Harry Potter e o Amuleto de Merlin escrita por ana_christie


Capítulo 32
O Glorioso Poder Mágico da Fênix


Notas iniciais do capítulo

Oi, Pessoal! Me desculpem imensamente pela demora. Estou trabalhando, por causa de um mutirão lá no trabalho para deixar as coisas em dia, nove horas diariamente de segunda a sexta, juntando com a dança do ventre, da qual faço aulas, e que é muito pesado, estou morta de cansaço. Espero que gostem desse capítulo, acho que ele vai surpreender. Vai acontecer algo que acho que ninguém jamais esperaria. E ainda mais guerra, mais inimigos a serem derrotados, novos seres usados por Voldie! Nunca nossos heróis tiveram que lutar tanto!



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Draco Malfoy estava decidido. Ele morreria nesse dia tão importante para o mundo bruxo. Todos estavam excitados com a batalha, apreensivos, à espera do momento em que Voldemort realmente passasse a lutar com tudo. Ele ainda não participara de batalha alguma, e era poderoso demais. Draco sabia muito bem disso. Voldemort já tinha feito coisas muito poderosas na sua frente, e ele tinha certeza que eram coisas que bruxo algum dos que estavam ali tinham sequer conhecimento. Apesar da história de Harry ser o Eleito, Draco não tinha muita confiança de que ele, sendo um bruxo tão jovem e com conhecimento mágico tão deficitário em relação ao de Voldemort, seria capaz de derrotá-lo. Seria necessário o poder de um bruxo superior, em sua concepção, para Hogwarts vencer.

Com um importante livro escondido dentro das vestes longas, e enfeitiçado pelo Feitiço da Desilusão, ele saiu do castelo de Hogwarts. Sentia medo de que algum aliado de Voldemort o encontrasse, pois era considerado, agora, um traidor, mas mesmo assim, estava decidido. Tinha que concertar a maior burrada de sua vida, a coisa que o fizera repensar tudo o que já fizera, o modo como sempre pensara. E que o deixara com um imenso complexo de culpa, tão imenso que não era capaz de ter um minuto de paz. Alegrava-se, agora, de ter escutado o que não devia. Tudo bem, de ter deliberadamente escutado o que não devia.  Agora poderia se redimir. Tudo bem que perderia sua vida, mas isso não lhe importava se, assim, pudesse dar uma contribuição para vencer aquela guerra e pudesse ficar finalmente em paz consigo mesmo.

Com sorte, ninguém o encontrou. A noite, e o fato de estar desilusionado, impediram que fosse visto. Percebeu que uma batalha se travava entre poucas pessoas nos jardins, justo quem queria ver. Era o “trio”, como intimamente chamava Harry, Hermione e Rony, a garota nova e Snape, lutando contra uns Comensais e Nagine. Balançou a cabeça. Não, o Potter jamais conseguiria vencer o Lord das Trevas. Não se não era capaz nem de acabar logo com a “cobra de estimação” de Voldemort. Lançou um feitiço não-verbal enquanto Harry e os outros corriam para dentro do castelo, um Diffindo. Talvez não funcionasse, mas ele imaginava que sim, pois o feitiço era sobre a corrente, não o pendente. Depois calmamente voltou onde Harry estivera justo antes de entrar em Hogwarts. Sorriu consigo mesmo. Estava lá. Abaixou-se e pegou a peça prateada no chão. Ele voltou a olhar para frente, firme, caminhou tranquilamente pelos jardins de Hogwarts, contornou parte do lago até avistar o que queria. Um túmulo de mármore branco. Foi até o túmulo daquele que fora o responsável por sua mudança, aquele que, por sua culpa, estava morto. Abriu o livro e procurou a página certa. Agradecia a Deus as aulas de runas antigas que tivera em Hogwarts, sabia que um dia seriam úteis.

Com um movimento da varinha, ergueu a pesada tampa do túmulo grande e branco, preparando-se para o que veria. Teve, entretanto, uma grande surpresa. O corpo de Alvo Percival Wulfrico Brian Dumbledore estava intacto, como se a passagem do tempo não tivesse acontecido. Sua pele sequer mostrava sinais de apodrecimento ou envelhecimento, como seria normal, continha apenas as rugas — inúmeras, por sinal — próprias da sua idade mega-avançada. Estava vestido com longas e brilhantes vestes brancas e parecia apenas dormir, a expressão muito serena. Apenas a falta de respiração indicava seu verdadeiro estado, o estado de morte.

— Essa é minha última cartada. Não me desaponte, velho. Sei que esse feitiço não foi praticado com humano algum ainda, mas tenho sérias esperanças que funcione.

Antes de começar, Draco escreveu um bilhete e o deixou perto da mão esquerda de Dumbledore, uma explicação rápida do que fizera e por que fizera, e então começou a seguir o ritual que o faria trocar a sua vida por outra. Abriu um corte no pulso do cadáver de Dumbledore; fez o mesmo no seu. Diferente do corte no cadáver, o do pulso de Draco começou a despejar pequenas trilhas de sangue, escuro sob a noite. Ele uniu, em seguida, os pulsos dos dois, tocando os cortes. Com magia, colou as feridas de maneira que o seu sangue ficasse entrando nas veias de Dumbledore. Em língua celta antiga, disse, preparando-se para dizer o feitiço e completar o ritual:

Minha carne, é sua carne; meu sangue, é seu sangue; minha vida, é sua vida, dada de bom grado.

Esperou que parte de seu sangue penetrasse as veias e artérias de Dumbledore. Já se sentia ligeiramente enjoado quando pôs o Amuleto de Merlin, que tinha arrancado de Harry, sobre o peito de Dumbledore, bem sobre onde estaria seu coração, mantendo sua mão sobre a peça, que subitamente começou a esquentar, tanto que passou a queimar sua carne, mas ele aguentou. Tinha que deixar o calor de seu corpo, o seu fogo interior, fluir para o Amuleto, para que a “fênix” presente nele pudesse “renascer” e, assim, fazer Dumbledore também renascer. Murmurou, então, o feitiço:

Vitae, Renascore!

Na mesma hora em que pronunciou o feitiço, Draco sentiu uma sensação que era como um choque elétrico. Seu corpo se arqueou convulsivamente, as veias de seu pescoço saltadas, mas mesmo assim seu pulso continuou preso ao do cadáver de Dumbledore e sua mão direita presa ao Amuleto, queimando intensamente, e ele soube que, mesmo se quisesse parar o processo agora, e não queria, não conseguiria. Sua vida, seu calor, fluía para o Amuleto ao mesmo tempo em que seu sangue, sua essência vital, fluía para o corpo de Dumbledore. Mas não era apenas seu sangue que transmudava; era como se ele inteiro, carne, ossos, pele, órgãos, se transmudasse, doando a energia vital à Dumbledore. Sentia uma dor infernal, bem como tontura e enjôo, e uma fraqueza que aumentava cada vez mais...

Seus sentidos estavam enfraquecendo; nem mesmo ver ele estava conseguindo direito, a cada minuto sua visão ficava mais e mais embaçada, e não conseguia ouvir direito os sons de batalha que vinham do castelo de Hogwarts e arredores próximos. Ouvia apenas um estranho som rascante, pesado, que lhe parecia o som da morte, quase esperava ver um ser todo vestido de negro e com uma foice ao seu lado. Só depois percebeu que aquele som de morte, agourento, era o som produzido por sua própria respiração. Estava sentindo, ia desmaiar. E como o processo só terminaria quando uma vida fosse trocada por outra, ele morreria sem nem mesmo se dar conta. E assim era melhor. Draco, sentindo-se prestes a perder a consciência para sempre, olhou para o rosto de Dumbledore e disse, a voz quase inexistente:

— Me desculpe, velho... Acho... que... nunca disse... isso. Agora... receba minha... vida... dada de boa vontade...

