Harry Potter e o Amuleto de Merlin escrita por ana_christie


Capítulo 33
A Última Horcrux


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Me desculpem por não ter postado logo, minhas últimas semanas foram corridas, meu avô morreu e eu tive de dar força para minha vó, minha mãe e minhas tias. Mas finalmente eu pude postar o fim dessa história, e espero que apreciem tanto ler quanto eu apreciei escrever. Esse capítulo é o penúltimo, após eles teremos o último e um epílogo.



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Com o conselho de Kingsley, houve uma reviravolta na batalha dos gigantes. Os gigantes aliados de Hagrid junto à ajuda dos combatentes de Hogwarts conseguiram, aos poucos, vencer o inimigo. Quando o gurg dos gigantes finalmente foi derrotado, quem diria, por Groupe, o gigante irmão de Hagrid, menor que ele e que no passado apanhava demais, os outros gigantes se renderam. Não tinham como estabelecer um novo gurg tão rápido, e sem um líder era difícil batalhar. Eles se afastaram, alguns manquitolando, outros segurando membros feridos, mas a maioria estava morta, e qualhava a região ao ar livre em torno do castelo. Era difícil até para as pessoas se moverem.

Voldemort urrou de ódio. Ele não entendia como tudo estava dando errado. Trouxera uma gama variada de atacantes, quantitativa e qualitativamente falando, mas nada dera certo, o Potter e sua gente tinham conseguido vencer todas as batalhas que Voldemort promovera, primeiro os seus Comensais, depois, os lobisomens, em seguida, os Inferi, agora, até os gigantes, que se supunha serem extremamente fortes e difíceis de derrotar, por sua pele quase invulnerável a feitiços. Para cada aliado que ele trouxera, o Potter arranjara uma maneira de vencer. Como ele, Voldemort, poderia supor que havia lobisomens e gigantes que não estavam do seu lado? Agora Dumbledore estava vivo, o que era uma grande ameaça. E o pior, perdera Nagine, sua Horcrux e fiel aliada. Pelo menos seus recursos ainda não tinham acabado.

Harry deu um urro de contentamento ao ver que mais uma batalha fora vencida. Os rumos que a guerra estava tomando o alegravam muitíssimo. Agora, tinha que arranjar uma maneira de enfrentar Voldemort, deixar-se atingir por um feitiço mortal para que o pedaço de alma de Voldemort dentro de si morresse e enfim, tentar derrotá-lo. Sim, tentar, pois ele não tinha a soberba de acreditar que bastava deixar de ser uma Horcrux para vencer Voldemort. Eram duas coisas muito diferentes, ele só se tornaria finalmente mortal, mas continuaria um bruxo com anos-luz de conhecimento mágico na frente dele. Harry estava prestes a ir, com a cara e a coragem, e o Amuleto de Merlin, claro, enfrentar Voldemort, pois não queria que o combate entre eles acontecesse perto dos amigos, dado o perigo que seria, quando seu medalhão da Ordem da Fênix brilhou. Ele olhou para outros que, como ele, saíram ao ar livre para combater os gigantes, e viu que os que pertenciam à Ordem também receberam a mensagem enviada por um dos membros. Mesmo antes de ver a mensagem, Harry imaginou que seria de Sirius, que era o único da Ordem separado deles. Aflito, leu a mensagem:

Pessoal, SOS. Preciso de ajuda, agora que os gigantes não atrapalham mais a vinda de algum de vocês. Derrotei Belatriz, mas estou ferido.

Na mesma hora Harry se esqueceu de Voldemort, da batalha e tudo o mais. Queria apenas salvar Sirius, seu padrinho. Não podia correr o risco de perdê-lo novamente, lembrava-se do sofrimento que sentira quando ele se fora através do véu. Sentiu uma mão em seu ombro e se virou. Eram Hermione, Rony e Ana.

— Harry... — disse Hermione. — Pode ser perigoso... Pode ser uma armadilha... Você já pensou que... — ela não teve coragem de falar.

— Que o quê, Hermione? — falou Harry friamente.

— Harry... — contemporizou Ana. — E se o Sirius... hum... morreu? E se quem mandou a mensagem foi Belatriz? Ela estava com um medalhão, pode ter... matado o Sirius e mandado a mensagem justamente por saber que você iria até ele... Ela te conhece, quem não te conhece? Quem não conhece seu altruísmo, Harry?

Ele gelou. Não tinha pensado numa coisa daquelas.

— Eu... não posso sequer pensar nessa possibilidade, pessoal. Não sei se aguentaria.

— Harry, as meninas têm razão. O maior objetivo de Voldemort é te pegar, Ana e o Amuleto o tentam, mas você é o que ele mais quer. Pode ser uma armadilha, e, além disso, você não sabe direito o lugar onde eles estão, ainda mais que agora há dezenas de gigantes mortos, caídos no chão.

— Mas você sabe, Rony. Você foi um dos que foram na operação de resgate do Kingsley. Você pode ir comigo. Por que uma coisa é certa: armadilha ou não, sabendo ou não o lugar onde ele está, eu vou procurar o Sirius e trazê-lo de volta são e salvo.

Vendo o quanto ele estava decidido, os amigos viram que não tinha jeito. Harry iria mesmo à procura de Sirius.

— Então nós vamos com você — disse Hermione.

— Não — Harry foi categórico. — Apenas o Rony vai comigo.

As meninas começaram a reclamar, relatando tudo o que já tinham feito e que o fato de elas serem mulheres não tinha nada a ver, mas Harry as cortou.

— Isso não tem nada a ver com o fato de vocês serem mulheres. Não sou preconceituoso, eu sei muito bem do que vocês são capazes, se brincar são melhores que eu numa batalha, eu confiaria minha vida a vocês. Mas nessa hora é bom um pouco de desconcentração. Hermione, você é uma líder nata. Eu sei disso. Você é extremamente capaz, inteligente e uma bruxa poderosa. Não, nem tente negar. Preciso de você aqui, para caso as coisas derem errado. Você é a única que seria capaz de pensar numa missão de busca e resgate a nós que fosse cem por cento confiável. E Ana, você é a outra pessoa que Voldemort quer mais que todos, além de mim. Não sei por que, acho que ele pensa que o Amuleto de Merlin, por você ter em suas veias e genes o sangue e cromossomos de Merlin, seja a pessoa mais adequada para usar o Amuleto, como se assim os poderes dele ficassem superconcentrados. Isso é apenas uma suposição, mas não podemos deixar que nós dois caiamos ao mesmo tempo nas mãos de Voldemort. Isso é uma estratégia, possa ser que não dê certo, mas é a melhor em que posso pensar no momento.

Os argumentos de Harry convenceram as duas que, junto aos outros bruxos, voltaram para dentro do castelo, que nesse momento mais parecia um queijo suíço e precisava ainda mais de proteção. Ele e Rony se desilusionaram e ainda se cobriram com a Capa da Invisibilidade como proteção extra. Usando a proteção dos gigantes mortos, passaram a ir em busca do cadáver do gigante com o qual Sirius se protegera.

***

Voldemort estava pronto para usar mais um de seus aliados. Esse, ele tinha certeza que não iria ser derrotado, ao menos não facilmente. Não, não seriam derrotados mesmo, ele pensou, sorrindo. Contra um deles, ou mesmo uma dúzia, era possível derrotá-los, ou afastá-los, pois não havia uma maneira, ao menos que se soubesse até o momento, de matá-los. Ele atacaria com centenas de uma vez, e tinha certeza que, dessa vez, venceria a batalha. Não mataria seus oponentes, era verdade... Mas o que faria com eles era pior do que a morte. Cruelmente, Voldemort sorriu. Afinal, o beijo do dementador era pior do que a morte do corpo físico.

