Harry Potter e o Amuleto de Merlin escrita por ana_christie


Capítulo 17
O Furto Espetacular


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal! Bem, eu sei, fim de ano... Não posso exigir muito de meus leitores (embora eu queira, PRECISE de Reviews!), mas sei o que é preparo para quarto bimestre, recuperação e prova final, vestibular, etc... Mas uma coisa me deixa feliz: as férias estão chegando! Então, quando elas chegarem, ninguém terá desculpa para evitar me deixar reviews! Rsrsrs Vou esperar! Não que vocês parem de postar enquanto elas não chegam! Ainda os quero muito! Mas juro, fiquei triste, com tão poucos...



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           Hermione e Ana foram acomodadas num mesmo quarto, enquanto Harry e Rony compartilharam um quarto com Ryan, o filho dos Winchester. Enquanto as meninas ajudavam a Sra. Winchester, o Sr. Winchester acompanhou Harry e Rony ao acampamento para buscar as coisas que ficaram lá. Por meio de magia Harry desmontou a barraca e a guardou, junto às coisas que tinham sido tiradas de dentro da bolsa de Hermione, dentro da mesma. Quando voltaram, ajudaram o Sr. Winchester e Ryan com os serviços da fazenda.

Ana estava terminando de tomar banho e se vestir, à noite, para jantar. Todos os outros já tinham se arrumado e ido à sala. Ela pegou a sua roupa suja e quando foi pôr num saco viu, nela, uma longa e fina mecha de cabelos pretos, oleosos e desgrenhados. De quem seria? Seus cabelos eram muito loiros... Segurando a mecha, ela foi até a cozinha, no rosto uma expressão intrigada.

Quando lá chegou, a mesa já estava posta e os demais “hóspedes” já estavam sentados, esperando-a para que pudessem jantar. Harry notou a expressão intrigada de Ana e lhe perguntou o porquê, entretanto, ela não falou, decidindo falar sobre a mecha de cabelo mais tarde, quando os quatro pudessem falar sozinhos. Ela achava não ser bom deixar os Winchester a par de tudo. Harry sorriu e compreendeu a negativa dela. Após o jantar, quando os Winchester dormiam, Harry e Rony conseguiram sair do quarto de Ryan sem acordá-lo e foram até a sala, onde as meninas já os esperavam. Eles se aproximaram para falar aos sussurros e Harry finalmente perguntou, muito curioso:

— Ana, o que te deixou com expressão tão estranha, na hora do jantar?

Ela molhou os lábios e olhou para todos, dizendo enquanto estendia a mão com a mecha de cabelos:

— Olhem o que estava preso em minha roupa...

Todos examinaram a mecha, sem entender o que ela queria dizer. Nenhum deles tinha cabelos longos e negros como aqueles. E não poderiam ser resultado do feitiço de disfarce lançado no dia anterior, pois, mesmo que esse tipo de feitiço não fizesse a aparência real retornar quando findo — o que não acontecia — Hermione não enfeitiçara ninguém para ficar com aqueles cabelos longos, negros, desgrenhados e oleosos de sujeira. Após muita confabulação, Ana bateu a mão na testa.

— Mas é claro! Como não percebi antes?!

Os outros a olharam pressurosos, a curiosidade os corroendo. Com a respiração ofegante, a garota olhou-os nos olhos, os seus arregalados e murmurou, a voz trêmula:

— Belatriz.

Harry se contorceu, com ódio e desconforto, ao ouvir o nome da bruxa odiosa.

— Harry, não lembra quando eu fiz aquela tentativa louca de te salvar da Maldição Cruciatus da Belatriz? Eu me lancei sobre ela e a agarrei pelos cabelos. Devo ter arrancado essa mecha daquela vez, e ela deve ter se prendido na minha roupa! Não sei qual foi o milagre que permitiu que ela não caísse desde aquele momento...

Nesse momento, lembrando de que a mecha estivera na sua blusa, bem na parte do peito, Ana se perguntou intimamente se não fora o seu Amuleto o responsável por aquele fato extraordinário. A mecha suportara o restante da batalha, a correria até a Igreja e até o campanário da torre, o forte vento da fuga com as vassouras, seu sono na barraca e o dia inteiro que ajudara a Sra. Winchester, o que não era normal.

Tirando-a do devaneio, Hermione murmurou:

— Pessoal, creio que já sei a maneira pela qual poderemos tentar entrar no covil de Voldemort. É muito arriscada, mas é a única solução que vejo para a gente conseguir o livro sobre as Horcruxes. Poção Polissuco.

Todos a olharam, percebendo logo de onde ela tirara aquela ideia. O cabelo de Belatriz. Com ele, podiam preparar Poção Polissuco e um deles se disfarçaria de Belatriz Lestrange e entraria no lugar onde o Lord das Trevas estivesse, fosse ele qual fosse. Era um plano muito arriscado, e todos tinham isso em mente.

A Poção Polissuco, entretanto, como todos sabem, levava cerca de um mês para ser preparada, e eles não tinham sequer os ingredientes mais simples, quanto mais uns raros. Não tinham como obter o pó de chifre de bicórneo e a pele de ararambóia. Antes de tudo, porém, era necessário saber onde Voldemort estava, agora que ele não precisava mais se esconder, sendo “Ministro da Magia”. Um trabalho de pesquisa podia ser muito perigoso, já que eles estavam agora sendo perseguidos como criminosos, e pior, criminosos com altas recompensas pela captura. Então, Harry chegou a uma conclusão. Era hora de usar pela primeira vez suas recém-aprendidas habilidades de Legilimência e Oclumência. Tinha que entrar na mente de Voldemort sem que ele percebesse, para saber onde ele estava vivendo com seus seguidores mais chegados.

