Harry Potter e o Amuleto de Merlin escrita por ana_christie


Capítulo 34
A Batalha Final


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal... Chegando ao último capítulo... Uma sensação agridoce... Mas, ainda teremos um epílogo! Espero realmente que gostem, esse capítulo vem cheio de batalha, a batalha final enttre Voldie e Harry, além de muito romance também!



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A cabeça de Voldemort dava voltas e mais voltas. Ele não conseguia dirigir aquilo muito bem. Saber que agora era mortal de novo... mortal. Aquela palavra era seu maior pesadelo, a única coisa que realmente o assustara na vida era a mortalidade. Morrer antes de conseguir conquistar tudo a que tinha direito, tudo o que lhe fora negado, tendo o antepassado poderoso que tinha. Precisava destruir o Potter. Não podia correr risco algum agora que não era mais imortal. E tinha que pegar para si o Amuleto de Merlin. Agora que não tinha mais suas Horcruxes, nem poderia mais fazer outras, uma vez que sua alma fora destroçada o máximo possível, sua última chance de uma garantia de vida eterna era o Amuleto de Merlin, do qual tinha uma prova de que funcionava, como acontecera com Dumbledore.

— Desista, Voldie — disse Harry. — Você não tem a maior chance. Nada pode me atingir agora que tenho o Amuleto de Merlin.

— Realmente, você é um fraco. Da primeira vez, tinha a proteção dada por sua mãe, depois a proteção e ajuda de seus amigos, agora, a proteção do Amuleto. Quando você vai lutar por si mesmo? Quando irá equiparar seus poderes aos meus? A verdade é que sabe que minha magia é infinitamente incomparável à sua.

Aquilo atingiu um ponto sensível de Harry. Intimamente, ele já se questionara várias vezes sobre seu próprio poder, sobre sua capacidade de vencer uma batalha por seus próprios méritos, sem a ajuda de ninguém. Embora soubesse que Voldemort estava tentando conduzi-lo para uma armadilha, ele não podia evitar pensar se seria capaz de vencê-lo sem a ajuda de nada mais que suas próprias habilidades mágicas. Harry, entretanto, era extremamente consciente de que os seus amigos e o mundo da maneira como o conheciam dependiam dele, e não seria louco de cair na esparrela de Voldemort apenas por orgulho próprio.

— Isso não funciona comigo, Voldie. Acha mesmo que me desfarei do Amuleto, te dando uma chance de pegá-lo para si próprio? Não sou tolo. Bem, prepare-se! Irei derrotar você!

Harry se pôs em posição de combate, a varinha em riste. Passou a lançar feitiços e mais feitiços contra Voldemort. O bruxo, entretanto, era poderoso e rápido demais. Antes que os feitiços de Harry o alcançassem, ele conseguia sumir num rápido giro e uma nuvem de fumaça negra. E Harry tinha que se esforçar quando o bruxo se materializava de novo, pois já o fazia lançando feitiços poderosos, alguns dos quais Harry sequer ouvira falar. O Amuleto de Merlin apenas o impedia de morrer, mas não o livrava do impacto dos feitiços, que muitas vezes o jogavam longe e o faziam se machucar seriamente.

Harry, suando muito com o esforço, apertou firmemente os lábios. Daquela maneira, jamais conseguiria vencer Voldemort. Era difícil concordar com o bruxo, mas ele não tinha mesmo as habilidades necessárias para destruí-lo. Irritado, enquanto se defendia de mais um golpe lançado por Voldemort, Harry pensou nas palavras que Dumbledore sempre dizia, de que ele tinha um poder que Voldemort jamais teria, um poder mais poderoso que qualquer outro. Bem, o que o amor podia fazer por ele naquela hora? Não tinha a menor ideia.

Voldemort murmurou mais um feitiço novo para Harry:

Corpus Multiplus!

Harry teve que esfregar os olhos, incrédulo com o que viu. De repente, seis Voldemort idênticos o rodeavam. Parecia uma ilusão. Qual seria o verdadeiro Voldemort? Qual poderia atacar e de qual deveria se defender? Logo ele soube. Todos tinham a habilidade de atacá-lo! Era como se Voldemort sêxtuplos com idênticas varinhas o atingissem! Recebendo variados Bombarda, Harry caiu ajoelhado no chão, sentindo o impacto dos feitiços. O que ele não percebia era que estava sendo vítima de uma ilusão. Apenas um Voldemort o atacava, um feitiço o atingia. Aquele feitiço tinha uma dupla habilidade: confundia, escondendo a direção do verdadeiro atacante, e causava uma forte ilusão que fazia o atacado realmente sentir variados feitiços, embora não os estivesse recebendo.

Fora do círculo de luta, os amigos e aliados de Harry temiam muito por ele. Percebiam que ele estava levando a pior, pois era muito menos poderoso que Voldemort, ou ao menos não tivera acesso aos seus conhecimentos mágicos e de magia das trevas. Gina, nervosa e preocupada, tentou ir ajudá-lo, mas Rony a segurou pelos ombros.

— Não, Gina! Você não pode fazer nada! Nenhum de nós pode! Isso é entre Harry e Voldemort!

— Mas você não está vendo o que acontece?! Ele vai matá-lo!

— Não importa o que aconteça, não podemos interferir! Esse é o destino de Harry! Ou ele mata Voldemort ou é morto por ele, simples assim!

— E você diz isso com essa tranquilidade?! Que ver o Harry morto? Pensei que vocês fossem amigos!

— E somos, Gina, mais do que você pode entender, ele é mais meu irmão que meus próprios irmãos, mas temos que deixá-lo cumprir seu destino!

Gina se abraçou a Rony, chorando, escondendo o rosto para não ver Harry sofrendo. Rony, por dentro, estava muito mais preocupado do que deixara Gina notar. Temia por seu amigo, seu irmão, e sabia que não podia fazer nada. Olhou para Mione e Ana e elas lhe devolveram o olhar preocupado.

Enganado pelo ardiloso feitiço de Voldemort, Harry estava apanhando mais que cachorro vadio. Embora não morresse, por causa do poder do Amuleto de Merlin, sofria bastante, além de que o feitiço o deixava desatento em relação ao verdadeiro Voldemort, o qual sabia que, se realmente quisesse derrotar o “moleque” e voltar a ser imortal outra vez, tinha que arrancar dele o Amuleto. Com esse feitiço conseguia distraí-lo o suficiente.

De repente, uma imensa fênix vermelha e dourada, mas dessa vez real, sobrevoou o céu sobre as cabeças dos dois e de todos os outros que assistiam a luta. Começou a cantar em um gorjear intenso e belo.

— Fawkes! — exclamou Dumbledore, que não esperava que o pássaro mágico aparecesse ali.

Harry teve um sobressalto. Enquanto lutava, podia entender o som que saia do bico do pássaro como se fossem palavras. Não entendia como isso podia acontecer, já ouvira Fawkes cantar variadas vezes e jamais entendera o que ela queria dizer. Mas agora, era como se o pássaro lhe falasse claramente.

Harry, Harry... grande mago com a alma ardente das fênix, alma controladora da magia do elemento fogo e do elemento ar, não se deixe enganar pelas ilusões que o demônio do Voldemort cria... a vitória está a um passo... revele sua grande força interior...

Mesmo sem compreender o porquê de subitamente ser capaz de entender o que as fênix eram capazes de falar, ele decidiu seguir os conselhos da grande ave. Era capaz de muito mais do que imaginava, sabia disso, e não podia deixar que um espírito cheio de trevas vencesse um espírito cheio de luz. Ele concentrou-se, mantendo-se firme no lugar, e fechou os olhos, prestando atenção aos seus demais sentidos, e não ao sentido da visão, que parecia ser capaz de facilmente se enganar. Em Hogwarts, agora que Fawkes se calara, apenas se ouvia o som da luta entre ele e Voldemort. As pessoas em volta estavam caladas, mesmo que por motivos variados. Enquanto os Comensais estavam calados absortos em assistir a luta, impressionados com a capacidade de Harry de ainda estar vivo e lutando, os defensores de Hogwarts se calavam a pedido de Dumbledore, que percebera o problema de Harry e a estratégia que ele decidira usar.

Com os olhos fechados, sem ver os variados Voldemort lançando feitiços, a ilusão se desfez, ao menos para Harry. Os demais ainda eram capazes de ver os seis Voldemort atacando. Harry concentrou-se, e mesmo de olhos fechados conjurava feitiços-escudos para se defender dos feitiços que vinham, agora percebia, de apenas uma direção. Tinha que se defender, pois apesar de não poder morrer, os demais feitiços que não levavam à morte, mas machucavam, podiam contra ele, e o resultado era que seu corpo estava bastante dolorido, cheio de hematomas devido aos feitiços que o impactavam contra o chão, cortes por causa dos Sectumsempras e dores devido às Maldições Cruciatus. O rol de feitiços de Voldemort era extenso.

Ao ver Harry fechar os olhos, Voldemort pensou, equivocadamente, que ele estava baixando a guarda, que finalmente tinha caído totalmente na ilusão do Corpus Multiplus. Pensou ser a hora perfeita para arrancar o Amuleto de Merlin do pescoço do rapaz, já que, com os olhos fechados, ele nem perceberia seu movimento. E então se preparou para conseguir seu intento.

Harry concentrou-se totalmente em todos seus sentidos fora a visão, principalmente a audição e um sentido mais “cerebral”, a intuição, vista por muitos como o sexto sentido. Queria captar as vibrações de Voldemort para assim, no momento certo, poder neutralizá-lo e atacá-lo em seguida. Logo ele sentiu, claro que de maneira imprecisa, a direção em que Voldemort se encontrava. E então se preparou para conter o que quer que Voldemort lançasse contra ele e contra-atacar.

Voldemort se concentrou no Amuleto que estava sobre o peito de Harry, pendurando de seu pescoço. Lançaria um feitiço simples, que faria com que ele perdesse o Amuleto e ficasse passível de morrer ao mesmo tempo. Dirigindo-se à corrente do Amuleto, lançou um Diffindo. Preparando-se para qualquer feitiço, Harry se concentrou, à espera do golpe. Prevendo mais ou menos de onde ele viria, ele mentalizou um Protego Horribilis altamente potente, para não apenas deter, mas fazer o feitiço retornar para o feiticeiro, como o escudo conjunto forjado por ele e Ana tinha feito contra Macnair. Mentalizou bastante, reunindo toda sua vontade para fazer esse escudo, e preparou-se para o impacto.

O retorno de seu feitiço era algo que Voldemort não imaginara. Contente, ele esperou o Diffindo ir ao encontro da corrente do medalhão. Com sorte, o feitiço, além de romper a corrente, também rasgaria as roupas e carne de Harry, tornando-o mais ferido e fraco, incapaz de prosseguir com a batalha. Quando o feitiço — que era simples, mas lançado por Voldemort se tornava poderoso — atingiu o peito de Harry, Voldemort sorriu por uma fração de segundo. Entretanto, ao não ver nada acontecer, nem com o amuleto nem com Harry, ele começou a achar que algo muito estranho estava acontecendo. E isso se confirmou quando ele viu um leve clarão acontecer no peito de Harry e subitamente o feitiço ricochetear e voltar... contra ele próprio!