***

O castelo de Hogwarts estava muito avariado. Praticamente perdera as paredes frontais, o que sobrara eram apenas pedaços, as que estavam inteiras tinham tantos buracos que não protegiam nada. Muitos corredores e salas de aula também tinham desmoronado, cortando acessos a outras partes do castelo. A torre de astronomia e mais duas torres menores tinham desmoronado, destruindo tudo o que havia em baixo. Algumas ameias também tinham sido destruídas. Não parecia nem de longe com o mesmo castelo de antes, mas mesmo assim sua imponência não se perdera. A passagem dos anos, as pessoas, a história que se construíra naquele lugar o tinham incrementado com poder, grandiosidade e vida, e essa gama de coisas que tinham contribuído para sua criação jamais se perderia, mesmo que o castelo viesse inteiro abaixo. Cada um dos que lutavam dentro dele, defendendo-o com sua vida, e defendendo, assim, o mundo que queriam para si, do qual Hogwarts era um símbolo, dava tudo de si com o maior orgulho, e jamais o abandonariam enquanto ainda houvesse uma ínfima chance de vitória, uma pequena e trêmula chama de esperança.

Novamente os grupos se rearranjaram e as pessoas usaram os minutos de intervalo que surgiram após a batalha com os gigantes para se rearmarem, curarem ferimentos, comerem alguma coisa, descansarem. Alguns partiram para proteger as torres e ameias que restavam. Só então alguns perceberem a ausência de Harry e logo todos estavam preocupados. Hermione usou um Sonorus em altura moderada para que todos ouvissem, mas nenhum inimigo escutasse.

— Pessoal, o Harry e o Rony saíram do castelo numa missão. Acho que vocês já devem imaginar qual é, ao menos os membros da Ordem.

— Eu deveria ter imaginado que Harry iria atrás de Sirius. Foi isso não foi, Srta. Granger? — perguntou Dumbledore placidamente.

— Sim, foi atrás do Sirius. Ele sabia o quanto era perigoso, que podia ser uma armadilha e tudo o mais, mas não podia correr o risco de Sirius morrer por negligência sua. Por isso tudo ele preferiu que eu e Ana ficássemos. Temos que continuar a batalha sem ele, enquanto ele não voltar ou... se ele não voltar.

Aquelas últimas palavras calaram fundo no coração de todos que ouviam as palavras de Hermione, pois sabiam o que acarretaria a possível morte ou rapto de Harry, O Eleito. Mas entendiam muito bem o porquê de sua saída e não o condenavam. Ainda dariam tudo de si e rezariam fervorosamente pela volta dele e de Rony sãos e salvos.

***

Finalmente Harry e Rony chegaram sem nenhum percalço ao gigante que Kingsley matara. Nenhum Comensal percebera sua presença, camuflados como estavam e protegidos pelos corpos dos inúmeros gigantes. Chegaram ao gigante às margens da Floresta Proibida com relativa facilidade e o rodearam, à procura de Sirius. Harry estava muito aflito. Andavam com todo cuidado, evitando fazer barulho, tinham medo de que tudo fosse uma cilada. Harry temia a todo o momento encontrar o corpo de Sirius rodeado de Comensais.

Sirius estava deitado no chão com a cabeça apoiada na mão grande do gigante, que agia como um travesseiro. Estava ainda acordado e lúcido, mas muito mal, todos seus sentidos estavam embotados, respirava arfante, e não sentia mais dor, o que, para ele, era pior que senti-la, pois imaginava que a perda da dor era um sinal de que estava perto da morte. Sentia apenas um frio cortante intercalado a momentos em que ardia intensamente. Quando escutou, muito mal devido aos seus sentidos entorpecidos, o som de galhos e folhas pisados, ele se assustou e ergueu a varinha, forçando seus olhos a escrutinarem toda a região em volta de si. Foi assim que Harry e Rony o encontraram.

— Sirius... — disse Harry em meio a um ofego ao vê-lo. O rosto de seu padrinho estava pálido em torno da boca e da testa, seus lábios estavam exangues, o que atestavam a quantidade de sangue que ele devia ter perdido, enquanto suas bochechas estavam vermelhas, revelando a febre que o queimava.

— Harry? — ele perguntou, rouco, baixando a varinha.

Harry e Rony tiraram a Capa da Invisibilidade e se desilusionaram para que ele não se assustasse e acabasse por atacá-los, num momento de delírio causado pela febre. Quando Sirius viu seu afilhado, sorriu debilmente, revelando nos olhos brilhantes e meio fixos o quanto estava mal.

— O que fizeram com você, Sirius? — Rony perguntou ajoelhando-se perto dele, junto a Harry.

— Rony, olhe... — falou Harry em voz aflita. — As vestes dele estão rasgadas de fora a fora... Acho que foi um Sectumsempra muito bem lançado... Olha como o tecido, em toda a região do tórax, está mais negro, acho que é uma hemorragia...

— Sim, Harry... A desgraçada da minha priminha querida me pegou de jeito... Me deu um belo de um trato... Estou sangrando como um porco... Ao menos estava, até que consegui lançar um Episkey no corte...

— Sirius, desculpe o que vou fazer, mas eu tenho que examinar a ferida... — disse Harry em um tom de desculpa. O sangue que Sirius perdera se coagulara e o tecido colara na ferida. Doeria imensamente, mas tinha que examiná-lo antes de imaginar uma maneira de tirá-lo dali.

Harry, usando o Aguamenti, umedeceu o tecido das vestes de Sirius, pois assim ficaria mais fácil de separá-lo da ferida. Em seguida, cuidadosamente, começou a puxá-lo e separá-lo dela.

Se Sirius não sentira dor até aquele momento, subitamente foi lançado num mar inteiro dela. Era um inferno. Ardia, queimava, doía como o diabo, fazia-o ter vontade de dar um murro em Harry, de afastá-lo de si. Rony o continha, pois instintivamente imaginava o que ele sentiria, o que teria vontade de fazer. O corpo inteiro de Sirius estava retesado, e Rony pusera um pedaço de galho entre seus dentes para evitar que mordesse a língua ou os lábios de dor ou que gritasse e assim revelasse a presença deles.

Quando Harry separou totalmente as roupas de Sirius de seu peito, deu um ofego assustado, no que foi imitado por Rony. A ferida, por seu estado, estava claro que tinha infeccionado. O corte, que atravessava seu peito, estava com as bordas bastante inchadas. Em torno, a carne estava púrpura e avermelhada, e no centro, na carne entre as bordas de pele, minava um líquido amarelo. Ele cobriu suavemente a ferida com bandagens através do feitiço Férula, para não entrar em contato com possíveis bactérias no ar.

— Olha como está supurando... Acho que a ferida infeccionou por causa do Episkey que ele lançou... — comentou Harry. — Esse feitiço deve ser usado em feridas leves, mas a do Sirius era muito grave... O feitiço evitou que ele sangrasse mais, entretanto não deixou que a ferida respirasse.

— Mesmo assim, com certeza ele não estaria vivo se tivesse continuado a sangrar do jeito que vinha sangrando, pelo estado de suas vestes, Harry. O feitiço, mesmo infeccionando, salvou a vida dele.

— Provavelmente, mas infecção também pode matar, aliás, é uma das coisas que mais matam. Temos que levá-lo urgentemente para as mãos capazes de Madame Pomfrey e as poções do Slughorn e do Snape. Bem, temos que arriscar...

Harry guardou a varinha no bolso das vestes e pegou Sirius nos braços, como se ele fosse um bebê, apesar de seu peso, mas nem gemeu com o esforço, pois não achava que Sirius, depois de tudo por que passara, merecia que ele reclamasse fosse por qualquer motivo. Sirius abriu os olhos e olhou nos olhos verdes de Harry. Seus olhos negros aparentavam um brilho febril.

— Muito obrigado, Tiago... Você é o melhor amigo que alguém poderia ter...

— Ele está me confundindo com meu pai... Está delirando. Rony, jogue sobre ele a Capa da Invisibilidade e se certifique que nenhuma parte esteja visível. Quero-o totalmente invisível, o que pode não acontecer com o Feitiço da Desilusão. Depois se desilusione e me desilusione. Estou com os braços ocupados...

— Sim, Harry... E não se preocupe, eu cuidarei da nossa proteção.

