Harry Potter e o Amuleto de Merlin escrita por ana_christie


Capítulo 1
O segredo de Petúnia




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O

 sol entrou pela janela do menor quarto da casa de número 4 da Rua dos Alfeneiros, no bairro de Little Whinging, em Surrey. Encontrou um rapaz magro, não muito alto, com cabelos negros e arrepiados, sentado na cama com uma expressão inconsolável. Harry Potter, como se percebia pelas suas olheiras e roupas amassadas, não dormira essa noite. Pensava no quanto sua vida dera uma reviravolta nesse ano. Terminara o sexto ano na escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e estava de férias, suas últimas férias, na casa dos seus tios trouxas que, desde que ele chegara, só atormentaram sua vida.

O ano letivo que terminara fora cheio de surpresas boas e ruins para Harry Potter e para toda a comunidade bruxa da Inglaterra e do resto do mundo. Nesse ano, Alvo Dumbledore, o maior bruxo de todos os tempos, diretor de Hogwarts, fora assassinado por Severo Snape, o Professor de poções do mesmo colégio (que, no sexto ano de Harry, lecionara Defesa Contra as Artes das Trevas, uma disciplina que há muito tempo ele almejava). Severo Snape se revelara o maior traidor de todos os tempos. Antigo Comensal da Morte — os seguidores de Voldemort, o maior bruxo das trevas que já existiu — na época de sua primeira ascensão, Severo Snape teria ido direto para Azkaban, a prisão dos bruxos, onde sofreria nas mãos dos dementadores, terríveis criaturas que se alimentam das boas lembranças das pessoas. Dumbledore fora a única pessoa que nele confiara, de tal modo que nunca ouvira as advertências daqueles que desconfiavam do bruxo.

Harry presenciara a morte de Dumbledore, que fora morto de maneira covarde, sem ter a mínima chance de lutar. Ao se lembrar dos últimos momentos do velho bruxo, Harry, que estivera durante todo o momento sob a ação de um Petrificus Totalus lançado pelo próprio Dumbledore, para defendê-lo, e coberto pela sua Capa da Invisibilidade, precisava se esforçar para conter as lágrimas. O ódio que sentia por Snape, que sempre o prejudicara e aos seus amigos, só se tornara pior. Queria com todas as suas forças encontrar Snape e se vingar, num verdadeiro duelo com o bruxo.

O motivo pelo qual Harry tivera insônia foi o da decisão que tomara no fim do ano letivo: abandonaria Hogwarts. Pouco antes de Dumbledore morrer ele lhe fizera um juramento: encontraria as Horcruxes de Voldemort e as destruiria! Sua vida, a partir daquele triste momento, estava traçada. Só poderia vencer o bruxo das trevas destruindo as suas Horcruxes. Só no ano letivo passado Harry soubera o que são Horcruxes, apesar de já ter destruído uma — o diário de Tom Riddle. Para se tornar praticamente invencível, de modo que não pudesse morrer com facilidade, Voldemort repartira sua alma em vários pedaços, alguns dos quais foram alojados em objetos. Harry conhecia ou já ouvira falar de algumas delas: o diário de Tom Riddle — o verdadeiro nome de Voldemort — o anel com o brasão dos Peverel, o Medalhão de Slytherin, a taça de Hufflepuff e, possivelmente, a cobra fiel que sempre acompanhava Voldemort, Nagini. Um dos pedaços da alma de Voldemort era a que estava no próprio bruxo. Dessas Horcruxes, duas haviam sido comprovadamente destruídas, o diário e o anel — esse destruído por Dumbledore. O medalhão era um mistério; podia ou não ter sido destruído, e isso dependia da identidade da pessoa que pegara a Horcrux do lugar onde estivera.

Harry e Dumbledore haviam arriscado suas vidas numa empreitada que não servira, no fim, para nada. Na caverna onde estivera escondida a Horcrux, Dumbledore se oferecera para tomar a poção que a guardava, que só o enfraquecera, tornando-o vítima fácil dos Comensais da Morte, principalmente um traidor como Snape. Ao pegarem o medalhão, descobriram que aquela era uma falsa Horcrux. No seu interior havia um recado endereçado ao Lord das Trevas:

 

            Ao Lord das Trevas

            Sei que há muito estarei morto quando ler isto, mas quero que saiba que fui eu quem descobri o seu segredo. Roubei a Horcrux verdadeira e pretendo destruí-la assim que eu puder. Enfrento a morte na esperança de que, quando você encontrar um adversário a altura, terá se tornado outra vez mortal.