Isso tudo foi muito rápido, Voldemort não teve sequer tempo de se mover quando o feitiço o atingiu. Entretanto, quando o feitiço atingira o feitiço-escudo de Harry, ricocheteara sob outro ângulo, e não atingiu Voldemort no peito, mas no ombro direito. Uma súbita onda de dor o atingiu quando ele viu, abismado, os tecidos de sua túnica e capa se rasgarem e sua carne cortada profundamente. Ele deixou cair a varinha, pois seu braço direito quase explodiu de dor e ficou praticamente inutilizado. O impacto do seu próprio feitiço o fez dar uns passos para trás e cair ajoelhado. As pessoas que assistiam a batalha entre eles ficaram impressionados e um murmúrio de surpresa escapou da boca de todos, inclusive Comensais, que jamais imaginariam ver o seu Lord um dia de joelhos em frente a um bruxo tão jovem e de capacidade mágica tão inferior.

Harry não perdeu tempo. Abriu os olhos e viu o resultado de sua estratégia. Sorriu e ergueu a varinha, não querendo perder tempo e aproveitar a oportunidade. Mesmo tendo abominação por matar, mas sabendo que era o que tinha de fazer, ele gritou:

Avada Kedavra!

O jorro verde, entretanto, não atingiu Voldemort, que foi muito rápido, pegando a varinha com sua mão esquerda e levitando alguns metros. Caso tivesse permanecido no mesmo lugar por só mais alguns segundos, Voldemort estaria morto, atingido em pleno peito por uma Maldição da Morte. Harry praguejou, irritado por ter perdido a chance. Se tivesse sido apenas um pouco mais rápido... Bem, mas não era hora de se lamentar. Já fora uma vitória conseguir ferir Voldemort e escapar do feitiço ilusório dos sêxtuplos Voldemort. Temendo uma nova tentativa de Voldemort lhe arrancar o Amuleto, Harry o pôs dentro das roupas. Sob sua pele nua, ele parecia quente e acolhedor.

— Não pense que me venceu ainda, moleque atrevido. Precisa crescer muito ainda para conseguir me derrotar! Bem, chegou a hora de minha última cartada. Creio que não vai gostar dela, Potter...

Harry sentiu um súbito arrepio. Sabia, Voldemort tinha preparado algo muito perverso com último recurso. A última carta de sua manga deveria ser algo perigoso para Harry, normalmente os últimos recursos o eram. Eram planos só usados em momentos de desespero, quando não se tinha mais nada em que apostar. E Harry preparou-se mental, espiritual e fisicamente para isso.

Voldemort deu um sorriso cruel e sarcástico e olhou para um de seus abismados Comensais.

— Dolohov, traga nossos convidados especiais para a festa.

Antônio Dolohov maneou a cabeça e ergueu sua varinha. Por ela, começou a atrair algo. A princípio ninguém percebeu o que era que vinha se deslocando pelo ar, mas quando as três formas chegaram, um murmúrio perpassou todo o lugar. Eram três pessoas, que estavam erguidas no ar como se estivessem penduradas por cordas imaginárias. Estavam despertos, e olhavam para tudo com ar aterrorizado. Eram três trouxas. Eram os Dursley.

Harry gelou ao ver aquilo. Podia não ter muita afinidade com sua família, mas não queria que nada de ruim acontecesse com ela, além do que criara certa afinidade por sua tia Petúnia. Nesse momento tio Válter, tia Petúnia e Duda olhavam para tudo com verdadeiro pavor. Harry não tinha a mínima ideia de por quanto tempo eles tinham estado sequestrados, pois não entrara mais em contato com eles desde que partira de sua casa em agosto do ano passado. E Harry tinha ideia de como o ambiente em volta deles parecia mesmo terrível: mortos para todos os lados, muito sangue, lobisomens e gigantes, um castelo avariado, enfim, um ambiente de guerra. Tio Válter e Duda eram os mais assustados, pois além daquele ambiente todo, a pressão e o terror que deviam ter vivido, os dois temiam intensamente tudo o que falasse a respeito de magia.

— Minha família! Mas você é mesmo muito baixo, Voldemort!

— Bem, não posso fazer nada se conheço a fama do “Santo Potter”... — Voldemort retrucou em voz arrastada. — Sei dos seus ideais, sua honra e outras dessas besteiras que os frouxos usam para justificar suas derrotas e fraquezas. Bem, agora achegou a hora das negociações... Vamos fazer um trato... Uma troca bastante justa.

Harry apertou os olhos. Sabia muito bem que Voldemort podia ser tudo, menos justo. Tinha que se manter esperto, ativo.

— Acha que o Amuleto de Merlin vale a vida de seus parentes, Potter? Bem, meu trato é esse: você me entrega o Amuleto de Merlin e sua vida em troca da vida dos três trouxas. Troca bastante justa, um objeto e uma vida por três vidas.

Nem por um segundo Harry acreditou que Voldemort cumpriria sua parte no trato caso Harry o aceitasse, o que não era o caso. Jamais Voldemort deixaria os Dursley saírem com vida dali. Com certeza os mataria tão logo tivesse o Amuleto de Merlin e a vida de Harry em suas mãos. Jamais Voldemort cumpriria sua parte num trato, pois a palavra dele valia menos que nada.

— Sei que você vai ficar com o Amuleto e quatro vidas se eu ceder ao seu plano vil, Voldie. Acha que não te conheço? Ora, homem, nossas almas partilharam por dezesseis anos um mesmo corpo! Acha que não te conheço? Sei que os matará de qualquer maneira. Não é da sua índole cumprir acordos! Você é a traição em pessoa! Pode não ter inventado o conceito de traição, mas tenho certeza que o fez evoluir bastante!

— Bem, pelo visto me conhece bem demais... — Voldemort sibilou, suas feições e expressão ainda mais viperinas. Mantinha um sorriso cruel, sarcástico e corrompido no rosto. — Posso demorar bastante para matá-los... O que me diz do novo trato? Se não me der o Amuleto, seus parentes trouxas vão ser torturados continuamente com a Maldição Cruciatus... Duvido que os trouxas tenham a mesma resistência que muitos bruxos, como você, têm. Afinal creio que jamais sentiram dor mais excruciante na vida que as dores de uma Cruciatus bem lançada!

Harry olhou para seus tios e seu primo, que tremiam como varas verdes levitando há uns metros do chão. Ouviam todas e cada uma das palavras trocadas por eles, e o que Voldemort falava era algo realmente atemorizante para eles, Harry tinha que reconhecer. Pois eles enfrentavam o desconhecido.

Mas por mais que não quisesse que seus parentes sofressem, apesar de tudo o que já sofrera em suas mãos, havia coisas demais em jogo para Harry se deixar levar por Voldemort, para aceitar seus tratos, mesmo que tivesse a certeza que o Lord cumpriria sua parte. O futuro de toda a comunidade bruxa e as sutis linhas entre o mundo bruxo e o trouxa estavam em jogo, e com Voldemort no poder — e com o Amuleto de Merlin, que lhe daria eternidade — seria um infindável reinado de terror.

— Fique com seus tratos para você, Voldie. Há muita coisa em jogo, e você não é confiável.

— Bem, se você quer assim... Vou te dar um incentivo, garoto... Quem sabe depois de ver o sofrimento de seus parentes não muda de ideia? Crucio!

Voldemort apontara sua varinha para Válter Dursley, que na mesma hora ficou rígido e logo começou a se contorcer, em pleno ar, com a dor visceral mais potente que ele já sentira... Não, mais potente até do que podia imaginar. Seus órgãos pareciam estar sendo esmagados, um queimor percorria toda sua pele e músculos, como se estivesse dentro de um incêndio, não, era mais que tudo isso, era uma dor tão intensa que não era discernível.

— Válter! — Petúnia gritou, assustada. Olhou para Harry. — Harry, por favor, faz ele parar!

Todavia Harry estava de mãos atadas. Olhava para seu tio corcoveando de dor e sentia pena dele, pois sabia o que era receber uma Maldição Cruciatus, ainda mais a primeira vez, mas não podia fazer nada.

— Tia, me entenda! O futuro de tudo depende do que acontecer hoje à noite! Se eu... se eu me deixar dobrar por Voldemort, tudo estará perdido! Ele pretende matar vocês de qualquer maneira!

Para evitar ao menos a tortura, Harry passou a lançar feitiços e mais feitiços sobre Voldemort, mas o feitiço-escudo erguido pelo bruxo era deveras potente, nada o atravessava. Petúnia via o esforço de Harry, mas temia que ele não conseguisse ajudá-los. O pior, para ela, foi quando Voldemort deixou Válter, que estava ofegando e quase inconsciente de dor, para atacar Duda. Ela amava intensamente seu filho, e não queria que ele sofresse nada daquilo.

— Duda! Oh, maldito, deixe meu filho em paz! Me ataque, me mate, faça o que quiser comigo, mas libere meu filho!

As lágrimas escorriam abundantes por suas faces, e ela se deplorava, mais uma vez se odiando por ter nascido um aborto, como toda sua família, exceto Lílian. Se tivesse um pouco de magia... Um mínimo que fosse, que a ajudasse a liberar Duda daquele sofrimento e deixar Voldemort vulnerável a um dos ataques que Harry lançava...

Ela não soube precisar realmente o que sentiu, mas alguma coisa, uma espécie de força, de energia muito intensa prorrompeu de seu corpo. Era como se ela estivesse sendo percorrida por poderosas ondas elétricas sobre as quais não tinha qualquer controle. A única coisa que soube foi que uma onda iridescente, brilhante saiu de seu corpo violentamente, “quebrando” a espécie de escudo que protegia o corpo de Voldemort e o atingindo em pleno peito. O bruxo foi jogado para trás e não pôde continuar com a tortura, pois sua concentração ao lançar a Maldição Cruciatus foi rompida. A energia que emanava do corpo de Petúnia se expandiu, tocando todos, inclusive quem apenas assistia ao combate entre Harry e Voldemort, mas já não tinha o mesmo ímpeto de quando irrompeu contra o Lord e o deteve. Apenas aqueceu as pessoas, e todas reconheceram o que ela era: pura magia. Magia totalmente reconhecível como a usada por marinheiros de primeira viagem. Todos percebiam isso por já terem tido sua iniciação em magia, quase sempre acontecida de surpresa e sem qualquer espécie de controle, como parecia ser o que aconteceu com Petúnia.

A magia de iniciante de Petúnia também rompeu com o feitiço de levitação que Dolohov mantinha sobre ela, Válter e Duda, e os três caíram no chão. Como tinham estado há apenas quatro metros do solo, além de o chão ser de terra fofa, eles não se machucaram ao cair, sentiram apenas leves dores, e para Válter e Duda, que tinham sido iniciados no horror da Maldição Cruciatus, jamais a palavra dor teria o mesmo significado de antes. Com uma mescla de pavor e fascínio, ambos olhavam para Petúnia, que ainda estava envolta por uma suave aura iridescente. Estavam abismados, pois agora estava claro para todos que Petúnia não era uma trouxa, como todos supunham. E Harry sabia que, muito menos, um aborto. Ela era...