Então seus olhos se fecharam e sua consciência se perdeu para sempre.

***

Harry e seu grupo junto a Snape entraram correndo no castelo, desviando-se dos muitos feitiços que choviam sobre eles. Encostaram-se às paredes, extremamente ofegantes, os olhos arregalados com o susto. À sua frente, os dois lados se digladiavam, amigos e Comensais em disputas realmente acirradas que deixavam novamente o chão cheio de corpos e sangue. Rony olhou para a espada de Gryffindor que ainda segurava. A lâmina estava brilhante do sangue de Nagine. Snape voltou-se para Harry.

— Jamais imaginei agradecer qualquer coisa a você, Potter, mas você merece. Muito obrigado. Você salvou minha vida, quando podia ter se safado muito mais rapidamente com os seus amigos. Obrigado a todos.

Harry se sentiu mal. Não queria o agradecimento de Snape. Ainda achava estranho demais o súbito “companheirismo” entre eles.

— Não, eu é que... te agradeço. Se não fosse sua intervenção acho que... a gente não teria se livrado de Nagine.

Snape também pareceu constrangido. Depois disso, não tocaram mais no assunto. Os cinco se prepararam para continuar a lutar, suas varinhas em punho, Rony erguendo também a espada. Ele conquistara o direito de portá-la. Quando Harry ia partir para a batalha, fazendo também seu papel de defensor dos amigos com o poder lhe confiado pelo Amuleto de Merlin, Ana o olhou e pareceu horrorizada.

— Harry, olhe! O Amuleto!

O rapaz pôs a mão no peito, procurando a peça, e viu que ela não estava mais lá. Sua cabeça começou a dar voltas, mas ele se recuperou com uma alta dose de disciplina. O Amuleto era a única arma que lhe permitiria acabar com Voldemort!

— Oh, não! Eu o perdi! Tenho que voltar lá fora!

— Não, Harry, você não pode! — disse Hermione. — É muito perigoso!

— Mais perigoso é deixar que a peça seja encontrada por Voldemort ou um de seus partidários! Com ela ele se torna invencível, pois mesmo com a minha morte, e o desaparecimento de todas as Horcruxes, ele vai ter uma peça que o impedirá de ser morto em batalha e que ele poderá usar para renascer, esqueceu do poder da Fênix?

Nesse momento Slughorn apareceu esbaforido, as bochechas balofas rosadas de excitação e esforço. Seus olhos estavam inquietos, olhando para todos os lados. Parecia meio atordoado e muito nervoso.

— Vocês não viram... o jovem Draco Malfoy? Ele... golpeou minha cabeça e... sumiu!

— Como?! Mas você não disse que ele... tinha mudado e tudo o mais?

O rosto de Slughorn ficou ainda mais corado e ele baixou os olhos.

— Pois é... Acho que me enganei... Ele me desacordou e depois desapareceu... Acho que usou o momento da segunda invasão dos Comensais e do ataque da cobra de Voldemort...

— Desgraçado! — rosnou Harry. — Deve ter sido ele!

Snape franziu as sobrancelhas.

— Esperem um momento... Draco ficou perto de mim bastante tempo, lá na enfermaria temporária, enquanto eu preparava umas poções... Creio que ele deve ter me visto guardando o livro de Merlin! Deixa eu tirar a prova!

Snape correu até as enfermarias improvisadas, que ficavam nas masmorras, justo onde ele, por ser diretor da Sonserina, morava. Tinha deixado a Sala dos Diretores inteiramente para Aleto Carrow, a outra diretora de Hogwarts, com a desculpa de que era por ela ser mulher, embora na verdade fosse para não ter mais contato que o necessário com alguém tão devotada as artes das trevas. Correu ao seu quarto e procurou onde tinha deixado o livro. Bem como tinha imaginado! Voltou correndo para Harry e os outros, que estavam impacientes.

— Eu estava certo. Além do Amuleto, ele levou o livro de Merlin.

Harry parecia quase tinir de raiva.

— Não importa o perigo, não posso deixar que ele leve o Amuleto e o livro a Voldemort! O Lord teria a faca e o queijo nas mãos! Tenho que ir atrás de Malfoy!

De repente, um som estranho se ouviu, do lado de fora. Era como se fosse o som feito por muitas pessoas assustadas e impressionadas ao mesmo tempo. Parece que o fato que gerou toda a comoção também chamou a atenção dos combatentes das torres e ameias. Dezenas de Patronos baixaram, com uma excitação que reproduzia a excitação dos seus donos. O de Kingsley disse:

Algo estranho, Harry! Muito estranho! Mas é algo que também impressionou Voldemort e seus asseclas, não é um estratagema do Lord! Vejo uma luz muito branca que envolve uma forma humana, mas a luz é tão clara, brilhante e vibrante que não dá para a gente distinguir quem é! Mas a luz é clara demais, pura demais para pertencer a alguém tomado pela magia das trevas!

Todos praticamente pararam de lutar, mesmo os Comensais, todos curiosos com o novo fato totalmente inesperado para ambos os lados.

***

Voldemort estava profundamente irritado. Não só perdera uma de suas Horcruxes e leal serva, como também perdera a chance de matar logo de uma vez o Potter e seus amigos e o traidor Snape, e assim, conseguir o Amuleto de Merlin. Ainda bem que ainda tinha alguns trunfos para acabar com aquela guerra de maneira favorável para ele. De repente, uma claridade totalmente inesperada apareceu perto do lago, distante dele umas centenas de metros. A claridade foi aumentando, como se quem quer que a produzisse estivesse se aproximando. Ficou apreensivo, pois não imaginava o que poderia ser, e sentia uma pureza, uma energia radiante e positiva vindo de lá, que entrava em choque com sua própria magia negra.

— Mas que diabos...?

A claridade se aproximou mais, e quanto mais se aproximava, mais ofuscante se tornava. Todos no jardim, inclusive os Comensais e lobisomens, tinham parado de lutar, boquiabertos com o que viam. Quando a claridade chegou realmente perto, perceberam que ela emanava de alguém. Havia uma forma humana dentro dela, fracamente distinguível, e era dele que emanava tamanha energia, tamanho poder e magia branca, clara e poderosa. Logo, vislumbraram as formas desse ser. Vestia longas vestes brancas brilhantes, e tinha longos cabelos e barbas prateados. Nos braços, carregava uma outra pessoa. Já era impossível não perceber quem era, embora fosse algo totalmente incompreensível. Não podia ser uma alucinação coletiva. Era Alvo Dumbledore!

— Mas que diabos...?! — tornou a falar Voldemort, dessa vez num tom ainda mais impressionado e assustado. — Você morreu! Não pode ser verdade! Você foi enterrado! Não devia existir mais que ossos! Que ilusão é essa?! Homenum Revelio! — gritou, pois imaginava que havia alguém por trás da ilusão, pois só podia ser uma ilusão, e queria saber quem era que queria desestruturá-lo.

Nada de diferente aconteceu, entretanto. Apenas a forma do corpo ficou mais escura e nítida por um curto espaço de tempo, e não mudou nada. Continuou idêntico a Dumbledore.

— É ele! — rosnou Voldemort, irritado e assustado. — Não tenho a mínima ideia de como pode ser, mas é ele! Dumbledore! Avada Kedavra! — gritou. Entretanto, nada aconteceu. O poderoso e terrível feitiço apenas tocou na barreira luminosa e desapareceu. — O que estão esperando, seus idiotas?! Ataquem! — gritou para todos os Comensais, que passaram a lançar cargas e mais cargas de feitiços, do Bombarda, Alarte Ascendare e Sectumsempra para cima.

Nenhum deles teve resultado. Era como se a barreira luminosa impedisse que qualquer feitiço pudesse tocar em Dumbledore, que continuou andando em direção ao castelo de Hogwarts, carregando nos braços, agora fortes com o sangue jovem que corria em suas veias, o corpo de Draco, que se sacrificara por ele, e no peito, o Amuleto de Merlin, já com a corrente restaurada.