Rony fez o que Harry pedira e logo os três se puseram em marcha rumo ao castelo. Estavam na metade do caminho quando um súbito frio os fez paralisarem. Era um frio cortante, um frio de inverno intenso quando estavam em pleno verão, o que não era natural. Aquele frio não era natural naquelas circunstâncias. Era o mais intenso que eles já tinham sentido. Logo, acompanhando o frio, a noite se fez bastante escura, apesar de os permitirem ainda ver algo em torno, uma escuridão antinatural, quando antes a lua e as estrelas clareavam tudo em torno deles. O ambiente se encheu de uma estranha névoa. Aqueles sinais deixavam claro para eles qual a nova arma de Voldemort.

— Dementadores... — sussurrou Harry.

Ele e Rony olharam para cima e viram uma quantidade impensável de dementadores. Suas formas negras e esvoaçantes bailavam no céu acima deles, trazendo frio e desespero para todos que estavam perto de sua presença. Jamais Harry ou Rony tinham visto uma quantidade tão grande de dementadores juntos, nem mesmo no dia em que Harry e Sirius tinham sido atacados por eles à beira do lago, há uns anos atrás.

Os dois eram atingidos pelos efeitos doentios da presença dos dementadores. Estavam perdendo a esperança, ficando com medo, as piores lembranças de suas vidas vinham à tona, os maiores medos dos seus inconscientes. E o mesmo acontecia com Sirius, que já estava mal. O efeito dos dementadores era ainda pior sobre ele.

— O que a gente faz, Harry? Ainda estamos muito longe do castelo... E um Patrono só, ou mesmo dois, não seria suficiente para afastar esse monte de dementadores...

— E lançar os Patronos, Rony, também não seria favorável para a gente... Revelaria na mesma hora, pelo brilho claro e puro deles, nossa presença aos inimigos, a última coisa que a gente quer...

— Mas o que é que a gente faz?!

— Não sei, estou pensando! Mas o melhor é a gente avançar o máximo que puder, talvez perto do castelo a gente possa pedir auxílio, pelo medalhão, algum de nossos amigos pode sair para lançar um Patrono até que a gente consiga entrar no castelo... Sei que não é um bom plano, mas não consigo pensar em nada melhor.

Puseram-se em marcha, mas era cada vez pior. A quantidade de dementadores aumentava, e eles voavam cada vez mais perto do solo, como se pressentindo, mesmo através da camuflagem de Harry, Rony e Sirius, que eles estavam lá. Eles pareciam farejar os sentimentos deles, toda a dor, desespero e sofrimento que permeavam suas almas que sofriam há tanto tempo.

***

Os dementadores não ficaram apenas sobre a área ao ar livre de Hogwarts. Eles começaram também a sobrevoar o castelo, e logo os bruxos nas torres e ameias perceberam sua presença, primeiro por causa dos seus efeitos, sofrimento, escuridão e frio, logo a própria presença física deles que, como imensos morcegos, voavam sobre suas cabeças. Logo passaram a se defender com a ajuda dos Patronos. Como eram relativamente muitos, os Patronos conseguiram mantê-los longe, embora não expulsá-los definitivamente, pois quando estavam em muitos, os dementadores se tornavam mais fortes e difíceis de derrotar.

Não demorou para que os dementadores entrassem dentro do castelo, para ir atrás dos outros que eles farejavam lá dentro. Entravam pelas inúmeras fendas que o castelo agora possuía, há muito as defesas mágicas e as plantas defensoras tinham perdido o efeito ou sido destruídas, pois não suportaram os ataques seguidos que o castelo recebera, e por causa dessa frequência de ataques os bruxos não tiveram tempo de tentar fazer novas defesas. Slughorn e Snape trancaram magicamente as masmorras e as vedaram com todo tipo de feitiços possíveis, pois os feridos não teriam muita chance contra os dementadores, pois seus corpos estavam débeis e não poderiam conjurar Patronos, além de que seus corpos não aguentariam o impacto do efeito cruel dos dementadores.

Foi um pandemônio. Um ataque de dementadores, por menor que fosse seu número, o que não era o caso, sempre era pior que o ataque de qualquer inimigo, porque antes de atacar, querendo dar seu beijo fatal e assim sugar as almas dos incautos, eles desestabilizavam as pessoas, mexendo com suas emoções, fazendo-as reviver suas piores lembranças enquanto se alimentavam de suas lembranças boas. Entretanto, como quase todos sabiam usar seus Patronos, estavam conseguindo manter os dementadores voando sob o teto. No Salão Principal, cujo teto mágico não perdera o encantamento mesmo com os inúmeros golpes sofridos pelo castelo, era estranho vê-los voando lá em cima, pois passava a impressão de que podiam se afastar rumo ao infinito céu a qualquer momento, o que não poderia acontecer.

***

Depois de um tempo em marcha, Harry e Rony não aguentaram mais. Os dementadores pareciam drenar sua energia. Na verdade isso era uma ilusão, sua energia era a mesma, o que acontecia era que ao reviverem suas piores lembranças, não tinham forças para sintonizar sua magia mais profunda.

— Não posso mais, Harry...

— Nem eu, Rony... Temos que arriscar... — ele disse pondo Sirius no chão, que, mesmo delirante, sentia que algo não ia bem.

Nesse momento, os dementadores se aproximaram mais deles, que ouviram de perto sua respiração rascante, um som que era como um agouro de morte, e viram suas mãos podres que mais pareciam mãos de cadáveres putrefatos. Um deles, num vôo mais amplo, chegou perto de Sirius e abriu sua boca estranha, passando a aspirar. Era o beijo do dementador.

Harry tinha que arriscar, não podia deixar o dementador sugar a alma de Sirius. Erguendo a varinha, mesmo sabendo o risco que sofria, ele pensou na lembrança mais feliz que tinha no momento, que foi o dia em que ele e Gina tinham se beijado na festa do casamento de Gui e Fleur, e lançou o Feitiço do Patrono:

Expecto Patronum!

Uma imensa fênix prateada irrompeu de sua varinha. Ela conseguiu afastar os dementadores de Sirius. Rony também lançou seu Patrono, o que manteve os dementadores ao menos temporariamente longe. Entretanto, logo seus Patronos sumiram, pois não era da natureza de um Patrono, mesmo praticado por um bruxo poderoso, durar mais que alguns minutos. E eles se sentiam enfraquecidos para lançarem Patronos direto. Harry caiu ajoelhado, revendo a cena da morte de sua mãe, mas se esforçando para não se desligar da realidade, não perder Sirius de vista. Perto dele, Rony fez o mesmo, olhando tudo com uma expressão de pânico.

***

No castelo, os bruxos que combatiam sobre as torres e ameias viram, de repente, o Patrono aparecendo no meio da escuridão que havia em torno do castelo. Apesar de não reconhecer de quem seria aquele Patrono, pois sabiam que o de Harry era um cervo e o de Rony, um cão, tinham certeza de que era o Patrono de um deles, apenas os dois estavam fora do castelo, pois tinham ido em missão de salvamento de Sirius. Moody mandou um Patrono até o pessoal dentro do castelo. Seu Patrono foi até as pessoas, que mantinham com seus Patronos os dementadores afastados, e disse:

— Harry e Rony devem estar em perigo. Lá fora, vimos um Patrono sendo conjurado, e só pode ter sido um dos dois, apesar de não ser um cervo. Era uma fênix. Precisam de ajuda urgente, estão perto daqui.

Hermione e Gina, que sabiam sobre a mudança do Patrono de Harry, exclamaram:

— É o Harry, sim!

— Meu Deus... Harry e Rony, talvez o Sirius, sozinhos com centenas de dementadores! — gemeu Hermione.

— Temos que ir salvá-los! — disse Ana em tom firme.

— Pessoal, aguentem a barra aqui. Logo nós voltaremos.

As duas saíram correndo do castelo, lançando Patronos a torto e a direito, com o firme propósito de encontrar duas das pessoas que mais amavam na vida.

***

Os Comensais e Voldemort estavam satisfeitos. Ouviam os gritos vindos do castelo, alguns gritos pavorosos, provocados pelo efeito dos dementadores sobre eles, e o som de muitos Feitiços do Patrono sendo usados. Mas sabiam que era uma questão de tempo. Eram dementadores demais, havia pelo menos quatro ou cinco para cada bruxo que combatia. Os Comensais não eram afetados, por causa de um feitiço protetor lançado por Voldemort.

