Harry Potter e o Amuleto de Merlin escrita por ana_christie


Capítulo 23
O Diadema de Durga


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! Se contentem! Presente de Natal! Capítulo mais cedo! Vou viajar esse FDS, então pensei que seria bom não deixar meus leitores sem saber o que vai acontecer, né? Está aí, espero que gostem!

Feliz Natal para todos!



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            Estático diante a forte e inesperada reação de Carlinhos, Rony não conseguiu dizer nada, nem mesmo reagir. Seu irmão mais baixo e mais forte que ele o largou com força e se voltou para as latas de lixo e outras coisas pesadas que encontrou, que chutou, furioso. Ninguém falava nada diante o desabafo de Carlinhos, olhando-o com estupefação. Quando o ruivo se acalmou, voltou para perto do irmão que sacudira tanto e deu-lhe um forte abraço, um de quebrar costelas. Carlinhos respirava de forma ofegante. Rony, depois de certa hesitação, o abraçou também, passando as mãos por suas costas, acalmando-o.

— Calma, mano... Eu estou bem...

Carlinhos tornou a soltá-lo e andou uns passos, as mãos nos bolsos, cabeça baixa. Enfim parou, olhando para os quatro fixamente.

— O que todos tinham na cabeça para fazer uma estupidez dessas? Vocês sabiam que foi por um triz que não morreram?! Gente, dragões são perigosos! São talvez as mais perigosas criaturas do mundo mágico. Um só é capaz de matar muitas pessoas, quanto mais dezenas deles! Ai, quando lembro o que senti quando ouvi o alvoroço dos dragões e percebi que vocês não estavam onde deviam, na cama! Vocês têm ideia da sorte que tiveram hoje?!

Os quatro tiveram a decência de parecer culpados. Harry respirou fundo e falou:

— Sei que não posso controlar as vontades deles, que quiseram me seguir nessa loucura, mas creia, Carlinhos, se tem algum culpado, esse sou eu. Não os culpe. Mas saiba que o que fizemos não foi algo impensado, algo com o intuito de termos uma aventura, de brincar ou qualquer outra coisa sem motivo suficiente. Sabíamos o perigo que estávamos correndo, mas mesmo assim, a gente tinha que ir. Como membro da Ordem, você devia saber que, antes de tudo, nos tempos atuais, vem a necessidade de derrotar Voldemort. E a gente precisava ir até a montanha.

Carlinhos respirou fundo durante alguns minutos para se acalmar.

— Cara, eu fiquei muito perturbado... — disse. — Ora, era meu irmão que “tava” lá em cima, perto de um monte de dragões enfurecidos. E também... — ele olhou com certo sofrimento nos olhos castanhos para Ana, e se calou, mordendo o lábio inferior. — Bem, em todo caso, você conseguiu o que queria? Ao menos isso?

Pela primeira vez em muitas horas, Harry sorriu.

— Sim, Carlinhos, ao menos isso. Obrigado pela dica, cara. Foi muito valiosa e nos ajudou bastante.

— Dica? Que dica?

— Bem, foi você que nos deu a dica de onde a coisa que queríamos estava, perto do cume e do lugar onde a lava era expelida. Imagine se tivéssemos que procurar perto do ninho dos dragões, ou outros lugares em que eles tivessem sentido nossa presença mais cedo...

Carlinhos maneou a cabeça e riu.

— Sou mesmo muito tapado. Não sei se me bato ou se me felicito pelas coisas idiotas que digo...

Todos foram se encaminhando para o bangalô de Carlinhos, para um merecido sono. Antes de Ana entrar, entretanto, ele lhe segurou o braço e a impediu. Ela o olhou, e ele a puxou para uma das laterais do bangalô e a tomou num abraço forte e quente. Sem dar tempo a ela de falar nada procurou sua boca para um beijo desesperado e longo. As mãos dele passavam por seus cabelos, ombros e costas com uma mistura de desejo, punição e medo.

— Sua... sua louca... — disse, de maneira ofegante. — Ai, que vontade tive de te esganar... Eu pensei que ia te perder... Pensei que... que ia me deixar sozinho nessa vida, tão sem graça sem você...

Com olhos brilhantes, ela se aconchegou ao corpo dele.

— Me desculpe... Eu fiz apenas o que tinha de fazer... — olhou-o nos olhos. — Mas saiba que pensei em você, e pensei que, se tivesse de morrer, morreria feliz, por ter encontrado o amor da minha vida.

Durante muito tempo eles ficaram se beijando, fazendo carícias ternas um no outro e murmurando coisas adocicadas. Enfim entraram dentro da casa e foram dormir. Cada um em seu quarto!

***

Sentado junto com os outros na mesa da cozinha de Carlinhos, que tivera de sair para reorganizar o pandemônio que se armara na madrugada com a ida deles à parte perigosa da reserva, Harry tirou o componente do Amuleto de Merlin do bolso e o pôs sobre a mesa. Ana pegou as outras duas partes que estavam consigo e as encaixou na outra parte como um quebra-cabeça. Elas não se colavam. Talvez, para isso acontecer, fosse preciso a última parte, a do Sereiano. Os animais mágicos dourados no fundo prateado do Amuleto refulgiam contra a luz do sol que entrava pelas janelas da cozinha.

— Bem, demorou, mas progredimos um pouco — ele disse. — Uma Horcrux encontrada e destruída, e uma parte do Amuleto encontrada. Vamos continuar com nossa missão, então. Só não sei como... o que faremos de agora em diante. Não temos pista alguma.

Um pigarro foi dado por Ana, que olhava para todos com ar falsamente superior. Todos olharam para ela. A garota pediu a bolsa de Hermione emprestada e tirou de dentro dela um livro muito conhecido por todos ali, por Hermione por tê-lo lido vezes sem conta, e pelos rapazes por ter ouvido várias vezes Hermione citá-lo: Hogwarts, uma história. Ela abriu o livro numa determinada página que tinha deixado marcada e disse:

— Bem, de acordo com Hogwarts, uma história, há uma relíquia pertencente a um dos fundadores de Hogwarts que está perdida há uns anos, parece que há uns vinte anos. Um diadema, ou coroa, bem, algo...

— Mas, claro! — disse Hermione batendo a mão na testa. — Como não pude lembrar disso, eu que li esse livro não menos que treze vezes?! O diadema de Ravenclaw!

