O Nosso Segredo escrita por Angel_Nessa


Capítulo 1
CAPITULO 1: O RETORNO PARA CASA.




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Aquela era a última chamada para o vôo que ia para a França e era a terceira vez que o locutor anunciava no alto-falante. Impaciente, olhei uma décima quinta vez para o painel buscando noticias do avião que viria do Canadá e nada exceto o letreiro em laranja anunciando DELAY.

 

Resolvi verificar a hora, já eram cinco horas da tarde. Havia duas horas que eu estava em pé em meio ao saguão, olhando impacientemente para o letreiro esperando que ele marcasse que o avião havia chegado.

 

Corri o olhar pelo meu arredor e vi pessoas que passavam tão rapidamente por mim. Elas tinham pressa em chegar ao seu destino, tinham pressa em reencontrar a pessoa querida que voltara das férias, provavelmente, planejadas depois de muito tempo; tinham pressa porque não agüentavam mais ficar num mesmo lugar com o coração batendo acelerado e as mãos suando frio.

 

Para passar o tempo, eu fiquei devaneando em como seria reencontrá-lo após três anos sem vê-lo. Eu pensei nas coisas que eu diria e em como as diria, pensei nos assuntos que eu abordaria e aqueles que eu deixaria para falar apenas quando nós chegássemos a casa, e a respeito dos assuntos mais sérios e delicados, eu preferia tocar neles apenas amanhã. De tanto pensar no que ia ser dito no hoje, eu acabei pensando no que havia sido dito no ontem; comecei a me lembrar de nosso último encontro que ocorrerá no Canadá.

 

- Desembargue dos passageiros do vôo 544 vindo do Canadá no GATE 4.

 

A voz do locutor anunciando a chegada do vôo, que eu aguardava, interrompeu minhas lembranças.

 

- Droga! – eu praguejei – Eu pensei que seria num dos últimos GATES.

 

Corri uma boa extensão do aeroporto até chegar à porta de saída dos passageiros. Cheguei a tempo de ver os primeiros passageiros saindo.

 

A mulher ao meu lado que tinha os cabelos escuros e usava roupas extravagantes saiu correndo ao ver um homem calvo e baixo saindo. Ele sorriu ao mesmo tempo em que ela pulou em seu pescoço e lhe lascou um beijo na boca, a surpresa foi tanta que o homem deixou as malas  que eles carregava paralelamente ao corpo caírem no chão.

 

Desejei também poder fazer aquilo, porém esse era mais um desejo a ser reprimido. Apesar de que para mim estava tudo bem desde que eu pudesse tê-lo comigo novamente. Não me importaria em seguir reprimindo meus sentimentos desde que ele estivesse ao meu lado. É sempre mais fácil pensar desse jeito do que agir.

 

- Então você veio mesmo – escutei uma voz familiar dizer as minhas costas.

 

Apoiando-me na planta dos pés, eu girei o corpo com um sorriso bobo enorme estampado no rosto.

 

- Olá Naruto! Bem vindo de volta.

 

Não era bem isso que eu pretendia dizer, mas tampouco era essa a maneira que eu pretendia reencontrá-lo. Afinal nada nunca saí como o planejado.

 

- Oi Sakura – ele me saudou sorrindo.

 

Céus! Como ele estava lindo. Três anos sem o ver, e parecia-me agora que ele era um ator hollywoodiano. Um tipo loiro e alto de olhos claros e corpo definido pela prática de exercício; apesar das calças e da jaqueta largos de cor laranja que ele usava, era nítido que ele estava mais forte. No entanto, mesmo estando com a aparência mudada, não havia como confundi-lo porque o Naruto era simplesmente o Naruto, o garoto bobo e insuportável que era capaz de me tirar do sério apenas com a sua presença.

 

- Vamos, o carro está no parking lot.

 

- Você tá dirigindo?! – gritou ele surpreso.

 

Olhei-o com reprovação por seu surpreendimento.

 

- Por que essa cara de espanto? Eu já tenho a minha habilitação desde os 16, não se lembra é?