Quando viram, em meio à escuridão, os dois Patronos espantando dementadores, Teodoro Nott e Rabastan Lestrange, que estavam a fim de mais ação, ergueram-se e falaram a Voldemort, fazendo leves curvaturas.

— Nosso Lord, nos permita ir atrás daqueles incautos... Pelo visto são apenas dois, os dementadores os matarão rápido, mas gostaríamos de “brincar” um pouco com eles antes... Afinal, os dementadores não irão nos afetar mesmo...

— Tudo bem, Nott, Lestrange, têm a minha permissão.

Os bruxos partiram correndo em busca de ação e de tortura. Quando Rabastan viu quem eram os bruxos, sorriu, satisfeito. Podia se divertir e ainda ganhar um bônus do Lord ao mesmo tempo.

***

Harry e Rony estavam ofegando. Mesmo com pouca energia, continuavam lançando Patronos, embora agora fossem Patronos fracos, quase incorpóreos, que mantinham os dementadores afastados apenas alguns metros, uma distância que não os impedia de se alimentarem de suas boas lembranças, sua energia positiva.

Harry nem soube quem o atingiu. De repente, estava se contorcendo, gritando de dor, uma dor tão feroz, tão intensa, tão reconhecível, que na mesma hora ele soube o que era, uma Maldição Cruciatus. Ouviu os gritos de Rony, ao seu lado, e soube que também o atingiam. Abriu os olhos e viu quem era: dois Comensais, Nott e Rabastan Lestrange, o irmão de Rodolfo Lestrange. Não tinham forças para tentarem se livrar das Maldições e revidarem, tinham gasto muita energia com os dementadores.

***

Quando Ana e Hermione, depois de procurar bastante por brilhos e luzes que indicavam a presença de Patronos, chegaram ao lugar onde Harry, Rony e Sirius estavam, quase explodiram de tanta raiva. Estavam sendo torturados, mesmo enquanto dementadores sugavam suas energias positivas!

— Covardes! — exclamaram, o que chamou a atenção dos dois Comensais. Os dois sorriram de forma lasciva.

— Hum, que bom... Não existe muita graça em torturar homens... Com mulheres deliciosas e bonitas como vocês duas há muito mais prazer... — Nott disse passando lascivamente a língua pelos lábios. Nem percebeu quando a morte chegou para lhe ceifar a vida.

Hermione lançou em cheio um Expulso em seu peito, fazendo com que uma abertura imensa surgisse, atingindo em cheio o coração do Comensal, que morreu. Rabastan, assustado, olhou para o colega morto e, irado, lançou-se sobre a garota, mas recebeu em pleno peito um Bombarda dado tão perto que teve o mesmo efeito de um Avada, mas que o fez sofrer muito mais. Ana sabia muito bem usar um Bombarda, normalmente um feitiço não usado para ataque em pessoas, mas fatal se recebido de muito perto, e foi o que ela fez, lançou o feitiço quando estava há apenas três metros dele. O impacto do Bombarda o lançou há dezenas de metros, seu peito estraçalhado, o coração exposto.

— Harry, você está bem?! — ela gritou.

— Rony, como você está?! — Hermione gritou.

Harry e Rony estavam se recuperando da tortura. Olharam agradecidos para as duas, que agora lançavam fortes Patronos para defendê-los, enquanto eles não podiam. Harry olhou para Sirius e arregalou os olhos. Os Patronos de Hermione e Ana não o estavam protegendo, concentravam-se em afastar os dementadores delas e de Harry e Rony. Um dementador se aproximou de Sirius e começou a aspirar rascantemente. Logo Harry viu algo brilhante subindo do peito de Sirius, e ele tentou fazer alguma coisa, mas não conseguiu, ainda muito enfraquecido que estava. De repente, a coisa brilhante desapareceu dentro do dementador, que pareceu ficar mais forte, como se estivesse satisfeito e energizado. Harry, incrédulo, maneou a cabeça. Não queria acreditar, mas as evidências eram claras. Sirius acabara de perder sua alma, algo pior que a própria morte. Ficara um vegetal. Ele perdera Sirius mais uma vez.

— Não!!! — gritou. Ergueu-se, encolerizado. Parecia que suas forças tinham retornado, e ele estava inteiramente tinindo. Uma magia poderosa fluía nele, escapava dele como uma imensa aura refulgente e tempestuosa. Novamente ele gritou o Feitiço do Patrono, e dessa vez a fênix que se elevou dele tinha o tamanho do Pássaro Rocca, a águia legendária de vários metros d’As Mil e Uma Noites, presente até nas histórias do Barão de Munchausen. E ao invés de ser prateada, como os Patronos normais, tinha as vibrantes cores das fênix. Era vermelho sangue e dourado, e totalmente corpóreo, e emitia a voz de uma fênix dolorida. Subiu em círculos no ar, suas imensas asas batendo, uma aura poderosa a envolvendo, conectando-se com a aura de Harry, que tinha o mesmo brilho e cor.

Ana e Hermione, assustadas, jogaram-se no chão, e elas e Rony viram a imensa fênix se elevando. E Harry se erguia no ar, levitando em meio à aura, acompanhando-a. Ele tinha, agora, o total controle sobre seu Patrono descomunal e incrível.

— Mas... o que é isso? — falou Rony, abismado. — Nunca ouvi falar sobre algo assim...

— Será que tem algo a ver com o Amuleto de Merlin? — Ana sussurrou.

Hermione, meio assustada, murmurou:

— Eu não acredito... Um Patrono Maximum...

A fênix de Harry, com o bater de suas asas, afastava os dementadores do solo. Harry a olhou e disse, firme:

— Vá.

Na mesma hora o pássaro começou a voar e a planar pelos arredores de Hogwarts e sobre o castelo, e onde passava, afastava os dementadores, que procuravam se esconder ou fugir. A fênix e a aura de Harry eram tão brilhantes e cheias de energia positiva, magia pura e clara, do bem, que iluminava completamente todo o território de Hogwarts, inclusive a Floresta Proibida, o que atraiu os centauros para suas margens, curiosos com aquilo.

***

Dentro de Hogwarts, mesmo enquanto combatiam os dementadores que estavam lá dentro, as pessoas correram para as paredes esburacadas, fendas, portas e janelas, para verem o que estava acontecendo. Os dementadores nem saíram de suas posições, há uns centímetros do teto, como se temerosos de que aquela energia brilhante, que o teto mágico do Salão Principal revelava, fosse atingi-los. Dumbledore deu um sorriso imenso.

— Ainda bem que sobrevivi para poder ver isso... Algo que aconteceu apenas uma vez... Com Merlin...

— Mas o que é isso, Alvo? — Minerva perguntou, abismada com aquilo.

— É um Patrono Maximum... Que eu saiba, apenas Merlin conseguiu lançá-lo... Apenas ele tinha a magia necessária... Um Patrono Maximum é um Patrono que reúne não apenas a magia normal, superficial, que todos os bruxos têm... A magia conjurada quando pensamos em algo bom... Não, é muito mais que isso... Ele reúne a magia que há no mais profundo do nosso ser, a magia de nossa alma, nosso coração, raramente usada, por estar num lugar meio inacessível para a maioria das pessoas. Uma Magia Elemental, que tem ligação com os elementos, água, terra, fogo e ar, que em conjunto fazem parte de todos nós, de todas as coisas do universo. Até hoje apenas Merlin, o maior bruxo de todos os tempos, tinha conseguido conjurar esse Patrono.

— Deve ter algo a ver com o Amuleto de Merlin, não, Alvo? — perguntou Aberforth.

— Pode ter influenciado, já que o Amuleto pertenceu a Merlin e de certa forma parte de nós permanece nas coisas que criamos, além de que a força dos elementos foi aprisionada no Amuleto... Mas uma influência pequena... Nenhum objeto, por mais mágico e poderoso que seja, seria capaz de trazer à tona a Magia Elemental de nossa alma... Apenas bruxos realmente poderosos e que tem a alma pura, livre, aberta aos elementos, ao universo, pode fazer isso. O Amuleto pode ter servido como uma chave, um interruptor que apenas ajudou Harry, mas o resto foi feito por ele e apenas ele.