Harry estava sentindo um ligeiro temor de usar a ligação entre as mentes dele e de Voldemort. Não sabia o que poderia ocorrer caso o bruxo percebesse a sua invasão. Era, entretanto, a única maneira de eles conseguirem o que tanto precisavam. Harry, então, no dia seguinte, resolveu que faria aquilo sem a presença dos amigos. Caminhou até uma ravina verdejante, embora estivesse fazendo muito frio, e sentou-se. Fechou os olhos, sentindo o vento gostoso em seu rosto e respirando funda e pausadamente. Começou a se concentrar e pensar em Voldemort e na conexão que estava desejando entre as suas mentes. Era como se uma fina e impalpável linha unisse sua mente a dele. Logo, ouvia sons como se fossem de estática, e a sua cicatriz começava a arder. Não podia evitar que aquilo acontecesse; a dor era uma prerrogativa para que a conexão entre suas mentes fosse bem sucedida.  Por isso, esperou que ela viesse, pois quando ela chegasse insuportável, de tal maneira que ele precisasse se curvar e sentir náuseas, estaria na mente de Voldemort. Quando a dor chegou, Harry não fez nada para evitá-la, deixou que ela o envolvesse em ondas e mais ondas que começavam em sua cicatriz e reverberavam por todo o seu corpo até ele não ter mais consciência do lugar onde estava, seus sentidos todos dominados.

Ele estava bastante satisfeito. Apesar de não ter pegado Harry Potter e seus amigos, agora podia transformar o herói do mundo bruxo em um reles assassino, o que não seria bom para a imagem do rapaz. Já castigara seus comparsas... A sala para a qual olhava era ampla e elegantemente mobiliada, totalmente diferente de seu último refúgio, na caverna da Cornualha. Agora não precisava se esconder e estava ocupando a própria Casa Ministerial, residência oficial de todos os Ministros da Magia. À sua frente, numa atitude de submissão, estava ajoelhada Belatriz Lestrange, sua fiel serva, mas que merecera o castigo que lhe dera horas antes. Bela podia ser fiel, mas tinha uma péssima tendência a perder o controle nos momentos mais necessários, tornando-se muitas vezes mais um estorvo do que uma “auxiliar” competente. 

À sua frente, ajoelhada, ela implorava por uma nova chance de capturar o “Potter”. Ele sorriu friamente. Quando chegasse o momento, ele iria atrás do garoto. Já tinha aprendido através dos próprios erros que, se você tinha algo para fazer, que fizesse você mesmo, se quisesse perfeição. Entretanto, Bela ainda era muito útil para outras questões.

— Quero que encontre outra pessoa que está desaparecida há muito e que quero mais que tudo, exceto, talvez, o Potter. Quero que me traga o Olivaras. Dessa meneira, quem sabe eu possa conceder a você, Bela, o perdão total... — ele murmurou com seu tom agudo e frio e um sorrisinho de escárnio e desprezo. — Parta agora e só retorne com o Olivaras.

Harry retomou, então, à custa de muita concentração, a sua própria consciência, e abriu os olhos. A ravina estendia-se à sua frente, com suas cores e cheiros, embora ele estivesse, momentos antes, totalmente desligado de seus sentidos, mantendo apenas um mínimo de consciência para que pudesse retornar ao seu eu quando fosse o momento. Sentia-se enjoado e o suor escorria por seu rosto, acumulando-se nos óculos, que ele tirou e enxugou na camisa por baixo do suéter de lã vermelho com um leão da Grifinória no peito que ganhara no natal passado da Sra. Weasley. Ele se levantou e voltou para a casa dos Winchester. Sentia-se ligeiramente enjoado, mas já sabia onde Voldemort estava, e qual era o próximo plano do maldito. Sequestrar o fabricante de varinhas, que se achava escondido.  Harry encontrou Hermione, Rony e Ana sentados num balanço na varanda da casa térrea, agoniados, esperando por ele, com medo de que qualquer coisa de mal pudesse estar acontecendo. Ele os tranquilizou, sorrindo fracamente.

— Tudo certo. Consegui penetrar a mente de Voldemort sem que ele notasse a invasão. Sei onde ele está. Era tão óbvio que nem imaginamos. Ele não usurpou o cargo de Ministro da Magia? Onde deveria estar morando?

Rony bateu a mão na testa.

— Por que não pensei nisso antes?! Claro que é na Casa Ministerial! Eu mesmo já fui lá com meu pai, na época do Fudge, quando eu era menor! Numa festa para os funcionários do Ministério! Que mancada! Então ele está em Londres!

— Sim. Bem conveniente para nós, que precisamos adquirir os ingredientes para a Poção Polissuco — disse Hermione. — Que bom que você já entrou lá dentro, Rony. Vai poder nos ajudar, não é? A fazer um plano de invasão do lugar. Teremos de ter planos de fuga para caso as coisas não... dêem certo. 

Harry ainda falou:

— Algo mais me preocupa. Ele deu a Belatriz a incumbência de encontrar Olivaras, que deve estar escondido. Aposto que quer saber dele o porquê de ocorrerem coisas estranhas entre a minha varinha e a dele. Creio que a gente deve prevenir o bruxo, mas como?

Ana se lembrou de que fora ele o bruxo a lhe dar a sua varinha, e fora Aberforth que a levara até ele.

— Aberforth sabe onde ele se escondeu. Se pudermos, a gente dá um jeito de avisar Abe. Tenho certeza que ele vai proteger o seu amigo.

Isso tudo indicava que o período de “paz armada” que eles viviam na tranquila fazenda dos Winchester estava acabando. Tinham que partir para Londres, onde as coisas de fato estavam acontecendo ou prometiam acontecer. Eles então disseram aos seus anfitriãos sobre a partida iminente e modificaram suas aparências, pois tinham de ir ao melhor lugar de Londres para comprar produtos para poções: O Beco Diagonal.

***

Quatro bruxos de aparência jovem, mas que não chamavam a atenção de ninguém por serem comuns e desconhecidas e usarem roupas bruxas, como muitos, andavam cautelosos pela rua bruxa mais importante da cidade de Londres. Eram dois rapazes e duas moças que pareciam bruxos do interior passeando e fazendo compras, como acontecia em geral nos dias de sábado. A única coisa pela qual podiam ganhar um pouco de atenção em cima de si era o fato de estarem muito tensos e cautelosos, mas isso também era normal naqueles dias negros. E ninguém ficou surpreso quando os tais bruxos entraram na Travessa do Tranco, recanto do Beco Diagonal não muito frequentado por bruxos decentes, por conter os estabelecimentos comerciais mais suspeitos, onde o mercado negro funcionava de maneira ampla e os bruxos mais mal-encarados andavam. Naqueles dias era corriqueiro bruxos entrarem na Travessa do Tranco sem se incomodar em ser vistos.