***

No castelo, todos olhavam em suspense para a figura estranhamente iluminada que se aproximava. Por via das dúvidas, embora sentissem ser alguém cheio de luz interior, mantinham as varinhas firmemente nas mãos, prontos para atacar a qualquer momento. Foi apenas quando a pessoa cheia de luz chegou perto de verdade, quase nas portas do castelo, que perceberam quem era. Harry arregalou os olhos:

— Dumbledore?! — gritou. Seu grito ecoou pelo hall do castelo, penetrando fundo nos ouvidos daqueles que não tinham a coragem de expressar sua estupefação e choque com o que viam.

Dumbledore apenas sorriu para Harry, um sorriso triste. Continuou se aproximando, recebendo pelas costas dezenas de feitiços que não lhe provocavam nada. Enfim entrou no castelo, onde foi rodeado por um monte de gente. Erguendo a mão, ele a dirigiu para os Comensais que ainda havia dentro do castelo e, um a um, mesmo sem varinha, os estuporou. Os demais continuavam ao seu redor, sem conseguir falar nada. Ele parecia inteiramente feito de luz, magia luminosa fluía de se corpo, uma magia quente e brilhante, resultado de sua própria magia incandescente e poderosa renascida há pouco, a energia vital de Draco que fluía em suas veias e todo seu corpo e o poder estupendo da fênix do Amuleto.

— Eu não devia estar aqui... Minha hora já tinha passado há muito... — foram as primeiras palavras dele. Sua voz soava luminosa, embora triste. — Minha alma já estava prestes a seguir seu caminho, prestes a descansar com o fim dessa guerra, mas um jovem extremamente valoroso deu sua vida em prol da minha.

Só nesse momento Harry e os demais, que tinham se fixado apenas em Dumbledore, perceberam Draco em seus braços. Ele estava totalmente branco, os lábios exangues, e não respirava. Harry viu o Amuleto de Merlin brilhando e emanando magia no peito de Dumbledore, e só então percebeu tudo.

— O ritual! O Amuleto! O Draco Malfoy se sacrificou! Ele deu sua vida para o Amuleto de Merlin ressuscitar Dumbledore!

Aquilo sobressaltou todos.

— Não! — disse Slughorn, olhando para o garoto plácido e extremamente branco, como se tivesse perdido todo o sangue.

Os olhos de Dumbledore brilharam sob as lentes de seus óculos, como se tivesse lágrimas contidas.

— Sim... Ele me deixou uma carta, explicando tudo, as circunstâncias, a maneira como isso foi possível, o contexto da guerra que está acontecendo no momento, o motivo de seu sacrifício. Creio, entretanto, que o sacrifício dele foi em vão...

— Você está... realmente vivo? — sussurrou Harry.

Dumbledore deu um sorriso triste, pôs o corpo de Draco sobre uma das mesas do Salão Principal, junto com outros corpos, e tocou o ombro de Harry, provando que estava vivo.

— Sim, o ritual que Draco fez me deu carne, sangue e evocou o meu espírito. Sim, estou vivo, raciocino, tenho metabolismo, mas não era isso o que eu queria, a minha hora já tinha chegado. O rapaz morreu em vão. Bem, creio que ressuscitei num mau momento — comentou Dumbledore, revelando uma sombra do seu antigo e conhecido bom-humor e sutil ironia. — Uma guerra acontecendo... A guerra. O que estão esperando? Daqui a pouco Voldemort e seus asseclas irão sair do mesmo estado abismado de vocês, e tenho certeza que ele tem mais aliados que esses meros Comensais que estuporei. Preparem-se!

Apesar da sensação de atordoamento que ainda sentiam, as pessoas caíram em si, lembrando que estavam em meio a uma batalha, e se puseram em suas posições. Algumas pessoas mandaram Patronos para as outras que não tinham como saber daquele milagre que acontecera, como os que estavam nos corredores, ameias e torres. Sob os olhares ainda assombrados, incrédulos e felizes, Dumbledore, majestoso, caminhou em direção a Harry.

— Creio que isso, meu caro Harry, deve ficar com você.

Retirou do pescoço o Amuleto de Merlin e o pôs no pescoço de Harry, que ainda o olhava de maneira incrédula.

— Creio que você já deve ter sabido de tudo o que era para ser contado quando o momento da guerra chegasse, não, Harry?

— Sim, Dumbledore. Snape e seu outro “eu” me contaram tudo. Estou... contente por sua volta, apesar de tudo. É muito estranho te receber de volta do mundo dos mortos...

Harry não sabia direito como se expressar, sequer sabia de verdade o que estava sentindo, era uma imensa mistura de emoções, que variavam entre a felicidade de ter por perto novamente a pessoa que mais lhe parecera a figura de um pai, certo ressentimento por ele nunca ter confiado nele, culpa pelas coisas que pensara e dissera de Draco, esperança de uma vitória. Eram tantas emoções que lhe criavam a sensação de um bolo no estômago, ou como se borboletas passeassem por ele. Não pode sufocar seus sentimentos, embora conseguisse conter a vontade de chorar, e abraçou subitamente Dumbledore com força. A expressão do velho se suavizou e ele se deixou abraçar e o abraçou também. Sentia amor de pai para filho por Harry.

— Embora eu devesse ter continuado morto, também estou contente por ter retornado. Eu vou poder modificar muitas coisas que devia ter modificado, antes... Me dar a chance de ser feliz.

Harry se afastou de Dumbledore e o encarou:

— Qual foi o motivo de Draco ter se sacrificado?

— Dois. Culpa, mas, principalmente, o desejo de ver essa guerra logo terminada e Voldemort morto. Ele confiava em que apenas eu seria capaz de lutar contra Voldemort e matá-lo.

— E ele tinha razão?

— Creio que o sacrifício do garoto foi em vão. Nós dois sabemos a verdade, Harry, a Profecia foi bastante clara: apenas você pode derrotar o Lord Negro, e recebeu a ajuda necessária para isso, conforme percebi ao ver isso aqui — o olhar de Dumbledore pairou momentaneamente no amuleto de Merlin sobre o peito de Harry. — Bem, vamos nos preparar. Agora, sabendo de meu retorno, Voldemort vai atacar com ímpeto redobrado. Sabe que não pode me deixar reunir forças e com certeza vai querer com que essa madrugada mesmo eu parta novamente para o mundo dos mortos.

— Com toda razão. Quero fazer apenas mais uma pergunta.

— Faça.

— A sua mão. Ela não está mais enegrecida, amaldiçoada. Por quê?

— Creio que o sangue, a carne forte, jovem e saudável de Draco fizeram mais do que me devolver a vida. Sinto-me muito mais jovem, com muito mais força e vitalidade. Acho que rejuvenesci de uns vinte a trinta anos, em relação ao meu corpo e idade antes de morrer. E acho que qualquer doença ou defeito que eu tinha foram... “curados”.

Harry contou a Dumbledore sobre a conversa que ele tivera com seu quadro e falou sobre o Amuleto de Merlin. A reação de Dumbledore foi a mesmo do quadro. O bruxo teve a certeza de que o Amuleto permitiria que Harry não morresse ao mesmo tempo em que teria a alma de Voldemort, dentro de si, destruída.

— Bem — Harry disse, enfim — então vamos à batalha. Aposto que quer testar esse novo corpo e sua habilidade mágica, não?

— Ah, Harry, sim — ele disse, um sorriso matreiro nos lábios e os olhos brilhando intensamente.