— Sim, Mione, ele mesmo. Ele desapareceu de uma estátua de Rowena Ravenclaw que fica no salão comunal da torre de Corvinal, há uns vinte anos. Por que não pode ter sido usado por Voldemort na criação de uma Horcrux? Se ele fez Horcruxes com objetos de Slytherin e de Hufflepuff, deve ter feito com objetos de Ravenclaw e Gryffindor, também.

— Tem razão, Ana... — Harry disse. — Você disse que o objeto desapareceu há uns vinte anos? Então já posso até imaginar como ele foi roubado. Na época em que Voldemort foi à Hogwarts, querendo o cargo de Professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Deve ter aproveitado para roubar, se já não foi à escola para isso e o desejo de se tornar professor foi apenas uma cortina de fumaça. Só não entendo como ninguém ligou os dois fatos, nem mesmo Dumbledore... Ou vai ver ele já tinha ligado os fatos, mas como não tinha provas, não falou nada, mas resolveu me dar a dica, talvez imaginando que em algum momento eu ligaria os dois fatos... Dumbledore e suas coisas contadas pela metade... — mas ele falou aquilo de maneira terna. Acostumara-se com a maneira Dumbledore de ser, meio enigmática, irônica e maluca, e não se zangava mais com aquilo.

— O diabo vai ser descobrir onde Voldemort escondeu a Horcrux, não? — disse Rony. — Pelo que sabemos, pode estar em qualquer lugar...

***

Era hora de voltar para casa. Ana e Carlinhos, na porta da reserva, não puderam resistir e se abraçaram e beijaram com desespero na frente dos outros mesmo. Não sabiam quando poderiam se encontrar de novo. No ouvido de Ana, ele murmurou:

— Não se esqueça de mim, que eu a amo... E caso... uhn... algo tenha resultado da... noite que passamos juntos, por favor, quero que me avise...

Ana avermelhou inteiramente. Não tinha se dado conta de que a noite de amor deles poderia resultar em consequências, mas agora tinha certeza de que nada mais sério tinha acontecido. Ainda mais vermelha, ela disse:

— Não se preocupe, Carlinhos, não estou grávida... e também saiba que te amo demais.

Então os quatro viajaram de Chave de Portal para a mesma rua deserta e apertada na qual tinham viajado de Chave de Portal para a Transilvânia. Para sorte deles, ela continuava deserta na vinda tanto quanto estivera na hora da ida. Encaminharam-se ao aeroporto — Rony já começava a ficar verde, mal-humorado e nervoso. Lá, descobriram que o próximo avião para Londres só sairia em algumas horas. Num dos restaurantes no aeroporto comeram alguma coisa. Ana, para passar o tempo, abriu seu notebook, que como não pudera ser usado nem dentro do avião nem na reserva de dragões, ainda tinha bateria o suficiente para algumas horas de uso. Entrou na internet e, depois de olhar seu e-mail, olhou um site de notícias. De repente, ela se sentou ereta na cadeira, seus olhos grudados na tela do computador.

— Mione, olha isso aqui e me diz o que acha... quero saber se estou louca, vendo demais.

Hermione se virou para ela e se inclinou. Ao olhar o monitor, teve a mesma reação de Ana.

— Não, não pode ser... Espera, me deixa comparar, para não ficar dúvida alguma...

Enquanto Hermione puxava Hogwarts, uma história de dentro de sua bolsa, Harry e Rony olhavam das garotas para o notebook com curiosidade. O que acontecera, para deixá-las alvoroçadas daquele jeito? Devia ser algo muito interessante. Hermione abriu o livro numa página e várias vezes passou seus olhos dele para o monitor, enquanto Ana fazia o mesmo. Por fim as duas sorriram uma para a outra com um ar de superioridade que já era muito conhecido de Harry e Rony. Elas deviam ter descoberto algo muito importante.

— Acho que a gente tem que comprar passagens com destino diferente, meninos... — Hermione disse. — A Inglaterra vai ter de ficar para depois.

— Ora, por quê? O que vocês descobriram, afinal?

Ana riu.

            — O lugar onde o diadema de Ravenclaw está. Nossa, Voldemort foi mesmo muito, muito engenhoso... Quem pensaria que ele deixaria sua Horcrux em um lugar tão... tão trouxa? Olha o que diz esse site de notícias... Uma festa anual em honra a Durga, ou Devi, uma deusa hindu. É uma das deusas mais importantes da Índia, uma deusa suprema e cultuada sob diversas formas em todo o Universo do Hinduísmo, de tal forma que, diz a religião hindu, a própria Santíssima Trindade Masculina, Shiva, Vishnu e Brahma lhe rende homenagens. Olhem a cabeça da estátua de Durga e olhem bem para a figura de Rowena Ravenclaw, no livro.

Os dois se levantaram e foram para trás das cadeiras das garotas, para examinar.

— Mas... mas os diademas são idênticos! — disse Rony.

— E eu nunca vi esse diadema na cabeça de outras estátuas de Durga, quando estudei os países asiáticos na escola trouxa — falou Harry.

— Nem eu — disseram ao mesmo tempo Ana e Hermione. Hermione continuou sozinha. — Bem, agora, que estamos mais perto da Índia do que se estivéssemos na Inglaterra, não seria melhor que a gente fosse logo ao país, checar? E quem sabe pegá-la e destruí-la. Ainda temos sangue de dragão em muda o suficiente para isso. Acho que deve ter algum avião partindo para a Índia, se não hoje, amanhã. Não precisamos de passaporte, basta o uso da Maldição Imperius, e ainda temos o suficiente de dinheiro trouxa, não, Ana?

— Sim, temos, minhas reservas ainda estão bem abastecidas, Aberforth me trouxe o suficiente para podermos gastar a vontade... Bem, contanto que a gente não fique se hospedando em hotéis cinco estrelas e outros luxos do mundo trouxa.