— Tia Petúnia, a senhora é uma bruxa! A magia demorou a ser despertada, mas antes tarde do que nunca! Rony, Hermione, Ana, cuidem deles, protejam eles! Tenho que continuar com o Voldie aqui!

Enquanto Rony, Hermione e Ana corriam a fazer o que Harry lhes pedira, Harry se voltou para Voldemort, que nesse momento se levantava lentamente, recuperando-se do impacto que sofrera com a magia de Petúnia.

— Bem, Voldie, agora é apenas entre nós... Apenas o meu poder, minha magia, contra a sua. Como você mesmo disse, seus recursos se esgotaram. Agora não tem mais cartas nas mangas. Como se sente sabendo disso?

— Se enxerga, garoto! Você ainda vai ter muito que crescer e aprender para poder se equiparar a mim! Eu sou o Lord Negro, atualmente o bruxo mais poderoso do mundo! Se não fosse o Amuleto de Merlin, você já não estaria vivo!

E Harry percebeu que o que Voldemort falava era verdade. Ele ainda não se provara realmente, e não queria ficar eternamente sem a certeza de que derrotara Voldemort por seus próprios méritos ou fora apenas a imensa quantidade de ajuda que recebera, principalmente do Amuleto, que liquidara o monstro. Por uma única vez, ele queria se provar. Sentia que era o certo a fazer, e não apenas por orgulho. No mais íntimo do seu ser, uma certeza estava nascendo, vinda de dentro de sua alma, ao perceber que mesmo com o Amuleto ele combatia e nunca conseguia vencer: para realmente vencer Voldemort, para evitar de maneira total que ele ainda fosse uma ameaça, mesmo morto, ele tinha que matar o bruxo sem o auxílio do Amuleto. Tinha que vencer por seus próprios méritos.

Mantendo em torno de si um forte Feitiço-escudo, pois achava que Voldemort era covarde e perverso demais para atacar pelas costas, Harry se voltou para Ana, que estava na fila da frente de expectadores do combate, tendo acabado de auxiliar, junto a Hermione e Rony, os Dursley. Caminhou até ela, conjurou um forte Feitiço-escudo Horribilis para ela e, tirando o Amuleto de seu pescoço, estendeu-lhe, dizendo:

— Tome conta dele, Ana. Muito obrigada por ter me oferecido com tão boa vontade sua posse mais preciosa.

Ela estava tão abismada que só fez segurar o Amuleto fortemente e não conseguiu falar nada. Voldemort até tentou usar aquele momento vulnerável, em que o Amuleto não estava sendo usado, para lançar um feitiço e tentar pegá-lo, mas o feitiço de Harry, que estava ficando cada vez mais poderoso, neutralizou-o. Rapidamente Ana o pôs no pescoço, para assim deixá-lo protegido por meio da própria magia dele, novamente ativada. Quando Harry se voltou para Voldemort e caminhou até onde o bruxo estava, no centro da clareira de pessoas, todos viram o Amuleto no pescoço de Ana e murmúrios e gritos perpassaram todos.

— Não, Harry, você quer se matar?! — gritaram Hermione e Rony ao mesmo tempo.

— Isso é loucura, Harry! — gritou Gina, seus olhos já começando a se encherem de lágrimas. — Por mim, volte e pegue o Amuleto!

Ele não deu ouvido aos pedidos de um monte de gente. Ficou apenas olhando para Voldemort, que acabava de se recuperar da surpresa e agora gargalhava sinistramente.

— Seu tolo! Perdeu a única chance que tinha de me matar! Confesso, eu estava com dúvidas, sentia certo receio, mas agora estou totalmente confiante!

Pálida, Minerva segurou fortemente o antebraço de Dumbledore e murmurou:

— Alvo, isso não é perigoso demais? Que chance o nosso Harry tem contra o poder e crueldade de Voldemort, sem o Amuleto de Merlin? Não acha que deve intervir e forçá-lo a retomar o Amuleto?

— Não, Minerva, ninguém deve intervir. Ele deve lutar essa batalha apenas com suas próprias habilidades, e percebeu isso. O uso do Amuleto, apesar de proteger seu corpo físico da morte, deixa-o confiante demais, pois sabe que jamais morrerá por feitiços ou armas enquanto o estiver usando. O Amuleto o ajuda apenas até certo ponto; agora, o atrapalha. Ele apenas conseguirá vencer Voldemort se estiver totalmente concentrado em sua magia, suas habilidades, seus instintos de sobrevivência. Vamos ver como ele se sai, e rezarmos para que tudo dê certo.

Voldemort já começou lançando um Avada Kedavra em Harry, que se desviou por pouco, jogando-se no chão. Então o bruxo se voltou para seus Comensais; ainda havia muitos ali, uma quantidade que ainda superava a dos defensores de Hogwarts, apesar da enorme baixa que as tropas de Voldemort tinham sofrido. Para cada morto e ferido entre os defensores, cerca de quinze bruxos das trevas tinham perdido suas vidas ou ficado feridos, o que provava que os defensores tinham mais qualidade e os Comensais, mais quantidade.

— O que estão esperando para voltarem à luta, seus imprestáveis?! A guerra ainda não acabou! Quero ver cada um desses traidores do atual Ministério morto ou sofrendo horrores, principalmente os bastardos da Ordem da Fênix! Vamos, lutem, vadios!

As palavras de Voldemort mexeram com os brios dos Comensais, que se voltaram sedentos de sangue para os bruxos que antes tinham combatido, suas varinhas em riste. Logo a batalha começou novamente em torno do círculo onde Harry e Voldemort combatiam. O ar voltou a se encher com os sons próprios das batalhas: feitiços, gritos e gemidos de dor, praguejos e palavrões, sons de golpes e de corpos de movendo. Mas Nenhum dos combatentes se atrevia a chegar perto de onde Harry e Voldemort combatiam; era como se eles ainda estivessem na clareira de pessoas de antes, um círculo quase tão perfeito que parecia ter em volta uma cerca, uma divisória que os separava dos demais combates. Aquela era uma luta particular.

A luta agora entre Voldemort e Harry era até meio desleal. A sorte de Harry era a agilidade e velocidade que adquirira com o treino de quadribol. Mais do que atacar, ele se defendia e se esquivava dos poderosos feitiços de Voldemort. Estava mais machucado pelas vezes que se jogara ao chão que pelos feitiços propriamente. Tinha que ser capaz de atacar e não apenas se defender, ou atacar e se defender ao mesmo tempo, como Voldemort tão bem fazia, mas ainda não tinha essa habilidade. Seus feitiços-escudos não eram tão poderosos que pudessem deter Maldições Imperdoáveis ou feitiços ainda piores como o até pouco tempo desconhecido Exterminius, que devia ser a Maldição Suprema, e não a Maldição da Morte, como todos pensavam até o momento. Tinha que usar alguma tática para ao menos acertar Voldemort de verdade, e não apenas seu escudo. Na verdade na maioria das vezes nem seu escudo conseguia acertar, mais preocupado em salvar o próprio pescoço. Talvez se usasse a mesma técnica que usava para se defender... Agilidade e velocidade, senso de evasão...

Sim, ia tentar isso, ia tentar se defender e atacar ao mesmo tempo. Quando Voldemort passou a atingi-lo com vários feitiços, um atrás do outro, Harry começou a gingar o corpo numa agilidade incrível, indo para um lado e para o outro, não sendo atingido pelos feitiços por questão de meros centímetros. Mas não ficou parado, apenas se esquivando dos feitiços, como tinha feito antes. Passou a se movimentar também para a frente, avançando ao mesmo tempo em que se defendia dos feitiços lançados contra ele. Chegou perto de Voldemort, que não se preocupou em fazer um feitiço-escudo por estar lançando feitiços seguidos em Harry, e tentou matá-lo:

Avada Kedavra!

No último instante, entretanto, quando o feitiço estava prestes a tocá-lo, Voldemort deu um giro e se desvaneceu em pleno ar. Logo Harry deu a volta, para não deixar as costas expostas ao inimigo. Na sua frente, há uns metros, Voldemort reapareceu. Aquilo não podia ser aparatação, pois nos terrenos de Hogwarts aquilo não funcionava... A não ser que, com os constantes ataques ao castelo, a magia contra aparatação tinha sido rompida! Harry decidiu tirar a prova. Quando Voldemort tentou mais uma vez atingi-lo, tentou aparatar... E conseguiu! Aparatou atrás do bruxo. Talvez sob os sucessivos ataques e a quantidade de magias diferentes, principalmente magia negra, que assolaram a propriedade, ele perdera suas proteções. Pelo menos aquilo era um pouco de defesa.

Enquanto isso, em volta deles, o combate entre defensores e Comensais recrudescia. Lutavam de maneira cada vez mais sangrenta. Cada vez mais os princípios iam sendo esquecidos, todos só pensando na vitória, e da maneira mais rápida possível. A qualidade dos defensores não estava superando a quantidade de Comensais, eles pareciam as cabeças da lendária Hidra de Lerna da mitologia grega, o monstro cujas cabeças renasciam ao serem cortadas. Era incrível, mas quanto mais eles morriam, mais surgiam. Lentamente o combate estava ficando mais difícil de ser vencido ou ao menos controlado pelos defensores. De repente, uma flecha de madeira riscou o céu e desceu como um corisco, cravando-se no peito de Dolohov, que estava prestes a matar Moody, já tendo arrancado, com um feitiço, a perna postiça de madeira do bruxo. Moody, surpreso, olhou bem a flecha. A reconhecia. Era uma flecha centáurea. Ele olhou para a Floresta Proibida ao longe e logo divisou formas saindo de dentro dela. Logo todos notaram o que era: um bando de centauros galopava em direção ao combate, soltando gritos de guerra, suas alijavas a tira-colo e arco-e-flechas nas mãos. Eles chegaram aos Comensais com verdadeira fúria, tanto lhes lançando flechas quanto lhes dando poderosos coices com patas traseiras e dianteiras. Dois centauros chegaram perto de Hagrid, que no momento segurava em cada mão um Comensal pelo pescoço e esmagava seus crânios os batendo um contra o outro. Um dos centauros era inteiramente negro, o outro, tinha pelagem castanho-avermelhada e cabelos e barbas ruivos.

— Agouro, Ronan! — os cumprimentou Hagrid, com ar contente. — Vocês, centauros, decidiram entrar na briga?

— Sim, os planetas e estrelas estavam favoráveis à nossa intervenção... — disse Ronan de maneira desligada, embora não estivesse tão desligado assim, pela forma como se virou rapidamente para trás e lançou uma flecha contra o peito de um Comensal que tinha a varinha apontada para a nuca de um garoto que lutava contra outro. — Covarde...

— Normalmente não nos metemos nas guerras dos humanos, mas essa guerra não vai influenciar apenas os humanos... Creio que todas as demais espécies de seres mágicos vão sofrer nas mãos dos que acham que somos inferiores — disse Agouro.