 

- Claro que eu lembro – retrucou ele deixando escapar um riso divertido, na certa ele havia se lembrado dos momentos de sufoco que eu passei quando estava tentando tirar a minha habilitação.

 

- Se lembra, qual foi a razão do espanto?

 

Nós seguimos andando e conversando. A minha bolsa Louis Vuitton de tão pesada que estava fazia meu corpo pender levemente para a esquerda.

 

- É que você costumava a não gostar de dirigir.

 

Eu virei a cabeça rapidamente para trás e disse num tom jocoso.

 

- Eu mudei.

 

 Vi o sorriso desaparecer do rosto dele instantaneamente, entretanto como já estávamos perto do lugar onde eu havia deixado o carro, nem parei para completar a frase ou tentar de alguma maneira desfazer o amplo sentido dela. Não de que alguma maneira fosse mentira que eu houvesse mudado nos últimos três anos.

 

Logo avistei o meu Bentley conversível prata que estava estacionado entre um Sienna preto e um Porsche amarelo.

 

- Aqui está – eu joguei minha bolsa no banco de trás do carro.

 

- Que carro legal! – comentou Naruto enquanto jogava a mala no banco de trás.

 

Ele pulou a porta e se jogou no banco do passageiro.

 

- A Ino me ajudou a escolher o carro – eu comentei antes de dar a partida.

 

Pelo retrovisor interno eu vi a mala de Naruto. Era surpreendente como Naruto podia mudar de país trazendo apenas uma mala mediana. Eu que para viajar tinha que levar no mínimo três malas grandes não conseguia entender como ele podia fazer tudo caber em uma mala média.

 

Eu dirigia rápido pela estrada que ladeava a costa oceânica. A natureza sob a luz dos últimos raios do sol nos proporcionava uma paisagem que parecia uma pintura daquelas que se vê nos museus.

 

 

O silêncio se fez presente entre nós. Tanto tempo longe um do outro, e os assuntos a serem conversados pareciam ter se resumido a um banal comentário sobre o meu carro e o fato de que agora eu dirigia mais do que antes.

 

- Você está diferente, Sakura. Está mais bonita.

 

Corei imediatamente. Olhei-o de soslaio e vi que ele estava me olhando com curiosidade. Voltei a manter minha atenção na estrada de curvas sinuosas a minha frente.

 

- É que eu fiz algumas plásticas no ano passado – eu tentei quebrar o meu constrangimento fazendo uma piada.

 

Naruto desatou a rir e eu o acompanhei nos risos, ainda que minha risada fosse um pouco forçada demais.

 

Ao chegarmos a casa, o sol já havia se posto completamente. A rua do tranqüilo bairro em eu morava estava deserta, era hora das dedicadas esposas preparem o jantar para seus maridos e também para seus filhos que até pouco brincavam na rua.

 

Estacionei o carro dentro da garagem, cuja porta automática eu havia aberto assim que posicionei as rodas do carro no driveway. Pegando a minha bolsa, eu saí do carro.

 

- Você ainda mora aqui?

 

- Esse lugar é especial. Por isso, não pretendo me mudar tão cedo.

 

 Apertei o botão do chaveiro para fechar a porta da garagem.

 

A casa que eu morava havia pertencido aos meus pais. Era um vistoso sobrado verde que ficava numa tranqüila rua residencial. Na parte superior da casa havia quatro suítes e uma escada de madeira em espiral com corrimão trabalhado a mão que dava acesso para o sótão, um lugar que, por conter caixas com lembranças de meu passado, eu pouco freqüentava. Na parte de baixo da casa ficava a enorme sala com lareira onde, na infância, a árvore de Natal gigante era montada próxima a janela enorme para que todos que por ali passagem a pudessem ver através do vidro; e ficava também a cozinha que tinha os mais variados tipos de equipamentos. Nos fundos da casa havia o jardim e a piscina.

 

Usando a porta de acesso que ficava da cozinha para a garagem eu entrei em casa. Fui direto para a sala e joguei minha bolsa sobre o sofá bege de pano que ficava em frente a lareira.

