PDV KAIO

Quando percebi já era. Aconteceu o choque de energia elétrica com o fogo e o ônibus explodiu. A primeira coisa que veio na minha cabeça foi proteger meus amigos, mas fogo e fogo não daria muito certo, então apenas me abaixei no meio de chamas. O fogo estava muito alto então decidi sugá-lo.

Levantei os braços e aspirei todo o fogo para meu interior.

As chamas se extinguiram, mas poucas faíscas ainda paravam no ar, e isso era perigoso demais. Olhei para o lado: Gabi tinha protegido o motorista com um escudo de água, bem a tempo.

Olhei para o chão. Naty estava desmaiada (de novo). Olhei para a outra extremidade do ônibus: tinha gasolina vazando e eu não conseguiria segurar as faíscas no ar por muito tempo. Se elas encostassem naquela gasolina, estávamos todos mortos.

- Rápido - gritei - Saiam daqui, agora! O ônibus vai explodir, não vou aguentar por muito tempo.

Gabi pegou o motorista e desceu pela porta da frente. Todos foram descendo, Marcelo pegou Naty no colo e todos saíram menos eu. Mandei todos correrem.

Soltei as faíscas e saí correndo do ônibus. Assim que encostei na calçada o ônibus explodiu atrás de mim, o impacto me jogando longe, de costas no chão.

Todos os outros também caíram. Minha vista ficou turva. Vi o fogo se espalhando por todos os lados e o vulto de alguém me sacudindo e chamando meu nome. Me senti mal e não vi mais nada.

z88;

Abri os olhos em algo diferente do chão. Uma cama, ao lado de muitas outras. Na cama ao meu lado esquerdo estava Natália e do lado direito, sentada em uma cadeira ao meu lado estava Ranielly lendo um livro. Pelas janelas abertas, pude ver a luz do luar e das estrelas prateadas no céu azulado lá fora.

As estrelas tinham um brilho incomum e ofuscavam um pouco minha vista. Tentei me ajeitar na cama, mas ela rangeu, fazendo Rany se sobressaltar. Ela abaixou o livro e olhou pra mim:

- Kaio. Você acordou. Está se sentindo bem?

- Sinceramente?

- Não né?

- É.

- O que você sente?

Tentei me levantar, mas percebi que estava com o braço direito enfaixado e minhas costelas ardiam com ataduras de esparadrapo. Me endireitei e senti minhas costas queimarem como fogo:

- Toma, beba isso vai melhorar - disse Ranielly me oferecendo um líquido azul.

- O que é?

- É néctar. Beba.

Assim que a bebida me veio aos lábios senti o gosto de limão em minha boca. Todos os doces de limão possíveis e que me faziam lembrar de casa. Os bolos e tortas que minha mãe fazia:

- Huum... Limão.

- Sério?

- É por que? Você nunca provou?

- Não é isso, é que tem um gosto diferente para cada pessoa que toma, mas por coincidência eu também sinto gosto de limão. Tortas, bolos, sucos. É uma delícia.

- Você quer um pouco? - ofereci.

- Bem, néctar só pode ser usado em casos extremamente necessários de cura, então acho que eu passo.

Baixei os olhos para sua perna. Estava enfaixada:

- O que houve com você?

- Enquanto descia do ônibus, a porta acidentalmente emperrou e trancou minha perna. Eu era a última e consegui mantê-la aberta apenas até você descer.

- Nossa... eu... eu, não sabia eu...

- Não se desculpe. Amigos fazem isso um pelo outro.

Baixei os olhos para minha bebida. Então era isso que eu era para ela? Um amigo? Um simples amigo? Não sei a razão de eu me preocupar tanto, mas resolvi mudar de assunto:

- Onde estamos?

- Acampamento-Meio-Sangue. Conseguimos mandar uma mensagem de Íris para Dionísio e ele providenciou para que voltassemos em segurança.

- Estou ansioso para conhecer esse lugar.

- Não fique. Andei aqui por metade do dia e ainda assim não vi tudo. Mas, é um lugar fascinante, pena que cansa muito explorá-lo.

Ela sorriu e se levantou:

- Vou avisar a enfermeira que você acordou.

- Ah, Rany por favor, não. Não precisa, fica aqui por favor.

Ela sorriu denovo e se sentou novamente na cadeira:

- Só porque você pediu, mas acho que vou pegar um néctar também. Minha perna está começando a queimar.

- Como vai fazer isso?

Ela colocou um dedo sobre os lábios pedindo silêncio e indicou Naty. Marcelo estava sentado em outra cadeira ao lado dela:

- Ele passou o dia inteiro aí, esperando ela acordar. Não saiu do lado dela por nem sequer um minuto. Dormiu a pouco tempo, ele precisa descansar.

Assenti e olhei pra ela. Rany pegou dois dracmas de ouro, esfregou nas mãos, murmurou algumas palavras e soprou. Os drácmas haviam se transformado em poeira dourada.

A poeira flutuou e se agrupou, formando um copo com uma bebida igual ao meu. Ela bebeu do néctar:

- Como você faz isso?

