Eu estava me machucando ainda mais, entretanto se aquela era a única maneira de salvá-lo, então eu não importaria de me quebrar por completo.

No final, Naruto me abraçou pelas costas e nós ficamos de conchinha olhando para as chamas que bailavam sobre a madeira. Fazia muito tempo que eu não acendia a lareira, tanto tempo quanto fazia que ele havia ido para o Canadá.

- Sakura, por que você disse que nós éramos irmãos?

- Ainda está encanado com isso? – eu perguntei tentando segurar o riso.

Senti que ele encostou seus lábios na parte posterior do meu ombro.

- Eu não me importo se somos irmãos ou não.

Eu me virei para encará-lo, e ficando bem séria retruquei:

- Mentiroso! Você se importa com a verdade!

Seus olhos claros refletiam a luz alaranjada da lareira. Naruto me puxou para junto de seu corpo e encaixou minha cabeça em seu ombro.

- Você é a única irmã que eu conheço.

A mão de Naruto acariciou meus cabelos e um arrepio percorreu minha coluna, numa reação natural eu me encolhi.

- Você está com frio? – ele me perguntou preocupado.

- Um pouco.

- Eu te levo lá para cima.

- Vamos ficar aqui – eu lhe pedi.

Naruto levantou-se,  vestiu a calça que estava jogada a um lado do tapete e subiu as escadas.

Deitei-me de bruços com o rosto virado para a lareira.

- Sua única irmã...

Preocupava-me que o Naruto seguisse pensando em mim como sendo sua irmã.

Flashback

Na tarde de domingo após o baile de inicio das aulas, Kakashi veio nos visitar. Sentado no sofá, ele nos explicou novamente a situação sobre o reconhecimento de paternidade de Naruto. Nós que estávamos sentados em uma poltrona em frente apenas escutávamos atentamente cada palavra, por vezes o Naruto, sentado no braço da poltrona, se mostrava inquieto.

- Eu já estou cheio disso! – Naruto replicou num tom de voz de revolta ao final da explicação – Eu vou fazer a porcaria desse exame!

Quando o juiz nos emancipou, ele pediu que o Naruto realizasse o exame de DNA, mas eu o fiz se recusar a fazê-lo. Agora um novo pedido estava sendo feito.

- Não! – eu acabei gritando sem querer.

Kakashi balançou a cabeça como se houvesse entendido algo enquanto que o Naruto parecia estar confuso.

Eu me virei para Kakashi e comecei a me justificar.

- O nosso pai não queria que o Naruto fizesse o exame de DNA porque ele acreditava que isso ofenderia a memória da mãe dele - voltei a dizer a mesma coisa que eu já havia dito no passado milhões de vezes - Por isso, o Naruto não pode fazer o exame de DNA. Não há nada para ser provado. O Naruto é o meu meio-irmão – até eu me espantei com a convicção que eu disse aquela última frase.

Kakashi ponderou por um tempo e depois rebateu.

- O juiz não quer reconhecer a paternidade de Naruto sem que antes seja feito um exame de DNA. Não há outra opção.

- Você disse que o juiz não poderia obrigá-lo a fazer o exame de DNA.

- Se precisam disso para provar que eu sou irmão da Sakura, então eu vou fazer o exame de DNA – Naruto estava convencido de que deveria fazer o exame de DNA.

A raiva e o medo cresciam dentro de mim, e num surto eu virei-me para o lado e encarei-o.

- Idiota! Se você fizer o exame de DNA, eles vão nos separar!

Naruto se pôs em pé e vi pavor em seus olhos.

Kakashi preocupou-se com a situação que ele acreditava ser real.

- Sakura, se existe alguma possibilidade desse exame de DNA dê negativo, então é melhor que o diga. O juiz não vai obrigá-los, mas caso a verdade seja descoberta vocês poderão responder a um processo por omissão de informação e apropriação ilegal de herança cuja pena será a reclusão. Além disso, o Naruto será enviado de volta à Inglaterra e poderá não mais ser capaz de voltar ao país.

