Eu fiquei com ela durante três dias...

Não tinha como calcular sua agonia, mas a minha eu sabia que estava me matando. Meu coração doía, e era como se eu sofresse por cada alma mutilada.

Peg não comia, por mais que eu insistisse em trazer algum alimento para ela. No inicio eu tentei trazer comida para que ela comesse, mas ela mal tocava.

Tentei buscar comida para eu mesmo comer, para ver se ela fazia o mesmo. Mas depois que percebi que ela não o queria, eu também parei de comer.

Ela ficava quieta, não escutava nada vindo dela, nem um choro silencioso. Tinha momentos que eu me perguntava se ela ainda estava lá, mas respeitava seu silêncio.

No primeiro dia quando ela foi dormir, eu a aninhei sem que ela percebesse em meu colo. Não queria vê-la desconfortável, queria que ela ficasse bem, protegida... Só que ela não gostou disso, e eu não pude repetir o gesto...

- Por favor. – No terceiro dia de jejum dela eu não suportei.

Já fazia muito tempo que ela não se alimentava, eu ficava cada dia mais preocupado. Empurrei a bandeja de alumínio para perto dela, para que ela soubesse o que tinha lá. Só que ela não aceitou, e se encolheu novamente no seu sofrimento.

- Por favor, Peg. Por favor, come alguma coisa.

Pus a mão no seu braço para insistir, mas ela se encolheu.

Senti com aquele ato, um desprezo vindo de sua parte. Ela me odiava como qualquer um ali, e isso me machucava.

- Por favor, não me odeie. Eu sinto muito. Se eu soubesse... Eu teria os impedido. Eu não vou deixar isso acontecer novamente.

Não ia mesmo, ela não merecia isso, nunca mereceu! Isso era muito injusto com ela, não podia ter acontecido, não com Peg...

- Eu devia ter te dito. – Suspirei arrependido.

Se ela soubesse, teria a dor diminuído um pouco?

- Por favor, coma.

Minhas súplicas eram em vão.

Eu a deixei sozinha depois de um tempo, ela não queria minha companhia, e não podia forçá-la. Ela me odiava, e era com razão.

Eu era um monstro, sim eu era, e ela não me queria ali, nunca quis... talvez se eu saísse ela se alimentasse... talvez...

Talvez eu fosse um grande peso na vida dela.

Lá fora a primeira pessoa que vi foi Doc, ele estava com uma expressão de preocupado. Deveria ser alguma coisa com Jamie, eu até tinha me esquecido que ele tinha se machucado há três dias.

- Doc? Tudo bem?

- Não Ian, Jamie está louco para ver Peg. Acho que um pouco de sua doença é por causa dela.

- Ela não está muito boa...

- Preciso falar com Jeb, talvez ele consiga alguma coisa...

- Eu encontro ele, pode deixar. Depois eu mando ele falar com Peg.

Fui saindo enquanto Doc respondia um “está bem”. Caminhei pelos túneis de dormitórios, imaginava que ele estaria lá.

Mas quem estava era Jared, vindo na minha direção. Quando eu o vi, fechei a cara e o encarei feio, mas ele pareceu não se importar.

Acenou quando me viu, percebi que não adiantava ter tanta raiva assim dele.

- Jared, você viu Jeb? – Perguntei.

- Acho que ele foi atrás de Peg.

- Tudo bem, voltarei lá. – Dei uma pausa. – Como está Jamie?

- Ele quer por que quer ir ver Peg, se Doc não tivesse impedido ele, e se eu não o tivesse amarrado na cama, ele iria.

- O que ele tem? – Perguntei.

- Uma infecção bacteriana, só que os antibióticos não estão fazendo boas coisas... Talvez Peg ajude.

- Acho que Jeb falando com ela vai fazer as coisas melhorarem. Vou voltar, mande melhoras para Jamie.

Eu voltei para ver se Jeb realmente estava lá, e se Peg estava bem, se ela tinha melhorado um pouco. Quando olhei para o buraco, vi que estava aceso, Jeb estava com ela.

Quando a vi, ela estava com comida na mão, aquilo me deixou feliz e aliviado.

- Aqui está você Jeb. – Eu disse me sentando no meio dos dois. - Jared imaginou que você estaria aqui.

Ela se arrastou para perto de mim, algo raro que eu não via já fazia tempo. Ela colocou suas mãos em cima da minha, como se fosse para se desculpar.

Senti mais alivio em ver que ela não me odiava tanto.

- Desculpe. – Murmurou.

Eu virei a palma para que segurasse sua mão. Era tanto amor que sentia por ela...

- Não se desculpe para mim.

- Eu devia saber que Jeb está certo. Claro que vocês lutariam. Como eu posso culpar vocês por isso?

- É diferente com você aqui. Devia ter parado.

- Tudo é justo na guerra. – Falou tentando sorrir.

- E no amor. Você esqueceu essa parte. – Eu não perdia tempo para conquistá-la.

- Okay, okay, pode parar. - Jeb resmungou. - Eu ainda não terminei.

Olhamos para ele com curiosidade.

- Agora. – Respirou fundo. - Tente não perder a cabeça de novo, okay?

Ela segurou a minha mão com mais força, eu olhei ansioso para Jeb.

- Você vai dizer a ela? – Perguntei me referindo a Jamie.

- O que é agora? O que foi?

- É o Jamie.

Ela se levantou, grudada em mim, me puxando para onde ela queria ir.

- Shhh, Eu disse para não perder a cabeça Peg. Jamie está bem. Ele só está realmente ansioso por causa de você. Ele ouviu sobre o que aconteceu e tem perguntado sobre você, louco de preocupação, e eu não acho que isso seja bom para ele. Eu vim aqui para te pedir para ir ver ele. Mas você não pode ir assim. Você está péssima. Só vai o incomodar sem razão. Senta e coma alguma coisa.