Um centauro solitário saiu da Floresta Proibida também. Era uma mistura de cavalo Palomino — cuja pelagem era sempre dourada — com homem loiro. Também vinha galopando e atingindo Comensais a torto e a direito.

— Olha lá quem vem! — disse Hagrid. — Firenze! Esteve vagando pela floresta esse ano, banido do seu bando e expulso de Hogwarts por Aleto Carrow. Creio que nessas horas vocês devem esquecer as diferenças que têm com ele, não? Afinal, ele foi banido pela mesma coisa que vocês estão fazendo agora: ajudar os humanos, se manter em contato com eles.

Agouro e Ronan se olharam, sem saber o que fazer, mas logo tomaram uma decisão e partiram até Firenze, dando-lhe as boas-vindas e o chamando para lutar ao lado deles. Hagrid sorriu, enquanto ia atrás de mais Comensais, principalmente os que estavam agindo com covardia. Sentira bastante pena de Firenze enquanto o via solitário na Floresta Proibida durante esse ano. Logo Hagrid sorriu ainda mais. Pelo visto seu irmão estava querendo ajudar de novo. Groupe estava pegando vários Comensais nas mãos, e brincava com eles como se fossem bonecos, mas bonecos muito maltratados: arrancava pernas, braços e cabeças... Quebrava costas... Batia cabeças umas nas outras de maneira a abrir rombos nos crânios... Bom, era mesmo isso o que os Comensais mereciam, ah se era!

A ajuda não ficou apenas com os centauros, não. Uma ajuda ainda mais inesperada surgiu através dos portões escancarados da propriedade de Hogwarts. Vindos da direção de Hogsmead, muitas pessoas vinham correndo ou andando depressa, nas mãos suas varinhas, pedaços de pau, foices, pás e tochas. Finalmente o pessoal do povoado tinha se dado conta que a batalha que acontecia era algo a favor de todos os bruxos de boa índole, e ajuda nunca era demais. Quando, além da qualidade que já tinham, a quantidade se uniu às tropas de Hogwarts, os grupos dos Comensais começaram drasticamente a minguarem, combatidos por variadas espécies e frentes de batalha. Agora era só uma questão de tempo.

Harry e Voldemort continuavam combatendo, praticamente alheios ao que acontecia ao seu redor. De repente, ambos lançaram ao mesmo tempo Avada Kedavra, feitiços que colidiram. Os dois jorros de feitiços se bateram de frente, e novamente a conexão que uma vez já tinha acontecido entre suas varinhas irmãs aconteceu. Ambos perceberam isso quando as varinhas se conectaram de uma maneira que pareciam unidas pelos feitiços, embora agora não fossem mais verdes, um fio de luz dourada as unia. As varinhas em suas mãos começaram a vibrar e sacudir, e ambos sabiam muito bem o que aconteceria, já tendo passado por aquilo antes... Mas não podiam deter, da mesma maneira que não tinham conseguido da outra vez. As varinhas estavam definitivamente unidas, e as mãos deles, unidas a elas. Eles foram levitando no ar e o fio dourado que ligava Harry e Voldemort se fragmentou: embora as varinhas continuassem ligadas, mil outros fios brotaram e formaram um arco sobre os dois, e foram se entrecruzando a toda volta, até encerrá-los em uma teia dourada como uma redoma, uma gaiola de luz que tornava o som do exterior abafado. Era algo estranho ficarem quase em silêncio quando há poucos minutos seus ouvidos estavam saturados com os sons de uma batalha.

Entretanto um som acabou com o silêncio. Era o canto lindo e doce de uma fênix, que saia da fina teia de luz da gaiola em torno deles! E não só dela: o som se misturava a um que vinha de fora, mais fraco: o canto de Fawkes. E Harry entendia todas e cada uma das notas da música como se fossem palavras. Elas lhe falavam de esperança, força de vontade e o incitavam a manter a ligação entre as varinhas. Foi aí que Harry se lembrou: já entendera o canto da Fênix uma vez! Quando a união entre as varinhas dele e de Voldemort tinha acontecido na outra vez, o canto da fênix lhe dissera a frase “Não rompa a ligação”. Logo as grandes contas de luz passaram a deslizar pelo fio de luz que unia as varinhas, e Harry se concentrou logo para que elas não viessem para seu lado, mas para irem para o lado de Voldemort, pois sabia que aquela seria uma chance única. Quando acontecesse o Priori Incantatem, as imagens dos feitiços feitos pela varinha de Voldemort encobririam tudo por um tempo, de maneira a deixar Voldemort meio “cego” e ele poderia atacar com toda sua força.

Do lado de fora, a maioria dos Comensais ou estava morto, ou muito ferido, ou tinha se rendido. As demais pessoas olhavam abismadas para o que tinha acontecido entre Harry e Voldemort. A maioria não sabia o que acontecera da outra vez. Dumbledore sorriu:

— Sim... Priori Incantatem... É assim que Harry vai vencer Voldemort, e dessa vez sem a ajuda de ninguém, apenas dele mesmo e sua varinha... Varinha gêmea a de Voldemort... Varinha destinada a matá-lo, justamente por causa da Profecia... Ao atingir Harry, Voldemort lhe propiciou ao mesmo tempo a arma que poderia matá-lo...

Voldemort, também sabendo o que estava prestes a acontecer, tentou com toda sua força forçar as contas de luz de sua varinha para a de Harry, mas o garoto tinha uma tenacidade que qualquer um podia invejar. Temeroso, Voldemort viu as contas de luz cada vez mais perto de sua varinha, que cada vez vibrava e esquentava mais, e ele não poderia contê-la por muito mais tempo.

Logo gritos de dor irromperam da varinha de Voldemort quando finalmente as contas de luz provindas de Harry fizeram contato com a ponta de sua varinha e dela começou a sair as imagens dos feitiços que lançara contra Harry. Essas imagens foram enchendo o espaço do interior da gaiola. Harry sabia que a qualquer momento Voldemort não conseguiria mais conter sua varinha, que vibrava mais que um vibrador, e dessa vez Harry não fugiria, como fizera da outra vez. Dessa vez tinha que encontrar uma maneira de matá-lo. E enquanto Voldemort tentava manter sua varinha estável, com medo do que pudesse acontecer quando a soltasse, Harry decidiu se concentrar, reunir todas as energias que tinha para dar a Voldemort um golpe decisivo. Harry fechou os olhos e se concentrou em seu interior, em sua alma, que flamejava como uma luminária brilhante. Ele sabia, e particularmente desde o Patrono incrível que tinha conjurado inconscientemente poucas horas atrás, que tinha um grande e ardente fogo interior, em sua alma, e tinha uma fonte inesgotável, pura e forte de magia inexplorada e potente à sua disposição. Só tinha que deixar essa magia fluir. Harry, apesar do medo, concentrou-se em seu interior e deixou sua mente, tão aberta a influências — como soubera desde a vez em que fora resgatar Sirius de dentro do véu — captar toda a magia e poder ao seu redor e do seu interior. O canto da fênix em sua mente aberta parecia ainda mais majestoso, belo e potente, enchendo-o de um contentamento, uma espécie de fogo mágico incrível que o fazia pensar que tinha, dentro do peito, uma fogueira indolor. Apesar de Harry não saber, isso que ele sentia era a Magia Elemental que todas as almas e corpos tinham, magia que provinha da união primordial entre todas as coisas do Universo, que vinha do Uno que era a união de todas as coisas díspares existentes, um Uno que era uma reunião dos elementos. E o fogo era o seu elemento principal. Enquanto a terra era a magia criadora, a água, a magia unificadora, o ar, a magia homogeneizadora, o fogo era a magia do amor e de tudo o que fosse vibrante, explosivo. O fogo era o elemento responsável pelos demais elementos, era o que “movia o mundo”, por assim dizer. E era do fogo interior de Harry que vinha sua poderosa Magia Elemental, agora.

De repente Voldemort não pode mais conter sua varinha vibrante, que com uma vibração mais forte rompeu o contato com a de Harry, o fio de magia entre elas arrebentando. Os feitiços regurgitados pelo Priori Incantatem deixavam Voldemort meio cego, ele via Harry de uma maneira meio indistinta. Tentou acertá-lo com outro feitiço, mas errou seu corpo por vários metros.

Harry concentrou sua magia o máximo que pode, sua expressão tensa parecia falar de fogo, paixão e luz. Então ele abriu os olhos, e isso foi tudo o que Voldemort pode ver de maneira clara em seu rosto: eles brilhavam sobrenaturalmente, era como se chamas vermelhas e douradas saíssem de dentro deles. Harry gritou, estendendo as mãos na direção de Voldemort e desejando ardentemente poder atingi-lo e acabar com toda aquela guerra, trazer, assim, paz ao mundo. Não formulou feitiço algum; a Magia Elemental estava acima disso. Uma explosão intensa aconteceu, e uma rajada imensa e potente de magia e luz em todos os matizes do vermelho, laranja, amarelo, rosa e dourado saiu das mãos de Harry, que era como um lançador de feixes de nêutrons. Quando a energia atingiu Voldemort, uma explosão ainda maior se fez, rompendo de vez a gaiola dourada, que já vinha se desmanchando desde que as varinhas tinham perdido o contato. A magia intensa e brilhante ergueu Voldemort em um orbe de luz e calor há vários metros de altura.

Enquanto isso, Harry parecia explodir em luz e calor. Ele fechou os olhos, cerrou os punhos, seu corpo inteiro estava retesado, e ele urrou. Seu corpo se esticou inteiro, suas roupas se rasgaram e ele se transformou numa imensa fênix dourada e de fogo, que sobrevoou rapidamente toda a zona acima do orbe de fogo que queimava no céu, enquanto gritava num som magnífico e melódico típico das fênix. Então, ainda em pleno ar, ele voltou ao seu corpo normal. Abriu seus olhos e eles resplandeciam numa quente luz e cor. Harry sentia-se poderoso demais, como jamais se sentira em toda sua vida. Atraiu roupas de um Comensal qualquer morto no chão e com um simples movimento da mão, elas já cobriam seu corpo nu. Todos estavam fascinados com o que tinha acontecido, com o orbe de fogo que era Voldemort e com a transformação sensacional de Harry.

Harry desceu ao chão devagar, como se a gravidade não estivesse agindo com sua força total sobre ele, e era porque ele ainda estava magnetizado com a magia ultra-potente que tinha produzido. Ergueu os olhos para o céu e ficou olhando, tenso, como todos, o orbe de energia que vibrava lá em cima. Esse orbe estava carregado e era percorrido por vários e tensos raios de energia eletromagnética, era como se o orbe se expandisse e contraísse constantemente, como se estivesse prestes a se romper. E foi o que aconteceu. De repente o orbe, com Voldemort dentro, que era claramente visto por todos, dado que o orbe era meio translúcido, explodiu como uma bomba de meio quiloton, o poder de uma bomba atômica antiga, mas sem a capacidade destrutiva e a radiação da mesma. O corpo de Voldemort foi pulverizado e descargas de luz mais claras que a luz do sol percorreram o céu por quilômetros, iluminando tudo como se fosse pleno meio-dia nos trópicos, ou ainda mais intenso que isso. Todos que assistiam tiveram que fechar os olhos, não que fossem ficar cegos caso olhassem, mas por instinto, pois era uma luz que encandeava. Em poucos segundos, entretanto, a luz de súbito se apagou e as sombras da noite voltaram a cair sobre Hogwarts. Parecia agora ainda mais escuro que antes, por causa das pupilas encandeadas de todos.