Eles, então, ao invés de rumarem à Inglaterra, foram para a Índia, país que já fora possessão da Grã-Bretanha. O avião os levou à capital do país, Nova Delhi. O calor era sufocante, as ruas, apinhadas de todos os tipos de meios de locomoção possíveis. Havia pessoas de vários estilos: mulheres cobertas com véus e homens com khaffie, véus com uma faixa os fixando, notadamente islâmicos; mulheres com sáris coloridos, algumas com muitas bijuterias e pedras na testa, e homens de turbantes, com certeza hindus. E vários outros tipos de pessoas, muitas delas, crianças. Havia uma cacofonia incrível naquelas ruas apinhadas, algumas ruas contrastantes com outras, umas, muito tradicionais, outras, muito ocidentais, com grandes prédios de concreto, aço e vidro. Entretanto, não era em Nova Delhi que aconteceria a festa hindu em honra a Durga. Era em outra cidade, Kampur, por onde passava o rio sagrado da Índia, o Ganghes. A cidade não era muito longe, e como não encontraram um lugar calmo onde pudessem utilizar uma Chave de Portal, Harry, Rony, Hermione e Ana foram para Kampur de ônibus. Era um ônibus meio depredado, velho, em que ia dentro dele até animais, mas foi o primeiro que encontraram.

Na cidade de Kampur, eles viram o Ganghes, um dos mais famosos rios do mundo. Era incrível a maneira como os hindus entravam nele e se banhavam de uma maneira tão cerimoniosa, utilizando as águas que achavam ser sagradas para se purificar e conseguir bênçãos dos deuses. A água, na verdade, parecia ser muito suja, como era a água dos rios que passam em cidades, e Hermione e Ana não estranharam nem um pouco a alta taxa de mortalidade e mortalidade infantil que existia na Índia, se bem que aquele fosse apenas um dos motivos. Avistaram ainda coisas que os impressionaram bastante, como a quantidade de vacas que havia dentro da própria cidade. As vacas eram sagradas, para os hindus. Até alguns elefantes muito enfeitados eles viram, o que os divertiu muito, pois nenhum deles, exceto Ana, que já fora a circos ou vira um elefante ao vivo na vida. Eles se hospedaram em um hotel simples, no qual vários repórteres e fotógrafos de várias partes do mundo estavam hospedados, provavelmente para fazer reportagens sobre a festa religiosa que ocorreria na cidade. Após um descanso, eles foram fazer um passeio que era, na verdade, uma espiada no lugar onde estava a tal estátua de Durga, num templo hindu. Precisavam saber o que teriam de enfrentar para poder pegar o diadema de Ravenclaw. 

O templo estava cheio de pessoas, entre fiéis, turistas e repórteres, vendo os preparativos para os dias de festa. Era um templo de grandes proporções, cheio de cores e flores, muito bonito e exótico. A estátua de Durga que ostentava o diadema de Ravenclaw era grande, muito interessante e requintadamente bela. Sua imagem era extremamente brilhante, com três olhos como lótus, dez poderosos braços, cabelos exuberantes com formosos anelados, uma pele vermelho-dourada brilhante e um quarto crescente em sua testa. Ela usava um brilhante traje azul-marinho que parecia emitir raios, de tão faiscante por estar cravejado de pedras. Seus ornamentos eram lindamente esculpidos em ouro, cravejados de pérolas e pedras preciosas. As armas que carregava, diziam que foram os próprios deuses hindus quem lhe ofereceram, eram belas, o tridente de Rudra, o disco de Vishnu, o raio de Indra, o kamandal de Brahma, a gada de Kuber um feroz leão dourado dado por Himalaia, e o qual parecia cavalgar. Suas dez mãos assumiam mudras, gestos simbólicos. Eles se aproximaram e a examinaram. Havia ali dentro um ar meio místico que deixava todos os presentes no recinto sentindo uma estranha sensação de paz, grandiosidade e respeito. Um repórter aparentemente americano estava ditando algo para um gravador, o que revelava que era trouxa, enquanto outro, que devia ser seu colega, tirava inúmeras fotografias de todo o ambiente. Harry se aproximou dele e ambos começaram a conversar.

— Oi, você é americano?

— Oi, sim, sou. E aposto que você é inglês. Seu sotaque o denuncia. Prazer, sou Mike Graham.

Apertando sua mão, Harry disse, alterando seu nome, pois nunca se sabia quem poderia ser um bruxo:

— O prazer é meu, sou John Black. Ei, queria saber de algo. Não sei se você sabe, mas não custa nada tentar. Que eu saiba, as estátuas da deusa Durga não têm esse diadema nas cabeças. Você sabe me dizer o porquê dessa ter?

— Bem, foi uma surpresa para todos. O diadema apareceu há dezenove anos, e não se sabe explicar como, pois ninguém tinha se aproximado dela na madrugada em que ela foi “dormir” sem o diadema e “acordou” com ele. Os fiéis acreditam que foi um presente da deusa, pois não sabem explicar como isso aconteceu. Veja, é um diadema de ouro e esmeraldas, e ninguém num lugar pobre como esse se desfaria de uma jóia de tanto valor. Para eles, só podia ser um milagre. Desde esse dia, se comemora anualmente o dia do presente da deusa, além do festival anual de nove dias, o Durga Puja. Essa festa que vai haver é em honra ao dia em que a estátua apareceu com o diadema.

Harry conversou um pouco com o repórter, e depois voltou aos seus amigos, pois já tinha sabido o que queria. Tinha tanta gente em torno da estátua que eles viram que não seria fácil surrupiar o diadema, ainda mais sendo ele visto como um presente dos deuses. Devia ser muito venerado e cuidado para que não fosse roubado. Pelo menos, com a conversa com o repórter, ele soubera que a estátua geralmente dormia sozinha num recinto, para que ninguém atrapalhasse o “sono” da deusa.

— Bem, o melhor que a gente tem a fazer é esperar. Não podemos tentar pegar o diadema enquanto tem tanta gente aqui. É perigoso demais, mesmo sabendo que estamos rodeados de trouxas. Imagine se nos pegam. Essa história teria repercussão internacional, e nossos rostos estariam nas páginas dos jornais trouxas, e não poderíamos fazer nada, pois caso a gente desaparecesse, o mundo mágico ficaria por um triz de ser descoberto e a gente não ia poder obliviar tantas pessoas assim. É melhor que a gente venha aqui hoje à noite para ver se tem algum esquema de segurança, e mais alguma coisa que a gente precise saber, e amanhã nós tentamos. Tem que ser amanhã, pois depois da festa que acontecesse depois de amanhã, a estátua da deusa é guardada num lugar a que poucas pessoas têm permissão para entrar.