- E a perna dele? – Per perguntou.

- Há uma pequena infecção. – Eu falei. - Doc quer que ele fique deitado caso contrário ele já teria vindo aqui há muito tempo. Se Jared não tivesse praticamente o amarrado na cama ele teria vindo assim mesmo.

- Jared quase veio aqui e te carregou a força, mas eu disse a ele para me deixar falar com você primeiro. Não ia fazer nenhum bem te ver catatônica.

- O que está sendo feito? – Peg perguntou.

- Não há nada a fazer. O garoto é forte, ele vai lutar. – Jeb deu de ombros.

- Nada a fazer? Como assim?

- É uma infecção bacteriana. – Eu esclareci. - Nós não temos mais antibióticos.

- Por que eles não funcionavam, as bactérias são mais espertas do que seus remédios. Tem que ter alguma coisa melhor, qualquer coisa.

- Bem, nós não temos mais nada. - Jeb disse. - Ele é um garoto saudável. A infecção vai seguir seu curso.

- Seguir… o… curso. – Ela murmurou.

- Coma alguma coisa. – Insisti. - Você vai preocupá-lo se ele te vir assim.

- Não. – Murmurou.

Ela estava pensando no garoto, se remoendo com alguma coisa.

- Não. – Gemeu de novo.

Ela se virou e começou a andar, até se esqueceu que eu a segurava.

- Espera. – Corri para chegar ao seu lado.

Jeb correu para o lado dela e deu a comida na sua mão.

- Coma pelo bem da criança. – Jeb disse.

Ela enfiou o alimento na boca e o engoliu rapidamente, como se aquilo fosse apenas uma obrigação.

- Sabia que ela ia exagerar na reação. – Jeb falou.

- Então por que disse a ela? – Perguntei meio frustrado, eu sabia que ele estaria bem pior.

- Ele está no hospital? – Peg perguntou.

- Não, não. – Respondi rapidamente. - Ele está no seu quarto.

Ela andou muito rápido me arrastando para o quarto deles, quando chegamos vimos que tinha muitas pessoas na frente da caverna. Jamie deveria estar bem ruim.

- Peg. – Heidi disse. – Peg está aqui.

- Deixa ela passar. – Wes abria espaço. - Bom trabalho. – Ele falou para Jeb.

- Peg. – Jamie gritou quando a viu. - Ah, você está bem. Ah.

Ela me arrastou ainda mais para o lado dele, tropeçou e caiu. Peg estava desesperada por causa do garoto, e ele não estava num estado muito bom, a infecção deveria ter piorado.

- Jamie querido, como você está?

- Que idiota. - Ele disse rindo, mostrando a perna. - Muito idiota. Dá para acreditar? Que azar.

Ela pegou um pano úmido que estava do lado do travesseiro e limpou o suor de sua testa.

- Você vai ficar bem. – Prometeu.

- Claro. Não é nada. Mas Jared não me deixou ir falar com você. Eu ouvi sobre... e Peg você sabe que eu...

- Shh. Nem pense nisso. Se eu soubesse que você estava doente eu teria vindo antes.

- Eu não estou realmente doente. Só uma infecção estúpida. Eu estou feliz por você estar aqui. Eu odiava não saber onde você estava.

Eu também odiei quando não a achava, quando ela sofreu por tudo aquilo.

- Então, eu ouvi que você arrasou com Wes no dia que voltamos. – Jamie mudou de assunto.

Foi bem no dia que Jared voltou e tudo aconteceu.

- Cara, eu adoraria ter viso isso. Aposto que Melanie adorou.

- É, adorou mesmo.

- Ela está bem? Não muito preocupada?

- Claro que ela está preocupada. – Peg murmurou.

- Você está bem? - Jamie perguntou. - Peg?

- Eu estou… cansada Jamie. Desculpe.

- Você não parece muito bem. – Ele a olhava preocupado.

- Eu não me limpo a um bom tempo.

- E estou bem, sabe? Você devia ir comer alguma coisa. Você está pálida.

- Não se preocupe comigo. – Peg continuava seu altruísmo.

- Eu vou pegar comida para você. – Me ofereci. - Com fome garoto?

- Hmm não, na verdade não.

- Manda alguém. – Peg me disse, apertando minha mão mais forte.

- Okay. – Fiquei surpreso com isso. - Wes, você poderia pegar comida? Algo para Jamie também. Eu tenho certeza que ele vai achar o apetite até você voltar.

Peg estava escondendo algo, eu podia ver isso, era alguma coisa que ela queria me contar... Algum segredo... aquele aperto de mão significava algo.

- Jamie, você se importaria se eu fosse lavar o meu rosto? Eu to me sentindo meio, grudenta. – Era mentira.

- Claro que não.

Ela me puxou para que eu fosse junto, eu sabia que tinha coisa, tava na cara. Era alguma coisa que Jamie não podia saber, era algum problema.

- Eu já volto. É sério dessa vez. – Ela tentou fazer piada.

Lá fora não tinha mais aquela multidão, só Jeb continuava. Quando ele nos viu, olhou desconfiado. Peg fingiu não notar e me arrastou mais um pouco até a junção dos túneis. Só que ela me puxou para o corredor escuro.

- Peg, o que...

- Eu preciso que você me ajude Ian. – Ela estava em pânico.

- O que você quiser. Você sabe disso. – Falei prontamente.

Ela colocou as mãos em meu rosto, encarando meus olhos. Senti um formigamento naquela região, mas agora não era hora de me importar.

- Eu preciso que você me beije Ian. Agora. Por favor.