Logo, porém, tudo voltou ao normal. Todos olharam em volta, uns para os outros, o chão, o céu, o castelo, ainda meio atordoados e querendo confirmar se realmente tudo tinha acabado. A sensação que todos sentiam, inclusive os Comensais, era de que tudo não passara de um sonho ou de uma ilusão coletiva, porque o que tinham visto havia sido algo único, jamais presenciado por ninguém. Todavia aos poucos a verdade foi sendo assimilada: Voldemort estava morto. Total e irremediavelmente arruinado, virado pó. Tinham vencido a guerra. Um rugido foi crescendo aos poucos entres as pessoas, tomando cada vez mais proporções até que era alto e potente. Era um rugido que vinha de toda a massa de pessoas que estavam nos arredores do castelo, e também pelos feridos, que vinham saindo do castelo apoiados por Snape, Slughorn, Madame Pomfrey e os alunos que serviram como enfermeiros voluntários.

No meio daquela gritaria de alegria pela vitória, Harry caiu de joelhos no chão. Estava extremamente cansado, seu feito tinha acabado com suas energias. Mas não era só isso. Estava também aturdido. Tudo parecia surreal. Não conseguia acreditar que finalmente ele matara Voldemort, e por seus próprios méritos. Exclusivamente sozinho, sem o apoio de Rony, Hermione, Ana, Dumbledore, o Amuleto de Merlin e quem sabe mais o quê ou quem sempre o ajudara em todas as vezes anteriores.

Logo as pessoas lembraram-se de Harry, após passar a comoção causada pelo senso de vitória, o júbilo que todos sentiam com a morte de Voldemort e o fim da pior ameaça para o mundo bruxo desde Grindelwald. Na verdade Voldemort fora inclusive mais perigoso e difícil de matar que o bruxo do continente europeu vencido por Dumbledore. Os primeiros a se lembrarem de Harry e correrem até ele, como não podia deixar de ser, foram Hermione, Rony, Ana e Gina. A garota se ajoelhara ante ele, os olhos castanhos cheios de lágrimas, e lhe dera uma esplêndida bofetada no rosto que jogou a cabeça de Harry para um lado, deixou uma marca vermelha em sua face e o fez ver estrelas.

— Isso é por ter me apavorado tanto! — ela rosnou para logo em seguida abraçá-lo e beijá-lo com furor e desejo selvagens. Harry estava tão cansado e intumescido que apenas aceitou passivamente tanto o tapa quanto o beijo, sorrindo debilmente para a garota de sua vida.

Os demais abraçaram Harry com força também e o que se seguiu foi uma sequência que parecia não ter fim de felicitações, agradecimentos e abraços que o deixaram ainda mais grogue, mas muito feliz. Hagrid pegou Harry e, após o abraço de quebrar costelas usual, plantou o rapaz em seus ombros largos e maciços e o levou para castelo de Hogwarts, sendo rodeado e seguido por todos, como se fosse uma procissão. Pendurados no ar, iam sendo levados os Comensais que ainda viviam. Iam ser presos e quando tudo se ajeitasse, seriam julgados.

No castelo, os elfos domésticos, que ao saberem da vitória tinham corrido para fazer o mais rápido e farto banquete de que Hogwarts tinha história, esperavam-nos com o Salão Principal totalmente modificado, livres dos corpos e sangue oriundos da batalha, as cinco mesas em seus lugares já com algumas guloseimas e bebidas preparadas às pressas. No centro da mesa dos professores, havia um caldeirão de poção vitalizante preparada previamente por Slughorn. Todos se serviram dela, inclusive Harry, que foi forçado a ingerir vários copos, por causa da maneira em que ele se encontrava: exausto, fraco, dolorido e sonolento, incapaz, portanto, de comemorar a vitória, o que era inconcebível, ainda mais que relativamente poucos dos defensores de Hogwarts tinham perdido suas vidas naquela guerra. Havia apenas motivos para se comemorar. E o choro pelos mortos vinha misturado com o senso de orgulho pelas suas mortes honrosas. Havia muitos feridos, também, mas prontamente estavam sendo atendidos não só pelos voluntários da enfermaria, mas por todos os outros que pudessem ajudar, de maneira a curar as pessoas o mais rápido possível. Afinal, tinham que comemorar a vitória, e somente os muito feridos permaneceriam dentro das enfermarias improvisadas nas masmorras, e à força, pois a vontade de celebrar ardia no peito de todos.

Quando o verdadeiro banquete subiu das cozinhas direto para as mesas do Salão Principal, foi uma festa. Os alunos de Sonserina foram liberados, já que não tinha mais motivo para mantê-los presos, e foi uma surpresa perceber que boa parte deles estava contente com a vitória de Harry. Muitos alunos só agiram de maneira má durante o ano por medo de represálias dos Irmãos Carrow, pois se eles eram cruéis com os alunos de outras casas, com quem achassem que fosse “traidor” seriam dez vezes mais. Hogwarts, essa noite, tinha perdido a ajuda de um bom número de soldados.

As pessoas estavam sentadas às mesas, no chão, em todos os lugares possíveis, e dessa vez não havia as mesas de Grifinória, Sonserina, Lufa-Lufa e Corvinal. As mesas estavam ocupadas aleatoriamente com representantes de todas as casas, tanto os que ainda estavam em Hogwarts quanto os que já tinham terminado a escola, e se sentavam misturados, pela primeira vez agindo como se no castelo de Hogwarts realmente houvesse união. Aquela noite, apesar de atribulada e muito difícil e dolorosa para muitos, seria inesquecível não só por ser a noite da vitória contra o mal, mas também por ser a noite em que todos viram que a união era a única coisa que os levaria para o futuro. Foi a união de pessoas de diferentes casas, diferentes ideais, diferentes idades e profissões, que os levou à vitória. E também a união com outros seres e animais mágicos.

Os gêmeos pegaram cada um num braço de Harry e o ergueram no ar, para que ele não se soltasse. O levaram para a o tablado onde ficava a mesa dos professores e o colocaram lá, mantendo-se ao seu lado para não fugir. Logo começaram a gritar, no que foram acompanhados pelo Salão Principal em peso:

— Discurso! Discurso!

Na mesma hora o rosto de Harry avermelhou e ele tentou se libertar a qualquer custo, mas os gêmeos eram muito fortes, não era à toa que tinham sido por tantos anos batedores do time de quadribol da Grifinória.

— Pessoal... Eu não quero falar... Eu não sou bom com as palavras... Por favor...

— Você tem que falar, Harry, se não fosse você, a gente não teria vencido! Você foi o responsável pela vitória contra Voldemort!

Harry franziu as sobrancelhas, pois uma boa parte do salão parecia aceitar as palavras de Lino Jordan.

— Não, Lino, você está completamente errado! Por causa de uma Profecia idiota, eu fui o escolhido para matar Voldemort, mas a vitória contra ele foi muito mais do que matá-lo! Para começar, eu não teria sequer chegado vivo até aqui se não fosse a interferência de um monte de gente em minha vida, que me ajudou bastante. E hoje, todos lutaram unidos, houve tantos sacrifícios para que tudo culminasse na morte de Voldemort... Não sou apenas eu quem merece elogios, glórias, honras... Cada um de vocês, que lutaram, arriscando suas vidas, matando e ferindo Comensais, coisas tão abomináveis, merece, pois se não fossem vocês, eu não teria conseguido sequer chegar até Voldemort. Ora, pessoal, não vamos tapar o sol com a peneira... Por várias vezes essa noite nós quase perdemos a batalha! Não tivemos as mesmas estratégias de Voldemort, que chegou aqui cheio de planos e aliados. Nossa sorte foi nosso preparo, apesar de Voldemort ter muitos aliados, a maioria não era bem treinada. Muito mais que eu, merecem elogios por seus esforços Gina, Neville e Luna, e todo o pessoal da AD, que treinaram tanto para chegar ao dia de hoje preparados. O pessoal da Ordem, que treinou e se envolveu tanto com táticas dispersivas, treinamento e ataques-surpresa às forças de Voldemort...

Harry olhou com amor para Gina, e recebeu dos seus amigos vaias amigáveis. Ele continuou:

— Hoje, se não fosse o auxílio de Lupin com seus lobisomens — Harry olhou sorrindo para seu amigo e os lobisomens, ainda nesse estado, pois o efeito da poção não tinha passado ainda — de Hagrid e os gigantes que ele trouxe e Carlinhos e seus colegas com os dragões, a gente estaria literalmente f***.

A palavra de Harry provocou uma parada de respiração em algumas pessoas, principalmente a professora McGonagall, que parecia estar prestes a ter um ataque apopléctico, mas também fez muita gente rir, o que deixou o ambiente mais alegre e descontraído. Precisavam daquilo. O trauma da batalha, das mortes, do instinto de sobrevivência liberado essa noite ainda ia afetar muito as vidas de todos.

— Bem, pessoal, não tenho mais nada a dizer, se alguém tem, fale, só quero agora me convencer de que o pesadelo acabou.

Ele saiu do tablado e seus olhos bateram nos Dursley, que estavam encolhidos perto de uma parede. Válter e Duda olhavam para tudo com muito medo nos olhos, pareciam traumatizados com tudo o que tinham passado, e isso era normal, dadas as torturas e traumas que tinham vivido. Harry notou que evitavam olhar para Petúnia, que parecia ao mesmo tempo desolada com o medo de seu marido e de seu filho e fascinada com a recém descoberta de que era uma bruxa. Aproximou-se deles. Válter e Duda o olharam com pânico, mas Harry sequer olhou em sua direção; ele se abaixou ao lado da tia. Olhou-a com ternura.

— Como você está se sentindo, tia? Sei que foram emoções demais, descobertas demais... Deve estar muito nervosa, incerta... Porque sabe que daqui para frente nada mais será igual, né?

Ela o olhou sabiamente, um sorriso enigmático no rosto.

— Sim, Harry, eu sei... Estou bem, não se preocupe... Foi uma surpresa e uma alegria muito grande saber que, mesmo tardiamente, eu sou uma bruxa... Que não fui a única das irmãs que seguiu a triste condição de ser um aborto. Entretanto seu tio e seu primo não querem mais saber de mim perto deles. Estão com medo de mim. O engraçado é que eu mudei bastante esse ano, desde que tivemos aquela conversa, e acho que foi para melhor... Me tornei mesmo uma pessoa melhor, e penso que eu e Válter não temos mesmo mais nada em comum, e não foi hoje que ambos percebemos isso.