 

Corri meu olhar pela sala que estava impecavelmente organizada e limpa, tal como eu a havia deixado naquela manhã. Eu não acendi as luzes, a única fonte de iluminação da sala vinha do poste do jardim cuja luz atravessada a enorme janela e a cortina de voal bege.

 

Virei-me para trás e vi Naruto me olhando com ternura.

 

- Será que agora eu posso te abraçar? – eu perguntei meio encabulada.

 

Dando dois largos passos em minha direção, ele me prendeu em seus braços.

 

- Sakura, eu senti a sua falta.

 

As lágrimas vieram aos meus olhos e sem se deter ali por muito tempo escorreram por minhas bochechas. Afastei-me do corpo dele jogando meu corpo para trás.

 

- Eu queria tanto te ver... Estou feliz que esteja de volta – eu mal conseguia falar tamanho o nó que se formara em minha garganta.

 

Com a ponta dos dedos, Naruto começou a limpar as lágrimas que escorriam por minha bochecha direita.

 

- Caramba! Não precisa chorar!

 

Num impulso, eu colei meus lábios nos dele. Naruto correspondeu-me em meu beijo.

 

A mão direita dele escorreu por meu braço até chegar a minha mão esquerda que numa reação involuntária se abriu para que os dedos dele se encaixassem entre os meus. Senti-o apertar minha mão e o anel de pedra de diamante que eu carregava no dedo anular me machucou. Nessa hora, ao sentir o anel em meu dedo, Naruto interrompeu o beijo.

 

- Não podemos fazer isso – Naruto sempre dizia a mesma coisa.

 

- Eu sei – confessei com o coração partido – Mas isso é o que nós dois queremos.

 

Perguntei-me por que eu havia de ser a voz da emoção quando eu estava tão habituada a ser a voz da razão?

 

Com uma expressão de tristeza, ele falou aquilo que eu havia me preparado psicologicamente durante dias para escutar da boca dele.

 

- Eu estou noivo, Sakura.

 

Afastei-me dele e atravessando a sala eu fui até o interruptor para acender as luzes. Não havia mais motivos para ficar com as luzes apagadas, já não importava se os vizinhos vissem as nossas sombras na sala.

 

- Eu soube que você pediu a Hinata em casamento.

 

Notei que Naruto abaixou a cabeça e ficou olhando para a minha mão esquerda onde estava o meu anel com uma solitária de diamante.

 

-  Você está noiva do Sasuke – ele disse num tom de voz baixo.

 

 

- Não era isso que você queria? Que nos separássemos? – eu comecei a desdenhar - Afinal essa era a solução para os nossos “sentimentos confusos”.

 

 

- Nós não podemos ficar juntos, Sakura! – ele começou a falar alto e a gesticular - Se descobrirem, nós vamos ser presos e eu não quero que você vá para a cadeia.

 

O nó que havia em minha garganta se fez quando eu gritei:

 

- Duas pessoas não podem ir para a cadeia porque se amam!

 

Naruto me deu as costas e pegando a mala, que estava ao lado do sofá, caminhou em direção a escada que conduziam ao piso superior da casa.

 

- É melhor que você se case com o Sasuke.

 

As coisas não estavam sendo diferentes do que haviam sido sete anos atrás quando Naruto partiu para o Canadá. Sentindo e negando, dizendo todo o tempo um para o outro que não podemos ficar juntos, ao mesmo tempo, que nos amávamos em silêncio. E por acreditar que tudo se resolveria com a distância, Naruto decidiu aceitar a proposta de uma universidade canadense.

 

Eu fui para a cozinha preparar o jantar. Na verdade, eu fui apenas esquentar a comida e arrumar a mesa, eu havia comprado a comida pronta no supermercado pela manhã.

 

Assim que deixei tudo pronto, eu subi. A porta do quarto de Naruto estava fechada, eu bati duas vezes e me aproximando da porta chamei por ele.

 

- Naruto, Naruto...