— Meu Deus... — murmurou Minerva. — Isso quer dizer que...

— Que estamos vendo o surgimento de um outro mago realmente poderoso.

***

Voldemort quase teve uma síncope ao ver o Patrono Maximum de Harry. Ele sabia o que aquilo significava. O nível de poder do garoto era superior a tudo o que ele conhecia; ele mesmo, por mais que tentasse, jamais conseguira um Patrono Maximum, e sabia que o bruxo capaz daquilo era um candidato sério a superá-lo e tomar seu lugar.

***

A fênix de Harry continuava a percorrer o céu, atemorizando e afastando os dementadores. A maioria deles, sem conseguir fugir a tempo, sentindo um medo doentio, passou a se infiltrar dentro do castelo, procurando algum lugar para se esconder. Juntando à grande quantidade que já estava lá desde o começo do ataque dos dementadores, o número deles lá dentro se tornou muito alto. Sua influência e aura sombrias fizeram a temperatura cair demais, e os bruxos já não estavam conseguindo conjurar Patronos para afastar o sofrimento e demais sentimentos negativos que os dementadores causavam. Em bandos, os bruxos saíram do castelo, exceto os das torres e ameias. Era mais fácil sobreviver em meio a Comensais que dementadores. Isso, entretanto, não foi algo sensato. Para conjurar e manter um Patrono Maximum eram necessárias muita magia e energia. Harry começou a enfraquecer. Sem nem mesmo perceber, o nível de sua aura começou a cair e ele lentamente desceu ao chão. A fênix dourada e de fogo começou a ficar cada vez menos corpórea e brilhante, até se extinguir. Logo o calor e a luz que ela trouxe se dissiparam.

Quando tocou o chão, Harry caiu ajoelhado. Hermione, Rony, Ana, Gina e vários outros correram até ele, tanto preocupados com ele quanto impressionados com o que ele fizera.

— Harry, querido, você está bem? — perguntou Gina, preocupada, ajoelhando-se e passando a mão em seus cabelos.

Ele ergueu a cabeça e os olhou. Nos olhos intensamente verdes havia um grande sofrimento.

— Sirius... Ele... sofreu o Beijo do Dementador!

Abraçou Gina, escondendo seu rosto entre seus seios, mordendo os lábios para evitar chorar. Estavam em meio a uma guerra e não havia tempo para aquilo.

Os amigos de Sirius ficaram abalados com a notícia.

— O que foi aquilo que você fez, Harry?

— Eu... eu não sei, Rony. Simplesmente tive tanta dor ao ver o Sirius perdendo a alma que foi como se eu... enlouquecesse momentaneamente. Pensei, não, não só isso, senti, imaginei uma maneira de afastar esses malditos dementadores, e então senti como se minha magia se expandisse e me superasse, tomasse conta de meu corpo e alma... Foi impressionante.

— Sim, Harry, realmente — disse Hermione. — Você conjurou um Patrono Maximum, e o único que conseguiu o feito antes de você foi o Merlin. Você é um mago poderoso, Harry, muito mais do que eu suspeitava.

De repente, todos começaram a sentir frio novamente. Alarmados, olharam para o castelo. Uma nuvem negra e sombria saia de dentro dele. Eram os dementadores! Agora, que o Patrono Maximum tinha se dissipado, eles estavam escapando do castelo, onde tinham se refugiado, e iam para o lugar onde tinha, agora, maior concentração humana, em Hogwarts, a área ao ar livre! E vinham com sede de vingança, dispostos todos a roubar a maior quantidade de almas possível. O problema com os dementadores era justamente esse: podiam ser afastados, mas não destruídos, e uma grande aglomeração tinha muita coragem, retornava quando a ameaça acabava. E agora a ameaça causada pelo Patrono Maximum já não mais existia. Harry não seria capaz, ao menos por enquanto, de conjurar um novo Patrono daqueles, nem mesmo sabia como fazer, aquilo acontecera sem planejamento.

Era quase como se fosse uma armadilha cruel armada pelo destino. Agora a maioria não tinha mais a proteção das paredes, mesmo esburacadas, do castelo. Percebendo aquilo, os Comensais, enfeitiçados para não sofrerem os efeitos dos dementadores, um feitiço de Voldemort realmente providencial, vieram correndo atacá-los. A nuvem de dementadores, sobrevoando o grande grupo de bruxos, cada vez mais perto deles, drenava as energias das tropas de Hogwarts, que tinham que ao mesmo tempo lutar contra os dementadores e contra os Comensais, mas era muito difícil. Se perdiam tempo lançando Feitiços do Patrono, ficavam vulneráveis aos feitiços dos Comensais, e vice e versa.

O Amuleto de Merlin não tinha efeito contra os dementadores, apenas contra as Maldições da Morte lançadas pelos Comensais, e Harry corria como um louco entre os grupos de combatentes, ajudando os amigos que enfrentavam Comensais e dementadores ao mesmo tempo, querendo equilibrar o jogo, mas era difícil. Os dementadores também agiam sobre ele.

O combate esteve prestes a pender definitivamente para o lado de Voldemort. Estava prestes a acontecer um verdadeiro massacre das tropas de Hogwarts, se algo para mudar o jogo não tivesse acontecido. Só quem percebeu os primeiros sinais de que as coisas iam mudar foram os bruxos que ainda combatiam os dementadores sobre as torres e ameias. Ao longe, avistaram imensas formas que vinham pelo ar. A princípio, pensavam que eram novas nuvens de dementadores, e temeram que a batalha terminaria ali, com a vitória fácil para Voldemort. Só depois, quando as formas se aproximaram mais, pelo ar, eles perceberam que não podiam estar mais enganados. Não eram dementadores; eram dragões!

Sim, dragões, seis imensos dragões Verde-galeses vinham em direção a Hogwarts, e vinham em formação perfeita de “v”, numa simetria que não era normal entre dragões. Na verdade, não era normal ver dragões em grupos, normalmente eles eram seres solitários que só se encontravam com outros dragões nas épocas de reprodução. Um dos dragões veio em direção à torre, o que estava na ponta do “v” conduzindo os outros, saindo, assim, da formação. E só então os bruxos sobre as torres perceberem que ele estava montado! Ninguém jamais soubera de um dragão que podia ser “conduzido”.

Carlinhos Weasley olhou em torno, seus olhos castanhos temerosos por seus amigos lá embaixo, pois a nuvem de dementadores era tão grande que quase não deixava perceber o que acontecia na superfície da área ao ar livre de Hogwarts. Aproximou-se ainda mais da torre da Grifinória, que estava sendo protegida por alguns bruxos, Gui entre eles, e desceu o máximo que pode, sobrevoando a torre. Ergueu a mão numa saudação e gritou:

— Olá, pessoal! O reforço chegou!

Gui riu ao ver Carlinhos montando o dragão.

— Mais que surpresa! — gritou em resposta. — Então era esse seu segredo, mano! Muito bem pensado! Expecto Patronum!

— Sim, basta agora eu descobrir uma maneira de livrar vocês dessas coisas feias!

Carlinhos voltou a conduzir o dragão em direção aos demais amigos, sobre seus dragões.

— Vamos nos dividir! — gritou. — João, sobrevoe a Torre da Grifinória, Luís, vá à Torre da Corvinal, Jasão, cuide das ameias do castelo! Davi, Rogério e eu ficaremos com a superfície lá embaixo, que é a que mais precisa de ajuda e que tem a maior concentração de dementadores!

— Mas o que faremos, Carlinhos? — perguntou Luís. — Lançando Patronos, só nós seis, não vamos conseguir muita coisa, a não ser retardar a derrota, ora, eles são mais de cem e não estão conseguindo muita coisa!

— Bem, não sei se vai ter efeito, mas vamos tacar fogo nesses condenados! Fogo mágico dos dragões! É a única coisa que a gente pode tentar! Vamos, não podemos perder tempo!