Os quatro, no dia seguinte à decisão de partirem para Londres, onde encontrariam o que precisavam, despediram-se dos Winchester e transformaram-se através do Feitiço de Metamorfomagia. Precisavam ir ao Beco Diagonal e não era viável, naquele lugar sempre cheio de pessoas, usarem o Feitiço da Desilusão ou Capas de Invisibilidade, pois podiam a qualquer momento esbarrar em alguém. Sabiam que corriam sérios riscos, mas precisavam dos produtos para fazer a Poção Polissuco, e não queriam pedi-los a outros bruxos conhecidos e que com certeza os tinham, pois caso os bruxos que os ajudassem fossem encontrados com eles, “fugitivos” da justiça, poderiam se enrascar seriamente.

Apesar de, no Beco Diagonal propriamente dito, produtos como pó de chifre de bicórneo e pele de ararambóia pudessem ser encontrados, na Farmácia, a venda de produtos como esses, usados em poções perigosas, estava sendo controlada pelo Ministério. A Travessa do Tranco, entretanto, continuava como sempre fora, sem muita regulamentação. Por isso Harry e os outros precisaram entrar naquele lugar pavoroso e suspeito. Tinham de recorrer ao mercado negro para terem a certeza de que suas compras não levariam aos compradores.

Para Ana, a Travessa do Tranco tinha sido uma surpresa desde a primeira vez em que entrara nela para encontrar Olivaras. Para ela, que reconhecia o ambiente de certas ruas brasileiras que não gostava sequer de ver pela televisão, onde imperava o tráfico de entorpecentes e outros comércios escusos. Para os outros não causava mais impacto a rua tortuosa, escura, sombria e suja, com lojas, barracas e ambulantes de aparência extremamente suspeita. Alguns dos bruxos que estavam lá, como uma bruxa velha com cabelos grisalhos desgrenhados e oleosos, uma grande verruga na ponta do enorme e gotejante nariz e roupas remendadas, eram a personificação dos bruxos dos contos infantis trouxas que tanto Ana lera na sua infância. A todo o momento tais bruxos os chamavam, oferecendo-lhes produtos e objetos que com certeza precisariam de uma série de permissões apenas para serem vistos, mas não era isso que interessava a nossos heróis.

Finalmente encontraram uma barraca de ervas e outras substâncias usadas em poções. A dona da barraca, uma bruxa idosa que tinha um olho cego, era de aparência astuta, sonsa e untuosa, logo os tratando como se eles fossem o Ministro da Magia em pessoa. Ana logo percebeu que ela tinha sotaque de português brasileiro. Alguns dos produtos que havia em sua loja eram considerados raros, e Hermione, bastante observadora, tinha certeza que nunca encontrara em lugar algum do Beco Diagonal, como sangue de unicórnio, algo que além de raro era proibido, e só usado em poções realmente malignas, pois era um crime a matança de seres tão puros. A bruxa tinha até, bem guardado por uma redoma, o chifre de um Erumpente, animal mágico super perigoso pela facilidade de explosão de seu chifre. Eles, entretanto, apesar da variedade de “ofertas” e oferecimentos da bruxa, pegaram apenas os ingredientes que precisariam, o pó de cifre de bicórnio, a pele de ararambóia seca, os hemeróbios, sanguinária, descurainia colhida em noite de lua nova (a bruxa garantiu) e sanguessugas. Os quatro últimos ingredientes podiam ser comprados sem problema em qualquer lugar do Beco Diagonal, mas preferiram comprar ali mesmo, quanto menos andassem pelo Beco, melhor.

Após pagarem e guardarem as compras na bolsa de Hermione, a bruxa os olhou, um sorriso astuto e falso na boca fina.

— Creio que têm o suficiente para fazer litros de Poção Polissuco.

Ao ouvir aquilo, eles se assustaram e a olharam, temerosos, olhando em volta para saber se alguém mais tinha ouvido. A bruxa deu uma risadinha sarcástica.

— Não se preocupem, meus filhos. Não sabem como as coisas funcionam aqui, na Travessa do Tranco? Vocês queriam produtos de difícil aquisição e pagaram um preço “muito” justo por eles. Agora só precisam ir embora sem preocupação... Afinal, o macaco tem que olhar para o próprio rabo antes de se preocupar com o rabo da cotia...

Apenas Ana entendeu aquele provérbio, típico do Brasil, embora dito em bom inglês. Ela sorriu e, quando estavam saindo da pavorosa rua, disse:

— O que ela quis dizer é que não poderia falar de nós, pelas compras que fizemos, nos delatar. Se fizer isso terá que explicar como está adquirindo e vendendo produtos que não devia.

***

Como a casa de Harry estava ocupada por Arthur e Molly Weasley, e com certeza frequentada pelos membros da Ordem e demais Weasleys, Harry e os outros ficaram com medo de aparecer. Sabia que a casa era protegida pelo Feitiço Fidelius, mas não queriam nenhum contato com eles ainda, pois temiam por sua segurança e, além disso, seria mais simples não ter os demais bruxos, principalmente um bom oclumente e Legilimens como Moody, tentando adivinhar o que estavam prestes a fazer. Hospedaram-se em um hotel trouxa, onde sabiam que os Comensais, na sua imensa arrogância, não imaginariam que poderiam estar, e lá começaram os preparativos.

Apenas um bruxo poderia entrar na Casa Ministerial com aparência humana, isto estava claro para eles. Os demais teriam que entrar de outra forma, e a razão para isso era óbvia: não tinham parte alguma de nenhum outro Comensal. Os dias foram passando, então, na montagem do plano principal e de planos alternativos. Rony era uma das partes principais nessa etapa, pois suas lembranças de quando fora à Casa Ministerial era a base para o plano. Além disso, foram algumas vezes à rua onde ficava a Casa Ministerial, para ter ideia de como funcionava a entrada lá e como era o esquema de segurança. Enquanto elaboravam o plano, Hermione, com Ana como auxiliar, preparava a Poção Polissuco. Ela levaria cerca de vinte e dois dias para ser feita, pois os hemeróbios levavam vinte e um dia para cozinharem no ponto.  Isso indicava que o dia para a ação seria provavelmente o dia anterior à véspera de Natal.

Correndo grande perigo, eles deixaram um recado na casa de Aberforth, para que ele avisasse Olivaras do perigo ainda maior que estava pairando sobre ele com a perseguição impetrada por Belatriz Lestrange. Apesar do bruxo já estar escondido, cuidado nunca era demais.