***

Voldemort estava abismado, encolerizado e, mais que tudo, inseguro. Dumbledore retornara. O único bruxo de quem ele — só confessava isso a si mesmo — tinha medo. Sabia o quanto ele era poderoso. Dumbledore era seu oposto perfeito: enquanto ele, Voldemort, representava as trevas, o bruxo renascido representava a luz, e sabia que seus poderes, embora diametralmente opostos, tinham a mesma intensidade. Para si, revelava que jamais soubera de um bruxo tão ou mais poderoso que Dumbledore, embora dissesse a todos que ele já não era o mesmo. Pela primeira vez desde que atacara Hogwarts, sentia medo, sua confiança fora realmente abalada. O Potter agora tinha um verdadeiro mentor, um bom estrategista que podia muito bem ajudá-lo a vencer. Entretanto, Voldemort ainda não esgotara todos seus recursos. Tinha ainda alguns aliados e, mais que isso, uma surpresinha guardada para o final, algo que tinha certeza que desestabilizaria o Potter. Era hora de retomar a batalha. Não deixaria aquele fato, surpreendente, sim, mas irreversível, arruinar sua vitória iminente.

Olhou para os gigantes que o acompanhavam. Eram seres fortes, sim, muito capazes de usar sua extraordinária força física bruta, mas tão desprovidos de cérebro! Não conseguiam raciocinar direito, se o fizessem, teriam visto a verdade por trás de seu plano: oferecera a eles vantagens demais, coisas que bruxo algum seria capaz nem teria vontade de fazer, como oferecer cargos junto ao novo governo, direito de ir e vir em qualquer lugar da Inglaterra, bastante ouro. Jamais lhes daria o que esperavam, todos os que sobrassem depois da guerra seriam perseguidos e assassinados. Não queria tipos como aqueles em seu governo, nem na nova e perfeita sociedade que queria criar e impor a toda a população mundial, seja bruxa ou trouxa. Começaria com a Inglaterra e estenderia seu domínio, aos poucos, ao resto do mundo!

O que Voldemort não percebia era que o que queria era algo grandioso demais. Jamais seria possível dominar o mundo todo, criar uma “sociedade perfeita”, de acordo com a sua visão do que seria perfeição. Se ele não fosse tão preconceituoso em relação aos trouxas e tivesse estudado sua história, teria muito cedo visto que coisas assim não funcionavam. Primeiro, com os gregos, Platão idealizara uma ideia de sociedade, exposta no livro “A República”, em que certos tipos de pessoas, como os artistas, não teriam vez. Nunca sua ideia fora concretizada. O Império Romano também tentara levar sua ideia de sociedade e cultura para toda a Europa, mas não conseguira da maneira idealizada que os romanos tinham desejado, pois ocorrera um sincretismo — fusão de elementos culturais diferentes, ou até antagônicos, num só elemento — entre a cultura romana e dos povos conquistados. Tanto não dera certo que os povos bárbaros conseguiram se impor por causa da queda econômica do Império, que ficou tão grande que não pôde se sustentar, embora também tenha havido sincretismo entre a cultura romana e a desses povos. Napoleão Bonaparte com sua maneira de agir em relação aos outros países, principalmente a Inglaterra, tivera uma queda espetacular, pois tinha tanta confiança em si mesmo que não estava preparado para combater os russos. Adolf Hitler, na Alemanha, também quisera impor o seu ideal de raça ariana pura, e mesmo com a Grande Guerra que resultara de seus esforços para isso, não conseguira vencer. Sociopatas, como essas “personalidades” da sociedade trouxa, não conseguiam, em geral, o poder que tanto almejavam e a habilidade de destruir aqueles que não consideravam dignos. Voldemort era um sociopata, embora ele não soubesse disso, sequer soubesse da existência desse termo.

Apontou sua varinha para os gigantes e disse, frio:

— Ataquem. Força total.

***

O baque que Minerva McGonagall recebera ao ver Dumbledore vivo fora fenomenal. Seu coração parara de bater para, logo em seguida, disparar tão inesperadamente que a deixara zonza e com a visão escurecida. Deus, ela amava tanto aquele homem! Desde sua adolescência, quando fora sua aluna de transfiguração. Fora aquilo que a fizera optar por ser professora daquela disciplina, pois se aplicara mais nela, com a esperança de chamar a atenção do professor, e logo se apaixonara pela matéria. Como jamais ele demonstrara qualquer indício de retribuir seus sentimentos, ela os trancara firmemente no peito, jurando jamais deixá-lo perceber, mas não fora capaz de se apaixonar por outro homem. O amor que sentia era do tipo eterno e que jamais diminuía de intensidade.

Teve que se esforçar bastante para não correr e abraçá-lo firme contra seu peito, não revelar diante de todos a paixão não correspondida que sentia por ele. Era, entretanto, demais para seu pobre coração vê-lo com vida após ter chorado em segredo a sua morte por um ano. Não se aproximou dele, mantendo-se de costas, rígida, tentando se acalmar e se conter.

De repente, uma mão firme e quente tocou seu ombro. Ela se virou, querendo saber quem queria falar com ela, e paralisou na mesma hora ao ver quem estava atrás de si. Era Dumbledore, que a olhava com um cálido sorriso no rosto. Ela inundou seus olhos com a visão do rosto tão amado e querido, e que parecia muito mais com a imagem que ele tivera na época em que se apaixonara. Embora seus cabelos e barbas estivessem ainda prateados, seu rosto tinha poucas rugas, o corpo parecia mais tonificado e firme, a postura altiva de alguém bem mais jovem. E os olhos azuis tinham um brilho tão cheio de vida que era impressionante não iluminar o ambiente como faróis.

— Alvo... — ela sussurrou. Logo tentou mascarar suas emoções e manter a postura rígida, séria, que sempre mantivera na presença de todos. Estendeu a mão para apertar a dele, contendo qualquer indício de tremor, e tentou firmar a voz também. — Estou muito contente por você ter retornado para nós, meu amigo. Você fez muita falta aos amigos, a Hogwarts e ao mundo bruxo em geral.

Ele apenas a olhou, ainda mantendo um grande sorriso. Ao invés de apertar a mão que ela oferecia, ele levantou a sua e passou as costas da mão suavemente pela pele levemente enrugada do rosto dela, que abriu a boca de espanto e sentiu algo indescritível. Era... maravilhoso sentir pela primeira vez o toque do homem amado em sua face.

— Alvo? — ela perguntou, a voz hesitante.

— Eu... creio que menti para mim durante muitos anos, Minerva. Durante quase uma... vida. Que é o tempo em que nos conhecemos.

Ela começou a tremer, embora não soubesse direito por que.

— Eu... não estou entendendo, Alvo.

— A vida me deu uma... nova chance, Minerva. Uma nova chance de poder agir de maneira diferente. De agir de acordo com meus reais sentimentos e vontades. Passei anos demais pensando apenas em deter uma guerra inevitável, em fazer estratégias, planejar, estudar, e não dei valor ao que realmente interessava. O amor.

O coração dela deu um salto no peito.

— Amor? — sussurrou.

— Sim, amor. Por exemplo, o Harry. Desde que o vi, pequeno e magro, aos onze anos de idade, preocupado, nervoso e indefeso, caminhando para fazer o teste de seleção das Casas, percebi que o amava, amava-o intensamente, como ao filho que jamais tive. Mas mesmo assim jamais agi com o garoto como deveria.

Ele fez uma pausa e Minerva teve que sufocar a decepção. Claro que tinha que ser amor por outra pessoa, e outro tipo de amor, não o desejado por ela.

— Ah, sim... O Harry.

— Mas usei o Harry apenas como um exemplo, Minerva. Eu sempre quis ter filhos. Jamais os tive por não seguir meu coração, segui apenas meu raciocínio agudo e claro, ao mesmo tempo uma benção e um a maldição para mim. Benção por me ajudar a combater sempre as forças das trevas, de Grindelwald a Voldemort. Maldição por não ter me deixado me entregar aos sentimentos guardados profundamente no peito. Alguns desses sentimentos dizem respeito... a você, minha amiga.