                                                                                                                   R.A.B.

 

             Quem seria R.A.B.? Aquele era um mistério que precisava ser solucionado, pois só ao descobrir que tipo de bruxo era o dono daquelas iniciais se poderia ter certeza da destruição da Horcrux.

Suspirando, Harry se levantou. Em poucas semanas completaria 17 anos e seria um bruxo adulto. A proteção que evitava que bruxos das trevas tentassem entrar na casa terminaria, então, e assim ele poderia cumprir a sua missão. Antes precisava visitar a casa de seus pais, em Godric’s Hollow. Queria finalmente poder prestar a Tiago e Lílian Potter as homenagens que nunca pudera. Queria ir ao cemitério da cidade.

Suspirando, decidiu se levantar. Afinal, não conseguiria dormir mesmo. Pôs os óculos e desceu até a sala. Lá estava sua tia Petúnia, com a sua cara de cavalo mais mal-humorada do que nunca. Ele não estava a fim de ouvir mais sermões apenas por ele ser quem era. Por isso evitou falar qualquer coisa.

— Perdeu agora até a educação?

Harry suspirou, enchendo-se de força.

— Bom dia, tia Petúnia.

— Bom dia nada! Meu Dudinha e seu tio foram até o campo de golfe, convidados pelo melhor cliente de Válter! Eu tive que ficar aqui, para evitar que você usasse essa sua... essa sua coisa!

— Pode ir, tia! Prometo não fazer bobagem alguma! — “tomara que ela me deixe sozinho!”, é o que ele pensava.

— Não confio em você! Sendo filho de quem é!

Harry sentiu que estava perto de estourar de raiva.

— Não fale nada, se for pra insultar os meus pais!

— Ah, é? Por que não? O que você pode fazer?

Harry tirou de dentro das vestes sua varinha e ficou a girá-la.

— Posso fazer muita coisa.

Aquilo deixou Petúnia nervosa, mas ela retrucou:

— Pensa que não sei que não pode usar sua coisa fora daquele maldito lugar? Vai ser expulso, se usar!

— Acontece que eu não vou voltar para Hogwarts no próximo ano letivo!

Aquilo pareceu deixar Petúnia abismada. Ela estava pálida.

— Mas... você... não vai ficar aqui na minha casa, não é? — sua voz estava aguda.

— Sei que nunca me quiseram aqui de verdade! Mesmo que eu precisasse, nunca ficaria morando com pessoas que me desprezam e, pior, desprezam os meus pais! Eu só estou aqui porque pessoas muito queridas me pediram para continuar nessa casa até eu completar 17 anos, que é a maioridade dos bruxos. Não sei se você sabe, tia, mas aqui eu tenho proteção até completar 17 anos.

Petúnia se calou. Sim, ela sabia muito bem disso. Estava tudo escrito na carta que acompanhara o pequeno Harry quando ele fora deixado à sua porta, há 16 anos atrás.

— Quer dizer que... depois dessa idade... poderão pegar você... aqui?

— Sim, tia, e um dos motivos pelos quais devo sair daqui é esse. Saindo daqui, nada pode acontecer a vocês. É a mim que Voldemort e seus seguidores querem. E quanto ao fato de não poder usar magia fora da escola, isso só vale para os menores de idade. Eu vou completar em poucos dias minha maior-idade.

Nesse momento, Petúnia se sentiu envergonhada pela maneira como tratara seu sobrinho durante todos aqueles anos. Ele tinha todos os motivos do mundo para querer que sua família sofresse.

— Você... se preocupa conosco, Harry? — perguntou ela, os olhos ficando marejados.

— Vocês podem não ser as pessoas que eu mais gosto no mundo, mas são seres humanos, e mais, minha família. São meu sangue. Não quero que morram por minha culpa.

— Harry, esse... esse Voldemort... por que ele te persegue? — nesse momento, Petúnia resolveu saber mais sobre seu sobrinho. Na carta que Alvo Dumbledore lhe mandara, não havia a explicação de o porquê daquela perseguição.

— Foi ele, tia, que matou meus pais. Matou a sua irmã, tia.