Eles voltaram ao hotel, esperando que a noite chegasse, quando o templo era esvaziado para o “descanso” da deusa e dos que cuidavam do templo. À noite eles voltaram ao templo devidamente protegidos com o Feitiço da Desilusão. Na porta do templo, havia um homem grande e de pele muito morena. Usava roupas brancas que, sob a luz da lua, o deixavam muito em evidência, e usava um turbante branco enrolado na cabeça, semelhante ao formato do turbante que o Prof. Quirinus Quirrel usara, quando vivo. Do cinturão preto que tinha em torno da cintura descia uma faca longa e larga, que mais parecia uma cimitarra. Eles foram tentar entrar no templo, ainda desilusionados, para ver a dificuldade que o ato teria, e tiveram um susto quando a imensa e afiada faca se ergueu contra eles, seguido de um grito assustado. O homem olhava para as sombras deles no chão! O Feitiço da Desilusão apenas os tornava como camaleões, assumindo o aspecto das coisas em volta deles, mas não os tornava opacos, o que fazia com que a clara luz da lua projetasse as suas sombras no chão. Com o grito do homem, vários outros, por certos guardas, vestidos como ele, e com o mesmo tipo de mortal arma branca, começaram a aparecer. Muito assustados, ofegantes, Harry, Rony, Hermione e Ana recuaram até ficar sob a sombra de um muro. Com a chegada dos outros homens, o guarda teve sua atenção dispersada das sombras e não viu o movimento que as sombras faziam para se ocultar. Os homens procuraram os possíveis “invasores” e, talvez por saber que o primeiro guarda se assustara com meras sombras, desataram a rir. O próprio guarda começou a rir de forma amarela, por certo acreditando que se assustara com algo à toa. Contra o muro, Harry e os outros respiravam de maneira arfante, muito assustados e tentando fazer o mínimo de barulho possível.

Quando as coisas se acalmaram e o guarda voltou ao seu posto, sozinho, Harry e os demais, caminhando apenas sob as sombras dos prédios e árvores, voltaram ao hotel. Já dentro do quarto em que tinham se hospedado, Rony caiu, branco, contra uma cama e murmurou:

— Essa foi por pouco... Vocês viram o tamanho daquelas facas?!

— O ruim foi saber a quantidade de proteção que a estátua tem — Hermione comentou, sua testa franzida. — Não vai ser nada fácil entrar ali dentro. A Capa da Invisibilidade do Harry mal dá, atualmente, para dois de nós. Acho que apenas duas pessoas devem entrar. Os outros ficam lá fora, para proteger a retaguarda. Pode obliviar e dominar os possíveis guardas que aparecerem.

— Para entrar, já vi que vai ser necessário ir com a capa do Harry — disse Ana. — Os demais ficam com o feitiço, lá fora, protegidos em lugares escuros.

— Sim, Mione, Ana, vocês tem razão. Eu e você, Mione, entramos, o Rony e a Ana ficam lá fora, para a nossa proteção.

— Ora, por que eu não posso entrar com você? — perguntou o ruivo, irritado.

— Você quer deixar as meninas sozinhas contra um monte de caras armados com armas enormes? Ora, sei que vocês são capazes de se defender, meninas, não fiquem chateadas! — Hermione e Ana já tinham fechado a cara para Harry. — Mas vocês têm que confessar que contra força bruta, se for necessário usá-la, o que espero sinceramente que não, os homens são mais capazes, se não estivermos falando de mulheres que praticam artes marciais, o que não é o caso de nenhuma de vocês.

Ao fim de muita discussão, a decisão de Harry foi aceita. Para o dia seguinte, o templo de Durga e o diadema de Ravenclaw os esperavam.

***

Protegidos pelo Feitiço da Desilusão, os quatro bruxos se aproximaram novamente do templo de Durga. Como no dia anterior, era noite, e tinham de caminhar pelas sombras para evitar que a luz da lua revelasse sombras sem corpos. Por azar, as noites vinham sendo sempre claras, sem nuvens para escondê-la. Rony lançou uma forte Maldição Imperius no mesmo guarda da noite anterior, que ainda tomava conta da porta do templo. Como trouxas que eram, os guardas imaginavam ter de se defender apenas de coisas do mundo deles, o mundo trouxa, e a força bruta e armas eram suficientes para deter invasores de sua mesma espécie, mas não bruxos determinados. Parados nas sombras, Rony e Ana ficaram enquanto Harry e Hermione se esgueiravam para dentro do templo, que deveria ter muitos outros guardas, como os que apareceram como que do nada na noite anterior, bastando apenas um grito de alarme de um colega.

Dentro do templo, Hermione e Harry respiravam tentando fazer o mínimo de barulho possível. Ali dentro, apenas uma luz suave de lamparinas e tochas iluminava os primeiros recintos, salas de oferendas, salas com esculturas, murais e tapeçarias de outros deuses menores que deviam ser para reverenciar a autoridade e poder de uma das maiores deusas hindus, a Deusa Suprema, uma esposa de Shiva, encarnação da energia sagrada criativa feminina, Shakti, além de ser uma caçadora de demônios. As imagens de deuses disformes, alguns com vários braços, outros com partes do corpo de aparência animal, alguns com expressões ferozes nos rostos, que, com a tremulante luz das lamparinas e tochas aparentavam estar horripilantemente vivos, deixavam Harry e Hermione com uma ligeira inquietação e temor. Ali dentro, protegidos pela Capa da Invisibilidade, podiam caminhar sem ter medo de que suas sombras se projetassem no chão, mas mesmo assim o que faziam era algo temeroso, dado o cuidado que tinham de ter em não fazer barulho e não esbarrar em nada e em ninguém. A sala de Durga, que de dia era tão aberta a todos, à noite parecia ser muito protegida, para o “descanso” da deusa. Pelas salas que havia antes de poderem alcançar a deusa, guardas como os da noite anterior, com suas afiadas e enormes facas que mais pareciam espadas mouras, caminhavam vigiando o lugar antes da festa que haveria em honra à deusa e seu “presente”.