O coração dela novamente deu um salto, mas o fato de usar a palavra “amiga” a deixou levemente receosa, e precisou acalmar seu coração e mente, dizendo para si mesma que não devia manter esperanças, se não quisesse sofrer ainda mais do que sofria cronicamente desde seus quatorze anos.

— Creio que... ainda não entendi... — sussurrou, olhando para qualquer outro lugar, exceto os perceptivos olhos dele.

— Você vai chegar lá. Na época de sua adolescência, quando eu era seu professor e muito mais velho que você, resguardei meus sentimentos. Não só por meus ideais de combate às forças das trevas, ideais de ascender à diretoria de Hogwarts, mas também pelo fato de eu ser seu professor e por sua tenra idade. Depois, por causa dos mesmos ideais, resguardei qualquer sentimento. Eu notava a... paixão adolescente que tinha por mim, por mais que sua máscara tenha enganado a todos os outros. O que você nunca soube é que... eu te amo, Minerva. Sempre te amei. E agora que a vida me deu uma nova chance e que estou mais jovem e energizado, não a deixarei escapar. Quero que seja minha.

Minerva não conseguia pensar em mais nada. Era como se tudo em volta dela não existisse, apenas os dois num mundo à parte. Seu pulso disparava, seus olhos inundavam-se de lágrimas, seu corpo ficava trêmulo como um graveto ao vento. Quando seus joelhos perderam a força e ela sentiu que ia cair, Dumbledore a segurou firme contra ele, amparando-a. A olhava com muito amor transbordando dos olhos azuis, que tinham um brilho que denunciava lágrimas contidas. Ela encostou o rosto no peito dele e chorou baixinho. Eram as palavras que desejara escutar durante toda sua vida. Dumbledore fechou as pálpebras dela com o toque cálido de seus lábios, deslizando-os a seguir por toda sua face até atingir seus lábios, dando o primeiro, e tão desejado, beijo da vida dela.

***

Aberforth, ao ver o irmão vivo, sentiu emoções contraditórias. Alegria, amor, sim, mas tudo mesclado a certo temor, uma grande insegurança. Ele sempre fora ofuscado pelo brilho de Dumbledore. E ambos, apesar de se amarem muito, tinham uma grande diferença de idade, quase uma geração, o que os fizera terem ideias e conceitos muito diferentes, quase opostos. Sempre houvera uma leve rivalidade entre eles, e o momento em que Aberforth se sentira mais magoado em toda sua vida fora quando seu irmão tinha acreditado que ele tinha feito feitiços proibidos em bodes e pensado em se reunir às forças das trevas. Por isso se empenhara tanto para provar quem era e conseguir um feito digno de ser falado com o mesmo nível de respeito com que falavam dos feitos de Alvo. Mas estava muito feliz por ver novamente, após tantos anos, seu irmão.

Dumbledore caminhou até ele, e Aberforth ficou tenso. Não fazia a mínima ideia do que ele falaria. Mordeu o lábio e respirou fundo.

“Muito bem, Aberforth, chega de nervosismo, você é um homem, e seu irmão não é uma fera que pretende te comer.”

Dumbledore, com um amoroso sorriso no rosto, chegou perto de Aberforth e sorriu ao ver sua tensão. Sempre tinha sido assim entre eles. Arrependia-se de muitas coisas na sua vida, mas a principal era o deterioramento da relação fraternal entre os dois. Então, quando chegou perto de Abe, abraçou-o fortemente. Aberforth demorou a retribuir o abraço, mas quando o fez foi com uma força e emoção que quase esmagou as costelas de Dumbledore.

— Meu irmão... — Abe disse, lágrimas nos olhos. — Como senti falta de você...

— Eu também senti a sua falta, Abe... Nós dois, mas principalmente eu, fomos tão... tolos... Espero que não seja tarde demais para recuperarmos nossa relação e amor de irmãos...

— Não, Alvo, eu jamais deixei de amá-lo, como sei que você sempre me amou. Tem razão, fomos tolos, deixamos que diferenças idiotas e a interferência dos outros prejudicassem nossa relação de irmãos. Quero que me perdoe, Alvo, por ter sido tão infantil...

— Não, Abe, é você quem tem que me perdoar... Eu era o mais velho, tinha mais vivência, mais maturidade... Reconheço, a maior parte da culpa foi minha.

— Bem, não precisamos nos perdoar, tudo já passou. O importante é o amor, e ele não morreu. Vamos reconstruir uma vida nova, e nessa nova vida, seremos vitais um para o outro.

— Sim, meu irmão, amo você...

— Eu também te amo, Alvo...

E ficaram juntos, realmente se curtindo pela primeira vez na vida.

***

O primeiro impacto foi tão colossal que o castelo, grande e sólido como era, pareceu tremer nas bases. Era como se um terremoto estivesse acontecendo, e algumas pessoas chegaram a precisar se apoiar.

Os gigantes! — disse preocupado o Patrono de Kingsley. — Eles estão atingindo o castelo com força total! Não sei se vamos conseguir aguentar!

Realmente, os gigantes estavam atingindo o castelo usando toda a sua imensa força física, e de maneira bastante organizada. Não agiam de maneira desorganizada como tinham feito no começo, agora combinavam suas forças de maneira a atingir o castelo todos de uma vez, aumentando assim o poder do impacto. Algumas pessoas caíram das ameias do castelo, e os que não morreram na queda foram esmagados pelos imensos pés dos gigantes, que não tinham o menor dó de matá-los, eram violentos por natureza. A torre de astronomia estava ficando seriamente abalada, e Kingsley começou a preparar uma retirada. Era perigoso demais ficarem ali, ele e os combatentes de seu grupo. Cho Chang, histérica com o medo de ser pega por algum gigante, acabou perdendo o equilíbrio e caiu, rolando pelas escadas do interior da torre, quebrando o pescoço e morrendo.

Enquanto ainda havia pessoas descendo as escadas e Kingsley ainda estava lá em cima, no alto da torre, logo depois de fazer passar pela abertura o último dos combatentes, a torre começou a ruir. A passagem foi fechada e Kingsley não pode passar. Dentro da torre, a gritaria, principalmente das garotas, era imensa. Alguns garotos fizeram feitiços de sustentação, mantendo precariamente as paredes unidas e os degraus inteiros enquanto os outros desciam. Quando os últimos, Angelina Johnson e Fred Weasley, ainda estavam no último lance das escadas, os feitiços de sustentação cederam. Agarrando-a, ele a fez cair junto com ele, os dois rolando pelas escadas juntos, de lado. Se chegassem ao térreo antes de tudo desabar sobre eles, teriam alguma chance. Existia também a chance de acabar com a vida quebrando os pescoços, ou chegar lá embaixo com sérias quebraduras e traumatismo craniano, mas se tentassem apenas correr não teriam a mínima chance.

A cada degrau vencido, ouvindo o barulho horrível acima deles enquanto tudo ia desmoronando, pensavam que seria o último, que morreriam sem nem mesmo se dar conta. Mas um milagre aconteceu naquela noite. Chegaram ao térreo, doloridos, mas sem qualquer ferimento grave ou quebradura. Levantaram-se e correram com quantas pernas tinham, e foi apenas o momento de se porem a salvo quando a torre, numa imensa nuvem de poeira, blocos de pedra, pedaços de estuque e madeira, desmoronou completamente, e parte dela caiu sobre um dos gigantes menores, soterrando-o até sufocá-lo.

