que ficava em Ontario, no Canadá.

- Qual é o problema? Está com medo do frio do Canadá?

Para quem vivia em Oregon, o frio canadense não significava nada.

Eu notei que seus olhos azuis estavam bem tristes pelo fato de que eu não protestei quando ele me contou sobre sua possível ida ao Canadá.

- Eu pensei que você queria que ficássemos juntos! – ele ficou bravo.

Levantei-me da mesa e gritei furiosa em resposta.

- Não dá para ficar juntos desse jeito! – meu tom de voz ficou mais ameno - Não assim...

Fiz menção de me movimentar, mas Naruto agarrou meu antebraço.

- Sakura, espere.

Eu não o olhei, segui com minha cabeça virada para a direção da escada.

- Você sabe, eu também vou me mudar quando começar a faculdade em setembro. São apenas mais seis meses até lá.

A pressão dos dedos dele diminui e puxando meu braço eu corri até as escadas deixando para trás, na mesa, meu copo de suco de laramja preenchido pela metade. Eu não fui à escola aquele dia, e o Naruto também não.

Não dava mesmo para viver ao lado de alguém a qual se ama sem poder amá-la. O que eu podia esperar do meu futuro ao lado do Naruto? Nada. Jamais poderíamos nos casar e ter uma familia, ou mesmo a banalidade de irmos ao cinema como um casal de namorados num sábado à noite. Depois disso dessa conversa nos afastamos mais ainda, em pouco tempo voltamos a ser dois estranhos que habitavam a mesma casa.

Em maio veio a tão aguardada noticia.

- Eu passei em Harvard - eu gritei assim que abri a carta.

Naruto que estava descendo as escadas ao ver-me na sala, toda animada, apenas encarou-me e sorriu.

- Parabéns Sakura. Eu sabia que você ia conseguir.

Apesar de tentar se mostrar feliz por mim, eu notei que ele não havia gostado da noticia.

- É bom mesmo. Uau! Havard! – eu não cabia em mim de tanta felicidade, mas ao ver os olhos tristes de Naruto a minha alegria desvaneceu - Você também logo vai para o Canadá ser um grande jogador, profissional... É isso o que queremos, né?

A pergunta no final da frase saiu mais como um questionamento de meu coração sobre estar tomando as decisões certas.

Naruto apenas assentiu com a cabeça e eu entendi que assim como eu, ele também estava cansado de ter que viver ao lado de alguém a quem não podia amar.

Um pouco antes do termino das aulas houve um baile organizado pela Ino, mas dessa vez eu não fui. Porém, o Naruto foi acompanhando a Hinata. Eu fiquei morrendo de ciúmes, mas sentada na sala em frente à lareira eu fiquei pensando que aquilo era "normal". Inúmeras vezes, eu convenci-me de que seria melhor se nos afastassemos porque senão eu o perderia para sempre e ainda poderíamos ser presos por termos mentido para o juiz sobre a paternidade de Naruto. Meu medo de que a verdade sobre a origem de Naruto viesse à tona sempre foi tão grande que durante anos eu aguentei qualquer coisa apenas para mantê-lo oculto... Eu queria proteger o Naruto, mesmo me sacrificando, causando-lhe dor e nunca contando toda a verdade, eu desajava protegê-lo.

Fim do flashback

- Sakura, o que está fazendo aqui? – Shizune se aproximou de mim com um guarda-chuva aberto – Se ficar nessa chuva vai acabar adoecendo.

Eu nem notara que uma fina garoa havia começado a cair. Levantei-me apressada.

- Eu tenho que voltar ao atendimento.

- Está tudo bem com você.

- Sim – eu respondi sorrindo-lhe falsamente.

Olhei o relógio do celular e vi que ainda me restavam alguns minutos antes de meu horário de almoço terminar. Fui até o banehiro e encarei no espelho a imagem de uma pessoa destruída pela dor, cada traço de meu rosto estava irreconhecível.

Não dava para seguir vivendo daquela maneira. O desespero e a angútsia tomavam conta de meu coração, e olhando para o teto eu pedi.

- Alguém, por favor, muda a minha vida.

Flashback

As aulas terminaram em junho e no mês seguinte Naruto se mudou para o Canadá a pedido do treinador do Lakehead Thunderwolves. Em setembro foi a minha vez de me mudar para Cambridge, no estado de Massachusetts, onde ficava localizava Havard.

Foi em Cambridge que o Sasuke foi me procurar no começo de dezembro para que reatássemos nosso namoro. Como eu estava triste por tudo o que havia acontecido, e sensibilizada pelo fato de Sasuke ter sido expulso do time da Suiça por dopping acabei aceitando sua proposta e no meu primeiro Natal na universidade, o Sasuke me levou para jantar em um lindo restaurante que ficava no centro, aquela foi uma noite bem divertida. Quando cheguei ao apartamento, o Naruto estava me esperando no MSN e eu menti a ele dizendo que havia saído com algumas amigas.