Harry olhou para a tia, analisando-a criticamente. Realmente ela mudara muito. Não só parecia uma pessoa muito melhor, mais amável, mais simpática e até mais bonita. Não estava mais tão ossuda, tanto que seu rosto não parecia mais tão “equino”. Parecia muito mais jovem... Talvez a amargura, inveja e influência de Válter foram o que a tinham deixado antipática, mesquinha e até cruel.

— Bem, tia, não se preocupe com nada. Não se preocupe com eles... Se não podem deixar os seus preconceitos de lado e perceber que não há nada de errado em ser bruxa, deixe-os viver a vida como querem e venha comigo. Não irá te faltar casa, conforto e amizade.

Ela mordeu o lábio inferior e pensou um pouco. Logo sorriu e disse:

— Vou pensar com carinho na sua proposta, Harry. Muito obrigada, saiba que você mudou minha vida, rapaz.

De repente Petúnia olhou para um homem de longas vestes pretas e aparência meio sombria sentado em uma das mesas e abriu a boca de surpresa.

— Espere um pouco, aquele ali por acaso não é o... Severo Snape?

Harry olhou na direção do seu olhar e confirmou.

— Sim, tia, é Snape, por muitos anos foi meu professor. Ah, sim, vocês se conhecem, né?

— Ele morava, quando criança, perto da casa dos meus pais, na Rua da Fiação, uma rua pobre perto das docas no rio que passava no bairro... Ele era bastante amigo da Lílian, se encontravam bastante tanto antes da escola quanto durante, na época das férias... Sabia que ele era um bruxo também, só não imaginava encontrá-lo aqui, em Hogwarts.

Snape, de súbito, olhou para Harry e Petúnia. Foi impressão de Harry ou as bochechas pálidas de Snape tinham tomado uma leve cor rosada? Snape corando?! Nunca Harry imaginava que veria aquilo acontecer um dia... Mas as bochechas da sua tia também estavam coradas! Intimamente, Harry sorriu. Aquilo ainda ia dar muito que falar... Depois de se despedir da tia, ele foi em direção à mesa onde estavam sentados Hermione, Rony, Ana, Carlinhos, Luna, Neville e Gina. Sentou-se ao lado da garota e a abraçou. Gina recostou-se contra seu peito. Antes dessa noite, não o via há meses, e o amava tanto!

Ninguém mais quis falar, ao menos publicamente. Dumbledore se aproximou de Harry e disse:

— Creio que quer falar comigo algumas coisas, não, Harry? Algumas dúvidas sobre o que aconteceu essa noite? Se vier comigo, poderei explicar.

— Não preciso que me fale nada em particular, Dumbledore. Qualquer coisa que tenha a me dizer pode ser dita na frente de minha namorada e meus amigos, não tenho nada a esconder.

O bruxo sorriu, aprovando a postura de Harry, que estava tão diferente de antes, ele parecia mais maduro. Aquela batalha tornara Harry um homem na verdadeira acepção dessa palavra.

— Muito bem... — disse Dumbledore se sentando à mesa junto aos outros. — Eu queria, em primeiro lugar, te felicitar, Harry. Creio que, quando tudo se acertar, as coisas voltarem aos seus eixos, o Ministério voltar a funcionar, e dessa vez sem usurpadores no comando, você vai ganhar uma Ordem de Merlin, 1ª classe.

Os olhos de Harry se arregalaram.

— O quê?! Ordem de Merlin?! Mas eu não mereço! Quer dizer, não descobri um feitiço importante, nem os usos de alguma coisa que ainda não foi cem por cento explorada nem nada... Quer dizer, o que eu fiz aqui... derrotar Voldemort... eu não tive escolha!

— Está enganado, Harry. Não é qualquer um que faria o que você fez. Eu duvido que qualquer um se desfaria da segurança que era o Amuleto de Merlin e combateria o bruxo mais poderoso da atualidade sem proteção alguma salvo uma varinha e a vontade de vencer. Por que você acha que eu ganhei minha Ordem de Merlin? Por ter descoberto os doze usos para o sangue de dragão? Com certeza isso foi um grande feito, mas minha Ordem foi conseguida por derrotar Grindelwald. E tenha certeza, Harry, ele não era nem a metade tão poderoso e tão cruel quanto Voldemort. Não tinha essa obsessão do bruxo em garantir sua eternidade. Sua Ordem será merecida.

— Não reclama, Harry! — disse Hermione, excitada. — Aposto que você é o único de nós que ainda vai conseguir ganhar uma Ordem de Merlin!

— Não creia nisso, Srta. Granger... — falou Dumbledore delicadamente. — Creio que alguns de vocês já fizeram grandes feitos, e ainda farão mais... Bem, continuando, Harry, creio que você gostaria de saber o que houve com você naquela hora, quando liberou aquela imensa fênix.

— Ah, sim, a Hermione me contou que aquilo era um Patrono Maximum.

— Uhn, creio que a Srta. Granger, com sua grande inteligência, deve saber do que se trata. Por que não diz para todos, senhorita?

Ficando muito vermelha com o elogio, Hermione respirou fundo e, num tom muito didático, disse:

— Um Patrono Maximum é um Patrono que reúne não apenas a magia normal, superficial, que todos os bruxos têm. Ele reúne a magia que há no mais profundo do nosso ser, a magia de nossa alma, nosso coração, raramente usada, por estar num lugar meio inacessível para a maioria das pessoas. Uma Magia Elemental, que tem ligação com os elementos, água, terra, fogo e ar, que em conjunto fazem parte de todos nós, de todas as coisas do universo. Até hoje apenas Merlin, o maior bruxo de todos os tempos, tinha conseguido conjurar esse Patrono, pois apenas ele tinha a magia necessária para isso. Só ele até hoje conseguiu usar a Magia Elemental da alma. Apenas bruxos realmente poderosos e que tem a alma pura, livre, aberta aos elementos, ao universo, pode fazer isso.

— E você tem uma mente aberta a influências, Harry — disse Ana. — Lembra, lá no portal do véu? Foi por isso que você podia ouvir as vozes que vinham lá de dentro.

— Sim, Harry, sua alma é poderosa, pura, aberta — disse Dumbledore. — E isso se comprovou com seu último feito. Aposto que você mesmo percebeu seu incrível potencial, somente alguém que percebe isso é capaz de dar tudo de si como você deu. Aquela última coisa que você fez foi realmente incrível. São poucos os que são capazes de usar a magia sem o uso de objetos canalizantes e fórmulas mágicas, e é algo que devia ser tão natural! As crianças fazem isso, antes de entrar na escola e receberem a varinha e treinarem os feitiços. Mesmo sem controle, elas são capazes de sentir e usarem a Magia Elemental, pois ainda não tiverem seus sentidos, almas e mentes “estragados” pelo mundo.

Harry e os outros estavam impressionados com as revelações de Dumbledore e Hermione. Jamais Harry imaginara que podia ser tão poderoso, na verdade ele estava ainda em dúvida, acreditara que o que acontecera fora algo ligado mais à sorte, e a chance de voltar a acontecer era de uma em um milhão.

— Dumbledore, eu gostaria de tirar uma dúvida. O canto das fênix é algo reconhecível? Quer dizer, pelos humanos? Creio que por duas vezes eu entendi o que as fênix diziam, mas acho que estou ficando louco...

Dumbledore, dessa vez, parecia ligeiramente surpreso.

— Não sabia que tinha esse dom, Harry. É um dom precioso e muito, muito raro. As fênix estão entre os seres mais mágicos e puros que existem, só perdendo mesmo para os unicórnios. E quanto à sua dúvida, sim, é claro que as fênix podem ser entendidas, assim como qualquer outro ser ou animal mágico. Só que nem todos são capazes de entender o que eles falam. Veja o dom da Ofidioglossia... É raro, você só o tem por causa de Tom Riddle. Eu sou capaz de entender as fênix, Harry, por que acha que me dou tão bem com Fawkes? Apenas verdadeiros magos têm a capacidade de se comunicar com as fênix, elas escolhem muito bem com quem devem falar. Há vários graus de magia, Harry, os bruxos seguem uma hierarquia de acordo com seu nível de poder. Há os de nível comum, bruxos, os de nível médio, feiticeiros, e os mais poderosos, os magos. Normalmente todos nascem bruxos e com treinamento, vão evoluindo. Alguns, já nascem com o dom para serem magos, e com pouco tempo evoluem. Eu sou um deles, você também. Merlin era um mago, provavelmente o mais poderoso que já existiu. Ele foi o primeiro bruxo que falava com as fênix de que se têm ideia. Godrico Gryffindor também tinha esse dom. Creio que deve ter percebido sua afinidade tão grande com as fênix, meu rapaz. Não só consegue entendê-las, mas o seu Patrono normal mudou para uma fênix, seu Patrono Maximum é uma fênix e mais, você transformou-se numa fênix. Posso estar enganado, mas você não tem ideia do que aconteceu com você naquele momento, aquela transformação tão súbita. Pode ter acontecido tardiamente, mas você é um animago nato, Harry, cuja forma é a da fênix. Acho que não foi capaz de se transformar até o dia de hoje por causa da alma de Voldemort dentro de você. A fênix é algo muito puro para poder se manifestar num meio venenoso, impuro. A fênix faz parte de você, Harry, creio que porque os elementos dominantes em sua Magia Elemental são o fogo e o ar, e as fênix têm uma relação fundamental e primordial com esses elementos, são animais mágicos totalmente elementais, como os dragões.

— Então por que essa relação com as fênix, e não com os dragões, já que ambos têm essa relação com o fogo?

— Não sei direito, afinal nunca estudei a fundo a Magia Elemental e os seres e situações mais relacionadas a ela, mas tenho uma ideia. Os dragões são seres do fogo; as fênix, além do fogo, também são seres do ar. São animais mais iluminados e puros que os dragões, assim como a sua alma é, Harry, muito iluminada e pura. Caso não fosse assim, como acha que durante anos o poder maléfico da alma de Voldemort não conseguiu corromper ao menos um pouco a sua alma? Pode relutar em aceitar, Harry, mas você, como provou muito bem hoje à noite, é um grande mago. E ainda realizará feitos grandiosos.

— Obrigado, Dumbledore... — Harry comentou, corado.

— A gente queria te agradecer, Prof. Dumbledore, por ter nos deixado um quadro com uma imagem tão fiel ao senhor — disse Gina. — Foi de grande ajuda à AD, nos treinou e ensinou feitiços.

— Quer dizer que vocês continuaram com a AD? Creio que quer dizer Armada de Dumbledore, não é? Irritaram bastante nossa estimada Dolores Umbridge — os olhos azuis se encheram de riso e um brilho intenso. — Creio que já sabia, desde o começo, que vocês fariam, naquele ano, um grupo desse tipo.

— Como?

— Ora, eu mantinha os olhos em cima de Harry durante muito tempo... Em certos momentos me disfarcei até como o barman do Cabeça de Javali. Ele é um primo distante, temos olhos muito parecidos, então era fácil me disfarçar dele. Foi ali que percebi que algo estava acontecendo, não era normal um agrupamento tão grande de alunos naquele bar, ao invés do bar de Madame Rosmerta.