Lá em cima, quando a porta foi bloqueada, Kingsley se sentiu em sérios apuros. Era muito alto para saltar, mesmo usando um Arestum Momentum, e não adiantaria tampouco, pois os gigantes certamente o esmagariam. Não daria tempo para fazer um Feitiço Convocatório, pois as vassouras estavam muito longe. Quando a torre desabou de vez, ele caiu, e usou o Arestum Momentum apenas para retardar a queda enquanto arrumava uma maneira de se segurar em algo. Conjurou por magia uma corda com gancho na ponta, ao estilo das cordas usadas por piratas trouxas, e lançou com toda a força que tinha para uma ameia não muito distante. O gancho se cravou por trás da rocha e ele ficou pendurado, balançando. Começou a descer aos poucos, usando os pés como apoio nas paredes de pedra. Rezava para que os gigantes não o vissem.

Já faltavam poucos metros para conseguir descer ao chão quando a sorte de Kingsley foi para o espaço. Um dos gigantes prestou atenção ao minúsculo “inseto” humano que tentava escapar e o pegou com sua manzorra, levando-o à altura de seu grande rosto, olhando-o com crueldade e rosnando. Kingsley estava ficando “branco” de medo. Logo o gigante apertou-o com sua mão forte. Os dentes de Kingsley se cravaram no lábio inferior, tentando aguentar a dor de ter seu corpo todo espremido. Seus braços estavam soltos, e ele não soltara a varinha. Tinha que tentar se salvar! Apontou a varinha para os olhos do gigante, único lugar sensível de seu corpo tão forte quanto o dos dragões, e o atingiu com um Conjuntivictus. Ficando temporariamente cego e com os olhos ardendo, o gigante urrou e andou às cegas. Algumas pessoas que estavam no chão, inclusive aliados de Voldemort, foram esmagadas por seus pés que mais pareciam grandes pranchas de surfe, embora bem mais grossos e pesados. Ele, entretanto, não soltava Kingsley. Esfregava os olhos com a mão livre, mas a outra continuava apertando a presa. Kingsley estava ficando sufocado, pois o aperto do gigante comprimia seu diafragma e seus pulmões, obstruindo sua respiração. Ele, então, tentou uma última medida. Com a varinha, lançou um Encarcereous no pescoço do gigante, apertando a corda de magia com um feitiço. Era um feitiço poderoso, que conseguia apertar com a mesma potência dos gigantes.

Demorou uns minutos, mas logo Kingsley percebeu mudanças na maneira de agir do gigante. Embora ainda demonstrasse a dor do Conjuntivictus, a mão boa não esfregava mais os olhos, mas ia ao pescoço, como se tentando melhorar a respiração. Quando o fluxo de ar começou a entrar de maneira muito difícil, o gigante passou a fazer movimentos como se tentasse puxar a coisa que o sufocava. Não conseguia, pois a corda de magia era insubstancial. Estava sendo asfixiado mecanicamente, e o sofrimento que sentia o fez apertar Kingsley com tanta força que o auror achou que tinha esmagado algumas de suas costelas. Finalmente o gigante soltou Kingsley para usar as duas mãos no processo de tentar parar a asfixia. Kingsley caiu de uma altura de seis metros, mas caiu em solo fofo. Rolou para longe do gigante, que estava ajoelhando-se, sufocando cada vez mais. Enfim o gigante, com um grande baque, caiu de bruços no chão, a língua do lado de fora, o rosto púrpura, dando alguns estremeções antes de morrer. Kingsley, escondido pelo corpo do gigante, não era alvo em potencial dos Comensais e outros gigantes e lobisomens espalhados na área ao ar livre de Hogwarts. Tentou se sentar para se arrastar e encontrar uma maneira de retornar ao castelo, mas uma dor aguda no peito e o gosto de sangue na boca o paralisaram. Sabia o que tinha acontecido. A ponta de uma costela ferira seu pulmão. Só tinha uma maneira de pedir ajuda. Usando o medalhão enfeitiçado pelo Feitiço de Proteu.

***

Dentro de Hogwarts, a queda da torre de astronomia pareceu abalar as estruturas da propriedade por um momento, e todos tiveram de se segurar para não cair, pois além desse abalo, os gigantes continuavam com força total. Ninguém sabia o que fazer, nenhuma pessoa tivera a ideia de Kingsley de asfixiá-los mecanicamente, e eles eram imensamente resistentes a feitiços, sua pele, que mais parecia uma couraça, era quase intransponível. Todos já estavam temendo serem derrotados por causa dos gigantes.

Todos os membros da Ordem receberam uma mensagem em seus medalhões:

SOS! Eu, Kingsley, estou ferido ao lado de um gigante morto, perto da Floresta Proibida, a qualquer momento algum Comensal ou lobisomem podem me encontrar!

E perceberam que Kingsley estava em perigo mortal. Tinham que ir até ele, não podiam deixá-lo morrer. Entretanto, só alguns poderiam ir, pois se muitos partissem na missão de resgate seria mais fácil de serem descobertos. Decidiram que Snape, Rony e Sirius participariam da missão de busca e resgate.

Desilusionados, eles saíram do castelo por um buraco aberto por um Bombarda lançado por um Comensal no decorrer da batalha. Tiveram que imediatamente se recostar às paredes do castelo, pois a centímetros deles estavam os imensos e pesados pés de um gigante. Eles estavam em toda a parte frontal do castelo, lançando seus imensos corpos como aríetes, querendo derrubar todas as paredes possíveis e matar as pessoas soterradas. Pedaços de pedra, metal e madeira e muita poeira caíam sobre Snape, Rony e Sirius, que tinham que se esforçar para não tossir e espirrar, embora o barulho causado pelos gigantes fosse tanto que ninguém perceberia. Tiveram que sair da zona perigosa um por um, atravessando correndo pelo meio das pernas abertas do gigante, correndo muito risco de que ele desse alguns passos e os esmagasse.

O local que eles buscavam era bastante fácil de ver; afinal, o corpo de um gigante não era algo difícil de ser visto. Perto das margens da Floresta Proibida, e da cabana de Hagrid, que fora parcialmente derrubada por um braço grosso como um tronco de sequóia, havia uma imensidão que mais parecia um morro, e era até difícil de distinguir, de longe, formas humanóides. Correram para lá, lançando feitiços ilusórios para que os Comensais pensassem que a presença deles, caso fosse captada, fosse apenas vento. Quanto mais chegavam perto, mais se impressionavam com a imensidão que era o corpo do gigante. O rodearam e, sobre a terra fofa do início da Floresta Proibida, deitado e gemendo, estava Kingsley. Estava muito pálido, gotas de suor, causadas pelo esforço de suportar a dor, cobriam seu rosto, seus dentes estavam firmemente cerrados. Um filete de sangue escorria de sua boca, e sua respiração rascante denunciava a ferida nos pulmões.

— Kingsley! — Rony sussurrou, preocupado. Seu amigo tinha que ser cuidado logo, senão morreria.

Os três foram até ele. Livraram-se do Feitiço da Desilusão, para não assustarem o amigo. Por causa da queda, Kingsley se achava numa situação bastante precária. Quebrara um pulso, torcera um pé, tinha várias costelas quebradas e estava cheio de escoriações e contusões pelo corpo, mas o pior mesmo era a ferida causada pela ponta de costela no pulmão.

— Como faremos para levá-lo? Ele está muito mal... — murmurou Rony. — Qualquer movimento brusco pode fazer a costela penetrar mais fundo, e a hemorragia aumentar... Se os pulmões dele se encharcarem de sangue, ele vai sufocar!

— Acontece que ele não vai ser levado daqui — disse uma voz aguda, fria e demente. — Na verdade, nenhum de vocês vai sair daqui... Ao menos, não com vida!

Os três paralisaram ao ver perto deles Belatriz Lestrange, um medalhão da Ordem da Fênix numa mão e varinha na outra, no rosto um sorriso de superioridade e malícia. Os três se puseram em posição de combate, ficando na frente do corpo indefeso de Kingsley para protegê-lo.

— Bem, Bela, somos três... Você é apenas uma... — disse Snape friamente.