Enfim, viram, na parede do fundo, uma grande porta dourada cheia de inscrições em sânscrito. Lá, em cada lado da porta, em ferrenha vigilância, dois dos guardas, com suas cimitarras penduradas da cinta. Tinham que ter cuidado com esses dois, pois se percebesse que algo estava acontecendo, dariam o alarme para o restante dos guardas. Rentes à parede, para que não esbarrassem em nenhum guarda que aparecesse por acaso, se aproximaram da porta. Seguraram até as suas respirações para que não as ouvissem. Hermione e Harry se olharam. Mesmo sem ter planejado, já sabiam o que teriam que fazer: ao mesmo tempo, os dois tinham que lançar a Maldição Imperius nos guardas. Preparando-se, seguindo uma contagem regressiva silenciosa, levantaram um pedacinho da Capa da Invisibilidade e lançaram seus feitiços não-verbais. O resultado foi instantâneo e claramente perceptível para os que conhecessem os sintomas de alguém hipnotizado pela Imperius: as expressões dos guardas, tão atentas antes, agora estavam neutras, relaxadas, seus olhos estavam meio fora de fora de foco, como se estivessem divagando.

Harry e Hermione se aproximaram da porta e lançaram ao mesmo tempo o Feitiço Alorromora. Com um rangido quase imperceptível, as duplas portas douradas cheias de desenhos e inscrições em auto-relevo se abriram. Rapidamente, eles entraram no recinto e tornaram a fechar a porta, por medida de segurança. Retiraram de cima de si a Capa da Invisibilidade e olharam em torno. A sala do “repouso” de Durga era grande e muito bonita. Quase vazia, com apenas algumas esculpidas colunas de sustentação, algumas tapeçarias nas paredes douradas com desenhos e escritos em sânscrito. A maior parte da sala estava vazia, apenas o chão de grandes lajotas douradas, e a imensidão causada em parte por esse vazio fazia ecoar os passos que Harry e Hermione davam em direção à grande e imponente estátua de Durga. Somente nesse momento se lembraram do feitiço Abaffiato e o lançaram.

Lá estava, sobre a cabeça da deusa vestida de azul, dourado e jóias de várias cores, o lendário diadema de Ravenclaw. Uma peça realmente valiosa, pesada, de ouro puro e as maiores e mais perfeitas esmeraldas de que se tinha ideia. Havia uma lenda em torno desse diadema que dizia ser ele capaz de um poder incrível: aquele que o usasse, teria durante esse tempo de uso, a inteligência, o dom da lógica e o discernimento que eram as principais aptidões de Rowena Ravenclaw. Harry olhou em torno e sacudiu a cabeça, desolado. Murmurou:

            — A estátua é muito alta, e não “tô” vendo nada que possa nos ajudar, Mione.

Hermione o olhou com sua cara-de-Hermione-diante-uma-estupidez e replicou:

— Francamente! Você é um bruxo ou não é, Harry? — virou-se para a estátua e, com a varinha apontada para o diadema de Ravenclaw — Mobilicorpus!

A peça se desencaixou da cabeça da deusa e veio flutuando, mediante os movimentos que Hermione fazia com a varinha, até suas mãos. A garota a pegou e a olhou com uma expressão de reverência. A peça era pesada em suas mãos, linda, e tinha um brilho incomum. A garota sentiu vontade de chorar apenas por segurar uma peça da bruxa que mais admirava na bruxidade.

— Tem razão, Mione, sou mesmo um tapado! Bem, vamos logo sair daqui, quanto antes voltarmos para o hotel, e para a Inglaterra, melhor!

De repente, algo que parecia impossível aconteceu. Os olhos de Durga se abriram e pareciam brilhar maleficamente! Seus inúmeros braços, antes em posição de montras, desceram até tocar suas diversas armas, e aquilo era um mau sinal. Harry e Hermione, assustados, recuaram. Logo a estátua se moveu de verdade: o leão de Himalaia, sobre o qual Durga se sentava, estendeu sua imensa pata, em um leve indício de que começaria a andar. E foi o que fez. O imenso felino de metal começou a andar na direção deles. Harry e Mione correram para a porta, mas tiveram que dar um salto cada um para um lado antes de chegarem nela, pois Durga, com um de seus vários braços, lançara neles o raio de Indra, um afiado pedaço de metal que poderia tê-los matado.

Harry se arrastou até a porta e tentou abri-la. Não conseguiu. Bateu a mão na própria testa.

— Mas é claro! Mione, a gente foi tão idiota, tão crédulo! É lógico que Voldemort não confiaria apenas na proteção trouxa para uma de suas preciosas Horcruxes! Há magia aqui!

— Tenta abrir a porta, enquanto eu distraio essa coisa! — ela disse enquanto fazia tentativas para que a estátua se concentrasse nela, e não em Harry.

— E os guardas?!

— Uma coisa de cada vez, Harry! Temos que nos preocupar em sair vivos daqui primeiro!

Quando finalmente “Durga” investiu em Hermione com o tridente de Rudra, a garota correu para a outra extremidade da sala. Harry se levantou e tentou abrir a porta de todas as maneiras possíveis, Alorromora, seu canivete mágico, mas nada conseguia abri-la, enfeitiçada como estava por magia negra. Hermione lançou um Bombarda na estátua, mas erguendo o disco de Vishnu, “Durga” conseguiu se defender completamente. O feitiço potente nem sequer arranhou o disco de ouro.

Harry estava preparado para lançar um Bombarda na porta a qualquer momento, sem dar a mínima para os guardas, que perceberiam sua presença, mas nesse momento a estátua de Durga saltou de cima do leão, ainda portando duas armas de aparência mortífera, o kamandal de Brahma e a gada de Kuber. Ela foi para cima de Hermione, derrubando-a, e se curvou, a gada próxima ao pescoço da garota. Harry correu até as duas e, usando sua varinha, ergueu a estátua com um Feitiço de Levitação:

Vingardium Leviosa!

Ele não sabia o que fazer. Se destruísse a estátua, haveria falação demais, e mesmo não sendo provável, era possível que algum boato sobre aquilo chegasse a Voldemort, fora que não sabia mesmo como destruí-la, se precisasse. E naquele momento estavam mesmo bastante necessitados. Do ar, “Durga” lançou nele com bastante força a gada com que ameaçara Hermione. Harry teve que fazer todo o possível para não soltar a varinha, que mantinha o Feitiço de Levitação. Para piorar, o leão de ouro começou a se aproximar, rosnando.

