A volta de Karin fez com que sentimentos de cólera surgissem com força em meu interior já tão destruído. O que ela estava fazendo ali com o Sasuke? Eu sabia perfeitamente o que ela estava fazendo ali com o Sasuke e era isso que me irritava profundamente.

Liguei o carro e decidi dar algumas voltas no quarteirão para me acalmar, mas a raiva não passou, contrariamente aumentou ainda mais.

- Maldito Sasuke! Como ele pode fazer isso comigo?! – eu me perguntei ao final da primeira volta.

Parei o carro em frente ao píer. Desci do carro e fui sentar-me em um dos bancos de madeira que havia na orla. Poucas pessoas passavam por ali naquela hora.

Flashback

A visita de Sasuke numa manhã de primavera me surpreendeu. Eu sabia que ele havia voltado ao país, eu só não esperava que ele fosse me procurar na republica que eu morava em Havard. Depois de me saudar de maneira informal, ele entrou no meu pequeno apartamento.

- O que veio fazer aqui? – eu o questionei mostrando-me realmente espantada com sua visita.

- Quero que volte a ser minha namorada.

O pedido tão direto soava mais como uma exigência.

Eu virei-me de costas para ele e fui até o sofá. Sasuke ficou em pé perto da porta de entrada.

- O Naruto agora está no Canadá. Você não precisa mais de mim para provar ciúmes nele – acho que ele percebeu o nervosismo em minhas palavras.

- Eu voltei a jogar pelo Konoha. Eu quero de volta tudo o que eu tinha.

Sasuke estava realmente decidido a ter de volta tudo o que um dia lhe pertenceu. Colocando a mão no bolso retirou uma pequena caixinha de veludo preta. Aproximando-se de mim, abriu-a na minha frente.

- Sakura, quero que seja minha noiva.

- Por que? – eu não entendia o que estava acontecendo.

Meus olhos se encheram de água.

- Você é a única mulher que me entenderia.

Tomando minha mão direita, ele colocou o anel em meu dedo.

- E quanto a Suiça e o Orochimaru?

A mão de Sasuke apertou mais forte a minha. Seu olhar sombrio encontrou o meu e eu senti meu corpo paralisar. Era difícil respirar com o coração batendo tão rápido.

- Eu fui suspenso.

De maneira tão direta quanto seu pedido de namoro, ele me contou as razões de sua suspensão. Eu as ouvi atentamente sem nem por um momento interrompê-lo, e ao final do relato eu estava chocada com o que eu escutara.

- Anti-dopping?! Você foi pego no anti-dopping?

- Eu precisava melhor meu condicionamento em jogo. Só assim eu conseguiria manter a minha posição.

- E decidiu voltar porque foi suspenso?

Eu não conseguia acreditar que ele havia voltado por tal razão.

Sasuke me beijou e não me respondeu. Nossos lábios se separaram segundos depois de se unirem.

Segurando meu queixo, ele ergueu minha cabeça até que nossos olhos voltassem a se encontrar.

- Eu quero que fique comigo.

Eu, que estava com meu coração partido, vi em Sasuke a pedra na qual eu poderia me apoiar. Somente ele poderia me salvar e somente eu poderia salvá-lo de sua prórpia escuridão, porque como eu havia contado, quando o vi pela primeira vez no orfanato, eu acreditei que eu era a única que poderia fazer aquele garoto de olhar triste sorrir.

- Eu vou ficar com você... – eu comecei a chorar - Podemos começar sendo namorados de novo.

O noivado oficialmente veio quando o Sasuke se alistou no exército americano, dois dias depois do ataque as torres gêmeas em Nova Iorque.

Fim do flashback

Eu havia ficado ao lado dele para que ele tivesse a estabilidade necessária para poder sair das drogas e recomeçar a vida, mas agora aquela mulher aparecia novamente.

Decidi voltar ao apartamento de Sasuke. Eu já estava tão destruída por dentro, que sentia que nada mais me abalaria. Depois que o porteiro anunciou a minha presença pelo interfone, algo que nunca antes fora necessário visto que eu era conhecida no prédio como a noiva dele, eu subi com mais raiva do que quando chegara.

A porta estava aberta como eu imaginava que estaria, afinal o Sasuke não era dessas formalidades de esperar tocarem a campanhia para abrir a porta e tampouco era o tipo de pessoa que recebia alguém com um café e bolachas.

As pequenas luzes amarelas no teto da sala estavam todas acesas, e isso deixava o ambiente bem iluminado.

- Olá Sakura.

Ele estava fumando um cigarro perto da varanda quando eu entrei.

- O que foi Sasuke? Está se drogando novamente?

O olhar dele recaiu sobre mim. Ele apagou o cigarro no cinzeiro que havia sobre aparador e veio em minha direção.

- Se considera o cigarro como uma droga – ele ironizou a minha bronca.

- O que eu considero como droga é o conteúdo daquele pacote que a vadia da Karin te entregou hoje de tarde.

Sasuke abriu um sorriso malicioso.

- Eu disse a ela que você acabaria percebendo. Você é bem esperta, Sakura. É por isso que eu gosto de você.

A maneira debochada com a qual ele falava fazia a minha raiva aumentar.

- Você se encontrou com ela na parte de fora do prédio, não havia como não ter visto. Parece que agora sua ex só te traz a marihuana, ou será que ela virá aqui mais tarde para realizar as suas fantasias?

