Ela percebeu quem estava na sua frente, simplesmente paralisou. O encarava muito, não conseguia desviar os olhos nem um segundo. Não esperávamos reação, não era para ter nenhuma, mas ela soltou de seus lábios um grasnido de desespero.

- Jared.

Ela veio adiante, como se tivesse sendo controlada, bem, ela estava sendo controlada. Cambaleava por causa da fraqueza, suas pernas se dobravam a cada passo, estava a poucos metros de alcançar Jared. Ele não parecia gostar nenhum pouco do que ela pretendia fazer em breves segundos.

Ninguém tentou detê-la, todos sabíamos que Jared não deixaria ela fazer nada, seja lá o que ela pensasse em fazer. Antes que ela pudesse  tomar uma atitude, o braço de Jared girou e bateu com força do rosto.

O tapa foi tão forte que ela saiu do chão e bateu seu corpo contra ele, ambos movimentos soltaram sons altos, tanto o golpe, como o baque ao chão. Jared continuou a olhá-la com desprezo.

Ela estava atordoada, quase chorando. Girou o corpo para o lado, parecia não acreditar no que acabara de acontecer. Ela se contorcia de um lado para o outro, se não fosse o que é, daria para ter dó...

Jeb foi pra perto dela para ajudá-la, deu a mão um pouco hesitante, por que via quem estava indo a sua direção.

Jared estava mais do que nervoso, caminhava com muita raiva, seus passos eram pesados, poderiam até fazer eco sobre o chão. Ela estava ciente sobre ele, o olhava um pouco assustada. Quem via Jared naquele estado, podia jurar que ele iria enfrentar Jeb.

Jared e Jeb se encararam por um momento, Jared com cara de ódio, e Jeb calmo como sempre.

Jared não teve a coragem de fazer nada com ela, não na frente de Jeb. O confronto silencioso acabou e Jared saiu de perto, dando uma lufada de ar. Jared sabia como cada mente dessa caverna que minha casa, minha regras, ninguém desafiava Jeb.

Jeb deu a mão para ela a apoiou o outro braço em suas costas, para ajudá-la a levantar. Ela bamboleou para frente como se fosse cair, e Jeb pegou seu cotovelo para dar mais apoio. A gentileza de Jeb era muito grande, até demais.

Jared voltou com a sua cara de ódio misturada com nojo. Os murmúrios que foram silenciados com a sua chegada continuaram, bem mais violentos. Ela estava olhando para todos nós, parecia procurar alguém que interviesse tudo.

Doc abriu o caminho na multidão, ele não parecia estar com tanto ódio como os outros. Todos deram espaço para ele passar, exceto Jared que continuou olhando para ela e não se moveu.

- Muito bem, muito bem. – Doc disse animado indo para perto dela. – Cheguei. O que temos aqui?

- Jeb a encontrou no deserto. – Maggie respondeu indo do lado de Doc. – Antes era a nossa sobrinha, Melanie. Ela parecia estar seguindo as orientações que ele lhe dera. – Ela lançou um olhar irritado para Jeb.

- Hum, hum. – Doc murmurou olhando ela como se gostasse.

Eu não gostei nenhum pouco daquela cara de Doc. Por que não a matava logo? Ela não ia contar o segredo dela, nem nós conseguiríamos tirar a coisa do corpo, não teria como! Já tentamos fazer isso tantas vezes, não seria dessa vez que daria certo.

Sharon, a namorada de Doc, saiu da multidão e veio ao seu encontro. Ele apoiou seus braços no ombro dele, e nesse momento a Parasita olhou e reconheceu a antiga prima, seus olhos arregalaram e continuaram focados em Sharon.

- Hum, hum. – Doc disse outra vez. Ele estendeu uma de suas mãos para tocar a face dela, mas ela recuou imediatamente para perto de Jeb. – Está tudo bem. – Ele tentou encorajara. – Eu não vou machucar você.

Não mesmo, não agora, breve ele estaria fazendo aquelas coisas horrorosas com ela. Ele estendeu a mão para o rosto dela, Jeb a empurrou para frente, para que ela não fugisse outra vez. Os dedos de Doc tocaram no maxilar dela, virando o rosto de lado. Depois seu dedo percorreu a nuca, onde tinha a cicatriz.

