Harry Potter e o Amuleto de Merlin escrita por ana_christie


Capítulo 16
De Heróis a Procurados


Notas iniciais do capítulo

Espero que estejam gostando, agora que as coisas realmente começaram!



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            Harry não sabia o que responder. Tinha certeza que, a qualquer momento, os Comensais da Morte voltariam, e com ajuda. Logo perceberiam, caso não fossem extremamente burros, que o único lugar que eles poderiam ter se escondido era a Igreja. Os feitiços de Hermione não poderiam durar muito.

— Hermione, na sua bolsa não tem um livro de feitiços? Não poderia aprender a fazer uma Chave de Portal?

A garota o olhou como se ele fosse maluco.

— Deixa eu entender... Por acaso você quer que eu aprenda um feitiço de nível de N.I.E.M.s assim, apenas lendo? Ainda mais um feitiço super complicado como esse, que qualquer erro pode acabar nos matando ou levando para qualquer lugar desconhecido?

— Bem, você por acaso tem outra ideia, Srta. Gênio? Quer que aparatemos e deixemos Ana aqui? Ela não sabe aparatar, ou você se esqueceu disso? Não podemos correr o risco de fazer uma aparatação acompanhada com ela, isso é preciso prática, e nós nem mesmo temos grande prática em aparatação. Quer correr o risco de estruncharmos a garota? Quer ver pedaços dela sendo deixados para trás?

Ana ficou triste e baixou a cabeça. Ela era a culpada por tudo! Se não tivesse ido com eles, já poderiam estar longe de todo aquele perigo. Ela olhou-os, séria.

— Vão e deixem-me. Não sou tão importante assim. Salvem as suas vidas.

— Você está louca, menina? Só devia ser mesmo parenta de Harry!— falou Rony. — Quem você acha que somos para abandonar uma amiga? Não somos covardes! Tem de haver outro meio!

Ficaram um tempo tentando encontrar saídas, mas não conseguiram. Hermione pegou seu livro de feitiços e começou a estudar freneticamente o feitiço para Chave de Portal, o Portus, mas ele era realmente muito complicado, e o Ministério da Magia tinha de ser informado quando da criação de uma Chave de Portal. Mesmo assim, ela ficou tentando aprender. As horas foram passando, e eles já estavam desesperados. Ana, que fora criada sendo praticante de religião, dirigiu-se ao altar e, olhando para uma imagem de Cristo, começou a rezar, pedindo proteção e iluminação, pedindo um milagre. De repente lhe veio à mente a conversa que tivera com Aberforth sobre os meios de transporte bruxos.

Nós, bruxos, podemos viajar de várias maneiras. A principal delas é a aparatação, mas você não pode fazer antes de ter feito o curso e o teste. Na aparatação, nós sumimos de um lugar e aparecemos no que queremos.

— Incrível! — Ana estava de olhos arregalados.

— Antigamente podíamos viajar de tapetes mágicos, mas eles foram proibidos na Europa. Viajamos através de vassouras voadoras, pela Rede de Flu, que são lareiras interligadas, e por Chaves de Portal. É através dessas que viajaremos.

O rosto da garota se iluminou e ela correu até os outros, que estavam sentados num dos bancos de madeira, Harry e Rony com expressões derrotadas nos rostos, os cabelos bagunçados de tanto passar as mãos nas cabeças (no caso de Harry, como essa condição já era o normal, ele parecia ter levado um choque elétrico). Já Hermione parecia uma louca de tanto revisar a passagem do livro, murmurar feitiços, treinar movimentos com a varinha e tentar inutilmente transformar uma vela em Chave de Portal.

— Encontrei uma maneira de a gente sair daqui! — Ana falou, excitada. — Está certo que pode ser perigoso, mas é o único jeito!

Os demais a olharam, esperançosos.

— Vocês não têm vassouras voadoras? Podemos ir nelas, uma pode carregar dois, não pode?

Harry e Rony se olharam com caras de idiotas. Como não tinham se lembrando das Firebolts que estavam dentro da bolsa de Hermione? Correram a vasculhar a bolsinha até encontrar as duas vassouras. As Firebolts estavam em perfeito estado e eram muito velozes.

