O Nosso Segredo escrita por Angel_Nessa


Capítulo 14
CAPITULO 14 – A VERDADE ESCONDIDA




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O café intacto a minha frente agora estava frio.  Levantei-me e fui embora.

Voltei a caminhar pelas ruas sem destino. O vento frio batia em meu rosto, olhei para céu e percebi que já deveriam passar das quatro horas. Detive o meu caminhar e fiquei observando o mar, sentei-me no chão de grama rasteira e fiquei do alto da montanha contemplando a bela paisagem composta pelo mar, os rochedos e as árvores.

As ondas batiam violentamente contra as rochas espalhando a água e concentrando a espuma branca ao redor. Ao longo dos anos, a rocha tão dura e resistente sofria mudanças por causa da erosão marítima que intermitentemente acontecia, de repente senti-me como uma daquelas pedras que recebiam constantemente golpes de água fria; minha estrutura também estava sendo abalada e logo eu me partiria, mas todos eram indiferentes ao que acontecia a mim e a rocha.

Flashback

Meu coração não havia conseguido se acalmar desde que eu falara com Kakashi sobre a audiência que teríamos que comparecer. E durante o jantar daquela noite, meus pensamentos ficaram voltados apenas para esse assunto, eu mal conseguia olhar para o Naruto que estava sentado a minha frente.

- Hey Sakura – a voz dele me chamando atraiu a minha atenção.

Movimentei meu baço para o lado direito ao mesmo que ergui o olhar, sem querer meu braço empurrou a vasilha com o purê de batata que num efeito dominó bateu no meu copo com suco de uva e o fez tombar. O suco molhou a toalha e se espalhou rápido pelo pano e começou a pingar na beirada da mesa.

- Ah! Que desastre!

- Sakura, o que está acontecendo?

Levantei-me e fui até a cozinha pegar um pano. Voltei e limpei a mesa e depois o chão, eu sabia que o Naruto estava me olhando, mas eu fazia de tudo para não olhá-lo. Eu passei seguidas vezes o pano no chão, mas o líquido não era absorvido por completo.

- Eu te ajudo – ele se ofereceu se ajoelhando ao meu lado e passando um guardanapo no chão.

Eu levantei-me do chão e fui para a cozinha. Abri a torneira e comecei a lavar o pano. O suco de uva tingiu minhas mãos e a pia de vermelho.

- Sakura, você está bem?

A voz de Naruto ao pé do meu ouvido me assustou e ao dar um passo para trás bati a minha mão em um prato de louça branco que estava na beirada da pia. O prato caiu no chão e se rompeu em milhares de pedaços. Tentei me movimentar, mas Naruto me impediu de pisar nos cacos de louça segurando em meu braço. Senti de repente uma ardência na perna e ao olhar para baixo vi um pequeno riozinho de sangue escorrendo pela lateral de minha perna esquerda.

Ultrapassando-o eu caminhei em direção a sala. Eu subi as escadas apressadamente e fui até o banheiro. Abri a caixinha de medicamentos que ficava sobre a pia e de lá tirei um Band-Aid. Limpei o corte, que ficava dois centímetros acima do ossinho do calcanhar, com um pouco de algodão e loção anti-séptica e em seguida coloquei-o Band-Aid sobre o corte para estancar o sangue.

Ao sair do banheiro encontrei o Naruto na porta do meu quarto olhando-me preocupado.

- Sakura... Você está estranha.

Respirei fundo e busquei forças em meu interior para contar sobre a intimação que havíamos recebido para a audiência.

- O juiz mandou uma intimação para que nós comparecêssemos a uma audiência na próxima terça. É sobre a sua paternidade – fui logo dizendo.

As sobrancelhas de Naruto se estreitaram e foi notável que a noticia não o havia agradado.

- Que merda! Por que esse juiz idiota continua pegando no meu pé. Eu vou fazer logo a droga desse exame de DNA!

Eu tentei manter-me firme e fria.

- Nosso pai fez de tudo para que você não fizesse o exame de DNA porque não queria que a memória da sua mãe fosse ofendida, e agora você vai simplesmente jogar fora o que ele fez.

- Mas o juiz...

Eu subi meu tom de voz e franzi o cenho.

- Sem essa de juiz! Eu não vou deixar você estragar tudo com suas atitudes impensadas. Falaremos com o Kakashi, o juiz não poderá te obrigar a realizar nenhum exame!