Petúnia começou a lembrar de Lílian Potter, sua irmã. Sempre sentira muita inveja e ciúme dela, já que Lílian fora tudo o que ela sempre quisera ser e não conseguira. Resolveu, então, revelar a Harry a verdade sobre ela própria.

— Harry, tem algo que você tem o direito de saber e eu escondi esses anos todos. Harry, o seu tio não pode saber disso, se não ele se divorciaria de mim. Conheço sobre o mundo bruxo mais do que você pode imaginar. Você sempre deve ter pensado que sua mãe era uma Nascida-Trouxa, como dizem dos bruxos que nascem de trouxas. Está enganado, Harry. Nossos avós eram bruxos abortados, loucos para ter um bruxo na família. Casaram entre si. Tinham vergonha de ser abortos, preferiam ter nascido trouxas, por isso todos achavam que éramos uma família trouxa. Lílian, como um milagre, nasceu  com o dom da magia. Eu nasci sem poderes. Por isso senti tanta inveja e ciúmes de Lílian. Para quem você acha que eram todos os abraços e carinho? Para quem ia todo o incentivo? Quem era o orgulho da família? Eu sofri muito.

Harry estava abismado.

— Quer dizer que você é... um aborto, como seus avós e seus pais?

— Sim, embora todos pensem que sou trouxa. Pense numa palavra amarga, Harry, aborto. Ser nascido numa família que só gera crianças sem magia é a mesma coisa que ser Nascido-Trouxa. Por isso Lílian era chamada, por outros bruxos, de Sangue-ruim. Eu queria tanto ser poderosa como minha irmã! Passei toda a minha infância e parte da adolescência tentando aprender magia, mas não consegui. A gente nasce com ela, não é? Quando Lílian foi para Hogwarts, com 11 anos, eu estava com 14 anos. Tentei ir para Hogwarts com ela, e quando não me permitiram, percebi que nada ia mudar. Não aconteceria nenhum milagre. Foi por isso que decidi sair de casa e cortar todos os laços com o mundo bruxo. Comecei a viver como uma... trouxa, e foi só a partir daí que não precisei mais me esforçar tanto em ser alguém que eu não era. Eu tinha... ódio de Lílian, mas agora vejo que ela não teve culpa. Harry, nós podemos começar de novo ou é tarde demais? Será que você pode me perdoar por tudo o que eu fiz a você? Pelas omissões? Sei que não mereço, mas preciso me redimir com Lílian. E com você.

Apesar de todo o sofrimento que Harry passara, ele continuara a ser um bom rapaz. Não sabia se o arrependimento de sua tia era sincero, mas se pudesse viver em relativa paz até o dia de sua partida, seria melhor.

— Tudo bem, tia. Não se preocupe. Sei que nunca seremos amigos, nem você nem eu queremos, mas podemos viver em paz. Eu a perdôo.

— Obrigado, Harry, isso foi muito importante para mim. Não posso fazer nada em relação ao seu primo e seu tio, infelizmente. Mas você vai ter de ser paciente. Por muitos anos eu fui avessa a você e sua varinha, com o medo que ela pudesse prejudicar minha relação com Válter e o mundo que eu criei para mim mesma. Não confio em você, ainda, Harry, nem gosto de você. Quero aprender a mudar isso.

Harry sorriu, percebendo que tivera razão, sua tia não mudara tanto assim. Mas já era um começo.

— Já imaginava algo assim, tia. E quanto a tio Válter e Duda, não se preocupe. Aprendi a me cuidar.

— Você vai mesmo embora, Harry?

— Sim, tia. Tenho uma missão a cumprir. Mas, enquanto isso, pode ir ao seu compromisso. Não vou fazer uso indevido de minha varinha.

— Muito obrigada, Harry. Vou me esforçar e confiar em você. Espero poder mudar com o tempo. Vou me arrumar.

— Enquanto isso, vou à casa da Sra. Figg.

— Mas... Pensei que você detestasse aquela casa!

— Há algo que você não tem a mínima ideia, tia Petúnia — Harry disse com ar de riso. — A Sra. Figg também é um aborto.