— Ana, você é um gênio! — disse Rony.

Hermione fechou seu livro com cara chateada com o que Rony falara, pois normalmente aquela expressão era sempre direcionada a ela. Justamente quando ela estava começando a conseguir resultados... Mas as vassouras, no momento, eram o que tinham de melhor, tinha de reconhecer.

Nesse instante, ouviram o som de uma explosão. Pelo visto, os reforços dos Comensais da Morte tinham chegado à Igreja. A princípio, Harry, Rony, Mione e Ana acharam que eles tinham conseguido entrar na Igreja, mas respiraram aliviados quando viram que a explosão devia ser o resultado de uma tentativa frustrada de algum Comensal de passar pelas defesas que Hermione conjurara. Seus feitiços defensivos deviam ser muito bons, pelo grito de dor e raiva que se seguiu à explosão. Logo, ouviram uma voz magicamente ampliada.

— Vocês estão cercados! Joguem suas varinhas para nós e saiam com as mãos para cima! — a voz era a de Rookwood, outro dos Comensais da Morte elevado à categoria de auror pelo atual Ministro da Magia, e ela estava marcada pelo cinismo. — Em nome do Ministério da Magia, estão presos pelo assassinato de Walden Macnair, um auror.

— O quê?! — gritou Rony. — Do que nos estão acusando? E desde quando Macnair é auror? Só faltava essa agora!

Os ataques à Igreja continuavam. Lá fora, havia um pandemônio causado pelos trouxas que estavam achando insultante o ataque daqueles seres “sobrenaturais” à casa de Deus. O sacerdote gritava, pedindo que não destruíssem a Igreja, e pela maneira como seus gritos foram subitamente cessados, bem como os gritos dos demais trouxas, Harry, Rony, Hermione e Ana tinham ideia do que os Comensais deviam ter feito. Estava escurecendo. Eles percebiam isso pela claridade fraca que entrava, agora, pelos vitrais da Igreja, antes tão clara. A escuridão da noite seria melhor para a fuga deles, pois ficariam mais invisíveis, já que seria noite de lua nova. Os ataques vinham por todos os lados da Igreja, exceto por cima. Só por aí eles poderiam fugir.

Não demorou muito para que um dos feitiços defensores fosse quebrado. Harry e os demais deram um pulo, assustados, quando viram uma série de raios de luz vermelha e verde penetrando pela abertura causada numa das janelas da Igreja.

— Daqui a pouco todos estarão aqui dentro! — disse Harry. — Temos que sair daqui urgente! Vamos, o campanário da Igreja! Lá podemos montar nas vassouras e tentar escapar!

Eles começaram a correr, entrando na sacristia, onde tinha uma porta que levaria ao campanário, onde ficava o sino da Igreja. Nesse momento, os Comensais conseguiram romper todas as defesas e, disparando feitiços estuporantes e Maldições da Morte a torto e a direito, correram atrás deles. Sem querer se virar para não perder tempo, Harry, Hermione e Rony disparavam feitiços por cima da cabeça, sem saber se eles acertavam alguém. Ao passarem pela porta que os levaria ao campanário, Ana gritou: “Colloportus!”, dessa maneira trancando a porta por meio de magia. Pelo menos feitiços utilitários como esse ela conseguia fazer. Sabendo que esse feitiço não os prenderia, galgaram as escadas sem perder o ritmo, de maneira que, quando chegaram ao campanário da torre estavam muito ofegantes e sentindo dor de lado. Entretanto não perderam tempo para recuperarem a respiração. Rony posicionou sua Firebolt e montou, gritando para Hermione montar atrás. Harry fez o mesmo com Ana, os dois montando na sua Firebolt Super. As garotas se agarraram à cintura dos garotos como se suas vidas dependessem disso (e realmente dependiam!). Quando os meninos deram os impulsos e saíram do chão, os Comensais da Morte chegaram ao campanário.

— Eles estão escapando!