O olhar de Sasuke ficou mais estreito e maldoso.

- Seria bom se ela viesse, já que você parece estar muito ocupada correndo atrás do seu irmãozinho. 

- Pare de colocar o Naruto sempre entre nós! – eu gritei – Eu sou sua noiva, não sou?

Ele segurou em meu braço.

- E agora será a minha esposa.

- O que está dizendo? – ele me surpreendeu com suas palavras.

- Vamos nos casar Sakura. Faremos uma festa no sábado para anunciar o casamento para nossos amigos.

- Eu não...

- Não vamos terminar tudo agora.

- Eu... Eu terei plantão na sexta feira de 24 horas. Sairei sábado às sete da noite.

- Ótimo.

Sasuke voltou a me beijar, e eu fiz o máximo para correspondê-lo. Eu não consegui dizer a ele que não queria me casar com ele, pois temi que se o fizesse ele saberia que eu não o faria porque eu estava apaixonada pelo Naruto. De uma maneira que eu não comprendia, o Sasuke era capaz de perceber esse tipo de coisa.

O Naruto estava decidido a ir lutar por nosso país, e em breve se casaria com a Hinata. Se eu não podia impedi-lo de ir para a guerra contando a verdade sobre nós, então eu preferia que nos separássemos de uma vez por todos. Eu precisava encontrar algo que me reconstruísse por dentro.

Não voltei para casa. Dormi no apartamento de Sasuke e naquela noite nós fizemos amor.

Agarrei-me a esperança de que quando amanhecesse eu tivesse em Sasuke uma razão para seguir em frente sem mais chorar ou me arrepender.

Acordei mais cedo que Sasuke, e como de costume fui para a cozinha preparar o café da manhã. Eu sempre dormia com o Sasuke no apartamento dele, e nunca o inverso.

Ao pegar a chaleira de vidro para colocar na cafeteira, eu senti uma incomoda sensação no meu dedo, e ao olhar para a minha direita, eu percebi que eu estava sem meu anel de noivado. Aquela era a primeira que eu o não o tinha em meu dedo desde que o ganhei. Lembrei-me que eu o havia deixado dentro do bolso do meu casaco, pendurado atrás da porta.

- Que idiota que eu sou! O Sasuke deve ter visto que o anel...  Ah...

Como ele não perceberia quando o diamante reluzia a menor incidência de luz, e no apartamento de Sasuke não faltavam pequenas lâmpadas espalhadas pelo teto, especialmente na sala. E como eu esperava que o Sasuke agisse comigo sem ser impulsionado pelos ciúmes quando eu o provocava? Não que eu achasse que ele estava certo em continuar se encontrando com sua ex-namorada da Suiça, mas eu também era culpada por dormir com Naruto.

- Bom dia – eu o saudei assim que Sasuke apareceu na cozinha vestindo seu uniforme de treino.

Ele abriu um sorriso e logo roubou um pedaço de bolo e tomou um copo de leite gelado que eu deixei sobre a mesa.

- Não vai tomar café da manhã comigo?

- Tenho treino logo cedo – ele respondeu apressado – Te vejo a noite.

Dando-me um beijo rápido, Sasuke saiu correndo pela sala.

Acho que por nós dois sermos tão errados em nosso noivado é que eu achava que ainda podia dar certo entre nós. Eu precisava que alguém me salvasse.

Olhei para a camiseta de Sasuke que eu estava vestindo.

- Terei que voltar para casa e trocar de roupa.

Tranqüilizou-me pensar que o Naruto não estaria em casa quando eu chegasse, uma vez que assim como o Sasuke, ele teria que ir para o treino. Eu não queria me encontrar com ele, pois sabia que ele deveria estar chateado por eu ter passado a noite com o Sasuke; eu simplesmente havia mandado um SMS para ele dizendo que eu ficaria com o Sasuke naquela noite. Pensei que por causa disso, ele havia ido ver a Hinata, e isso me fez sentir-me um pouco menos culpada por ter passado a noite com meu noivo depois de ter dito ao Naruto que eu estava disposta a contar o nosso segredo a todos para que pudéssemos ficar juntos.

Sabe, a gente às vezes pensa e faz coisas erradas demais.

O apartamento de Sasuke ficava a poucos metros da minha casa e por isso não levou mais que cinco minutos para eu chegar. Deixei o carro estacionado no driveway, e entrei pela porta da frente.

A casa estava silenciosa, fechei a porta e vi o meu casaco pendurado atrás da porta; colocando a mão no bolso do casaco, eu peguei o meu anel de noivado de volta, rapidamente voltei a colocá-lo no dedo. Respirei fundo e fui para o quarto me trocar.

Subi as escadas devagar e segui com a mesma calma pelo corredor que conduzia ao meu quarto. Aproximando-me do quarto do Naruto, eu vi que porta estava aberta e que parecia que havia alguém lá dentro.  Passando pela porta, eu vi-a sentada na cama; o notebook dele em seu colo.

- Hinata?

Por que ela estava ali no quarto do Naruto vestindo uma camiseta de mangas longa dele? A resposta era tão estupidamente óbvia que me fazia ter vontade de chorar: a Hinata estava ali porque ela era a noiva dele e não eu. Custava-me aceitar essa realidade.