Hermione, atrás dele, revirava a mente, buscando uma solução. Tinha que encontrar uma maneira de neutralizar a magia negra de Voldemort que dava “vida” à estátua. Foi então que ela pensou. Um deus antigo como aquela deusa hindu certamente se apaziguaria apenas através de um sacrifício. Um sacrifício de carne ou de sangue. Voldemort deveria ter sabido daquilo quando enfeitiçara a estátua para proteger a Horcrux. Assim, quando o sacrifício fosse feito, o bruxo estaria debilitado, o que o deixaria presa fácil para o leão de ouro. Se ela apaziguasse a estátua da deusa, Harry poderia derrotar o leão.

Apontando a varinha para o próprio pulso, Hermione murmurou:

Diffindo...

Murmurou de dor quando o Feitiço de Corte rasgou sua pele, atingindo as veias e artérias e fazendo seu sangue escorrer pela mão, gotejando no chão.

— Harry, baixe a deusa! Acho que sei como derrotá-la!

Meio em dúvida, Harry baixou a estátua de Durga ao chão. O leão se aproximava cada vez mais, um passo felino e elegante, apesar das patas de ouro. A deusa ergueu a última arma que lhe restava, o kamandal de Brahma. Hermione se aproximou correndo, a mão sangrenta estendida, balançando a mão de modo que o sangue respingasse no metal com que a deusa era feita e gritando:

— Ofereço meu sangue como sacrifício, grande deusa Durga!

Na mesma hora, foi como se a estátua jamais tivesse tido “instintos” assassinos. Ela ficou imóvel, como qualquer estátua, seus olhos já sem o brilho de “vida” que tivera momentos antes.

Enquanto isso acontecia, o leão de Himalaia saltava sobre Harry, as presas e garras de ouro prontas a dilacerarem o garoto, mas ele gritou:

Bombarda!

E seu feitiço, não evitado porque o leão não tinha como se proteger como a estátua da deusa, que usara o disco de Vixnu, destroçou o pescoço do leão, separando, assim, a cabeça do corpo. As duas partes caíram. Hermione conjurou rapidamente um tecido fofo no chão, pois de outra forma, as duas partes, quando batessem no chão, causariam um estrondo. Não haveria barulhos indesejáveis, por causa do feitiço que tinham lançado para se proteger contra isso, mas a vibração poderia ser notada, sim.

Mione curou seu pulso com um Episkey. Durante uns minutos, ela e Harry ficaram parados, sentados no chão, tentando se acalmar e controlar suas respirações ofegantes.

***

Enquanto isso acontecia dentro do templo, lá fora Ana e Rony não tinham muito que fazer, exceto ficar de vigia. O guarda de lá também continuava sob o efeito da Maldição Imperius que Rony lhe lançara ao chegarem. Esfregando os braços de frio, o ruivo lamentou não ter trazido roupas mais quentes. Soprou audivelmente nas mãos, para aquecê-las, e de repente ouviram uma voz que os fez se assustarem e ficarem rígidos.

— Quem está aí? — perguntou uma voz meio assustada.

Alguém vinha chegando, um dos guardas, e ouvira o som do sopro de Rony, que não vinha do outro guarda que estava no seu posto. O guarda se aproximou da parede onde Rony e Ana estavam encostados, cobertos por uma grande sombra, e olhou ao longo dela, procurando pelo autor do som. Ana e Rony, protegidos pelo Feitiço da Desilusão, espremiam-se, apavorados, à parede às suas costas, prendendo até as suas respirações. Ali, no escuro, se ficassem imóveis, sem fazer barulho, não teria como o guarda vê-los, uma vez que tinham a mesma aparência cinzenta escura dos tijolos que compunham a parede cuja sombra os protegia. Ana apertava o braço de Rony com tanta força que o rapaz mordia o lábio inferior de dor para não gemer e delatar, dessa forma, sua presença.

Após olhar muito tempo com uma expressão desconfiada, o guarda pareceu se despreocupar, como se começasse a achar que o barulho tinha sido uma peça de sua mente ou então feito por algum animal ou pelo vento, que estava levemente assobiante nessa noite. Quando o guarda se afastou em direção ao outro, Rony, apesar do seu nervosismo, lançou nele uma Maldição Imperius para que o guarda não desconfiasse das maneiras devaneadas do colega. Ao mesmo tempo ele ficou ao lado dele, olhando sem ver o que tinha à sua frente. Rony deu um suspiro de alívio.

— Essa foi por pouco... — sussurrou. Ana, trêmula ao seu lado, respondeu maneando a cabeça afirmativamente.

***

  Enquanto isso, dentro da sala de Durga, Hermione guardou dentro de sua bolsa o diadema enquanto Harry reconstituía o leão com um Reparo e restaurava a posição original da deusa, sobre o leão e segurando todas as suas armas. Não puderam fazer um feitiço de cópia do diadema, pelo fato de ele ser uma peça mágica muito poderosa e ainda estar sendo usado como uma Horcrux. Cautelosamente então ela e Harry abriram uma fresta da porta e espiaram, para ver se alguém estava passando no momento. A barra aparentemente estava limpa. Os guardas, nos seus postos, ainda aparentavam a mesma expressão de alheamento típica das pessoas atingidas por uma Maldição Imperius. Puseram a Capa da Invisibilidade novamente e saíram da sala. Sentindo uma sensação de alegria pela vitória, tornaram-se mais descuidados. Indo por uma das salas em busca da saída, não prestaram atenção a um corredor e de repente trombaram com algo. Na verdade, alguém. Um dos guardas vinha saindo por esse corredor, e como não estavam muito atentos, acabaram colidindo com ele.