Começaram a disparar feitiços na direção das duas duplas que voavam em direção ao céu, que passava rapidamente de um púrpura com reflexos vermelhos para um azul-marinho coalhado de estrelas. Tentando evitar os feitiços, os meninos faziam as vassouras dançarem de um lado para o outro, como se fizessem prova de baliza de motocicleta. Os movimentos bruscos fizeram Ana quase cair, e ao se agarrar mais em Harry, a parte do Amuleto de Merlin que tinha saiu de dentro da blusa e brilhou à luz dos feitiços. Ela soltou um dos braços e pôs o Amuleto para dentro.

Um dos Comensais viu e empalideceu. Aquela garota era a tal que tinha o objeto que o Lord das Trevas queria tanto! Como eles puderam não reconhecê-la?!

— Não!O Lord das Trevas vai nos matar! Literalmente! — os meninos ainda os ouviram gritar enquanto desapareciam no horizonte negro. 

***

O vento frio açoitava os rostos dos nossos heróis, principalmente os rapazes, que estavam recebendo a maior parte do impacto. Há muito tempo estavam voando a esmo, pensando apenas em fugir. Não tinham a ideia de que os Comensais não poderiam segui-los, pois eles tinham partido muito rápido, além de os Comensais não terem vassouras com eles nem saberem voar no ar, sem a ajuda de mais nada, como seu Lord. A cicatriz de Harry formigava insistentemente, mas ele usava de toda a Oclumência que podia utilizar no momento, pois a dor não podia chegar enquanto ele estivesse voando com Ana na garupa de sua vassoura, pois correria o risco de perder sua consciência para a de Voldemort ou no mínimo ficar tão em transe pela dor que a deixasse cair ou mesmo caísse com ela. Os dentes batendo de frio, e vendo que não tinham sido perseguidos, eles desceram até o solo. Seus membros gelados estavam entorpecidos e meio dormentes quando desmontaram das vassouras, já que era quase dezembro e estavam em pleno outono. Não tinham a mínima ideia de onde tinham chegado; mais preocupados em ficar o mais longe possível de qualquer Comensal que estivesse tentando segui-los, não tinham se lembrado de usar os sistemas de navegação das Firebolts, principalmente a Firebolt Super de Harry que era capaz de se guiar sozinha para um lugar especificado, como uma espécie de piloto automático. Além disso, pelo mesmo medo, tinham voado por muito tempo e imposto um ritmo muito veloz às vassouras, e podiam estar muito distantes do ponto de origem.

Harry esfregou a sua cicatriz, que começava a latejar. Hermione e Rony o olharam, assustados, mas o rapaz disse:

— Não se preocupem, estou conseguindo usar a Oclumência, mas é que Voldemort está realmente irritado. Embora esteja conseguindo não entrar na mente dele, ainda sinto a intensidade da raiva dele. Deve estar com ódio dos seus comparsas, que deixaram a gente escapar.

O lugar à volta deles era predominantemente rural. Apesar de ser noite, uma clara lua-cheia banhava com uma claridade prateada os campos e ravinas que se estendiam a perder de vista. Eles haviam descido em uma estrada de terra margeada por cercas de madeira que cercavam propriedades rurais. Aqui e ali viam, entre árvores, grandes casas de fazenda inglesas e outros edifícios adjacentes como celeiros e estábulos.

— Onde será que estamos? — Rony perguntou, seus dentes tremendo em reação ao frio que sentia.

— Não tenho a mínima ideia, mas é muito tarde para que viajemos para qualquer lugar — Hermione falou, prudentemente. — Acho que não devemos ir tão cedo para a Toca ou para o Largo Grimmauld, pois com certeza devem estar nos procurando ainda mais que antes, com a desculpa de que somos “assassinos”. Devemos tomar cuidado, ou nossas famílias serão ainda mais perseguidas. Temos que arranjar um lugar para passar a noite...