Assutou-me ouvir as conseqüências que teríamos que enfrentar, ainda que eu já soubesse disso há algum tempo.

Para a minha surpresa, Naruto se pronuncinou de maneira definitiva.

- Kakashi, eu decidi. Eu não vou fazer o exame de DNA. Ninguém vai me separar da Sakura.

- Se é assim que querem...

Naruto optou por fazer aquilo que eu queria, mesmo que sofresse uma grave punição por causa disso. Na segunda, ele ficou mais tempo fora de casa do que dentro dela, e inclusive chegou a faltar no colégio; eu não sabia se a atitude dele era por causa da conversa que havíamos tido com o Kakashi ou se era porque eu o havia beijado. Com medo de ter que confessar a verdade, eu não o fui procurar.

Na madrugada que antecedeu a audiência houve uma forte tempestade. Eu fui para a sala e fiquei no sofá com as pernas encolhidas olhando os flashs dos raios iluminando a enorme janela, como eu ainda não havia desenvolvido a minha fobia a tempestades, não era difici suportar as noites de tempestade.

Um relâmpago cortou os céus e em seguida ao forte estrondo do trovão houve uma explosão. Corri para a janela e abri-a, vi que o raio havia atingido a uma árvore que ficava no jardim da Sra. Miller, a cinco casas de distancia da nossa do outro lado da rua.

Escutei os passos apressados de Naruto no andar de cima e em menos de vinte segundos, ele já estava embaixo na sala.

- Sakura, você está bem? – ele me perguntou apressado.

Seu rosto estava pálido e sua expressão era de medo. Eu voltei a virar meu rosto para o lado de fora.

- Está tudo bem. O raio atingiu a antiga árvore dos Miller.

A rua aos poucos se enchia de gente curiosa que vinha ver a árvore pegando fogo.

Senti Naruto se aproximar e colocar sua mão em meu ombro. Virei a cabeça para olhá-lo e vi que seus olhos azuis estavam fixos na imagem da árvore em chamas.

Eu achei que não deveria deixar o Naruto mentir para o juiz. As conseqüências da mentira eram sérias demais para que eu permitisse que ele as assumisse sem que soubesse da verdade.

Afastei-me dele e isso fez com ele voltasse a sua atenção para mim.  Encarei-o séria e com grande pesar no coração lhe contei à verdade que há tanto tempo eu ocultava.

- No dia do acidente, meu pai me confiou a mim um segredo que foi capaz de nos manter juntos, e, esse segredo ainda pode fazer nos manter juntos.

- Do que está falando, Sakura? – ele me perguntou confuso.

- Naruto, eu não sou sua irmã... Nós não somos irmãos. Meu pai adotou você depois que os seus pais morreram. 

Os olhos dele se encheram de lágrima.

- O exame de DNA, então...

- Se você fizer esse exame, o juiz saberá da verdade e ele vai mandá-lo de volta para a Inglaterra – eu comecei a chorar - Desculpe por não ter tido antes, mas meu pai me fez prometer que jamais eu contaria a verdade a você... Eu não sabia o que fazer depois que ele morreu, eu não queria que nos afastassem... Por isso eu escondi a verdade de todos durante tantos anos.

Engolindo o choro e a tristeza, ele disse de maneira firme e séria.

- Ninguém vai separar a gente, Sakura. Eu prometo.

Eu segurei em sua jaqueta e o encarei com seriedade.

- Naruto, para podermos ficar juntos, esse terá que ser “O NOSSO SEGREDO”. Para todos continuaremos sendo irmãos.

Fim do flashback

- O nosso segredo...

Senti um peso sendo jogado em minhas costas, Naruto havia colocado um cobertor sobre mim, em seguida ele deitou-se ao meu lado. Sua mão acariciava minhas costas numa tentativa de aquecer-me.

- Naruto, você ainda me vê como a sua irmã?

Ele riu e disse jocosamente.

- Você sempre diz que somos irmãos.

