Eu estava furioso, não acreditava nisso, era totalmente impossível! Rangia os dentes, meu corpo estava rígido, mal conseguia pensar coisas com clareza.

- Ian? – Kyle chamou. – Qual é o problema?

Eu não respondi, continuei olhando para Peg. Por que ela tinha que fazer isso?

- Peg – Falei entre dentes.

Grunhi e estiquei a mão, faltava pouco para mim fechá-la em punho, eu tive que me esforçar muito para isso. Ela não se levantou, ela não queria ir comigo, será que ela conseguia fazer mais mágoas aparecerem?

Cansado de esperar, fui ao seu encontro e agarrei o braço de Peg, levantando-a do chão. Sunny continuava agarrada a ela, e eu a sacudi até que ela soltasse. Eu não precisava de uma platéia.

Tudo isso tinha um culpado, era Jared, certamente foi ele a dar a idéia... e Peg altruísta desse jeito aceitou, e não me contou. Como ele podia ser tão idiota, hipócrita, egoísta, mau caráter? Como eu o odiava.

- Qual o seu problema? - Kyle exigiu.

Eu não pensei duas vezes, meti o pé na cara de Kyle, escutei o barulho do nariz sendo quebrado mais uma vez. Bem feito!

- Ian! – Peg protestou, eu ignorei.

Sunny tentava proteger Kyle de um ataque que não viria, nem adiantava ela fazer isso, se eu quisesse, socava os dois. Kyle continuava no chão gemendo, eu virei as costas e arrastei Peg.

- Vem. – Rosnei.

- Ian...

Eu não dei atenção, continuei levando ela para longe, ia levá-la para o meu quarto, ter uma conversa séria com ela. Jared, metido a certinho, se jogou na frente da porta para que eu não passasse, ele que era o maior culpado de tudo.

- Você perdeu o juízo Ian? – Ele perguntou revoltado. - O que você vai fazer com ela?

- Você sabia sobre isso? – Gritei, empurrando Peg para frente.

- Você vai machucá-la. – Jared disse e eu ignorei.

- Você sabia o que ela está planejando? – Rosnei.

Jared me encarou, não respondeu, isso foi resposta suficiente, ele sabia. Eu não pensei duas vezes em voar para cima dele, meti a mão bem no meio daquela cara irritante de Jared. Como eu queria ter feito isso antes, ele voou pelo corredor e eu continuei socando seu rosto.

- Ian, pare. – Peg pediu.

- Você pára! – Gritei.

Sai de cima de Jared, muito cedo, ele merecia mais do que isso. Peguei Peg pelo braço, puxando-a pelo túnel.

- O’Shea! – Jared gritou atrás de nós.

- Eu vou machucar ela? – Gritei de volta, ainda irado. - Eu vou? Seu porco hipócrita!

Comecei a andar mais rápido ainda, no meio do caminho, Peg gemeu, ela não estava conseguindo andar junto com meus passos. Parei abruptamente, respirando sem fôlego.

- Ian... Ian,  eu...  – Ela gaguejou e não terminou.

Meus braços a envolveram, dessa vez com mais cuidado, eu poderia estar machucando ela. A aconcheguei contra o meu peito, segurando suas costas. Comecei a correr, mais rápido ainda.

Passei pela grande praça e ignorei qualquer tipo de olhar surpreso e suspeito das pessoas que estavam lá, eu realmente estava com raiva e eles deviam estar vendo isso na minha face. Os deixei para trás e continuei correndo.

Logo eu estava na frente do meu quarto, chutei uma das portas com toda força, como chutei Kyle mais cedo. Ela caiu no chão e acertou o piso, fazendo um forte barulho. Coloquei Peg no meu colchão no chão.

Fiquei de pé na sua frente, meu peito se movia com exaustão e fúria, minha respiração mudava conforme meu cansaço. Virei para trás e coloquei a porta no lugar, voltando o olhar para Peg.

Eu ainda não acreditava que ela ia me deixar, não acreditava, eu a amava tanto... era muito amor que sentia... Ela ficou ajoelhada tentando falar alguma coisa que não saia de sua boca.

- Você. Não. Vai. Me. Deixar. – Falei de dentes cerrados.

- Ian. – Sussurrou. - Você tem que ver que ... que eu não posso ficar. Você tem que ver isso.

- Não! – Gritei.