Todavia, estava fora de cogitação pedir hospedagem aos trouxas moradores da região. Como explicar o que quatro jovens munidos apenas de uma bolsa, duas vassouras e quatro varas de madeira estariam fazendo numa região que não sabiam qual era, e ainda mais à noite? E por isso mesmo perceberam que era perigoso estar ali, naquela estrada. A qualquer momento um trouxa podia sair de dentro de suas casas ou olhar por acaso pela janela. Apesar de ser noite, o luar estava claro demais. Resolveram, então, usar em si mesmos o Feitiço da Desilusão, que os deixaria invisíveis. Harry, Rony e Hermione se enfeitiçaram, ficando invisíveis aos olhos de Ana, pois seus corpos estavam agindo como camaleões, adquirindo as cores e texturas aparentes das coisas que estavam ao seu redor. Ana estava se sentindo péssima. Não sabia nem sequer que esse feitiço existia.

— Vamos, Ana, lance logo o feitiço em você mesma! — falou a voz de Rony perto dela, embora ela não o visse. Ela abaixou a cabeça e murmurou:

— Eu não sei...

Todos ficaram calados, mas estavam achando estranho o fato de aquela bruxa mais velha do que eles não saber lançar feitiços defensivos. À mente deles veio a lembrança da batalha que tinham enfrentado há pouco tempo. Ana parecia só saber usar feitiços utilitários. Não comentaram nada com ela, mas estavam pensando na qualidade de educação em magia do Brasil, imaginando se ela tinha indicadores tão baixos quanto o que se falava da educação trouxa. Era como se a garota jamais tivesse estudado Defesa Contra as Artes das Trevas. Para não constrangê-la, Hermione levantou sua varinha para “desilusioná-la”, mas Harry ergueu a mão. De dentro do seu suéter ele tirou uma capa de aparência prateada de um tecido que parecia fluido e leve e a pôs na mão de Ana.

— Toma, se cobre com isso. É uma Capa da Invisibilidade. Vai ficar mais invisível que todos nós.

Ainda constrangida, ela se cobriu com a capa de Harry, apenas dizendo obrigado. Todos deram um jeito de encontrar as mãos um dos outros e, em fila, começaram a andar procurando um lugar que fosse seguro e bom para armar a barraca que Hermione trouxera. Passaram por cima de uma cerca e encontraram, por trás de uma colina suave, o lugar perfeito. Era um pequeno bosque, ou pomar, eles não sabiam dizer, mas servia. Hermione tirou de dentro da bolsa a barraca dobrada e, por meio de magia, a fez se erguer. Sem saber direito como todos caberiam confortavelmente ali dentro, Ana se surpreendeu com o espaço interno aumentado magicamente, tanto que parecia um pequeno apartamento. Querendo evitar perguntas sobre sua nulidade em magia, ela foi logo até à mini-cozinha fazer um chá para eles, ao menos isso ela podia fazer sem problemas. Os outros se sentaram à mesa e ficaram conversando sobre onde estariam e o que fariam dali para frente.

Quando o chá ficou pronto, Ana levou, por meio de um feitiço de levitação, uma bandeja com chá para todos os quatro. Eles estavam debruçados sobre o que parecia ser um mapa. Ela serviu a bebida quente e reconfortante a todos e se debruçou sobre o ombro de Harry. Ele apontava para um determinado ponto do mapa e falava:

— Bem, aqui está Godric's Hollow. Pela velocidade que viajamos e pelo tempo, creio que podemos estar em um raio de uns 150 km a qualquer direção do povoado.

— Grande ajuda, Harry! — Rony falou irônico.

Harry o olhou através de seus óculos, o cenho franzido.

— Se puder contribuir com uma informação melhor que essa, Rony, eu lhe passo a palavra, sem problema.

O garoto ficou calado, pois não podia fazer nada. Ana, então, teve uma ideia. Trouxera seu notebook com sistema wireless que tinha GPS, ao qual se podia contatar se ele estivesse conectado à Internet. Se o PC e seu modem funcionassem...

— Tenho a solução para nosso problema! — ela disse contente por finalmente poder ajudar. — Meu notebook tem GPS e pode ser conectado à Internet. Se funcionar, em poucos minutos podemos saber onde estamos.