***

A Sra. Figg, que morava na Alameda das Glicínias, estava em casa, cuidando de seus gatos. Na infância de Harry, ele detestava todas as vezes que tinha de ficar na casa dessa senhora, quando seus tios e seu primo queriam sair de casa. A verdade era que Arabela Figg sempre agira como uma mulher trouxa. Ela era vizinha dos Dursley, e vivia em Little Whinging com o objetivo de vigiar Harry. Apenas há dois anos ele descobrira a verdade, quando fora perseguido por dementadores numa rua próxima. Ela o ajudara e depusera ao seu favor quando ele fora a julgamento por ter usado magia para deles se defender (bruxos menores de idade não podiam usar magia fora da escola).

— Oi, Sra. Figg!

— Harry, meu querido, como vai? Entre!

A casa de Arabela continuava com o mesmo cheiro de gatos do qual ele se lembrava de sua infância. A pedido dela, ele se sentou numa velha poltrona e logo um gato subiu no seu colo. Após servir chá com bolinhos, a Sra. Figg se sentou em frente a Harry.

— Sua presença é sempre bem-vinda aqui, Harry. A que se deve sua visita?

— Gostaria de receber algumas notícias sobre o mundo bruxo, Sra. Figg. O ano que passou foi tão atribulado, e os Comensais da Morte agiram tanto, que quando fico longe de Hogwarts, fico logo com receio.

— Mas os seus amigos não o mantém atualizado?

Harry fechou os olhos, agoniado. Não lera nenhuma das cartas enviadas por seus companheiros, nem mandara carta alguma a eles. Tinha certeza que Rony e Hermione iriam querer partir com ele em busca das Horcruxes de Voldemort, e ele não queria afastar seus amigos de Hogwarts, nem queria que eles sofressem os perigos que ele, Harry, sofreria. Aquela missão tinha que ser cumprida apenas por ele, que não sabia se morreria no cumprimento dela. Os amigos tinham família amorosa e muito para viver ainda. Harry achava que seu destino era lutar contra Voldemort mesmo que morresse no cumprimento do dever. Por isso evitava contato com seus amigos. Se cortasse logo os laços, logo eles esqueceriam que ele existia, e o sofrimento pela separação ficaria mais tênue.

— É que... bem, eu não queria perturbá-los com isso.

A Sra. Figg tomou um gole do chá.

— Bem, o que eu soube é que os Comensais estão agindo muito, na verdade têm estado agindo desde uns dois ou três anos atrás. O Ministério se preocupa muito em manter uma boa imagem, e as informações que nos chegam sempre são atenuadas, mas de vez em quando ficamos sabendo de coisas pavorosas. Sabe aquela mansão de campo de trouxas que foi incendiada de maneira misteriosa? Soube por fontes fidedignas que o causador do incêndio foi um dragão roubado de uma colônia por bruxos das trevas. Se os bruxos assistissem e lessem mais jornais de trouxas, perceberiam a verdade, pois a quantidade de catástrofes tanto humanas quanto naturais que tem acontecido nos últimos tempos não é normal. Eu procuro ler os jornais e assistir os noticiários.

— E... e Voldemort?

Ao ver o arrepio que acometeu a Sra. Figg ao ouvir esse nome, Harry quase riu. Alguns hábitos eram mesmo difíceis de acabar.

— Bem, não se tem ideia do paradeiro de Você-Sabe-Quem, mas que ele está por trás de tudo o que tem acontecido, disso não podemos ter dúvidas. Os Comensais da Morte são covardes, eles só agem na iminência da proteção de alguém que sabem ser realmente poderoso. Além disso, eles precisam de alguém que os comandem e disciplinem, e é notável o grau de organização dos Comensais atualmente. Eles estão agindo de maneira planejada, e um exemplo disso foi o assassinato do nosso querido Dumbledore. Tudo indica que tudo já estava preparado desde muito antes, não é?

Ambos continuaram conversando sobre acontecimentos tanto do mundo dos bruxos quanto do dos trouxas enquanto saboreavam os bolinhos com chá, pois os dois conviviam de maneira acentuada nos dois mundos.

Após a visita, quando Harry foi para casa dos tios, descobriu que Petúnia realmente fora ao encontro de Válter e Duda no clube de golfe. Ele sorriu, contente pelo fato de poder ficar um pouco sozinho. Precisava pensar e decidir sobre o seu futuro, tão incerto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, pessoal, e aguardo comentários e não se esqueçam do + embaixo do meu avatar.



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