E cada um foi para seu canto, os olhos fixos em seus objetivos: os imensos “morcegões” que sobrevoavam os defensores de Hogwarts, sugando suas energias e boas lembranças e atrás de suas almas.

***

No chão, os defensores de Hogwarts continuavam lutando sem parar, combatendo os Comensais que os atacavam com toda a força. Os dementadores, como não afetavam os corpos, mas as almas e mentes, prejudicavam também os gigantes, que não usavam magia, e por isso mesmo eram incapazes de conjurar Patronos; há muito tinham ajoelhado no chão, as mãos apertando as cabeças, gritando de agonia. Quem mais sofria dentre todos era Harry, pois ao defender os amigos contra o Avada Kedavra com o Amuleto de Merlin, ficava sem tempo de lançar a quantidade suficiente de Patronos, fora que como sempre tivera poucas lembranças felizes, era difícil conjurá-los, o que o deixava mais vulnerável à maléfica influência dos dementadores. A nuvem escura e densa estava cada vez mais perto, muitos deles já tinham descido ao solo para roubar as almas dos combatentes, e para a tristeza de todos, muitos perderam suas almas naquela noite, embora continuassem vivos, uma vida amaldiçoada de vegetal sem sentimentos e pensamentos. Moody, Angelina Johnson, Colin Creevey foram alguns dos que foram “beijados” pelos dementadores.

Gina tinha se afastado um pouco, lutando contra Mulciber e Travers. Harry não a percebeu. Ela caiu sob o impacto de um Alarte Ascendare lançado por Mulciber, e Travers a agarrou por trás, por baixo dos braços, erguendo-a. Ela estava meio tonta e machucada pelo impacto que sofrera quando recebera o feitiço de ataque que a lançara longe e com força, e tentou se soltar, mas não conseguiu.

— Vamos, Mulciber, mate a vadia com um Avada! Soube que é a namoradinha do Potter, nosso mestre vai adorar isso!

— Não, Travers, há algo melhor... Imagine o que o Potter vai achar ao ver sua “amiguinha” morta-viva? Por que será assim que ela vai ser, não mais que um zumbi, se receber o beijo de um dementador. Deixe que um deles sugue sua alma!

— Boa ideia!

Ele esperou uns minutos. Com tantos dementadores, logo um perceberia a presença imóvel de Gina. Dito e feito. Em pouco tempo um dementador, com sua rascante e aflitiva respiração, desceu da nuvem que sobrevoava o campo de batalha e foi até eles. Os Comensais não sentiram seu efeito, mas Gina logo sentiu, e ela gritou, aterrorizada, revolvendo-se, tentando se soltar, mas sem conseguir. Logo o dementador chegou com sua cara com boca de ventosa e passou a sugar lentamente.

Harry ouviu gritos de uma voz bastante familiar, mas eram tantos que gritavam que era difícil distinguir de onde vinha essa voz. Estava se sentindo aflito, desde que ouvira essa voz gritando, e só depois de um tempo percebeu que era a voz de Gina. Procurou por todos os cantos do campo de batalha, mas era difícil, ele estava tumultuado, cheio de bruxos e Comensais combatendo, além dos corpos dos que caiam em batalha e dos gigantes mortos, que atravancavam muito o espaço.

Quando Harry a viu, gelou. O dementador acabava de dar sua última aspiração, e com ela partia a alma de Gina de seu corpo. O frio que o envolveu no momento não era causado pelos dementadores. As sensações que sentia no momento eram dez vezes mais fortes que as que sentira quando vira Sirius perdendo a sua alma. Harry sentia como se seu peito estivesse rasgando, como se sua própria alma estivesse deixando seu corpo, partindo junto com a de Gina. Ela era sua alma, seu coração, era ele inteiro, sem ela, ele sentia que não podia continuar. Apertou os punhos e gritou desesperado, um grito que irrompeu do fundo de sua alma sangrenta. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, ele correu até os comensais que riam com absurdo prazer ao ver o corpo desalmado e imóvel de Gina, e não usou sequer a varinha. Atingiu Mulciber como um tornado, os punhos cerrados começaram a massacrar a carne, pele e ossos do Comensal, que tinha paralisado de surpresa ao receberem o primeiro impacto. Travers tentou salvar o amigo, mas Rony se ocupou dele com um feitiço que o deixou incapacitado para a batalha, ferido e desmaiado.

Harry bateu, bateu tanto, e com tanta força e raiva, que a pele de seus punhos e dedos ficou em carne viva, mas ele sequer sentia a dor. Quando o Comensal caiu, extremamente machucado, sua varinha longe, implorando misericórdia, Harry não foi capaz de conceder aquilo a ele. Só o que sentia era a fúria intensa pelo que eles tinham feito à mulher de sua vida. Passou a chutá-lo, descontando toda sua ira e sua dor, até que o rosto do Comensal não era mais que uma máscara de carne sanguinolenta. Ele estava desmaiado. Harry então empunhou sua varinha, e gritou, cheio de ódio:

Avada...

Só não continuou porque alguém o segurou por trás, com força. Ele se debateu, mas quem o segurava era bastante forte.

— Harry, pare, meu amigo! — era a voz triste e abismada de Rony.

— Solte-me! — Harry urrou. — Ou vai ter para você também! Olha o que eles fizeram com a Gina!!! Eu quero... matar esse maldito! E o outro que você pegou também!

— Eu estou triste pela Gina, também, Harry! Sinto essa raiva, esse desejo de vê-los mortos, mas nós não somos Comensais, e não podemos matá-los, não dessa forma! Em combate justo, Harry, num duelo, cada um com suas varinhas, eu sei que eles não merecem, mas você não deve se rebaixar à categoria deles, meu amigo! Você é superior a eles, você não é como Voldemort e seus malditos Comensais da Morte!

Harry parou de se debater. Ofegando muito, seus olhos verdes estavam imensos e vidrados, e brilhavam muito pelas lágrimas e sentimentos enquanto seu olhar passava de Gina para o Comensal que sangrava profusamente. Ele se virou para Rony e se agarrou aos ombros do amigo, que teve que se ajoelhar sob o peso dele. Harry começou a soluçar abertamente, chorando, uivando de dor. Rony o abraçou forte. Seu corpo todo também tremia, seus olhos fixos em sua irmã, que tivera um destino pior que a morte. Seus olhos passearam pelo campo de batalha, onde seus aliados, sem a ajuda de Harry, perdiam lentamente a batalha. Foi quando todos ouviram urros altíssimos que só podiam ser produzidos por...

— Dragões! — gritou Rony, assustado, olhando o céu. Por entre a espessa nuvem de dementadores, alguns dragões sobrevoavam o campo de batalha. Só podia ser... — Carlinhos!

***

Carlinhos e dois dos seus amigos tratadores de dragões sobrevoavam o campo de batalha, analisando o lugar e imaginando o que podiam fazer. A única coisa, pelo visto, era ver se lançando fogo, podiam ao menos afastar os dementadores para dar uma chance que fosse aos seus aliados e amigos. Cada um conduziu seu dragão para um canto, Carlinhos, o que tinha mais experiência com “os bichos”, como ele os chamava, ficou na parte central, onde se concentrava a maior parte dos dementadores. Ele deu uma palmadinha no pescoço musculoso e coberto por rijas escamas verdes do seu dragão e disse:

— Bem, Verdinho, acho que chegou sua vez de se divertir, não? Vejo que mal se contém! — puxando um dos chifrinhos do alto da cabeça do Verde-galês de nome Verdinho, um sinal que ele tinha adestrado o monstro a lançar fogo quando o fizesse, gritou — Agora, meu amigo! Fogo neles!

Não foi preciso mais nada. Mal Verdinho sentiu o sinal e ouviu o tom excitado e de ordem na voz de seu dono, abriu a bocarra e despejou sobre os dementadores um imenso e poderoso jorro de fogo mágico. Carlinhos não tinha a menor ideia do que aconteceria, e teve que se afastar com seu dragão para longe rapidamente, pois quando as chamas do dragão tocaram os dementadores, foi como se houvesse uma explosão. Eles passaram a queimar intensamente, e gritos agourentos e dolorosos escaparam na noite. Era a primeira vez que se ouviam as vozes dos dementadores. Carlinhos tinha descoberto a maneira de se destruir um dementador.