Ao olhar nos olhos de Naruto notei que havia um pouco de tristeza, apesar da raiva estampada em seu rosto.

- O que foi? – eu perguntei impaciente.

- Sakura, e se o juiz me separar de você?  - ele me surpreendeu com a pergunta.

Senti um nó se formar em minha garganta ao perceber a preocupação dele.

- Seu idiota, perante a lei já somos maiores de idade. Não como um juiz fazer isso!

Eu deliberadamente havia mentido, se a verdade que eu escondia viesse à tona, eu e o Naruto terminaríamos por ser separados, e nada que eu fizesse poderia impedir tal coisa. E para evitar que isso acontecesse, eu fiz tudo o que eu podia fazer; até mesmo dei asas ao amor que ele sentia por mim.

Fim do flashback

À tarde aos poucos se acabava e o frio aumentava, puxei meu casaco para cobrir mais meu corpo, eu não imaginava que ficaria fora de casa até tarde da noite. Por um breve momento eu pensei em voltar para casa, mas eu não podia encarar o Naruto sem que antes eu tivesse tomado uma decisão sobre nós.

- Eu não posso jogar tudo para o alto! - eu tentava convencer a mim mesma de que eu deveria ser fiel as minhas proposições passadas.

No entanto, em meu âmago eu sentia que deveria seguir os meus sentimentos dessa vez. Forcei meu cérebro a se recordar das razões pelas quais eu havia desistido do Naruto, mas tudo o que eu consegui me lembrar foi da noite do baile de inicio das aulas daquele que seria o último e mais conturbado ano de minha vida até o momento.

Flashback

Os três dias se seguiram a minha conversa com Naruto foram marcados por uma amargura silenciosa. Nenhum dos dois se atrevia a dizer nada referente ao assunto, e até mesmo evitamos jantar juntos para que não houvesse oportunidade para falarmos sobre isso.

Sábado pela manhã, antes de ir para a escola verificar os últimos detalhes para a grande festa, eu passei no escritório de Kakashi.

- Bom dia, Sakura.

O escritório de Kakashi ficava localizado no quinto e último andar de um velho prédio cuja tinta azul começava a desbotar. O interior da sala não tinha nada de especial: poucos móveis, duas cadeiras de madeira com assentos de veludo azul marinho e uma estante cheia de livros empoeirados. O lugar parecia tão misterioso quanto seu proprietário, que era um ex-jogador de hockey que usava uma máscara de pano preta que lhe cobria o hemisfério sul de seu rosto.

Depois de sentar-me e respirar fundo, eu desabafei.

- Eu estou preocupada com a audiência de terça.

Kakashi sentou-se na cadeira do lado oposto ao meu, e apoiando os cotovelos na mesa cruzou as mãos na altura dos olhos. Ele ponderou sua resposta por uns instantes, e calmamente ele me explicou o caso de maneira simples e direta.

- Sakura, quando os seus pais morreram, os papéis de reconhecimento de paternidade de Naruto não estavam finalizados. Faltava realizar o exame de DNA que comprovaria de maneira definitiva que o Naruto é filho de seu pai.

- Eu sei disso.

Desde a morte de meus pais, esse assunto era o que mais me preocupava. Quando éramos crianças, o juiz não nos obrigou a realizar o exame; porém por causa da emancipação, o juiz faria um novo requerimento para que o Naruto realizasse o exame.

- O juiz vai pedir que o Naruto faça o exame de DNA para comprovar a paternidade e dessa forma ele poderá ter direito a herança deixada por seu pai.

- E se ele não fizer? – eu perguntei de maneira séria e segura – O juiz não pode obrigar a fazê-lo.

- Sem o exame de DNA, o Naruto não é reconhecido como sendo seu irmão. É isso que você quer, Sakura?

- Não! – eu acabei gritando sem querer – Desculpe, é que o nosso pai não queria que o Naruto fizesse o exame de DNA porque ele acreditava que isso ofenderia a memória da mãe dele. Por isso, o Naruto não pode fazer o exame de DNA.

Kakashi ficou me encarando, e eu senti-me incomodada. Mexi-me nervosamente na cadeira e enquanto eu me ajeitava ele fez uma pergunta de forma tão direta que fez meu coração disparar.

- Sakura, o Naruto não é o seu irmão?

Fingi-me de ofendida.

- Que pergunta idiota é essa, Kakashi?