Ela o olhou com ódio não disfarçado.

— Seu traidor! Tanto que eu adverti o mestre, jamais acreditei em você, chame isso de intuição feminina, mas ele não me ouviu! Confiou em você até o fim!

— Feminina? — falou Sirius, debochado, embora a olhasse com bastante ódio, pois ela fora a responsável por perder quase dois anos de sua vida. — Acho que não se pode perceber nada de feminino em você, Bela, “querida prima”... Você é feia para caramba, minha querida, ao contrário do que o seu nome indica! Suas irmãs podem ter qualidades, Andrômeda é doce e boa... Narcisa pode não prestar, mas é uma gata... Agora você?! Tenho pena...

Ela rosnou para Sirius, irritada com sua observação.

— Bem, “priminho”, vai ser bastante fácil chamar outros para nossa “conversinha”...

Soltou o Medalhão de Proteu no chão e ergueu o braço rapidamente, dirigindo o dedo para a Marca Negra em seu braço.

— Nem pense nisso, mocréia! — rosnou Sirius, lançando-lhe um Petrificus Totales. Virou-se para os outros. — Depressa, peguem o Kingsley e partam daqui com ele! Eu mereço matar essa cadela, pelo que ela me fez! Partam logo, pois conheço o nível de poder dela e sei que não vai se manter paralisada indefinidamente, nem a matarei enquanto estiver assim, afinal, sou um maroto honrado! Vamos, Ranhoso! — acossou Snape, mas dessa vez não havia desprezo em seu tom de voz, apenas companheirismo.

— OK, Ok, cachorro sarnento! — ele retrucou, na voz o mesmo companheirismo presente na de Sirius.

Snape lançou um feitiço em torno das costelas de Kingsley, para que elas continuassem imóveis não importasse o tipo de abalo que o corpo sofresse. Inclusive se ele caísse, elas não perfurariam ainda mais seus pulmões. Não seria viável levá-lo através de um feitiço de levitação, pois o corpo de Kingsley poderia bater em algum Comensal e assim, seriam descobertos, e também seria muito perigoso na passagem entre as pernas do gigante, pois não teriam controle total sobre seu corpo e facilmente ele poderia ser chutado ou esmagado. Então Rony, que era muito grande e forte, pegou Kingsley e o jogou sobre seu ombro. O impacto não perturbou o ferimento no pulmão, por causa do feitiço de Snape, mas mesmo assim, por causa dos demais ferimentos e contusões, fez Kingsley gemer e cravar os dentes no grosso lábio inferior com tanta força que verteu sangue.

— Aguente, meu amigo... — disse Rony enquanto Snape desilusionava o corpo de Kingsley, o seu e o de Rony.

— Boa sorte! — disseram os dois antes de partirem o mais rápido possível, embora fosse difícil para Rony, pois Kingsley, com seus músculos de pugilista, era pesado demais.

Após alguns minutos, Belatriz conseguiu se livrar do Petrificus Totales, como Sirius previra. A bruxa não perdeu tempo, logo agarrando sua varinha e lançando uma Maldição da Morte sobre ele, que se desviou rolando pelo chão e logo se erguendo e contra-atracando. Ela também conseguiu evitar o feitiço. Sirius sorriu feroz e cruelmente.

— Pronta para sofrer, Bela? Porque eu irei fazer justiça com todo o prazer!

***

Os gigantes estavam destruindo as paredes frontais de Hogwarts, já era até difícil perceber a arquitetura original do castelo para os que viam do lado de fora. Os leais defensores de Hogwarts, lugar que era o símbolo do mundo que queriam para si, não perdiam o pique. Continuavam a combater incessantemente, mesmo vendo que pouco podiam fazer contra seres tão monstruosamente grandes.

Subitamente, no hall do castelo, apareceram três figuras que eram quase indistinguíveis do meio que os rodeava. Somente quando o Feitiço da Desilusão, que escondia essas figuras, foi desfeito, perceberam quem era: Snape, Rony e Kingsley, esse sobre os ombros de Rony, que parecia extremamente fatigado e dolorido.

— Rony! — gritou Mione, correndo até ele.

Outros bruxos chegaram até os três e ajudaram Rony a se desfazer do peso morto que era Kingsley, que tinha desmaiado durante o trajeto. Rony caiu no chão, sentado, ofegando e com cãibras em músculos variados. Slughorn, que tinha preparado um estoque de poções, chegou logo até ele trazendo uma taça com poção vitalizante e contra dor cujo principal ingrediente era fígado de dragão, altamente energisante. Bastaram uns poucos goles (tomados com asco!) para que ele se sentisse cem por cento melhor. Logo Snape, Slughorn e Madame Pomfrey correram a levar Kingsley à enfermaria improvisada, onde começaram os procedimentos para ajudá-lo, o que era difícil sem nenhum Curandeiro.

Harry se aproximou de Rony, alarmado.

— Rony, cadê o Sirius?! Ele não...

— Ah, nem pense nisso, Harry! Ele está vivo. Só que Belatriz estava lá, esperando a gente, manteve consigo o Medalhão da Ordem, ninguém se lembrou de pegá-lo, quando ela foi estuporada. Então o Sirius ficou lá combatendo ela, além de ele querer fazer justiça por tudo que ela lhe fez, ela ia chamar seus companheiros Comensais e a gente tinha que retornar o mais rápido possível por causa do Kingsley.

De repente, um barulho por cima do forte som dos ataques ao castelo chamou a atenção de todos. E, pelo súbito silêncio que se fez, inclusive dos gigantes. Com as paredes meio arreadas e cheias de buracos, não era necessário nem fazer muito esforço para que os que estavam do lado de dentro pudessem ver o que estava acontecendo. Algo que os deixou eufóricos, mas os gigantes, irritados. Harry e os demais agora tinham esperança. Pois, da direção da Floresta Proibida, vinham nada menos que Hagrid e Group e, atrás deles, um pequeno, mas significativo número de gigantes! Deviam ser os gigantes perdedores que sobraram depois da luta contra os outros gigantes na troca do seu líder! Hagrid finalmente conseguira convencê-los a lutar do lado de Harry! Além de tudo, queriam vingança.

— Agrrid! — gritou Madame Maxime feliz ao vê-lo ao longe. Fazia muito tempo que não o via, desde a viagem que tinham feito para pedir o apoio dos gigantes na guerra.

Hagrid e os demais não perderam tempo. Correram até o castelo, e o som de suas passadas potentes e gigantescas eram ouvidas com muito impacto. Não esperaram ordem, não falaram nada; apenas se jogaram para cima dos gigantes que destruíam Hogwarts. A expressão “guerra de gigantes” nunca fora tão bem usada quanto naquele momento. Eles se atacavam com furor. Cada vez que algum caia, era como se um pequeno terremoto acontecesse. Inclusive os Comensais da Morte, Voldemort e os lobisomens se afastaram e ficaram apenas assistindo, cientes de que não podiam interferir, não tinham o poder suficiente para isso. Hagrid até que tentou lutar também, mas logo percebeu que estava em uma desvantagem de vários metros de altura, e correu para dentro do castelo, um olho inchado e roxo, Canino, assustado e com o rabo no meio das pernas, correndo atrás dele.

Foi uma verdadeira festa dentro do castelo, não só pela presença do amigo querido que fazia tempo que não viam, desde que Aleto e Amico Carrow o expulsaram de Hogwarts e do cargo de guarda-caça, irritados com sua franca simpatia, amizade e ajuda a Harry Potter e seus simpatizantes. A ajuda dele fora essencial para uma virada no jogo da guerra.