Harry e Mione fizeram expressões satisfeitas e Rony, confusa, pois não tinha a mínima ideia do que Ana falara. GPS? Internet? Eles, entretanto, não perderam tempo dando explicações. Hermione correu a tirar da bolsa o notebook e o modem e eles o abriram e tentaram pôr para funcionar. Como o computador e o modem não funcionaram, todos ficaram com caras de decepção até que Hermione bateu na testa.

— Mas é claro! Há magia o suficiente aqui dentro da barraca para não deixar aparelhos eletro-eletrônicos trouxas funcionarem! Vamos lá para fora!

Fora da barraca, para a felicidade deles, todos os aparelhos funcionaram. Ana ligou, diante os olhos ansiosos de Hermione e Harry — e os maravilhados de Rony, que pela primeira vez via um computador funcionando — o PC, conectou seu modem, e o conectou à Internet. Rezando para que o não estivesse fora de área naquela região, foi um alívio quando ele pegou e eles puderam entrar na web. Ana usou o GPS e eles puderam ter a certeza de onde estavam. Starfordshire, uma região rural da Inglaterra perto da fronteira com a Escócia. Pelo visto, estavam longe tanto de Londres quanto de Ottery St. Catchpole. Como seria perigoso ficar ao ar livre naquele lugar desconhecido e como estava muito frio, eles tiveram que entrar, embora Rony, fascinado, quisesse ficar descobrindo as potencialidades da “maravilha”, como ele passou a chamar o computador de Ana. Ainda mais, tinham que conversar sobre assuntos sérios.

— E agora, o que a gente faz? Pra onde a gente vai? — perguntou Hermione, sentada à mesa junto aos outros, sem ter ideia do que fazer. — A gente precisa achar e destruir as Horcruxes, mas como fazer isso, e pior, se acharmos, como destruí-las? Dumbledore não disse a Harry o que fazer, e agora seria impossível contatar o quadro dele que fica em Hogwarts...

– O que nos deixa um problema ainda maior — disse Harry. Pelo que descobri em Godric's Hollow, como disse a vocês, só Voldemort deve ter o livro que indicaria isso pra gente. Imagine o que teremos de fazer para consegui-lo...

Foi como se um manto gelado de apreensão cobrisse todos. Não tinham a mínima ideia do que fazer. Ficaram por muito tempo debatendo, cada um com uma ideia cada vez mais louca, até que, apesar de ser ainda cedo, resolveram dormir. Estavam muito cansados e com os corpos doloridos devido à batalha de mais cedo, além da fome que sentiam, pois não comiam desde o café-da-manhã reforçado que a Sra. Weasley fizera para eles. Entretanto, o jeito era dormir e, no dia seguinte, encontrar uma solução para seus problemas, pois naquela hora não tinham como encontrar comida nem conseguir ter um raciocínio coerente.

***

Pela manhã, Harry acordou com um barulho insistente do lado de fora, como o som de passos sobre folhas secas. Ele, que dividira um beliche com Rony, pôs seus óculos e se levantou, ressabiado. Apesar de ter quase certeza de que não era um Comensal da Morte, pois os Comensais não tinham como tê-los seguido, ele pegou sua varinha e se dirigiu à porta da barraca, abrindo-a devagarzinho, a varinha em punho. Um homem e um adolescente andavam em torno da barraca, examinando-a, as sobrancelhas levemente franzidas. Sem querer, Harry fez algum barulho, e eles se viraram e viram a sua cabeça aparecendo pela porta. Os três levaram um susto.

— Posso saber quem é você e o que faz em minhas terras?

Harry engoliu em seco. Como poderia explicar o que eles quatro faziam ali? Logo um Rony com olhos sonolentos e abrindo a boca de sono se juntou a Harry. Os outros, ao ouvirem as palavras do homem, deviam ter despertado, também, o que Harry confirmou virando ligeiramente a cabeça para trás. Foi Ana que deu as explicações. Ela apareceu na porta, pondo-se ao lado de Harry e, com um sorriso luminoso, falou:

— Bom dia, senhor! Nos desculpe. Somos apenas jovens que saíram em busca de um pouco de aventura, sabe? A gente está viajando pela Inglaterra rural, colhendo imagens e histórias para um trabalho para a faculdade. Por isso acampamos aqui, não tínhamos ideia de que encontraríamos os donos das terras. A gente já vai sair.