Nos outros extremos do campo de batalha, e sobre as torres e ameias, outras explosões também aconteceram, e logo o fogo laranja e vermelho também se expandiu, iluminando Hogwarts inteira ainda mais intensamente do que tinha feito a aura e o Patrono Maximum de Harry. O fogo passava de dementador para dementador com uma rapidez e intensidade que era como fogo em rastro de pólvora, e eles queimavam facilmente.

***

Em baixo, todos pararam de lutar, abismados com o que acontecia, com o mar de fogo que subitamente “nascera” sobre suas cabeças. Os gritos dos dementadores eram pavorosos. Logo os dementadores passaram a definhar. O fogo dos dragões só parava de queimar quando os reduzia a pó.

Voldemort, irritado com o que acontecia, mas ainda mais assustado, gritou para seus Comensais:

— Façam alguma coisa, seus inúteis! Joguem água neles, acabem esse incêndio, não posso perder um aliado tão, tão poderoso!

Logo o Feitiço Aguamenti passou a ser lançado de todos os cantos, pelos Comensais, todos bem assustados com o que seu mestre faria a eles, caso seus preciosos dementadores sucumbissem todos. Foi a pior coisa que podiam ter feito. Quando o fogo dos dragões atingia os dementadores, não havia maneira alguma de ser apagado. A água fazia um efeito semelhante ao do “fogo grego”, uma arma bélica inventada pelos gregos à base de pólvora e outra substância química que fazia irromper um incêndio que se propagava mais potente e mais rápido ao receber água. Logo não havia um só dementador que não estivesse queimando.

De repente, junto com as cinzas, que eram apenas o que sobrava dos dementadores que queimavam até o fim, pequenas esferas de luz passaram a flutuar no ar. Algumas dessas esferas se perderam na noite, indo para todas as direções possíveis, outras desceram lentamente. Ninguém estava entendendo o que estava acontecendo, até que algumas pessoas que tinham sido “beijadas” pelos dementadores subitamente abriram os olhos e se moveram, olhando para os cantos, ainda zonzas e assustadas.

— Sirius! — gritou Hermione, feliz, ao vê-lo se sentando, olhando em torno, como se estivesse confuso.

Harry, que tinha ficado olhando o mar de fogo no céu junto a Rony, assustado e deslumbrado como todos, ouviu o súbito grito de Hermione e, incrédulo, olhou para seu padrinho. Arregalou os olhos ao vê-lo totalmente vivo de novo.

— Não é possível... — murmurou.

Mas logo ouviu novos gritos de alegria, e viu que as demais pessoas que tinham recebido o beijo de dementador estavam despertando também! As almas retornavam aos donos com a morte dos dementadores!

— Gina... — ele sussurrou. Seu coração batia potente no peito, tanto que o deixava meio tonto, mas ele se ergueu e correu até sua querida menina. Ajoelhou-se ao seu lado. Expectante, ele a olhou, esperando que já estivesse desperta. Entretanto, ela continuava imóvel como um vegetal. Harry agarrou seus ombros e os sacudiu. Seus olhos pareciam meio dementes, e disse, em voz áspera:

— Vamos! Acorda! Não faz isso comigo!

Ela, entretanto, teimava em não despertar, enquanto os outros já estavam todos despertos. Harry a abraçou contra seu peito, pressionando o rosto da garota contra seu ombro e pescoço, as lágrimas novamente inundando seus olhos.

— Não faz isso comigo... — ele sussurrou novamente, a voz embargada. — Não me deixa... Não posso viver sem você... Amo você...

— Ainda bem, porque eu também te amo e preciso de você... — disse a voz dela, fraca e abafada contra a pele de Harry, que sentiu um leve arrepio. Ele paralisou, inclusive sua respiração, ainda sem querer acreditar e ter uma decepção.

— Voltei, Harry... — ela sussurrou. — Voltei para você...

Só então ele pode acreditar e dar um urro de alegria. Apertou-a tão forte que temeu quebrar suas costelas. Segurou sua nuca e ergueu seu rosto. Deixou seus olhos se embeberem na imagem tão querida de seu rosto sardento. Sorriu-lhe e logo a beijava urgentemente, num beijo desesperado que era como um grito de alegria e vitória.

***

Voldemort estava profundamente irritado. Seu ataque de fúria ao ver seu maior trunfo ser completamente derrotado, ou melhor, eliminado, foi tão potente que Harry não pode evitar sentir parte dele. Ainda abraçado a Gina, ele sentiu uma dor excruciante em sua cicatriz, e usou sua Oclumência com toda a força que foi capaz, pois não queria que Gina percebesse e se assustasse.

De repente, algo muito impressionante aconteceu. Voldemort se ergueu do lugar onde estava e num andar régio e lento, começou a caminhar em direção a Harry! As pessoas que não saiam da sua frente voluntariamente iam sendo jogadas para os lados apenas com a força da aura mágica de Voldemort. Harry se separou de Gina, e a ajudou a se levantar. Era a hora da verdade. Virou-se para todos e disse:

— Afastem-se, por favor. Agora é entre eu e ele.

— Mas... mas Harry! — protestaram Rony, Hermione e Ana.

Dumbledore ergueu sua mão, calando os protestos deles.

— Não, agora Harry tem que enfrentá-lo sozinho. Vocês devem saber disso, se participaram da conversa que meu quadro e Snape tiveram com o Harry. Chegou a hora de a última Horcrux ser destruída e assim Voldemort voltar a ser passível de morrer.

Cabisbaixos, os três amigos de Harry se afastaram. Temiam pelo amigo. Dumbledore apertou o braço de Harry, incutindo-lhe confiança, e se afastou. Nesse momento, Voldemort estacava, a poucos metros de Harry. Agora os dois estavam se encarando, apenas a luz da lua os iluminando.

— Potter, creio que chegou a nossa vez... — a voz fria e aguda de Voldemort se fez ouvir. — Essa guerra está indo além das minhas expectativas, de certa forma vocês merecem elogios, jamais pensei que resistiriam por tanto tempo... Mas não espere elogios de mim. Quero apenas a sua morte.

Voldemort ergueu a varinha, pondo-se em posição de luta. Segurava a varinha como um esgrimista segura sua espada na hora de um combate. Harry também ergueu sua varinha, mas sabia que não a usaria, ao menos por enquanto. Era mesmo chegada a hora da verdade, e ele ficaria à espera do golpe fatal de Voldemort sem sequer se defender. Era necessário.

— Vamos, Voldemort. Estou esperando.

— Diz o meu nome? Estou impressionando... — Voldemort disse de maneira debochada. — Então se prepare! Avada Kedavra!

Harry apenas riu. Com o poder da parte do Amuleto de Merlin do sereiano, as Maldições da Morte eram totalmente neutralizadas. Um escudo de luz dourada envolveu seu corpo, neutralizando o raio verde do Avada Kedavra de Voldemort.

— Apenas isso, Voldie? Pensei que, com os poderes tão incrivelmente superiores aos meus, como vive se pabulando, conheceria feitiços mais potentes, mais letais ou cruéis que uma simples Maldição Imperdoável... Onde estão seus amplamente falados feitiços de magia das trevas? Enquanto eu estiver usando esse Amuleto de Merlin, Maldições da Morte são inúteis. Fazem menos efeito que um simples Alorromora...

Irritado com a maneira como Harry falara, debochado, menosprezando-o, Voldemort apertou tanto o cabo de sua varinha que os nódulos de seus dedos ficaram impensavelmente mais brancos. Os olhos vermelhos de Voldemort se fecharam por um tempo, como se ele estivesse se concentrando. Quando os abriu, eles revelavam uma maldade intensa. O clima ficou opressivo, era como se magia negra se destilasse do corpo de Voldemort, que ergueu sua varinha e gritou, lançando um feitiço só usado por quem fosse realmente das trevas, conhecido por poucos. Mesmo Dumbledore, com toda sua vivência e conhecimento, não sabia de sua existência.