Os dias foram passando entre pesquisas sobre lugares onde estariam as Horcruxes, a confecção e revisão dos planos, a preparação da poção e jogos de xadrez de bruxo para passar o restante do tempo. Hermione também continuou treinando sua capacidade de fazer Chaves de Portal, pois percebera o quanto podia ser necessário. Ana dava graças a Deus por ter trazido uma reserva de dinheiro trouxa, além do bruxo, pois assim estavam podendo passar aqueles dias no hotel. Quando chegou a véspera do dia marcado para a ação, estavam todos tensos, cada um expressando essa tensão de um modo característico. Harry estava sentindo como se tivesse bichos no seu estômago, que estava pesado e dando voltas. Rony, como era o seu normal em situações de estresse, exibia uma coloração de pele doentia, esverdeada. Hermione estava nervosa, descontando em todos, gritando, não perdoando erros de ninguém. E Ana estava calada e pálida no seu canto, sem conseguiu falar nada. Eles precisavam se acalmar, sabiam disso, pois o nervosismo podia atrapalhar muito um plano perigoso como o deles.

A primeira parte do plano se constituía no seguinte: eles sabiam que Belatriz Lestrange estava à procura de Olivaras, e que por isso não correriam o risco de ela aparecer a não ser que, por um azar muito grande, a bruxa tivesse capturado o bruxo justo no dia marcado para a invasão. Hermione tomaria a Poção Polissuco (os rapazes, como esperado, terminantemente se recusaram, e Ana tinha medo) e entraria levando os outros, transfigurados por ela em pequenos camundongos, dentro dos bolsos, junto com suas varinhas. Caso algo desse errado, Hermione poderia tornar a transfigurá-los para sua forma normal para ajudarem-na a sair de lá. Não seria viável entrarem desilusionados ou cobertos pela Capa da Invisibilidade de Harry, em primeiro lugar porque o lugar estava sempre cheio e eles poderia encostar em alguém, se cobertos pela Capa, o que causaria um verdadeiro pandemônio, em segundo lugar porque o a Casa Ministerial estava protegida para que alguns feitiços não funcionassem caso a pessoa entrasse já usando, e o Feitiço da Desilusão era um deles. Seria uma espécie de detecção se pessoas suspeitas ao entrarem pela porta. O Feitiço da Desilusão poderia funcionar, sim, mas só se usado dentro do recinto.

No dia da invasão, a sensação de inevitabilidade deixou-os menos nervosos, por incrível que parecesse. Hermione estava com medo, pois ainda era iniciante nos feitiços de transfiguração de humanos em animais. Ela quisera aprender esse feitiço desde que o falso Moody, no quarto ano, transformara Draco Malfoy em uma doninha. No momento, entretanto, de lançar o feitiço em seus três amigos, ela soube fazê-lo muito bem. Transformou-os em camundongos. Tomou, então, a Poção Polissuco, após se vestir com roupas de bruxa maiores, e logo sentiu os seus efeitos colaterais imediatos: uma dor enorme por todo o corpo, sensações de borbolhamento na pele enquanto suas feições eram modificadas. Ao se olhar no espelho, ela fez uma cara de desgosto, pois era horrível se olhar e ver a imagem de Belatriz.

Sentido bastante temor, ela aparatou em frente à Casa Ministerial que, como percebera antes, tinha uma barreira mágica na calçada que impedia os trouxas que passassem de ver os bruxos aparecendo e desaparecendo no ar. A fachada da casa era a de um hospital em reforma, com uma faixa na frente dizendo: “não entrem — perigo”. Apesar de saber que não estava sozinha, virtualmente ela se via só, pois era estranho não ter os amigos ao seu lado. Tê-los em seus bolsos a deixava até com medo de fazer alguma coisa que os machucasse.  Ela se aproximou da porta de entrada da Casa Ministerial e ficou à vista dos Comensais da Morte que lá estavam de guarda. Sabia imitar Belatriz muito bem, mas tinha que evitar que qualquer coisa revelasse o seu medo. De ombros erguidos e com o olhar meio louco, mas maldoso da Comensal, Hermione sequer olhou para eles quando foi entrando pela porta. Sabia o quanto Belatriz era arrogante e só se reportava a Voldemort.

Os bruxos a pararam.

— Hei, Bela, não pode ir entrando assim. Tem que se apresentar — eles olhavam para Hermione com olhar debochado. Por certo gostavam de chatear Belatriz. Ela lhes lançou um olhar mortífero e arrogante e retrucou, numa voz rouca e fria:

— Acho que vocês deviam tomar cuidado ao se dirigir aos seguidores mais chegados ao Lord dessa maneira. Uma palavrinha minha e vocês sabem o que acontece... — Hermione lhes lançou um sorriso maldoso, embora por dentro tremesse.

Na mesma hora os bruxos engoliram em seco e postaram-se em seus lugares. De maneira altiva ela entrou no amplo saguão. Não poderia haver maior diferença que entre a fachada do prédio e o seu interior: o pé direito era tão alto que mal dava para ver o teto. A decoração era muito suntuosa, com predominância do dourado. Vários bruxos passavam por ali, diligentes. Nas paredes de ambos os lados saiam vários corredores que deviam dar acesso a muitas salas. Na parede do fundo subia uma larga e suntuosa escada que em certo ponto se dividia em duas que subiam para os lados, cada uma para uma ala. E Hermione sabia que no primeiro andar tinha escadas que subiam para o andar seguinte e assim, sucessivamente, além dos elevadores encantados. O prédio tinha, contando com o térreo, cinco andares, e os aposentos particulares do Ministro da Magia ocupavam o último andar, e era lá que provavelmente estava o livro que precisavam tanto.

Hermione foi andando em linha reta até as escadas, evitando chamar muita atenção sobre si. As pessoas corriam muito de um lado para o outro, como se estivessem muito ocupadas, e ela logo percebeu que preferiam usar os elevadores. As escadas quase não eram usadas, e por elas ela decidiu subir. Foi até o primeiro andar, onde ela sabia que ficavam as suítes dos hóspedes do Ministro da Magia, geralmente os participantes de delegações internacionais em visita à Inglaterra. De lá, ela passou para a escada que a levaria ao segundo andar e, consequentemente, aos andares superiores. Essas escadas eram estreitas, frias e escuras, com apenas pequenas lâmpadas mágicas que iluminavam pouco, dispostas de vez em quando nas lúgubres paredes. Um verdadeiro contraste em relação às escadas principais, que levavam do hall do térreo ao primeiro andar, e razão suficiente para que todos preferissem usar os elevadores. Isso era muito bom para eles, pois não havia viva alma nas escadas e podiam subir livremente. O problema maior era o fato de não saberem se Voldemort se encontrava nos aposentos particulares do Ministro, o que seria bastante negativo para os planos deles. Por isso, ela parou no patamar da escada, no segundo andar, e ficou escondida para ver se “pescava” alguma coisa.