O homem a olhava com simpatia, enquanto o adolescente, um rapaz de uns quinze anos, de cabelos negros e rosto rosado, com a típica aparência saudável dos jovens fazendeiros ingleses, parecia estar babando pela moça loira e bonita que falava com eles.

— Ora, moça, não se preocupe, não. Nós, meu filho e eu, só estávamos averiguando, pois vocês podiam ser malfeitores, não é? Eu sou Paulo Winchester, e esse é meu filho, Ryan.

Harry, Rony, Hermione e Ana saíram da barraca e cumprimentaram os Winchester, apresentando-se, também, embora com identidades diferentes, pois não deviam confiar em nenhum desconhecido. Os Winchester os convidaram, como todo bom e educado inglês, a irem para sua casa, onde lhes ofereceria café-da-manhã, e como eles estavam com os estômagos roncando, concordaram. Entretanto, todos levaram em seus bolsos as suas varinhas, pois não queriam ser pegos de surpresa.

Enquanto caminhavam pelo que Harry percebera ser, sim, um pomar, viram que eles tinham acampado em uma fazenda de carneiros monteses, daqueles bem peludos e com chifres enroscados. Havia vários cercados cheios dos animais que não paravam de balir, sendo tratados por empregados. Ali perto, a casa principal era térrea e muito grande, de madeira e com uma ampla chaminé, da qual saia uma suave nuvem de fumaça. Num rio próximo, uma antiga roda-d’água abandonada, mas bem conservada, dava uma aparência ainda mais bucólica ao lugar. Num ar de camaradagem os seis foram até a casa, entrando pela porta da cozinha. Nela, havia uma longa mesa de madeira, uma série de panelas e tachos de cobre e ferro bem lustrosos pendurados, bem como um fogão à lenha bem conservado. Uma senhora gorducha e morena se virou ao ver aquela inesperada multidão entrar e, sorrindo, falou:

— Querido, onde encontrou esse bando de jovens? Já estava preocupada com vocês, que não vieram tomar o café-da-manhã...

— Trouxe esses jovens comigo, Amanda. Encontrei-os quando fazia a ronda pelo pomar. Eles estão acampados em nossas terras.

A senhora simpática sorriu para cada um deles, cumprimentando-os com carinho evidente. Um cheiro delicioso de chá, torradas e bacon e ovos fritos permeava o ar, o que fazia os estômagos de Harry e dos outros protestarem, roncando. A cara de Rony, mesmo, parecia tão faminta e “pidona” que Marília Winchester sorriu mais ainda, com um ar muito maternal. Como a mesa já estava posta com tudo o que compunha um típico e reforçado café-da-manhã inglês — ovos, bacon, peixe defumado, linguiça, panquecas, torradas, bolo de frutas, chá, etc — ela os convidou, dizendo:

— Vamos, sentem-se e comam conosco! Pelas suas caras, estão famintos! E ninguém fica com fome se depender de mim!

Os meninos mal falaram; a fome era a inimiga que precisava ser derrotada o quanto antes. E por um bom tempo ninguém falou nada, só se preocupando em encher os estômagos vazios. A comida era tão farta e gostosa que não deixava nada a desejar em relação à comida de Hogwarts e da Sra. Weasley — que ela nunca soubesse disso! A Sra. Winchester, na verdade, lembrava muito a mãe do Rony, sempre achando que os meninos estavam comendo pouco e enchendo os seus pratos com cada vez mais comida. Harry pôs a mão no estômago que lhe parecia que ia estourar e passou a mão pela testa suada. Logo, Ryan o olhava, estupefato, e comentava:

— Mas você não é Sirius Carlton! Você é o Harry Potter!

Assustados, Harry e os demais se levantaram, as varinhas erguidas.

— Como sabem? — ele perguntou, abismado. — Vocês não são trouxas?

Os três Winchester se entreolharam.