Algo veio à mente de Harry. Achara que o barman do Cabeça de Javali não lhe era estranho, seus olhos azuis brilhantes e sagazes lhe lembravam muito alguém, mas não sabia quem era. Agora sabia.

— Por isso achei o barman tão parecido com alguém que não lembrava quem era! Era você! Dumbledore, você é genial!

— Obrigado, Harry. Ah, mais uma coisa. Você também vai receber os papéis que o tornarão oficialmente o Conde de Gryffindorbrough. Virará Lord Harry.

— Ah, não! Só me faltava essa... receberei esse título e uma Ordem de Merlin na mesma noite e diante um mar de pessoas! Sou mesmo um azarado!

Todos riram com Harry. Ele considerava azar receber coisas que tantos bruxos dariam, na verdade davam, tudo para conseguir, inclusive suas próprias almas. Quando Dumbledore saiu, eles se dispersaram. Rony e Hermione tomaram seu rumo, assim como Harry e Gina, Neville e Luna e Ana e Carlinhos. Todos os casais tinham muito a conversar e... “conversar”.

***

Carlinhos a Ana foram até as ameias. Ambos estavam meio tensos um com o outro, mas por nada que o outro tivesse feito de errado. Ainda não tinham conversado direito desde que a batalha finalmente tinha acabado. A razão de sua tensão era a percepção que tinham tido do quão facilmente poderiam ter perdido um ao outro nessa noite fatídica. Ficaram lado a lado, apoiados na amurada denteada, olhando o terreno de Hogwarts, ainda totalmente tomado pelas cenas da batalha: muita morte e destruição. Finalmente Carlinhos tomou coragem para falar.

— Eu... estive pensando... A Romênia é tão longe daqui... Talvez eu pudesse encontrar uma colocação aqui na Grã-Bretanha, não sei... Algum trabalho numa colônia daqui...

Ainda incerta sobre o que ele estava querendo dizer, mas tendo uma vaga ideia, Ana murmurou:

— Por quê... por que você está me dizendo isso?

Ele apertou as mãos sobre o muro até que ficassem brancas. Então se voltou para ela. Seu olhar parecia tormentoso como um céu durante uma tempestade de verão.

— Eu... não sei se posso aguentar ficar longe de você, Ana. Não depois do que senti hoje, quando estava sobre aquele dragão, e depois te vi lá. Duelando mortalmente com Comensais, com a vida por um triz. E eu sei que a vida lá, na reserva da Romênia, não é um lugar para uma garota como você. Por isso eu estou convencido a me mudar para mais perto.

— Também sofri por você hoje, Carlinhos. Mas isso não quer dizer que você tenha que mudar sua maneira de ser. Eu te conheci como um indomável tratador de dragões, e aquele lugar é como um lar para você. Não quero que se mude por minha causa.

— Acho que você não entendeu, Ana. Lar, para mim, será o lugar onde você estiver. Sem você, eu jamais, escute bem, jamais vou estar cômodo em qualquer lugar que seja, fazendo o que quer que seja, mesmo meu amado trabalho com dragões. Eu te amo, garota!

— Também amo você... — ela sussurrou, pondo a mão sobre a sua. — Amo demais... — gemeu, para logo em seguida forçar o corpo dele até encostá-lo na amurada da ameia. Pressionou seu corpo com o seu, ficando na ponta dos pés até pressionar gentilmente os lábios no queixo dele, que a arrebatou num abraço apertado, erguendo-a junto ao seu corpo para poder beijá-la com desespero.

— Mal posso esperar... — ele sussurrou com os lábios unidos aos seus. — Mal posso esperar para que você seja minha novamente... inteira...

— Então não espere... — ela disse num sussurro rouco.

Ele ficou mudo um instante, mas logo respirou de forma arfante e disse, a voz afogada:

— Aqui? Está brincando, não está?

Ela se pressionou mais intimamente a ele, fazendo-o baixar as pálpebras pesadas de desejo.

— Crê que estou?

O coração de Carlinhos batia pesado dentro do peito, sua excitação beirando o insuportável. Jamais imaginaria que Ana o instigasse a fazer amor naquele... lugar. Mas era excitante demais, pois seu sangue ainda fervia com a adrenalina da batalha, fora o leve temor de que fossem pegos naquele local por outras pessoas. Ana sentia o mesmo.

— Carlinhos... eu te desejo intensamente desde nossa primeira e única vez... Não me importa quando e onde aconteça outra vez, mas pode ter certeza... Você é o único a quem darei a dádiva de meu corpo e meu coração. Sou inteiramente sua.

Carlinhos, apesar do desejo intenso, se conteve, pois a respeitava muito para fazer amor com ela numa noite como aquela, num lugar tão exposto. Apenas abriu mais as pernas, acomodando-a entre elas e a aconchegando junto ao seu corpo, colando sua face à dela e a mantendo firmemente junto a si, num momento perfeito, repleto de esperança e amor. O horizonte, atrás deles, tingia-se de delicados tons rosados e dourados, pressagiando um novo dia.

***

Num dos corredores vazios do castelo, Neville e Luna caminhavam de mãos dadas. A expressão etérea e meio aérea da garota voltara, e ela mal olhava para Neville, que enquanto andava a olhava com angústia. Ainda podia se lembrar do quanto tinha estado perto de perdê-la, essa noite, durante o ataque dos lobisomens. Ele estava tão ligado a ela que tropeçou, fazendo-a parar, por estar segurando sua mão. A garota voltou seus olhos azuis desligados para ele.

— O que foi, Neville? Percebeu alguma coisa? — seu rosto ficou excitado. — Sabe, meu pai me falou de uns seres chamados Erínias, divindades infernais chamadas de Tisífone, Aleto e Megera, filhas de Gaia, cuja missão era vingar os crimes dos homens, e voavam nos lugares onde havia batalhas, para pegar as almas dos mortos culpados de crimes. Estou louca para ver se consigo ver uma.

Neville estava impaciente. A garota só conseguia falar desse tipo de coisa! Ainda bem que dessa vez falara de seres presentes ao menos na mitologia, e não de tipos tão estranhos como Bufadores de Chifre-Enrugado, Narguilês ou Colondores de Asas Azuis. Queria que ao menos um momento ela esquecesse essas coisas, esquecesse esse mundo de fantasia, e visse o mundo real, ao menos percebesse que ele, Neville, realmente existia, e seus sentimentos por ela.

— Não, Luna, não vi Erínia alguma. Bem, vamos voltar, não sei por que vim aqui com você.

— Você parece zangado... O que houve? Foi algo que eu disse ou fiz?

Ele riu amargamente e murmurou consigo mesmo:

— Bem, foi mais algo que você não disse ou fez...

A audição de Luna era muito boa, por se esforçar tanto para perceber presenças de seres estranhos, e ela ouviu muito bem o que ele sussurrou. Olhou-o com testa franzida.

— Me desculpe, não estava esperando que você quisesse que eu fizesse ou falasse algo.

Neville ferveu, uma espécie de fúria percorrendo seu corpo. Como alguém podia ser tão desligada?! Como não conseguia perceber o que estava diante o nariz dela, algo que qualquer um com um pouco de cérebro já tinha percebido?! Respirando furiosamente, ele se voltou para ela e disse, segurando os braços dela com força, marcando sua carne com possessividade.

— Não?! Pois é isso o que eu quero que faça!

Puxou-a para junto de si com força, colando o corpo dela ao seu. Logo esmagou sua boca num beijo faminto e selvagem, suas mãos se enleando nos cabelos loiro-sujos dela, mantendo seu rosto perto do seu. Trêmula, ela ficou passiva em seus braços, recebendo seus beijos ferozes e intensos. Logo Neville a soltou e a olhou, sua respiração ofegante. A garota estava com os lábios muito inchados e vermelhos, os cabelos bagunçados. Cheio de remorso, Neville se ajoelhou ante ela, a cabeça baixa, e murmurou:

— Me desculpe, Luna... Embora eu não mereça seu perdão... Como todos dizem, sou mesmo um idiota, um tolo...

— Não todos, Neville... — a voz da garota soou doce e pela primeira vez com alguma emoção, com aparência real. Ela se ajoelhou à frente dele, erguendo seu rosto e o olhando com uma expressão que, caso ele não estivesse muito enganado, parecia amor. — Jamais te achei um idiota... Ao contrário... Sempre te achei corajoso, legal e... bonito.

Ele abriu a boca de espanto.

— Bonito? Eu?!

Ela afirmou com a cabeça.

— Não achei que gostasse de mim, ora, quem gostaria da Di-Lua Lovegood? — ela falou aquilo brincando, mas era possível perceber, por trás, uma leve amargura. — Mas, agora, eu estou muito enganada ou isso foi um sinal de que gosta mesmo de mim?

Ele teve que rir.

— Gostar? Não, Luna, não gosto de você. É muito mais que isso. Eu amo você.

Ela sorriu de maneira doce e acariciou o rosto dele.

— Também amo você... Então por que não me beija de novo? Eu adorei...

Neville não se fez de rogado. Atraiu-a para si e novamente a beijou, dessa vez com mais delicadeza e sensualidade. E ela cumpriu um papel bem mais ativo...

***

Hermione e Rony, numa das salas vazias do castelo, discutiam pela décima vez nesse dia. O motivo? Tão idiota que não vale a pena sequer lembrar, assim como eram os motivos da maioria de suas brigas, e Deus, como brigavam! A maioria de suas brigas, na verdade, acontecia por motivos de personalidades totalmente conflitantes, e boa parte delas era iniciada por Hermione. A dessa noite era um exemplo.

— Ora, Rony, você devia ter lançado aquele feitiço que eu te ensinei naquela hora e...

O corpo inteiro do rapaz já começava a tremer. Era sempre a mesma coisa. Hermione sempre encrencava com ele por ele não ser tão brilhante como ela. Já estava prestes a explodir e essa última frase fora a gota d’água. Ele se voltou para ela, o rosto tão vermelho que era difícil distinguir suas sardas e as raízes de seus cabelos. Explodiu, pois para ele seu relacionamento chegava a um impasse:

— Já que somos tão diferentes, já que você é tão imensamente superior a mim, acho que não temos mais nada a falar! Nosso relacionamento já deu tudo o que tinha de dar! Não sou digno da grande e inteligente Hermione Jane Granger! Então, a partir de hoje, cada um segue seu destino!

Após essas frases, Rony se voltou firme para a porta e caminhou a pernadas em direção a ela. Estranhando o silêncio, pois imaginava que Hermione viria para cima dele com mais gritos e tapas, ele se virou para trás. Impressionou-se. A garota estava pálida como um fantasma o e olhava com uma grande expressão de surpresa e dor. Lágrimas ameaçavam cair dos olhos castanhos dela a qualquer momento.

— Rony... — ela sussurrou em voz rouca e dolorosa. — É verdade? Você... você quer acabar tudo comigo? Você não... me ama mais?