Exterminius!

Esse feitiço não destruía apenas o corpo. Ele afetava também a alma. Era a morte ao mesmo tempo do corpo e da alma, a aniquilação completa de uma pessoa, de tal maneira que jamais haveria, para quem recebesse esse feitiço, um reencontro com o Criador, um retorno ao Universo, aos elementos com que tudo era feito. A magia presente em todas as coisas, que todos têm, jamais voltaria a se unificar com sua matriz original.

Harry fechou os olhos, esperou pelo feitiço com coragem e uma ponta de medo, afinal, o que ele e Dumbledore achavam que ia acontecer era apenas teoria, jamais fora posto em prática. Ao menos, se ele morresse naquele momento e naquele lugar, saberia que Voldemort seria, outra vez, mortal, e que outros podiam continuar sua luta e tentar acabar com ele. Quando o raio negro atingiu Harry na cabeça, bem na testa, o grito que saiu de dentro de si não parecia dele, tinha até entonação diferente. Seu corpo recebeu um impacto tão grande que voou vários metros, caindo no chão com uma violência que o fez desmaiar por uns minutos.

Voldemort e seus Comensais soltaram urros de alegria, enquanto se elevava, da parte dos defensores de Hogwarts, um lamento coletivo. Gina, abalada, tentou correr ao corpo de seu amado, mas Dumbledore a segurou pelos ombros, não deixando que ela fosse. Enquanto a maioria olhava para Harry com certeza de sua morte, Dumbledore, Snape, Rony, Hermione e Ana o olhavam com uma mistura de medo e expectativa, pois eram os únicos que tinham ideia do que podia estar acontecendo naquele momento.

Harry voltou rapidamente à consciência, mas não abriu os olhos. Manteve-se deitado e imóvel, ainda sentindo o impacto do feitiço poderoso e a dor do choque com o solo. O Amuleto de Merlin não permitira que o golpe fatal de Voldemort o matasse, pois ele mantinha seu portador sempre com vida, bastava saber se a Horcrux fora destruída. Ele não sabia como podia ter certeza daquilo. Concentrou-se em suas sensações e emoções. Tinha certeza que algo estava diferente dentro de si. Sempre convivera com uma leve sensação de peso em seu corpo, uma sensação de tensão, de aprisionamento, de espionagem, como se sempre estivesse sendo vigiado, como se algo não estivesse certo dentro dele. Agora, Harry se sentia estranho. Aquelas sensações tinham todas desaparecido, sentia falta delas, pois sempre convivera com elas. Há coisas que nós só percebemos que temos ou sentimos quando as perdemos, e é o que acontecia com Harry. Forçado desde um ano de idade a conviver com uma presença alienígena em seu corpo, agora, que essa presença não mais existia, Harry se sentia estranho, como se faltasse uma parte dele que sempre estivera lá, espreitando nas sombras. Apesar de se sentir estranho, Harry jamais se sentira tão leve e tão em paz. Tinha certeza. Não era mais uma Horcrux. A última parte da alma fragmentada de Voldemort, fora a que se encontrava no corpo do bruxo, acabava de morrer.

Algo estranho estava acontecendo com Voldemort. Ele pareceu também receber parte do impacto do feitiço que lançara, pois caiu sobre um joelho, subitamente fraco. Respirava de maneira arfante, e seus olhos viperinos e vermelhos estavam arregalados, olhando em torno de maneira confusa, sem saber o que eram aquelas sensações estranhas e desagradáveis que o percorriam.

Harry abriu os olhos e respirou fundo. Logo se incorporou e se sentou. Não se sentia mais o mesmo, uma sensação de alívio o percorria, e não sentia mais nada em sua cicatriz. Harry tinha plena certeza, jamais Voldemort penetraria em sua mente novamente, nem ele poderia mais penetrar na mente do bruxo, a não ser que usassem Legilimência um com o outro.

Voldemort arregalou ainda mais os olhos e se pôs de pé, meio cambaleante, olhando fixo para o homem que devia estar total e irremediavelmente morto, morto tanto física quanto espiritualmente.

— Mas... o que está acontecendo?! Você deveria estar morto!

Sorrindo, Harry se levantou. Seus olhos brilhavam intensamente por trás dos óculos.

— O Amuleto de Merlin. Enquanto eu estiver usando ele, nada poderá acabar com minha vida. Por quê, Voldie? Por acaso está com medo?

Voldemort se irritou com a declaração e com a maneira irônica como Harry o vinha chamando.

— Medo? Lord Voldemort jamais tem medo! — entretanto Voldemort sentiu algo estranho, uma sensação meio sufocante, e pôs sua mão sobre seu peito. — Mas o que é que está acontecendo comigo?

Harry riu ainda mais.

— O que houve, Voldie? Por acaso não está com a sensação de que perdeu... “algo”?

Era estranho, mas era isso mesmo. Voldemort sentia como se tivesse perdido algo vital para ele. Desconfiado, olhou para Harry. Ele mantinha os olhos sobre Voldemort com a segurança de quem sabe de algo que ninguém mais sabe. Subitamente temeroso, Voldemort falou:

— O que quer dizer com isso, Potter?

— Por acaso não sente que algo em você está... digamos... esburacado? Bem, creio que esburacado não é bem a palavra certa... Não sente como se alguém tivesse arrancado e destruído algo muito importante seu?

Subitamente, Voldemort entendeu o que Harry quis dizer, mas não quis acreditar. Não podia acreditar. Entretanto, pelo seu olhar meio demente, meio assustado, Harry percebeu que ele entendera.

— Sim, Voldie, é isso mesmo que você está pensando. Agora você é outra vez mortal. Todas as suas Horcruxes foram destruídas.

Ouvir aquelas palavras causou um grande impacto em Voldemort. Incrédulo, ele olhou para Harry, movendo a cabeça de maneira negativa. Ele sequer sabia que outras pessoas fora ele soubessem da existência de suas Horcruxes, exceto, talvez... Slughorn! Sim, tinha sido ele!

— Sim, Voldemort, nem tente se enganar. Todas as suas Horcruxes foram destruídas. O diário, a Taça de Hufflepuff, o Diadema de Ravenclaw, o Medalhão de Slytherin, o anel dos Peverel, Nagine, e sua última Horcrux.

Voldemort franziu a testa.

— Última Horcrux? Mas eu não fiz uma sétima Horcrux, bem que eu queria, mas perdi meu corpo antes de fazê-la, na noite em que tentei te matar!

Harry tornou a sorrir.

— Bem, você “acha” que não fez. Mas fez, sim. Na noite em que tentou me matar, sem nem mesmo perceber. Quando tentou fazer uma Horcrux em algo que pertenceu a Gryffindor.E acabou de destruí-la. Você acabou de destruir a Horcrux ligada a algo pertencente a ele. Ou seria melhor dizer ligada a alguém...

Uma crescente compreensão se estampou no rosto de Voldemort.

— Sim, Voldie. Eu era sua última Horcrux... E você acabou de destruí-la! Por isso está sentindo essa falta, essa sensação de perda. Apenas quando a última das Horcruxes de alguém morre, a alma mutilada sente, percebe a falta de seus outros pedaços! Isso estava no livro sobre as Horcruxes, pena que você não deve ter lido o livro inteiro, né? Contente-se, Voldie! Agora você é mortal e pode ser destruído.

Voldemort apenas continuou olhando para Harry, abismado, chocado, sem conseguir falar nada. Então era por isso que havia aquela ligação mental e espiritual entre eles... Era por isso que o garoto parecia compartilhar algumas de suas habilidades, como a Ofidioglossia...

— Mas você ainda está vivo?!

— O Amuleto de Merlin! Por acaso você não soube sobre a nova Profecia?

— Que nova Profecia? — Voldemort perguntou, desconfiado e subitamente temeroso.

Harry riu antes de dizer:

A feiticeira que não conhece a magia oferecerá ao Menino Marcado como Igual pelo Lord das Trevas a arma que o vencerá. E essa arma, Voldie, é o Amuleto de Merlin!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Por favor, comentem!

Até o próximo, pessoal!

Bjs



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