A minha comunicação com Naruto era feita na maior parte do tempo pela internet, e o mais comum era trocarmos emails contando sobre a nossa semana. Não voltamos a falar sobre nossos sentimentos e nem dizíamos o quanto sentíamos a falta um do outro.

Dois dias antes do meu segundo Natal na univerisdade, eu recebi um telefonema do Canadá.

- Olá, Sakura. Meu nome é Jiraya e eu sou o treinador do seu irmão Naruto.

- Ah, sim.

- Bom, eu estou ligando para avisar que ele sofreu uma séria contusão durante um treino que estávamos realizando, e ele está no hospital.

- Como ele está? – eu perguntei desesperada.

- Bom... Os médicos nunca são muito claros nesses casos... Acho melhor você vir visitá-lo.

Meu corpo se congelou.

- Eu estou indo...

- Avise qual será o seu vôo porque eu pedirei para alguém ir busca-la. Onde estamos é um lugar um pouco remoto e difícil de ser encontrado.

- Eu aviso.

- Anote o meu numero de celular, e me ligue assim que tiver comprado a passagem.

- Ok.

Com muita dificuldade eu segurei a caneta e escrevi o numero de telefone que o treinador de Naruto me ditava.

Assim que eu desliguei, eu fui até o meu guarda-roupa e coloquei algumas roupas aleatoriamente na mala. Peguei minha bolsa com o cartão de credito e coloquei um grosso casaco. Fui direto para o aeroporto.

Na loja da companhia aérea, a atendente me disse que os vôos estavam sendo cancelados devido ao mal tempo no Canadá.

- Escuta aqui! – eu gritei - Meu irmão está num hospital no meio do nada no Canadá! Eu preciso ir vê-lo! Não vou ficar aqui esperando.

Eu fui tão convincente que a mulher me vendeu uma passagem para o próximo vôo que decolaria em direção a Ontario. Eu liguei para o Jiraya e informei o meu horário de chegada ao aeroporto, ele prometeu que mandaria alguém ir me buscar.

Passei a viagem bem agitada e nervosa. Eu não sabia em que situação o Naruto se encontrava, mas acreditei que algo bem grave houvesse acontecido com ele. A minha preocupação com Naruto fez com que eu me esquecesse completamente de avisar o Sasuke que eu estava indo para o Canadá; lembrei disso quando estava em pleno vôo e ao aceitar um copo de água vi que o anel com solitária de diamente estava em meu dedo, rapidamente tirei-o e guardei-o no bolso de minha jaqueta. 

Ao chegar ao aeroporto, eu varri o lugar com o olhar em busca de alguém que estivesse me esperando. Na minha ânsia de chegar ao Canada esqueci-me de perguntar como era a pessoa que estaria me esperando. Para a minha surpresa, a pessoa que estava me esperando era alguém bem conhecido.

- Naruto... – o nome dele escapou de meus lábios.

Eu vi seus olhos apagados ganharem vida ao me verem e um sorriso terno surgir discretamente em seus lábios.

- Sakura!

Ele veio até mim, e eu num impulso o abracei.

- O que aconteceu com você? Você... – eu me soltei de seu corpo – Você deveria estar no hospital.

- Foi aquele velho pervertido que te ligou – ele foi logo se explicando – Eu não sabia que ele ia te pedir para vir.

- E quanto ao acidente que você sofreu no treino?

Bastou olhar para seu rosto para eu entendesse o acidente durante o treino não passou de uma desculpa para me fazer vir até o Canadá.

- Era mentira? – eu fiquei irritada – Tem idéia do que eu passei para vir? Eu nem avisei a ninguém que eu estava vindo para o Canada, eu larguei tudo porque pensei que você... Ah!

- Desculpe Sakura por fazê-la vir até aqui.

- Naruto será que você não pensou o que eu ia sentir quando soubesse que você estava... Ah, deixa pra lá!

- Eu não sabia de nada, Sakura. Eu não pediria para você vir se soubesse.

- Por que o seu treinador me ligou?

Naruto deu de ombros e virou de costas.

- Sei lá... Aquele velho pervertido é doido!

Eu coloquei as mãos na cintura e respirei fundo.

- Bem, acho que não vou conseguir voltar antes do Natal.

Ele virou-se para mim novamente com um largo sorriso em seu rosto.

- Sério? Então você pode passar o Natal aqui comigo!

Ao ver a animação no rosto de Naruto quando eu insinuei que teria que passar o Natal no Canadá, eu vi a razão do telefonema do treinador Jiraya. No fundo, o Naruto só queria me ver, mas ele jamais pediria que eu visse o ver.

- É, acho que vamos passar o Natal juntos.

Flashback

Eu faria qualquer coisa para sentir a felicidade que eu senti quando percebi que depois de quase um ano separados, tudo o que o Naruto queria era que eu estivesse com ele. A verdade é que nunca foi importante se éramos irmãos ou não, o que queríamos era estarmos juntos sempre.