Ouvir a dor na voz dela o matou. Rony fechou os olhos e baixou a cabeça. Queria que o matassem, que o torturassem, mas não aguentava que ela sofresse uma dor apenas, ainda mais provocada por ele. Mas as coisas não podiam continuar como estavam. Suspirou.

— Não, Mione, é claro que eu te amo... Amo tanto que não quero te ver sofrer... E acho que se continuarmos juntos, ambos vamos sofrer... Eu vou fazer você sofrer, pois sei que não sou digno de ser seu namorado. Pelo visto eu só te causo vergonha e te deixo irritada, impaciente... Acho melhor ir embora e deixar seu caminho livre, livre para alguém mais digno de você do que eu.

Voltou a se virar para a porta.

— Não! — ela gritou. Logo ele a sentiu agarrá-lo por trás, o rosto querido pressionando suas costas. — Rony, não! Não posso viver sem você, Rony... Sem você, eu não sou eu mesma... Sem você não existe Hermione...

Ele fechou os olhos e mordeu o lábio inferior, sua mão independente de sua vontade indo até a dela, apertada em um punho fechado em seu peito, segurando convulsivamente o tecido de sua roupa.

— Mas nós brigamos o tempo todo... Eu não suporto quando chama minha atenção direto, por não ser tão brilhante, tão inteligente quanto você... E você não aguenta minha maneira de ser, minha incapacidade de manter conversas a um nível tão alto como as que você gosta ou precisa...

— A culpa é minha... Eu sei disso... Já tentei tanto me policiar... Acho que ajo assim por... por medo, Rony... Eu tenho medo de ser atacada e ferida, por isso ataco e firo antes, como uma espécie de autoproteção... Tenho medo de ser uma inútil, que só conhece o que está nos livros e não é digna de pessoas tão reais, tão vivas e emotivas, como você...

Ele se voltou para ela. Olhava-a com ternura.

— Mione, suas preocupações não têm o mínimo fundamento... Você não é uma inútil... Você é inteligente, sim, sua inteligência e sua cultura foram sempre peças fundamentais para que a gente, eu, você e Harry, e depois a Ana, se desse bem... Mas você é muito mais que isso, Mione, não tem que ter medo. Você é muito mais que os livros que lê, é uma mulher corajosa, fascinante, e viva, sim, cheia de emoções e sentimentos maravilhosos... Isso foi o que mais me fascinou em você, não o fato de ser inteligente e culta.

Ela agora chorava abertamente, abraçada a ele, o rosto pressionado em seu peito.

— Por favor, Rony, me perdoa... Sou uma idiota... A gente pode se dar bem juntos, sim... Agora sei que meus medos são infundados... Um vai complementar o outro, meu amor... Somos como dois pedaços que têm que ficar juntos... Me dá mais uma chance e eu juro fazer tudo diferente, agora... Merecemos mais uma chance, juntos...

Rony acariciou os cabelos lanzudos dela e ergueu seu rosto. Sorriu-lhe.

— Sim, Mione, a gente merece outra chance. Vamos fazer direito, agora. Sem mais reclamações e brigas sem fundamento. Sei que brigas sempre vão existir, ora, todos os casais brigam, mas a gente vai conseguir fazer dar certo.

Logo Rony enxugou suas lágrimas e a beijou com desejo. Hermione gemeu contra seus lábios e, com um salto, enlaçou suas pernas em torno de seus quadris, fazendo-o se desequilibrar com seu peso e se recostar à porta. Rony tomou tudo o que ela lhe oferecia com um imenso prazer, amor e alegria. Recostados à porta, vendo pela janela a suave claridade da aurora se estender pelo horizonte, fizeram amor enquanto a esperança banhava seus corpos, mentes e almas.

***

Harry e Gina saíram do castelo, não se incomodando com os corpos e o cheiro de sangue que emanava por todo o lugar. Apenas queriam um lugar para ficarem sozinhos, principalmente longe de tantos Weasleys machos reunidos. Foram para perto do lago e caminharam um pouco até ficarem longe daquele cenário horrível.

Harry não falou nada. Foi Gina, com seu fogo que parecia típico das ruivas, que pulou sobre ele, fazendo com que os dois caíssem em cima do solo fofo das margens do lago, ela em cima dele, montando sobre seu corpo e ficando sentada sobre seus quadris, os longos cabelos ruivos deslizando por seus ombros e cobrindo seus seios. Harry só pôde gemer e olhá-la embevecido. A garota o olhava de maneira faminta e sexy.

— Mal pude esperar para fazer isso! Você esteve tão sexy, tão viril, Harry, dominando todos, lutando como um verdadeiro guerreiro... Isso me excita, sabia?

Aquela imagem de Gina como uma mulher, isso mesmo, uma mulher, não uma garota, uma mulher decidida e sensual era tudo o que Harry queria olhar para o resto de sua vida. Logo ele se excitou ferozmente, o que foi sentido por Gina, que sorriu sapeca, deslizando as mãos pelo torso de Harry, erguendo sua camisa e acariciando os músculos rijos pelo quadribol, embora não exagerados. Logo Harry deu a volta, num giro rápido, pondo-se sobre ela. O desejo o queimava. Apesar de já ter quase dezoito anos, Harry ainda era virgem.

— Gina, se você não me contiver, eu vou fazer uma besteira. Estou tão louco para ter você que chega a doer. Se quiser chegar à nossa noite de núpcias intacta, deve me parar agora.

Era a primeira vez que Harry revelava algo de seus planos em relação a ela, o fato de que ela estava em seu futuro. Gina sorriu, os olhos cheios de lágrimas. Ergueu a cabeça, beijou-o levemente na boca e sussurrou ao seu ouvido:

— Harry, jamais tive tanta certeza de querer algo em minha vida como te quero. Mas uma coisa é certa: tenho muito amor à sua vida, meu amor, e sei que não quero um monte de Weasleys te caçando para te lançar a Maldição Cruciatus. Temos que procurar um lugar mais... reservado.

Harry quase uivou de satisfação. Comprimiu fortemente seus quadris aos de Gina, mostrando o quanto estava excitado, o quanto a queria. A garota gemeu baixinho e ergueu seus próprios quadris ao encontro dos dele.

Vários pensamentos passavam na cabeça dele, procurando freneticamente o lugar mais lindo, mais perfeito para onde pudessem ir. Logo veio à sua cabeça uma imagem do prado florido onde, uma vez, ele baixara suas defesas para penetrar a mente de Voldemort. A colina nas terras dos Winchester.

— Agarre-se a mim... — ele sussurrou em sua orelha.

Gina sorriu e o envolveu com as pernas e braços, o que só o fez gemer e arfar de desejo feroz. Forçou sua mente a mentalizar os três D, e logo os unidos corpos dos dois rodopiavam velozmente pelas dimensões, indo em busca da Destinação escolhida por ele. Harry, vendo que o prado estava perto, forçou-se a fazer a aterrissagem mais suave que já tinha feito em sua vida. Ele e Gina flutuaram no ar até que as costas da garota tocaram delicadamente um tapete de flores. Sobre ela, com as longas pernas envolvidas em sua cintura, Harry se sentia no paraíso. Ergueu a parte superior de seu corpo e, com mãos trêmulas, passou a despir as vestes que Gina vestia, ensanguentadas pela batalha. O corpo da garota, quando foi se revelando, quase tirou completamente a capacidade de Harry raciocinar. Ele queria deixar seus instintos livres, mas queria que tudo fosse perfeito para os dois.

Enfim nua, Gina olhava para Harry com uma mistura de desejo e timidez. Se corpo estava trêmulo, mas ansioso pelo de Harry. Ela agarrou os ombros dele e se ergueu até ficar sentada. Os olhos de Harry deslizaram pelos fios cor de cobre de seus cabelos, por seu amado rosto sardento, enfim baixaram, admirando as formas perfeitas de seu corpo.

— É... é minha vez, Harry... — ela sussurrou, para logo começar a despi-lo, também.

Embevecido, Harry facilitou ao máximo os movimentos da garota, até estar nu perante ela. A respiração levemente ofegante, Gina deslizou os dedos pelos ombros, braços, peito, ventre de seu namorado. Ela queimava de luxúria e um pouco de timidez. Subitamente Harry a abraçou com força e a trouxe sobre suas coxas, fazendo-a montá-lo. Ela deu um gritinho assustado, mas logo Harry ocupou sua boca com um quente beijo. A garota relaxou contra o corpo dele, suas mãos se infiltrando nos cabelos arrepiados, deixando-os ainda mais revoltos.

Harry baixou lentamente o corpo de Gina sobre a cama de flores e grama, então, seguindo seus instintos e desejos, desceu pelo corpo dela, com carícias úmidas e gentis de sua boca e carícias empolgantes de suas mãos, fazendo-a puxar os cabelos dele e gritar de desejo.

Sem poder se conter mais, Harry tomou Gina para si. Ela o apertou contra ela, sensações que eram um misto de prazer, de amor, de desejo e de dor a percorrendo em ondas, uma mistura tão perfeita que a fazia querer chorar de alegria. Os movimentos se tornaram mais intensos, movimentos que seguiam o instinto, que eram tão antigos quanto a própria humanidade. Gina tornou a envolvê-lo com suas pernas, e o êxtase que os acometeu foi tão intenso quanto doce e prazeroso.

— Eu... eu te amo tanto, Gina... — Harry disse ao seu ouvido, girando para o lado e a levando com ele, de modo que Gina ficou quase que sobre seu corpo, a cabeça se apoiando no peito arfante do garoto, cobrindo-a com uma manta ruiva e sedosa de cabelos.

Como uma gatinha, Gina se aconchegou ao corpo dele, faltando apenas ronronar, seu joelho se erguendo um pouquinho para pressionar contra a coxa dele, um braço o envolvendo pela cintura enquanto a outra mão se apoiava no ombro.

— Ah, Harry... também amo tanto você... — ela roçou seu nariz contra o peito dele. — Nem pense em ficar mais longe de mim, mocinho. Você já é meu, todo meu, e não o dividirei com ninguém.

Ele riu, dando um beijo sobre o topo de sua cabeça.

— Sabe? Adoro quando você fica possessiva assim... Mas saiba, você também é minha. Eternamente minha, Gina.

Ficaram juntos, olhando o nascer do sol que ia acontecendo aos poucos, lançando ao horizonte matizes delicados de rosa e dourado. Harry não era um tolo para pensar que não haveria mais perigos, havia Comensais a solta ainda. E não somente isso. O Mal era uma força que jamais seria extinta inteiramente da Terra. Era o princípio da dualidade, do Yin e Yang. Enquanto existisse o Bem, o Mal sempre apareceria, mantendo o equilíbrio das forças sobre o planeta. Haveria outros Voldemort querendo novamente romper o frágil equilíbrio entre as duas poderosas forças opostas, querendo novamente dominar o mundo e impor um império de maldade, e Harry estaria esperando por eles. Porque sabia que aquele era seu Destino. Mas aquilo ainda ia demorar a acontecer. Aquele nascer de sol representava o nascer de um novo mundo, uma nova época plena de esperanças.


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Notas finais do capítulo

Até o epílogo, e, please, comentem! Bjs da Ana Christie



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