- Sakura, se o Naruto não for o seu irmão, então o processo pelo reconhecimento da paternidade dele muda de rumo. Sendo que Naruto nasceu na Inglaterra, ele não pode permanecer no país sem um Green Card. Você sabe disso, não é mesmo?

Claro que eu sabia. Afinal qual razão mais forte do que essa faria com que eu escondesse a verdade por tantos anos? Eu não podia permitir que levassem o Naruto para um país estrangeiro onde ele não tinha amigos e nem conhecidos.

Kakashi continuou falando:

- Nós poderíamos recorrer por causa da idade, mas como ele é emancipado, não será poupado da lei de estrangeiros. Claro que o juiz não pode obrigar o Naruto a realizar um exame de DNA, mas em troca pedirá que vocês jurem que estão dizendo a verdade, com uma pena criminal caso seja descoberto que o que disseram é mentira.

Eu levantei-me da cadeira e mantive minha altivez, ainda que eu sentisse meus olhos úmidos.

- O Naruto é o meu meio-irmão – até eu me espantei com a convicção que eu disse aquela última frase – Então há porque ninguém me afastar dele. Nós seguiremos com a vontade de nosso pai.

Girando os calcanhares, eu saí da sala.

Meu pai havia complicado tudo quando decidiu trazer o Naruto para a nossa família como sendo seu filho bastardo. Se ele tivesse simplesmente adotado o Naruto, eu não precisaria esconder de todos que eu e ele não partilhávamos o mesmo sangue.

À noite, eu coloquei meu vestido vinho de mangas longas cujo comprimento ficava dois dedos acima do meu joelho, aquela era uma peça bonita com um decote V profundo que deixava uma parte de meu colo a mostra. O Naruto não disse não disse nada quando me viu usando aquele vestido, mas seu olhar não foi de aprovação; eu, por outro lado, em silencio aprovei o terno preto com camisa branca aberta no peito que ele usava.

Ele quis me levar com o velho carro que ele havia comprado, mas eu disse que eu iria com a Ino. Eu sabia que eu tinha que tirar a minha carteira de motorista, porém o trauma do acidente não me permitia sequer ficar atrás do volante.

A decoração do baile que remetia ao fundo do mar estava maravilhosa e a banda – amadora - que tocava não era nada mau. Nossos colegas se divertiram e dançaram muito até o amanhecer, porém eu fiquei boa parte do tempo ao lado da melhor companhia para aquela noite: o pote de ponche batizado com champanhe e vinho. Em alguns momentos da festa a Ino e a TenTen me chamaram para conversar, mas depois da meia-noite eu deixei que elas seguissem dançando, ou pelo menos tentando dançar, com seus pares; a TenTen havia arrebatado o Neji, o primo da Hinata, para ela e a Ino ficou desfilando com o Shikamaru ao seu lado. Lembro-me vagamente de ter visto a garota de intercambio chamara Temari com os irmãos, Gaara e Kankuro.

Passado um pouco das duas da manhã, eu comecei a sentir o efeito do álcool agindo sobre meu sistema nervoso. A gente nunca nota que bebeu além dos limites até ser tarde demais. Senti minha visão ficando turva e meu corpo perdeu as forças, temi que eu acabasse entrando em coma alcoólico, ou na pior das hipóteses, caísse na frente de todo mundo.

- Oi Sakura – Lee se aproximou de mim com um copo vazio na mão – Você está bem? Parece um pouco pálida.

- Eu estou bem. Acho que essa fumaça não está me fazendo muito bem. Eu vou lá fora tomar um pouco de ar.

- Quer que eu te acompanhe?

- Obrigado, mas eu prefiro ir sozinha.

Decidi ir para o estacionamento tomar um pouco de ar, porém no caminho da saída do salão encontrei o Naruto aos beijos com a Hinata no meio do corredor vazio da escola. O beijo deles não era igual ao beijo infantil que eles deram na véspera de Natal, aquele era um beijo que apenas casais apaixonados são capazes de trocar. A Hinata havia conquistado o coração do homem que sempre esteve do meu lado me apoiando nos momentos em que eu mais precisava, ela estava levando embora o mocinho da minha história.

Tentei passar por eles desapercebidamente, no entanto não fui bem sucedida.

- Sakura você está bem? – Naruto me perguntou ao ver-me caminhando cambaleante em direção a saída.

Eu não virei para encará-lo e amaldiçoei-o por não ser capaz de me perder de vista nem mesmo quando estava beijando a namorada.

- Eu estou ótima. Vou apenas tomar um pouco de ar.