Hagrid levantou Harry, Rony e Hermione num abraço coletivo que quase esmagou as costelas dos três, mas que os deixou felizes. Quando os soltou, Hagrid quase caiu e nem soube o que o atacou, só soube que logo estava dando o primeiro beijo na boca de sua vida. Madame Maxime se lançara em seus braços com um impacto de meio-gigante que apenas outro meio-gigante como Hagrid teria sido capaz de conter. Ele, entretanto, tratou de abraçar e beijar a mulher por quem se apaixonara à primeira vista há quase quatro anos atrás.

Lá fora, o combate continuava, feroz. Um gigante, jogado por outro contra uma das paredes de Hogwarts, terminou de fazê-la ruir, ele caiu sobre parte de umas salas de aula, e logo depois uma das torres menores do castelo, abalada nas fundições, desmoronou sobre ele, matando-o. Felizmente era um gigante inimigo. Entretanto, as coisas estavam começando a piorar para o lado dos aliados de Hagrid. Eles eram em um número bem inferior, e estavam, aos poucos, sendo massacrados pelos gigantes liderados pelo gurg dos gigantes, Golgomath. Tinham que fazer alguma coisa, mas não sabiam o quê. Quem salvou a situação foi Kingsley.

Uma menina voluntária na enfermaria chegou correndo ao Salão Principal. Estava arfante, e teve que esperar um pouco para se acalmar antes de falar. Várias pessoas se juntaram em torno dela, inclusive Hagrid.

— O Sr. Shacklebolt acordou quando a gente estava tratando dele, e apesar da dor e tudo, ele só aceitou que continuássemos a tratá-lo quando a gente prometeu que um de nós vinha aqui, dar um recado dele!

— E qual recado seria esse? — perguntou Harry.

— Ele descobriu uma forma de matar os gigantes, ele mesmo matou um quando estava lá fora! É um feitiço simples, o Encarcereous. Se usarem o feitiço no pescoço deles e apertarem, e não soltarem, eles são asfixiados!

Todos ficaram apalermados. Era uma solução tão simples, e ninguém, nem mesmo os “inteligentes” dali — no caso os professores, Dumbledore, Hermione e Ana — tinham pensando nela, acabando por sofrerem com o ataque pesado dos gigantes por mais de uma hora. Não perderam tempo; tinham que ajudar os gigantes aliados de Hagrid. Correram para as muitas fendas e rombos abertos pelos gigantes, os mais corajosos foram para fora do castelo, e passaram a ajudar os gigantes “amigos”, que estavam em franca desvantagem.

***

Enquanto os gigantes se digladiavam, por trás do gigante morto por Kingsley, o que servia como uma barreira de proteção contra os “pesos-pesados” que lutavam próximo, Sirius e Belatriz continuavam a lutar. A fase de insultos e zombarias tinha ficado para trás; agora, ambos lutavam friamente, para matar.

Ambos eram muito espertos para se deixarem matar por um Avada Kedavra, pois sabiam que aquele feitiço era definitivo, morreriam caso fossem atingidos por eles. Por isso, nem o usavam muito. Sabiam que o mais criativo seria o vencedor daquela disputa. Belatriz, entretanto, jamais fora versátil. Além disso, ela era orgulhosa e não se dispunha a lançar feitiços que considerava simples demais, infantis demais, na sua visão, como as azarações. Sirius, com seu espírito maroto, fazia uso das azarações e feitiços mais básicos, intercalando-os com feitiços mortais.

Sectumsempra! — gritou Belatriz num momento em que Sirius baixou a guarda. O forte feitiço rompeu a frente das vestes de Sirius, atingindo profundamente a carne de seu peito até as costelas, cortando o peitoral de fora a fora. O sangue jorrou abundante. Era uma hemorragia perigosa e intensa, mas com a velocidade dos feitiços lançados por Belatriz ele não tinha tempo de usar um feitiço de cura simples, como o Episkey. As vestes pretas ficaram empapadas de sangue, mas por causa da cor do tecido, a hemorragia não era muito visível. E Sirius não demonstrou em nenhum momento o quanto estava sangrando. Sabia que uma só fraqueza que demonstrasse tornaria Belatriz ainda pior, pois lhe daria confiança.

A visão de Sirius estava ficando meio embaçada, bem como seus reflexos, uma tontura insidiosa começava a dominá-lo, tudo por causa da perda de sangue. Tinha que pensar rápido em algo para destruí-la, senão não teria forças sequer para erguer a varinha.

Zonzo pela perda de sangue, Sirius tropeçou e caiu sentado. Esfregou os olhos que apresentavam visão dupla. Os olhos de Belatriz brilharam ao vê-lo naquele estado, e ela sorriu malignamente, contente como um gato ao ver um pires de leite. Resolveu brincar um pouco com seu oponente debilitado.

— Priminho, que alegria para mim vê-lo nesse estado... — ela disse em tom arrastado, os olhos levemente apertados. — Crucio!

Sirius, já fraco pela perda de sangue, contorceu-se de dor ao receber o feitiço, que por si só debilitava, pelo inútil esforço que o corpo sofredor tentava fazer para conter a dor pavorosa, contorcendo-se sem parar. As contorções de Sirius só fizeram aumentar a hemorragia. Quando Belatriz parou, ele estava ofegante, quase cego e extremamente debilitado.

“Eu não vou morrer pelas mãos sujas de Belatriz Lestrange sem matá-la primeiro... seria uma desonra muito grande para mim mais uma vez perder uma luta contra ela; se fosse um oponente digno, uma morte em batalha seria extremamente honrosa para qualquer homem, mas ela é indigna, perversa e totalmente pertencente às forças das trevas... tenho que pensar em alguma coisa engenhosa que faça com que eu dê a volta por cima...”, ele pensou. “Afinal, sou um maroto... e um maroto sempre se dá bem!”

Belatriz, agora que seu oponente estava indefeso, perdeu a vontade de matá-lo logo, o que queria era brincar com ele o máximo possível, torturá-lo até ver a loucura voltar a seus olhos. E esse foi seu erro. Seu excesso de crueldade foi o responsável por sua morte, pois nos intervalos da tortura constante, Sirius pensava, e sua mente brilhante logo pensou em uma maneira de acabar com ela. Belatriz, achando que ele já estava debilitado demais para fazer qualquer coisa que não gemer e se contorcer de dor, não pegou a varinha de Sirius, próxima a ele. Ele trouxe da Floresta Proibida, às margens de onde estavam, um galho rijo e pontudo que conseguia ver de onde estava. Fez tudo em sigilo, escondendo a varinha sob um punhado de terra e usando um Feitiço Convocatório não-verbal. Quando teve perto de si o galho, que mais parecia uma estaca das que matam vampiros, lançou com toda a magia, todo o desejo que tinha dentro de si o galho contra o peito de Belatriz, através de um Feitiço Expulsório, o contrário do Convocatório.

A bruxa não esperava algo assim. Ora, ela não esperava mais nada, a não ser o momento em que cansasse da “brincadeira” e resolvesse matar Sirius. Quando o galho penetrou fundo em seu peito, atingindo seu coração, ela largou a varinha, arregalou os olhos e olhou para o pedaço de madeira que saia de seu peito, encharcando suas vestes de sangue. Olhou, então, para Sirius, que apesar do sofrimento sorria maroto, e seu coração parou. Ela caiu morta.

Sirius não perdeu tempo, lançando em si mesmo um Episkey, que fechou superficialmente a ferida, detendo a hemorragia. Entretanto, ele sabia que não teria condições, por si mesmo, de retornar ao castelo. Perdera sangue demais, e mesmo que não fosse assim, seria suicídio se jogar no meio de uma batalha de gigantes. Tampouco podia mandar uma mensagem, como Kingsley fizera, pois era perigoso para qualquer um dos amigos sair de dentro do castelo naquele momento, e ele não queria a morte de amigos nas costas. Arrastou-se para o mais próximo possível do gigante morto, protegendo-se com seu corpo enorme.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado! Até o próximo, pessoal! Comentem, Please!

Beijos da Ana



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