Com a colisão, Hermione se desequilibrou e ela e Harry caíram no chão com um baque surdo, deixando caírem as suas varinhas. Ainda cobertos pela Capa da Invisibilidade, felizmente. O guarda, com sua pele morena pálida e os olhos negros arregalados de pavor, de tão assustado que estava, nem gritou. Apenas gemeu com voz trêmula. Parecia achar que tinha um fantasma ali com ele. Tirou sua cimitarra e começou a lançar golpes fortes com ela a esmo. Temerosos, ouvindo o som surdo que a afiada arma fazia quando cortava o ar, principalmente acima deles, recuperaram as suas varinhas e se ajeitaram para percorrer os poucos passos até a porta de entrada do templo engatinhando. Pelos fortes golpes, tinham medo de erguer os braços com as varinhas e a arma os cortar. Somente quando tinham alcançado a porta da frente e se deslocado uns bons metros do perigoso guarda tiveram a coragem de se levantar. Hermione, boa nos feitiços de memória — e na maioria dos outros, na verdade — alterou a memória do guarda, para que se esquecesse desse incidente.

Enfim, com o coração na mão, Harry e Hermione saíram do templo. Foram até a parede onde sabiam que Rony e Ana estavam e murmuraram:

— Somos nós...

Ouviram os suspiros de alívio.

— Ainda bem, cara! Que susto, a gente quase foi pego, por aquele guarda que está perto do outro.

            — A gente também, Rony — disse a voz de Mione, que descobriu um pouco do rosto dela e de Harry para que Rony e Ana pudessem vê-los e saberem onde estavam.

— Bem, vamos logo, pessoal... — disse Harry. — Além de estar muito frio, é muito perigoso a gente ficar aqui, ainda mais falando. Vamos conversar lá no hotel, é mais seguro.

— OK, Harry, mas antes diz, vocês conseguiram?

Um grande sorriso surgiu no rosto do rapaz.

— Sim, Rony. A gente conseguiu.

***

No quarto do hotel, Hermione tirou o diadema de Ravenclaw de sua bolsa e todos o admiraram, pois era realmente bonito e imponente. E devia ser muito poderoso, como fora a taça de Hufflepuff. Ela o colocou sobre a cômoda e ele ficou lá, brilhando muito sob a luz das lâmpadas.

— A gente tem de sair logo da Índia — Harry disse, sentando-se na parte de baixo do beliche que dividia com Rony. — Amanhã vai ser uma confusão dos diabos. Graças a Deus que Voldemort e os Comensais da Morte não se interessam pelas notícias do mundo trouxa.

— Mas, Harry — disse Ana — você não acha que, mesmo desprezando o mundo trouxa ele não estaria antenado com o lugar onde pôs uma de suas Horcruxes?

Harry fez um muxoxo de pouco caso.

— Nãh... Ele despreza de verdade o mundo trouxa, e tem outra coisa que aprendi observando as coisas que o Dumbledore me dizia. Voldemort se acha o tal. Ele nem imagina que alguém saiba sobre as suas Horcruxes, senão elas estariam muito mais protegidas. Ele tem muito excesso de confiança, acha que ninguém poderia imaginar que ele fez Horcruxes, exceto, talvez, o Prof. Slughorn, a quem ele “acha” poder controlar, agora que manda e desmanda em Hogwarts. Estou tranquilo quanto a isso.

Hermione não tirava os olhos do diadema, fascinada.

— Harry, digo isso com muita tristeza, pois não queria nunca destruir uma peça de história, poder e valor tão grandes, mas não acha que a gente devia aproveitar e destruir a Horcrux logo? Afinal, temos tempo, oportunidade e o sangue do dragão em muda. Na verdade, o sangue está tão pouco que só dá para destruir essa Horcrux. As que por ventura descobrirmos, temos que encontrar um novo meio.

Harry moveu a cabeça afirmativamente. Foi até a cômoda e olhou fixamente para a Horcrux. Seus olhos verdes adquiriam raios dourados pelo brilho que emanava do resplandecente metal. Também não gostaria de destruir o diadema de Ravenclaw, mas era necessário. Estendeu a mão silenciosamente para Hermione. A garota entendeu seu pedido mudo, procurando dentro de sua bolsa o canivete mágico de Harry e o vidrinho com o restante do sangue de dragão. Harry os pegou, molhou a lâmina do canivete no resto do sangue no frasco e se aproximou do diadema. De repente, as luzes do quarto tremularam. Um som rascante se ouviu no quarto e todos se entreolharam, assustados. Uma voz ecoou no quarto, límpida, pura, clara como cristal, uma voz que parecia ser plena de sabedoria e luz.

Sou pleno de sabedoria, e dar sou tão capaz                                                                          Inteligência que seduz                                                                                                                Àquele que me conduz.

Sobre a cabeça me assente                                                                                                         O que for merecedor.                                                                                                             E assim será sempre um vencedor.

A voz era envolvente, e todos sabiam, ao ouvi-la, que aquilo não era nenhum plano macabro do maligno pedaço de alma de Voldemort. Era a própria voz da bruxa a quem pertencera, que através de mágica devia ter posto ali um aviso àqueles que fossem merecedores de pôr o famoso diadema na cabeça a assim aumentar sua capacidade intelectual. Essa era mesmo a grande, e perigosa, magia que ele tinha.

— Nessas horas, eu sinto ainda mais ódio a Voldemort! — disse Ana entre os dentes, a voz cheia de raiva. — Como ele pode macular um objeto tão... tão precioso, tão puro como esse?!   

Harry achava a mesma coisa, mas tinham de destruir o diadema de Rowena Ravenclaw, a bruxa com fama de ser a mais inteligente e sábia. Como Ana mesma dissera, o objeto estava maculado, não era ele em sua integridade, mas abrigava dentro de si algo realmente maligno e poluído. Ele levantou o braço com o intuito de atingir o diadema, mas outra voz se fez ouvir. Tinha uma semelhança incrível com a primeira, mas dava para se notar uma diferença, talvez percebida por poucos. Era como se a voz de Rowena Ravenclaw estivesse sendo imitada, ou corrompida, pois a essa “nova” voz faltavam a pureza e claridade da primeira.

Posso, sim, perceber,                                                                                                                   Aqui, nesse recinto,                                                                                                                               Alguém que me há de merecer.

Garota morena, inteligente e perspicaz,                                                                                 Se realmente tem a mente tão capaz,                                                                                            Me destruir não deixará, se tornando tão falaz.

De sua propriedade me tornarei,                                                                                                          Hermione Jane Granger,                                                                                                            E sua tão superior inteligência aumentarei.