— Não, quer dizer, eu e meu filho não somos. Marília é trouxa... Não nos revelamos, por causa da Lei do Sigilo... Pensamos que vocês fossem trouxas... E podem baixar essas varinhas, jovens. Pelo menos enquanto estiverem dentro de minha casa. Se você é realmente Harry Potter, o que agora eu não tenho a mínima dúvida, é nosso amigo. Qualquer um que lute contra Você-Sabe-Quem é nosso amigo. Afinal, eu sou Nascido-trouxa, casado com uma trouxa e tenho um filho mestiço.

Harry e os outros baixaram as varinhas, aliviados. Um bruxo puro-sangue arrogante e preconceituoso e que tivesse orgulho da pureza de seu sangue preferiria morrer a se dizer Nascido-trouxa.

Harry, a respiração se acalmando, murmurou um pedido de desculpas. Os Winchester entenderam, pois Harry e seus amigos estavam na lista dos mais procurados do Ministério da Magia. Eles conversaram por bastante tempo enquanto terminavam de comer sossegados. Uma coruja-de-igreja entrou pela janela da cozinha e Paulo desamarrou o jornal que ela trazia, logo pondo na bolsinha que ela trazia amarrada na perna dois nuques. Era um exemplar do Profeta Diário. Na primeira página estava uma foto grande de Harry, Rony e Hermione, com uma grande manchete:

“Procurados — homicidas perigosos assassinos de aurores”

A matéria contava uma versão inteiramente deturpada dos fatos, passando uma imagem totalmente equivocada de Harry, Rony, Hermione e Ana (essa não aparecia na foto por não ter sido tirada ainda nenhuma fotografia bruxa dela), mostrando-os como grandes vilões da ordem e como cruéis assassinos de um enviado do Ministério. “Curiosamente”, não se falava nada sobre o fato de Walden Macnair nunca ter sido um auror na vida, na verdade ele fora um Comensal da Morte que conseguira escapar na época do julgamento dos seguidores do Lord das Trevas e fora por anos carrasco do Ministério da Magia. No jornal, contava-se ainda que Harry e os demais haviam torturado bruxos do vilarejo de Godric's Hollow e por isso foram abordados por “aurores” do Ministério, e na luta que se seguiu, eles haviam lançado a “proibida” Maldição da Morte e matado Walden Macnair. E dizia ainda mais que nenhum dos bruxos procurados devia ser morto; isso devia ficar a cargo dos aurores. Nas páginas seguintes, matérias muito deturpadas e maledicentes traziam “históricos” e perfis dos quatro bruxos procurados, manchando a sua imagem de tal forma que era difícil associar essas falsas imagens com as verdadeiras. Era claro que quem assinava boa parte dessas matérias maledicentes era Rita Skeeter, jornalista bruxa que parecia se sentir bem apenas quando causava polêmicas ou manchava o bom nome de algum bruxo. O jornal, com certeza dominado pelo Ministério, estava tentando passar uma imagem falsa de Harry e seus seguidores, como fizera na época do quarto e quinto ano do rapaz na escola, quando sugerira ser ele alguém com distúrbios mentais e mania de “aparecer”.  Com certeza muitos bruxos deviam estar sem saber no que pensar ou acreditar. Harry Potter era um herói ou um vilão?

Todos ficaram indignados, até mesmo os Winchester, bruxos simples que viviam na sua pequena fazenda tentando se sustentar e viver uma vida calma e longe dos distúrbios da cidade grande. Quase ninguém sabia da condição da família, que contava com uma trouxa, um mestiço e um Nascido-Trouxa. Justamente por medo de que o Lord retornasse, eles decidiram viver em surdina, educando seu único filho em casa mesmo. Assim, era mais difícil de serem perseguidos. Apesar de todos dizerem que o Lord morrera, ele não conseguia acreditar muito naquilo, pois ele era poderoso demais. Eles eram bruxos bons e acolheram os hóspedes inesperados com toda boa-vontade pelo tempo que quisessem se esconder.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo, pessoal, e please, comentem!

beijos da Ana Christie



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