Sentei-me e o olhei deitado de barriga para cima sobre o tapete.

- Escute, Naruto. Você não precisa que eu te diga a verdade. Você sabe que tudo o que fizemos e o que sofremos foi justamente para escondermos de todos que nós não éramos irmãos. Se alguém descobrir que nós mentimos na frente do juiz, será pior do que se simplesmente descobrirem que nós dois cometemos um incesto.

Ele sentou-se e aproximou seu rosto do meu.

- Sakura, você é a mulher que eu amo. Não importa se é minha irmã ou não.

O nosso amor deveria ser algo bem simples, mas era mais complexo do que se podia imaginar. Oscilávamos sempre entre enfrentar o mundo ou seguirmos escondendo a verdade.

- Naruto, dessa vez eu vou enfrentar o que for preciso para ficar com você.

- Por que mudou de idéia? – ele ficou surpreso com a minha iniciativa.

Olhando em seus olhos azuis iluminados pelas chamas da lareira, eu não fui incapaz de mentir sobre as minhas verdadeiras intenções. Eu já estava farta de mentiras, eu queria ser verdadeira com alguém, e eu desejava que o Naruto fosse esse alguém.

- Você disse que não há volta atrás para o seu alistamento no exército americano, mas há uma maneira, e eu prefiro ver você preso ou mandado de volta para a Inglaterra do que ver você partindo para a guerra!

Os olhos dele ficaram maiores devido ao espanto. Talvez ele já soubesse o que eu diria.

- Sakura, você contaria a verdade?

Eu não sabia se ele estava zangado ou não, mas se estivesse ele estava certo.

- E você acha que essa não é uma razão suficiente! – eu gritei furiosa

- Eu pensei que era porque me amava – ele se levantou chateado – Acho que sou apenas o seu irmão.

Naruto girou os calcanhares e caminhou lentamente em direção as escadas.

Senti a raiva crescer e a frustração crescer dentro de mim.

- Naruto! É você que não consegue me ver como uma mulher! Para você, eu sou apenas sua irmã... – ele deteve seu caminhar no primeiro degrau – Eu não sou irmã!

- E eu não sou seu irmão. Por isso não precisava ficar me protegendo o tempo todo.

Ele subiu as escadas e ouvi a porta de seu quarto bater com força.

Por fim eu me quebrava como um rochedo cansado de enfrentar a fúria das águas frias do mar. Naruto sabia que no passado eu havia dito que o amava apenas para mantê-lo ao meu lado; e acho que dessa vez ele sentiu que eu fizera novamente a mesma coisa. O que Naruto não conseguia ver era que eu realmente estava disposta a enfrentar o mundo para ficar com ele.

Fui para o meu quarto e depois de um longo banho fui dormir. Pedi aos céus que mandassem uma tempestade para que assim ele viesse me procurar, mas eu não fui atendida em meu pedido.

Na manhã seguinte, Naruto não estava mais em casa quando acordei. Sem tomar café da manhã, eu fui para o hospital. O dia passou mais rápido do que eu realmente quis que passasse, afinal doía pensar em encontrar-me com Naruto quando voltasse para casa.

Ao sair do hospital, eu resolvi passar no apartamento de Sasuke. Apesar de tudo, ele ainda era o meu noivo e eu queria conversar com ele.

Estacionei o carro do outro lado da rua do prédio onde ele morava, era um bonito prédio cuja fachada branca atraia a atenção de quem passava pela rua. Olhei para a lateral do prédio, e vi que Sasuke estava encostado na parede que cercava o prédio conversando com uma garota ruiva de óculos. Não precisei ficar me questionando a respeito da identidade da garota de trajes ousados que conversava com meu noivo, uma vez que eu a conhecia muito bem.

- Karin. O que ela está fazendo aqui?

Eu a vi entregando uma pequena caixinha de presente e depois ela sussurou algo perto de seu rosto. No momento seguinte, ela se inclinou mais para frente e o beijou, para o meu espanto Sasuke a correspondeu de forma tão intensa quanto ela o beijava.