Aquele andar era onde o Ministro da Magia recebia as comitivas e quaisquer pessoas que quisessem pedir uma audiência, quando ele não estava no Ministério. Ali eram onde as pessoas mais corriam, entrando e saindo de portas, e muitas delas deviam ser Comensais da Morte. Dois bruxos vestidos com longas capas pretas passaram perto das escadas, conversando. Pelo que eles falavam, Voldemort estava na sua Sala de Audiências no momento, e pelo que eles falavam e pela maneira como sorriam, maldosos, seu “Lord” estava castigando alguém que não cumprira as suas ordens da maneira como esperado. Hermione respirou de maneira mais aliviada, pois sabiam que ele não estaria nos seus aposentos naquele momento. Continuou a subir as escadas em direção aos andares superiores, sem parar, até que chegou ao andar desejado, o último. Ao ver um elfo doméstico vestido de maneira deplorável e carregado com uma montanha de lençóis, descendo as escadas, ela ficou indignada, mas não podia fazer nada, pois era, para todos os efeitos, Belatriz Lestrange. Na porta, ela parou e olhou para todos os lados, para ver se via alguém; o lugar parecia deserto. O corredor principal era largo e longo e cortado por outros corredores em ambos os lados, formando cruzamentos como ruas. E em cada parede havia muitas portas. Ao entrar nele, ela se sentiu ligeiramente mal, agoniada, pois percebia uma aura de magia negra muito grande naquele lugar, como se somente pessoas malignas percorressem esses corredores. E percebeu, pela súbita agitação dos “camundongos” em seus bolsos, que seus amigos também reagiam diante aquela aura. Era como se a magia pura presente neles entrasse em reação ao contato com aquela energia malévola.

Os corredores dos aposentos particulares do Ministro da Magia eram ainda mais suntuosos que os demais que Mione já vira. Era todo decorado nas cores verde e prata, mas isso ela supôs que fora uma modificação feita pelo próprio Voldemort, que com certeza gostaria de se ver rodeado pelas cores da sua Casa em Hogwarts, Sonserina, que representavam a “importância” de Salazar Slytherin, seu ascendente. As paredes eram todas cobertas com um tecido de veludo brilhante verde-musgo, e nelas vários quadros de molduras de prata e tapeçarias estavam penduradas. Os quadros eram de pessoas importantes, talvez antigos Ministros da Magia e seus assessores, e as tapeçarias mostravam cenas de eventos importantes, como a posse do primeiro Ministro da Magia, Sir Timótio de Lancansford. As portas eram de mogno e com maçanetas de prata. No chão, um espesso tapete de um tom de verde mais claro que as paredes e detalhes em cinza e prata abafavam os passos de Hermione enquanto ela freneticamente procurava o que buscava: a porta do quarto de Voldemort. Ela tinha certeza que ele guardava o livro das Horcruxes consigo, uma vez que foram elas que permitiram a sua quase imortalidade. A porta em questão diferia das outras. Era mais larga e belissimamente esculpida em ébano lustroso, a única porta de tom negro (as outras, por serem de mogno, tinham uma cor castanho-avermelhada). Era uma porta feita pelos famosos marceneiros bruxos, os irmãos Woodbrown, que a presentearam ao primeiro Ministro da Magia inglês por ocasião de sua posse no cargo, há mais de mil anos. Essa porta era famosa e constantemente mencionada, pela sua perfeição e historicidade, e Hermione sabia disso. Após um tempo de procura, Hermione a encontrou. Estava muito desconfiada por não ter encontrado um só vigia no andar dos aposentos ministeriais particulares, e tinha medo. A porta era realmente muito bela, e também não havia ninguém a protegê-la. Era coberta por entalhes perfeitos de animais mágicos e havia inscrições em runas antigas. Hermione adoraria decifrá-las, boa que era em runas antigas, mas sabia que corriam contra o tempo. Tinha que arrumar uma maneira de abrir a porta e entrar no covil de Voldemort.

Em primeiro lugar, ela tentou usar o método mais simples, usado também por trouxas: tentou a maçaneta. Como já imaginava, seria muito bom para ser verdade que funcionasse. Tentou, então, o método dos bruxos: o Feitiço de Abertura, alorromora. Não deu certo, e uma porta importante como aquela devia usar outros métodos. Ela devia ser protegida por um feitiço que só permitisse a sua abertura com facilidade pelo dono do quarto e os elfos domésticos que deviam cuidar da limpeza. Qualquer outro teria dificuldade. O uso do feitiço Bombarda seria o mesmo que revelar a sua presença a todos os presentes na Casa Ministerial. Talvez a leitura das runas a ajudasse. Postou-se diante a porta e se concentrou na tradução das runas entalhadas pelos irmãos Woodbrown há tanto tempo. Era um poema:

Fácil me abrir não será

Se o dono desses aposentos não for quem tentar.

Mas se atenção a essas runas e entalhes prestar

A chave do enigma aqui presente vais decifrar.

Os animais mágicos nos entalhes presentes são a chave

Do enigma que prestes vais tentar desvendar.

Tua reflexão, coragem e inteligência vão te recompensar

Se o significado do próximo revelar:

“O ser feito de fogo, que labaredas vive a entornar,

E que trás brevemente os que não deveriam à terra retornar.

E o ser de ouro, chama e ar, renascido da própria morte,

Que estende a sua condição aos que não tem a mesma sorte,

Pobres seres aos quais Átropos — bela Parca — ao seu fio causou um corte.

E ainda o branco e puro ser da terra, de cuja madrepérola emana o poder,

Capaz de através de uma outra Dimensão perdidos trazer.

E o outro aquático ser mestiço, com mais fraca magia a demonstrar

— Aos demais — mas capaz da grande Maldição neutralizar.”

Quatro grandes seres mágicos, unidos em um só poder,

Uma mesma magia antiga e poderosa a recender.