Com os olhos castanhos em transe, a garota olhava para o diadema. Pelo visto, o desejo de possuir um objeto tão poderoso e capaz tinha fechado seus ouvidos às sutis diferenças entre as duas vozes, pois na verdade aquela voz não podia ser outra senão da Horcrux. Hermione se levantou, os olhos vidrados no diadema brilhante que parecia reluzir ainda mais, numa espectral luz esverdeada. Seus braços se estenderam, loucos de vontade de pegar o diadema e pô-lo em sua própria cabeça, como ele parecia induzi-la.

Harry, Rony e Ana a olhavam abismados. Hermione podia ser a mais inteligente do grupo, mas isso era também a sua fraqueza. Por isso a Horcrux a escolhera para impedir sua destruição, para tentá-la. Uns almejavam muito dinheiro, outros, poder, e havia aqueles para quem a beleza era o que mais importava. Mas não Hermione. A única coisa que a garota queria para si era ainda mais inteligência, sabedoria e discernimento, para ela as únicas verdadeiras riquezas que existiam nesse mundo.

— Não, Mione, não! — gritou Rony pálido, morto de medo de que sua namorada pegasse a Horcrux.

Antes de ela tocar no diadema, Harry lhe segurou o braço e a virou para si. Olhando-a intensamente nos olhos, falou:

— Hermione, não, não faça isso, minha amiga. Sabe que isso não é real. Se você pôr essa coisa na sua cabeça, não é inteligência o que você vai conseguir. Você vai ser possuída pela Horcrux, pelo pedaço maligno de alma de Voldemort. É isso o que você realmente quer?

A garota mal notou as palavras de Harry, voltando o rosto novamente para o diadema, com as palavras que ouvira ainda impressas em seus ouvidos. Tentou soltar a mão e, vendo que Harry a impedia, segurando-a com mais força, ergueu sua varinha para ele. Harry a soltou mediante a ameaça. Com consternação, viu sua amiga chegar ainda mais perto da Horcrux.

A mão de Hermione já estava quase tocando o cintilante metal, cujo brilho agora não parecia normal, quando sua consciência despertou e começou a dialogar com a parte cobiçosa que havia nela.

Realmente, é isso que quer, Hermione? Deseja o poder, a inteligência acima de tudo, até mesmo de seus amigos e da destruição de Voldemort? Quer tanto assim pôr esse diadema na cabeça? Não acha que sua própria inteligência já não basta? disse a voz de sua consciência. Sua parte egoísta e desejosa lhe murmurou:

A inteligência, a sabedoria, são coisas tão boas... Com elas posso ajudar o Harry ainda mais!

Mas não é nisso o que realmente pensa quando quer pôr esse diadema na cabeça, não tente se enganar. Você quer ser a pessoa mais inteligente do mundo, a mais capaz!

Sim, você tem razão, mas é tão difícil resistir!

O que importa mais? A inteligência artificial, conseguida por meio de um objeto enfeitiçado? Ou a verdadeira inteligência e sabedoria, conseguidas por seu próprio esforço e experiência de vida?

Após esse verdadeiro “diálogo” que se passou dentro dela, Hermione caiu em si. Soltando a varinha, ela caiu de joelhos, respirando arfantemente como se tivesse acabado de competir em uma maratona. Seus olhos se encheram de lágrimas, de tristeza por sua fraqueza e alegria por sua força de vontade. Conseguira vencer sua maior fraqueza e não sucumbir ao poder e fascinação malévolos da Horcrux. Os outros se aproximaram dela, a fizeram se levantar e a abraçaram numa verdadeira mostra de companheirismo, alegria e admiração por sua vitória na disputa contra sua parte mais fraca.

— Me... me desculpem! — ela gaguejou entre lágrimas. — E-eu... eu quase te azarei, Harry!

— Não se preocupe, Mione. Você acabou de vencer a maior batalha que um ser humano pode enfrentar: a batalha contra si mesmo. Você é forte e demonstrou essa força da maneira mais corajosa que poderia manifestar. Acho que você ganhou o direito de destruir a Horcrux.

— Tem... tem certeza, Harry? Não acha que será uma tentação para mim?

Ele sorriu.

— Não. Já passou o momento de você cair em tentação. Se fosse para cair, teria caído quando a tinha tão perto de você, ainda abalada por suas palavras. Tome.

Ele lhe estendeu o canivete com a lâmina coberta de sangue. Com mão trêmula, a garota o pegou. Os outros se afastaram dela, olhando-a com respeito e incentivo. Hermione mordeu seu lábio inferior, olhou para o diadema com o mesmo olhar à McGonagall que reservava para momentos como esse e deu uma forte estocada na grande esmeralda frontal do diadema, de onde parecia emanar toda aquela luz meio fantasmagórica que envolvera a peça quando a “voz” da Horcrux falara. Com o impacto, a garota foi jogada para trás, mas conseguiu se manter em pé. A pedra verde, que parecera tão dura, tão forte, se rompeu em mil estilhaços enquanto um agudo e doloroso grito se fazia ouvir.

A segunda Horcrux estava, enfim, destruída. Os quatro amigos se abraçaram, falando e rindo ao mesmo tempo de felicidade. Olharam, então, para o diadema. Mesmo sem a grade esmeralda central, a jóia continuava bonita, com sua intrincada e bela filigrana de ouro e suas outras dezenas de esmeraldas ainda intactas e belas.

— Fica com ele, Mione. Você merece — Harry disse.

A garota sorriu e negou com a cabeça.

— Não, Harry, essa peça é muito famosa, faz parte do patrimônio histórico bruxo da Grã-Bretanha. Eu a doarei a um museu bruxo, quando Voldemort for enfim destruído e não puder reconhecer a peça.

Os outros perceberam o que Hermione falou e sorriram. Ela falara quando Voldemort fosse destruído, e não se. E era verdade. Agora, tinham mais esperança, se não certeza, de que o bruxo seria destruído, pois já eram duas Horcrux a menos e tinham três das quatro partes que formavam o Amuleto de Merlin. Funcionários do hotel bateram à porta, preocupados com o grito, mas Harry os acalmou, dizendo que fora apenas uma queda que um deles sofrera, mas já estava tudo bem. Quando eles foram embora, Harry falou:

— Bem, pessoal, amanhã vamos embora. Londres espera por nós!


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Notas finais do capítulo

Até o próximo! Por favor, comentem, me deem esse presente de Natal! rsrs

Beijos da Ana



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