Eu não tinha que ver nada, a maior coisa era o que via no meu coração, amor, puro amor! Ela não só podia ficar, ela ia ficar, ia ficar comigo! Minha vontade era de chorar, desesperadamente.

Ela se deitou na cama, eu me abaixei, engatinhando de joelhos em sua direção. Coloquei meus braços na sua cintura e a apertei forte, colocando meu rosto na sua barriga, era tão bom estar tão perto dela dessa maneira...

Eu não queria perdê-la, não assim, queria ela do meu lado, eu a amava. Comecei a tremer, meu corpo inteiro parecia que tinha um colapso, parecia que eu ia morrer. Lágrimas saiam dos meus olhos, muitas lágrimas, e molhavam tudo o que elas eram capazes de chegar.

- Não, Ian, não. Por favor, não.

- Peg... – Gemi de dor.

- Ian por favor. Não fique assim. Não. Desculpa. Por favor.

Ela chorava também, seu corpo tremia como o meu. Eu queria fugir com ela, levá-la para o mais longe possível, continuar com ela até o fim da minha vida... amá-la!

- Você não pode ir. – Sussurrei.

- Eu tenho que ir. Eu preciso.

Continuamos chorando daquela maneira por um bom tempo, meu coração batia irregular, juntamente com a minha respiração. Meu peito doía, era como se ele tivesse sido rasgado, mutilado, massacrado... era um coração partido, um coração que amava e foi partido...

Lembrei de tudo o que aconteceu, eu fui rude com ela. Fui mal educado, violento e grosso. Não devia ter jamais feito isso com ela, não com a minha Peg, de maneira nenhuma. Estava me sentindo um animal com isso.

Minhas tristes lágrimas foram se secando aos poucos, logo não descia mais nada de meus olhos. Eu consegui forças e me ergui, puxando-a para meu peito, confortando-a até que ela parasse de chorar.

- Desculpe. – Sussurrei, mais um gemido do que um sussurro. - Eu fui cruel.

- Não, eu é que me desculpo. Eu devia ter te contado quando você não adivinhou. Eu só... eu não consegui. Eu não queria te dizer, te magoar, me magoar. Fui egoísta.

- Nós precisamos conversar sobre isso Peg. Não é algo marcado no fogo. – E não era mesmo, tudo tinha volta, exceto a morte.

- É sim.

Sacudi a cabeça, não, não era e jamais seria.

- Quanto tempo? Por quanto tempo você está planejando isso?

- Desde a Buscadora. – Murmurou.

- E você achou que tinha que revelar seu segredo para salva-la. Eu posso entender isso. Mas isso não significa que você tem que ir a lugar nenhum. Só por que Doc sabe como… isso não significa nada. Se eu tivesse pensado, por um momento, que uma ação levava a outra eu não teria ficado parado lá e deixado você mostrar a ele. Ninguém vai te forçar a deitar na maca de execução. Eu quebrarei a mão dele se ele tentar tocar em você!

- Ian, por favor.

- Eles não vão fazer isso Peg. Você me ouviu? – Estava gritando de novo.

- Ninguém está me obrigando a nada. Eu não mostrei a Doc como fazer a separação por causa da Buscadora. O fato dela estar aqui só acelerou o processo. Eu fiz para salvar a Mel, Ian.

Minhas narinas se inflaram, eu sabia que tinha Jared no meio. Ela queria deixar o corpo de Melanie para que ele usasse e o usufruísse como quisesse, era tudo culpa dele.

- Ela está presa aqui. É como uma prisão, pior do que isso, eu nem consigo descrever. Ela é como um fantasma. E eu posso a libertar. Eu posso devolver a vida dela.

- Você merece uma vida também Peg. Você merece ficar.

- Mas eu a amo, Ian.

Fechei meus olhos, as lágrimas estavam começando a surgir. Ela amava Mel, mas eu, ela não amava, não se importava comigo.

- Mas eu amo você. Isso não importa?

- Claro que sim. E muito! Você não entende? Isso só faz isso ser mais … necessário.

Arregalei os olhos, era necessário ela fugir por causa do meu amor?

- É tão horrível que eu te ame? É isso! Eu posso ficar de boca fechada. Eu nunca mais falo nada assim. Você pode ficar com Jared se é isso que você quer. Só fique.

Se você me dissesse que o meu respirar te machuca, acho que teria que morrer por falta de ar...