Está a chave do enigma naquilo que em Uno consegue ligar

Quatro seres tão díspares, e assim o maior poder emanar.

Hermione ficou surpresa. O enigma não era tão complexo de decifrar, aparentemente. Bem, pelo menos parte dele, a parte que falava dos animais mágicos. Além de eles estarem esculpidos na porta, não era difícil, pelos menos para ela, que tinha uma inteligência acima do comum, entender de que animais mágicos o poema de runas falava. O primeiro só podia ser um dragão, o ser que entorna labaredas — fogo. O segundo com toda certeza era uma fênix, um ser de ouro e chamas — referência às suas penas douradas e vermelhas — e capaz de renascer da própria morte, pois ressuscitava das próprias cinzas. O terceiro era certamente um unicórnio, pois era ressaltada no poema a sua alvura e pureza, além do fato de falar sobre a madrepérola na qual estava o poder do animal, e Hermione sabia que os chifres dos unicórnios eram desse material e neles estava concentrada a fonte de sua magia. O último ela logo percebeu se tratar de um sereiano, pelo fato de o animal mágico aludido ser aquático e mestiço, além de não ter a mesma magia poderosa dos outros. Isso a intrigou. O que devia fazer? Citar diante a porta os nomes desses animais? Resolveu tentar:

— Dragão, Fênix, Unicórnio, Sereiano!

Tentou abrir a porta, mas como esperava não deu certo. Sabia que tinha algo mais. O poema falava, na última estrofe, que a chave do enigma estava no que podia unir os quatro animais tão diferentes entre si, unir as suas magias em uma só. Entretanto, ela não tinha a mínima ideia do que era capaz de fazer tal coisa. Em nenhum dos livros que lera — e foram muitos! — vira qualquer alusão a algo capaz de uma proeza tão grande. Estava tentando raciocinar, através dos outros versos do poema, quando sentiu no seu bolso um dos “camundongos” se agitar de tal forma que estava lhe causando muitas cócegas. Aquele não era o momento! Ela tirou o camundongo do bolso e o pôs na mão. Pela pelagem amarela e olhos azulados, era Ana. Ela continuava a se mexer, apontando o focinho para a varinha de Hermione, como se desse a entender que queria voltar ao normal. Mione sabia que não era o momento, mas não conseguiria raciocinar com ela se mexendo daquele jeito. Portanto a fez voltar à forma humana, logo a desilusionando, por medida de segurança, e murmurou, irritada:

— O que é?!

A garota falou, visivelmente excitada:

— Estou enganada ou você falou os nomes de quatro grandes animais mágicos, o dragão, a fênix, o unicórnio e o sereiano?

— Sim, eu falei. Fazem parte de um enigma que está num poema inscrito em runas, na porta, e que é capaz de abri-la mesmo que não sejamos o dono dos aposentos. Na verdade é a única maneira para nós podermos entrar, mas não consegui decifrar o enigma. Os animais mágicos estão intrinsecamente ligados a ele, mas a chave está naquilo que une a magia desse seres poderosos e díspares num só poder. E nunca soube de nada capaz disso.

Ana sorriu.

— Eu sei. Aquilo que une o poder do dragão, da fênix, do unicórnio e do sereiano é o Amuleto de Merlin!

Dito e feito. Mal as últimas palavras saíram da boca de Ana e a porta se abriu com um clique quase imperceptível e escancarou-se lentamente, com um som de leve rangido. Hermione ficou literalmente de queixo caído, pois não podia conceber a ideia de que outra bruxa que não parecia sequer saber utilizar os feitiços necessários soubesse algo que ela jamais ouvira (ou melhor, lera) em lugar algum. O que seria esse tal Amuleto de Merlin? Devia ser o artefato mágico mais poderoso existente em todos os tempos e não era nunca mencionado. Todavia, devia deixar a sua curiosidade para ser saciada mais tarde, agora tinham algo mais necessário e perigoso para fazer.

Com os corações pulsando rápido, as duas entraram no quarto de Voldemort. A primeira coisa que viram foi uma imensa cama num estrado alto. Uma cama de baldaquim imponente, cuja colcha e cortinas eram de espesso veludo verde brilhante. No centro da colcha, um desenho de uma serpente imensa de prata, o símbolo de Slytherin. O restante do imenso quarto era muito imponente e luxuoso, com as paredes cobertas por lustrosos painéis de carvalho, uma lareira imensa, e móveis que com certeza eram dignos de figurarem em qualquer museu. Elas entraram pé ante pé. Não tinham ideia de que feitiços havia dentro do quarto. Era muito estranho que pudessem entrar no quarto do Lord das Trevas sem que ninguém notasse. Com todo cuidado e evitando fazer qualquer barulho, começaram a procurar entre os pertences dele, tendo o cuidado de não deixar nada fora do lugar. Ele tinha muitos livros, todos de magia negra, livros que Mione tinha até nojo de tocar, pela malignidade presente neles. De repente, ela encontrou o que procurava. O livro que Harry dissera existir, Horcrux: a Fonte da Imortalidade. Tremendo, ela pôs o livro dentro das vestes. Em seguida, para que Voldemort não desconfiasse, usando o feitiço Protean, que fazia cópias de objetos, transfigurou um outro livro qualquer, sem importância, numa cópia do livro sobre Horcruxes, deixando-a no lugar do original.

Ana, por outro lado, estava procurando em outro lugar, uma escrivaninha onde alguns livros estavam empilhados, como se fossem livros mais consultados recentemente por Voldemort. Ao procurar o livro das Horcruxes, sem saber que Hermione o acabara de encontrar, ela acabou encontrando outro que lhe chamou a atenção. Era muito, muito velho, e tinha na capa o desenho do Amuleto de Merlin, com todas as suas quatro partes unidas! Não podia ler o título, contudo. Estava escrito em runas antigas. Achando que era muito importante, ela guardou cuidadosamente o livro dentro das vestes também. Sem querer, fez barulho.

Elas não sabiam que, dormindo tranquilamente no quarto do seu mestre, enrodilhada por trás de uma das cortinas de veludo verde que cobriam as janelas do quarto, estava a cobra de estimação de Voldemort, Nagine. Ela acordou com o barulho provocado por Ana e viu Hermione ali dentro, embora, para ela, fosse Belatriz. A Ana, ela não viu, porque estava desilusionada. Ainda sem elas perceberem, Nagine saiu do quarto deslizando tão suavemente que não causou som algum.