 

Devido a falta de resposta, eu abri a porta devagarzinho e o vi deitado na cama de olhos fechados e com a barriga para cima. Sua mão direita segurava um porta-retratos que costumava a ficar sobre o criado mudo, nele havia uma foto minha e de Naruto quando éramos crianças, nós estávamos em um parque e era primavera; aquela era uma das poucas fotos de nossa infância em que eu estava ao lado dele sorrindo.

 

- Eu sei que você também me ama – eu pronunciei as palavras num sussurro.

 

Sentei-me na beirada do colchão perto da cabeceira e lhe depositei um beijo na bochecha.

 

Naruto abriu os olhos e se assustou ao ver-me ali. Ele se sentou na cama e girou o tronco para trás para me olhar.

 

- Sakura, o que faz aqui!

 

Eu ri travessa.

 

- O jantar está pronto. Você não vai me deixar jantar sozinha depois de todo o trabalho que eu tive preparando tudo.

 

Ele ergueu a mão direita e arregalou os olhos ao ver que continuava segurando o porta-retratos. Eu vi que ele ficou sem jeito ao pensar no flagra que eu havia feito.

 

- Isso caiu na cama – Naruto tentou se justificar.

 

- E caiu em sua mão enquanto você dormia? – questionei-o fazendo uma cara séria.

 

Nem mesmo ele agüentou e acabou rindo.

 

- Já passamos da idade de ficarmos escondendo o que sentimos – eu me levantei – Agora vamos jantar.

 

Eu saí do quarto e desci as escadas, quando estava no meio delas escutei o meu celular tocando. Pulei os dois últimos degraus, e abrindo o zíper lateral da minha bolsa tirei de lá o aparelho. Abri o flip e atendi.

 

- Alô.

 

- Sakura, onde você estava?

 

- Sasuke, eu contei que ia ao aeroporto buscar o Naruto.

 

- Então o seu irmão já está no país – Sasuke pareceu se alegrar com a notícia – É bom mesmo que ele comece o treino com a equipe o quanto antes.

 

- Ele acabou de chegar. Tem que ter um tempo para se adaptar novamente.

 

Sasuke se zangou.

 

- Eu sou o capitão e tenho que garantir que todos os jogadores estejam integrados. Não somos mais amadores, nós vamos disputar a Copa Stanley.

 

- Como seja! – eu retruquei sem paciência.

 

A Copa Stanley era o único assunto pelo qual o Sasuke se interessava desde que passou a ser o capitão da equipe de hockey no gelo.

 

- Eu passo aí mais tarde para saudar meu velho amigo.

 

- OK.

 

Eu afastei o celular de minha orelha e fechei o flip, ao virar para trás eu vi Naruto parado aos pés da escada.

 

- O Sasuke virá aqui hoje?

 

A expressão séria no rosto de Naruto demonstrava seu desagrado.

 

- Sim, ele disse que quer vê-lo.

 

- Eu vou sair.

 

- Aonde vai?

 

Eu sabia que Naruto não iria ver a noiva porque ela ainda não havia voltado para os Estados Unidos.

 

- Eu vou andar por aí.

 

Naruto abriu a porta da sala e saiu. Eu fui até a janela e abrindo uma parte da cortina fiquei o olhando caminhar cabisbaixo em direção a rua. Mesmo que tentasse, ele não conseguia esconder totalmente os ciúmes que sentia do Sasuke em relação a mim, e foi por isso que ele saiu sem sequer provar o jantar que eu havia preparado.

 

Eu e o Naruto não podíamos nos amar porque nós éramos irmãos. E aqui nos Estados Unidos o incesto é um crime que pode levar uma pessoa para a prisão.

 

 No entanto, eu sentia que volta de Naruto traria a tona nossos sentimentos e seria cada vez mais difícil manter O NOSSO SEGREDO.

 


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Notas finais do capítulo

nota da autora:
Introdução longa não é mesmo?
Bom, essa é a minha nova fic. Espero que gostem. Aguardo reviews para seguir.



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