Meu estômago voltou a revirar e eu senti que não seria mais capaz de mover. Achei que os céus estavam me castigando por ter sido uma idiota. Estiquei os braços para a lateral e me segurei em um dos armários.

Passos apressados de salto ecoaram pelo corredor e quando abri os olhos vi Ino ao meu lado segurando o meu braço.

- Sakura! O Lee disse que te você estava passando mal – ela segurou meu rosto – Você está muito pálida e... Está cheirando a bebida.

- Ino, pare com isso! – eu briguei com ela, vi que Shikamaru e Lee a estavam acompanhando – Eu estou perfeitamente bem.

- Se quiser podemos levá-la para o hospital – Shikamaru foi solidário.

- Eu estou bem! – eu gritei furiosa.

Nessa hora meu corpo perdeu a força e eu fui ao chão de joelhos. Senti o forte impacto do chão contra meus joelhos e gritei de dor.

Naruto se aproximou e colocou a mão em minhas costas, eu endireitei minha coluna e o olhei.

- Vamos, Sakura. Eu te levo para casa.

Passei meus braços por sobre os ombros de Naruto, e agarrei-me em seu pescoço, ele me pegou em seu colo e me levou para casa. Nós não conversamos durante todo o trajeto de volta, e ao chegar a casa ele me levou para o meu quarto.

E eu fiquei lá deitada na cama com Naruto sentado na beirada do colchão me olhando com pena.

- Você está se sentindo melhor, Sakura?

Eu estava me sentindo péssima, e não era por causa da bebedeira. Eu o havia visto aos beijos com a Hinata e estava morrendo de ciúmes.

Apoiando meus cotovelos na cama tentei me sentar, mas minha cabeça doía e eu não conseguia ter controle sobre o meu corpo. A mão de Naruto se posicionou no meio de minhas costas amparando-me.

- Você devia descansar.

- Cala a boca, você não é meu pai... – percebi que o tom da minha voz ficou mais baixa de repente – Você nem é...

- Mesmo assim eu me preocupo com você.

A voz do Naruto mostrava que ele havia ficado chateado com o que eu dissera sobre ele não ser o meu pai, imagino o que ele diria que eu lhe tivesse contado que ele tampouco era meu irmão.

Eu girei meu corpo para o lado caindo de volta no colchão. Fiquei de costas para ele.

- Eu quero dormir – eu disse de forma autoritária.

O colchão se levantou e eu senti Naruto colocando uma colcha sobre mim. Ele saiu do quarto, e quando a porta do quarto bateu, com muito custo, eu me levantei e fui até o banheiro.

Apoiando-me na parede, sentei-me ao lado da privada e prendendo o cabelo atrás da orelha comecei a fazer força para vomitar, eu sabia que eu não me sentiria melhor até colocar para fora tudo o que estava me fazendo mal. Surpreendentemente as lágrimas vieram antes aos meus olhos do que a bebida a minha garganta. Eu comecei a chorar como uma mulher ferida... Mais exatamente como uma bêbada.

A porta do banheiro rangeu, e eu vi Naruto entrando e se ajoelhando ao meu lado.

- Vamos para o hospital – ele disse afastando uma mecha de cabelo molhada de suor e lágrimas do meu rosto.

- Eu não vou morrer de bebedeira. Então, me deixe sozinha. Porque não vai para a casa da sua namorada e me deixa em paz!

- Eu gosto de você, Sakura.

Não dei valor aquelas palavras, para mim não faziam nenhum sentido.

- Eu também gosto de você – retribui aquilo que eu pensei que havia sido uma gentileza.

Fim do flashback

Estranhamente eu não tenho mais memórias do que aconteceu depois que eu disse que também gostava do Naruto. O álcool em meu sistema nervoso manchou aquela que poderia ter sido uma bela recordação de uma declaração feita no dia em que eu achei que havia perdido a fé de continuar vivendo.


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Notas finais do capítulo

nota da autora: Eis o grande segredo? O que acharam?

Apesar da revelação ter sido mais precoce do que eu havia planejado inicialmente, acredito que ela tenha vindo em boa hora, afinal se eu continuasse dando pistas os leitores iam descobrir e quando eu contasse não teria o mesmo impacto.

E se vcs acham que eu parei por aqui, aguardem que tem mto mais emoções. No próximo cap mtas emoções.

Afinal agora vcs entendem melhor um pco do drama da Sakura. Eu explico o resto na sequência.



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