Mione e Ana se preparavam para sair do quarto quando viram a lareira começar a brilhar. A única pessoa que poderia usar aquela lareira era Voldemort. Ela devia ser muito protegida. Não dava tempo para sair do quarto, por isso Ana, ainda desilusionada, e o Feitiço da Desilusão não esconde totalmente, escondeu-se atrás de uma das espessas cortinas. Hermione sabia que sua única chance de conseguir escapar com vida — e a dos seus amigos também — era fingir ser Belatriz. Ela deitou-se na cama do Lord e fechou os olhos. Seu coração pulsava tanto que ela o sentia como se batesse contra as suas costelas. A lareira brilhou mais até que um homem alto e magro, completamente vestido de negro, entrou no aposento. Seu rosto era o menos humano possível, com seus olhos vermelhos com pupilas verticais, narinas ofídicas e lábios muito finos. Ele aproximou-se da cama.

— Posso saber o que ousa fazer em meus aposentos, Bela?

Hermione abriu os olhos e olhou para o dono daquela voz fria, aguda e muito maldosa. O Lord das Trevas em pessoa. Era a primeira vez que ela o via cara a cara, de pertinho. E era ainda mais repulsivo do que tinha imaginado. Fingindo ser Belatriz, ela levantou-se da cama de um pulo, postou-se ajoelhada diante ele, numa atitude de adoração, e disse na voz rouca de Belatriz:

— Meu Lord...

— Ainda não me respondeu, Bela. Como ousa entrar aqui?! E como conseguiu, isso é bem mais importante...

            — Me desculpe, meu senhor, por minha ousadia, mas eu precisava me sentir mais próxima... Não me castigue, eu só precisava ficar no lugar em que dorme... Não sei se reparou, mestre, mas a porta do quarto tem um enigma que permite a quem decifrá-lo entrar aqui... Não me castigue, eu só fiz isso porque... — Mione lançou sua última cartada — porque estou apaixonada por você!

O silêncio após essa revelação era tão denso que poderia ser cortado com uma faca. Voldemort a olhava com uma expressão impassível, mas seus olhos tinham um brilho frio e cruel. Ela o olhava com uma expressão que mesclava reverência — fingida — e medo — verdadeiro.

            — Rodolfo gostará de saber disso, minha cara.

Rodolfo Lestrange era o marido de Belatriz. Hermione lambeu os lábios ressecados e baixou a cabeça, olhando o chão. Voldemort se aproximou dela. Sua varinha estava erguida.

— Sei que é uma serva fiel, Bela. Por isso, por sua invasão e ousadia, será apenas castigada. Outros receberiam a Maldição da Morte — a voz dele se excitava com a maldade prestes a praticar. — Crucio!

Ao ser atingida pela Maldição Cruciatus, Hermione se contorceu no chão e gritou forte. Jamais recebera aquele feitiço, e saber o que ele realmente significava na própria pele era terrível. Era uma dor pura que parecia acontecer do nada e que se espalhava pelo corpo inteiro, de modo a tirar a capacidade de raciocínio. Nesse momento ela soube que mesmo que tivesse aprendido a usar aquela Maldição, jamais a usaria em qualquer ser vivo. Como do nada, a dor terrível passou. Respirando de maneira pesada, suando profusamente, ela abriu os olhos. Voldemort a olhava com um sorriso cruel nos lábios quase inexistentes.

— Venha, Bela. Sabe que temos assuntos a tratar, e espero que não tenha esquecido de minhas ordens e do que eu falei que te aconteceria se falhasse. Iremos ao saguão. Lá, me dirá como se saiu em sua missão. Se não for do jeito que espero, receberá uma lição a qual nem você nem os demais que lá estejam esquecerão enquanto viverem.

Hermione levantou-se, exausta e dolorida. Nos seus bolsos, os “camundongos” se mexiam muito agitados, talvez agoniados por perceberem o perigo que ela corria e nada poderem fazer. Ela seguiu Voldemort. Imaginava ao que ele se referia, pois Harry dissera que ele incumbira Belatriz de raptar Olivaras. Como sabia que o bruxo fora avisado, ela não gostaria de estar na pele de Belatriz quando Voldemort tomasse ciência disso. Logo, percebeu que se não conseguisse fugir, pagaria pela bruxa e por ela mesma, quando a ação da Poção Polissuco passasse, o que seria a qualquer momento. Pelo menos iam para o hall do prédio, onde seria mais fácil fugir. Imaginava que Ana, encoberta pelo Feitiço da Desilusão, a seguiria. Quando passaram pela porta mágica, sem nenhum remorso por destruir uma obra de arte histórica, ele lançou um feitiço na porta, fazendo-a arder em chamas. Ele nem mesmo se perguntara o porquê daquele enigma estar na porta do quarto do Ministro, apesar de aquilo ser um mistério e parecer ter bastante importância.

Os famosos irmãos Woodbrown tinham sido amigos de Merlin. Tinham conhecimento da existência do Amuleto de Merlin e a verdade sobre a poderosa magia existente em cada uma de suas partes e nele como um todo. Por isso, quando solicitados a construir a porta para o quarto do Ministro da Magia, tinham elaborado um engenhoso plano. A favor do Bem, eles não gostariam que alguém ligado às forças das trevas tomassem posse de um cargo tão importante. Imaginavam que o Amuleto de Merlin deveria ser usado pelo Bem e seria passado de pai para filho para os descendentes do grande Merlin. Caso magia negra ocupasse aquele quarto, o enigma se apresentaria quando quem tivesse o sangue de Merlin dele se aproximasse, um dos poucos que poderia decifrar o enigma.

Sob a mira da varinha do Lord das Trevas, Hermione desceu, trêmula, até o hall, onde todos os bruxos apressados, entre eles Comensais da Morte, pararam ao ver seu Lord descer até lá, e apontando a varinha para uma de suas servas mais fiéis. Todos sentiam temor, e os funcionários da Casa, que trabalhavam lá por medo de represália, sentiam algo que era uma mistura de pavor, asco e desprezo. Hermione estava muito nervosa e rezava para que algo acontecesse e servisse como uma cortina de fumaça. Tinha que escapar dali, senão morreriam ela e seus amigos que no momento dependiam dela, transfigurados que estavam em seus bolsos.