- Bem, infelizmente isso é segredo.

Tomamos a bebida simultaneamente, e eu perguntei:

- E se você me contasse?

- Acho que teria que te matar.

- Então prepare a espada. Porque eu quero saber.

Ela bebeu mais um gole de seu néctar, repousou-o sobre a mesa de cabeceira e se inclinou na minha direção:

- Isso é uma oferta a Ártemis. Todas as ofertas precisam ser feitas em pagamento. Eu pago com os drácmas, peço o que quero, e os drácmas flutuam até ela. Ela devolve em forma de poeira com o meu pedido.

- Qualquer um pode fazer isso?

- Bem, qualquer um,não. Apenas as Caçadoras ou ex-Caçadoras.

- Você é a única ex-Caçadora que conheço.

- Fui obrigada a tomar essa decisão.

- E se arrepende?

- Não.

Ela voltou para trás e eu tomei mais um gole de meu néctar:

- Já passou pela sua cabeça que somos praticamente irmãos?

- Já. Filho de Apollo e adotiva de Ártemis. Ideia engraçada. Agora sou mais como apenas uma pessoa para a deusa.

- Entendo. Qual a melhor parte de você ser Caçadora.

Ela corou um pouco e baixou os olhos:

- Poder me apaixonar.

Meu coração bateu um pouco mais rápido:

- Já tem alguém que ame.

- Quem sabe?!

Ela empunhou uma faca prateada e colocou no meu pescoço. Ela se aproximou:

- Te contei um segredo. Para que não precise te matar, em troca me conte um seu.

Nossos rosto estavam a centímetros um do outro. Eu sentia sua respiração e o cheiro de seu cabelo. Em meu mundo fantasioso imaginei dizer algo, mas a imaginação se transformou em palavras que saíram da minha boca:

- Eu acho que estou apaixonado por você.

z88;

PDV RANIELLY

z88;

As palavras que saíram da boca de Kaio me atingiram como flechas do culpido mais precioso do mundo. Meus sentimentos por ele eram verdadeiros e descobri agora que os dele, também eram em relação aos meus.

Meu coração parou de bater quando ele pegou minha mão e me fez largar a faca. Seu rosto se aproximou de mim e meu coração não se controlava de agitação. Ele estava perto demais.

Nossos lábios se tocaram. Eu nunca tinha beijado antes e nem podia. A sensação foi ótima. Foi como se eu estivesse interligada, vagando em algum lugar entre o Céu e a Terra, entre as nuvens e o Oceano. Minha alma e meu pensamentos estavam perdidos entre seus lábios e meu coração.

Naquele momento, tive certeza. Meu primeiro beijo precisava ser com Kaio, porque eu o amava.

z88;

PDV KAIO

z88;

Meus sentimentos duvidosos por Annabeth, eram apenas uma boa amizade. Ranielly era com certeza a pessoa que eu realmente amava. Me dei conta de que tinha acabado de roubar o primeiro beijo dela, mas se aquele era o primeiro eu com certeza gostaria de sentir o gosto dos outros.

Ele me trouxe a lembrança mais profunda e silenciosa de minha alma. A mais apaixonante e amável de toda a minha vida. Nós nos separamos e senti uma certa magia no ar. A magia do amor verdadeiro.

Ela olhou pra mim, e enfim parece que percebeu o que tinha acabado de fazer. Ela se levantou e disse:

- Kaio, sinto muito, mesmo. Eu não devia ter feito isso, eu... eu vou embora.

- Espere, Rany. Não precisa se desculpar, eu... eu fui o culpado. Me desculpe, era seu primeiro beijo, devia ter sido com alguém especial.

- E... eu... hã.. Boa noite Kaio.

E ela saiu andando.

Me deitei na cama pensando em sua última frase. Será que ela se arrependia? Eu fui muito idiota em pensar que ela me amava, ela poderia estar guardando esse beijo para alguém, mais... mais especial do que eu.

Meu Zeus o que foi que eu fiz?

z88;

PDV RANIELLY

z88;

Fui o mais rápido possível para o meu chalé, pensando. Me joguei na cama e me afoguei em lágrimas. Por que eu me iludi tanto? Ele apenas disse: "Eu acho que estou apaixonado por você" e não um verdadeiro: eu te amo.

E o jeito como ele tentou se desculpar foi terrível. Parecia que ele tinha feito algo que não quisesse, e ele não se considerava alguém especial. Era como se ele apenas quisesse ter a experiência de roubar o primeiro beijo de alguém.

Meu cérebro travava uma batalha impossível de resolver.

Ele me beijou, mas não queria. Ele me beijou, mas se desculpou em seguida. Ele me beijou, mas foi só pra tirar proveito da situação.

Apesar de tudo, Kaio não conseguia ser um monstro para mim e eu ainda sentia o gosto de seus lábios nos meus.

Meu primeiro beijo foi realmente inesquecível, mas decidi que não ficaria pensando no que foi dito depois. Apenas voltei no tempo e revivi a sensação de seus lábios nos meus e por um segundo, foi como se estivéssemos nos beijando denovo.