Altivo, o Lord falou:

— Aqui estou para saber se uma ordem peremptória foi cumprida por uma de minhas mais fiéis servas. Caso não, ela será castigada, e vocês saberão como o seu Lord e novo Ministro age com os que cumprem com suas ordens de maneira correta... E com os que não cumprem — nesse momento, o olhar frio e cruel dele olhou Mione com um olhar sádico. Ela engoliu em seco. — Trouxe o que lhe ordenei, Bela?

Nesse momento, quando Hermione tremia nas bases, as portas do hall se abriram e por ela entrou a verdadeira Belatriz Lestrange, embora ninguém soubesse disso. A bruxa vinha sozinha, Hermione notou. Não conseguira raptar Olivaras. Todos se voltaram para olhar quem entrava e o silêncio foi total. Todos, inclusive Voldemort, pareciam estar confusos. Olhavam para a bruxa que entrava e para a que estava sob a mira da varinha de Voldemort. Quando Belatriz olhou para sua sósia, arregalou seus dementes olhos negros e gritou:

— O quê! Quem é você, sua impostora?!

Hermione decidiu fingir mais, pois sabia que a sua vida e a de seus amigos transfigurados em seus bolsos corriam perigo. Olhando para a bruxa com o ar arrogante que ela normalmente apresentava, falou, erguendo a cabeça de forma altiva:

— Eu que pergunto! Como ousa, sua atrevida?!

Com sua voz fria e aguda, Voldemort falou:

— Há uma maneira muito simples de sabermos quem é a impostora. Não sou muito adepto da paciência, mas só precisamos esperar. A impostora está sob a ação da Poção Polissuco. No máximo em uma hora descobriremos a verdade. E a fingida que ousou entrar aqui irá pagar com a vida. Se bem que tenho ideia de quem é a impostora... — seu olhar maldoso se cravou em Hermione.

Ela estava muito apreensiva, pois tinha certeza que a qualquer momento a poção perderia o efeito e ela seria descoberta. Então algo aconteceu, deixando todos assustados, inclusive Voldemort e os Comensais da Morte que ali estavam. Uma estátua de mais de três metros do primeiro Ministro da Magia inglês que tinha no hall caiu com um estrondo no meio de todos, fazendo com que as pessoas pulassem, corressem e gritasse. Aproveitando o pandemônio e a distração que ele gerava, Hermione correu a se esconder atrás da estátua caída, que tinha certeza que fora causada por Ana. Ao ver que os efeitos da Poção Polissuco estavam se dissipando e ela voltava à forma normal, correu a se esconder atrás de uma grande coluna que sustentava o corredor do primeiro andar. Ela sabia que não tinha como ela e Ana enfrentarem sozinhas tantos inimigos de uma vez, ainda mais nas barbas de Voldemort, e precisavam da ajuda dos amigos, que nesse momento agitavam-se muito, por certo querendo participar do que quer que estivesse acontecendo. Ela os tirou dos bolsos e os transformou em humanos de novo. Entregou-lhes suas varinhas. Olhando ao redor, Harry perguntou:

— Mione, cadê a Ana? Eu fiquei super assustado quando ela foi transformada, o que não fazia parte do plano, e podia ser muito perigoso!

— Não sei, Harry, ela deve estar por aí, coberta pelo Feitiço da Desilusão. Depois eu explico o porquê dela ter pedido isso. Não temos tempo...

— Creio que a gente vai ter de usar o plano B... — disse Rony, desanimado.

O problema era exatamente esse. O plano B era “procurar uma maneira de se safar caso o plano A não dê certo”. Não tinham como montar um plano B adequado quando não tinha muita ideia do que poderia acontecer e das pessoas que poderiam enfrentar. A coisa que poderiam fazer, no momento, era se desilusionar, como Ana, e tentar escapar, afinal, a porta da Casa Ministerial ficava perto.

Uma mão tocou o braço de Hermione e ela se virou assustada, a princípio não vendo ninguém, mas logo percebeu que era Ana; as pessoas desilusionadas não ficavam transparentes, mas apenas adquiriam a aparência do que estavam por trás delas. Mione disse o que pretendia fazer e todos acataram sua sugestão de desilusionar-se, embora sabendo que isso não era totalmente seguro. Antes, porém, que fizessem isso, o Comensal da Morte Rookwood os viu, e seu olhar brilhou de ódio e maldade.

— Potter! — gritou, uma alegria cruel na voz. — Potter está aqui! Estupefaça!

Um bom feitiço-escudo lançado por Harry impediu que o feitiço estuporante os atingisse. Ele fez os amigos se desilusionarem enquanto estavam protegidos pelo Protego Horribilis e, depois de todos estarem protegidos pelo feitiço, desilusionou-se rapidamente, sem dar chance aos Comensais da Morte de atacá-los. Misturando-se aos bruxos que trabalhavam na Casa Ministerial e que estavam assustados, vendo a movimentação dos agitados Comensais da Morte, eles tentaram chegar à porta. Impressionado, Harry percebia o quanto aprender Oclumência fora importante. Nesse momento, Voldemort estava vociferando contra os seus Comensais, por não os ter pegado, e ele, Harry, não sentia nada a não ser um ligeiro zumbido em sua mente.

A porta estava perto deles. Voldemort, cuja ira fora tanta que esquecera de proteger as portas, ergueu a varinha para lançar um feitiço para fechá-la através de magia, de maneira que Harry e seus amigos não pudessem sair caso tentassem. Vendo a varinha do bruxo apontada para a porta, no seu rosto um ar de ódio, maldade e loucura, Harry e Hermione, vendo que os quatro já estavam muito perto da porta, lançaram entre eles e a porta e Voldemort um feitiço-escudo duplo, poderoso. O feitiço do Lord das Trevas bateu contra a barreira mágica e voltou com força total contra o próprio bruxo, jogando-o sentado no chão a metros de distância, para sua consternação e humilhação em frente aos Comensais e demais bruxos presentes no hall da Casa Ministerial. Não perdendo tempo, eles abriram a porta e saíram correndo. Entraram numa rua deserta e Hermione pegou uma garrafa que encontrou no chão e, nela lançando o feitiço Portus, fez uma Chave de Portal. Os quatro sentiram a conhecida sensação de um gancho no estômago e se sentiram puxados rumo ao céu.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, reviews ajudam, sabem?

Beijos da Ana!



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