Jared franziu o cenho, suas sobrancelhas juntaram e pareceu confuso. Eu já imaginava o que Doc estava pensando em fazer, mas eu preferia nem saber. Doc parou de tocá-la e saiu.

- Ela parece bastante saudável, exceto por um pouco de exaustão, desidratação e subnutrição recentes. Acho que você deu água suficiente para que a desidratação não interfira. Está tudo certo, então. Ele fez um movimento com as mãos, como se estivesse lavando. – Vamos começar.

Eu sabia que era questão de tempo para a tortura começar. Eu sabia que aquela promessa de antes tinha sido falsa, apenas para iludir mais um pouco ela. O que ele queria mesmo era cortar seu corpo em pedaços.

Jeb deu um suspiro e fechou os olhos. Doc a deu a mão, mas ela a escondeu atrás das costas. Ele a avaliou novamente, com os olhos, depois fechou a cara.

- Kyle, Ian? – Ele nos chamou.

Eu e Kyle saímos do meio da multidão e nos apresentamos, tivemos que empurrar as pessoas para o lado. Kyle estava radiante para o que teria que acontecer logo, e eu estava um tanto relutante. Eu preferia bem mais não precisar tocar nessa parasita, bastava matá-la. Eu mesmo poderia fazer isso com um tiro ou algo parecido.

- Acho que preciso de uma ajuda. Talvez você tenha que ser carregada... – Ele disse olhando para nós, como se desse ordens.

- Não.

Alguém interrompeu Doc e todos olhamos para ver quem era, eu já imaginava. Todos olharam para Jared que estava com uma expressão desconhecida. Tinha raiva, desconfiança, confusão, aversão, medo e dor. Doc piscou de surpresa, ele não foi o único.

- Jared? Algum problema?

- Sim. – Respondeu seco.

Um longo silêncio caiu sobre a sala, todos estavam esperando ansiosos para que alguém o quebrasse. Jeb estava quase sorrindo pelo o que acaba de acontecer. Eu sinceramente não conseguia entender Jared.

- E qual é? – Perguntou Doc.

- Eu vou lhe dizer o problema, Doc. – Jared disse entre os dentes. – Qual é a diferença entre deixá-la para você ou deixar Jeb meter uma bala na cabeça dela? – Concordei.

- Bem. – Foi tudo o que Doc disse.

- A diferença é que se for Jeb a matá-la, pelo menos ela morre de maneira limpa.

- Jared. – A voz de Doc era suave. – Nós aprendemos tanto a cada oportunidade... Talvez seja dessa vez que...

Que mentira descarada, não aprendíamos nada. A única coisa que tínhamos certeza quando fazíamos isso, é que eles guardavam seu segredo mais do que tudo. Todas as vezes, ou deu errado, eu deu muito errado. Às vezes dava mais errado ainda, como aquela vez que o Curandeiro se suicidou.

- Sei. – Bufou Jared. – Não estou vendo muito progresso, Doc.

Sharon deu um passo adiante, por toda intrometida, como se fosse ela a decidir as coisas. Ela foi para frente de Doc, como se tivesse protegendo ele.

- Não há razão para desperdiçar uma oportunidade. – Sharon disse. – Nós todos compreendemos que seja difícil para você, Jared. Mas, afinal, não lhe cabe tomar essa decisão. Temos que pensar no que é melhor para a maioria.

- Não. – Jared olhou com fúria e deu um rosnado.

Jared e Sharon começaram a brigar, ele estava se excedendo um pouco. Sharon também não deixava nada a limpo, ela apontada para o rosto dele e o ameaçava, dizia coisas ofensivas, e era respondida por mais coisas ofensivas.

Eu não queria tortura, só queria a morte dela, era bem mais fácil. Como Jared disse, não havia diferença na forma com que ela iria morrer, mas morrendo com dignidade seria bem melhor do que aquela maneira.

Eu e Kyle fomos para perto deles para intervir. Kyle estava radiante com a idéia de ter um novo corpo para cortá-lo em pedaços, ao contrario de mim, ele adorava quando traziam vermes para cá.

Começamos a brigar feio, estava bem difícil conseguir apartar. Estávamos concentrados e nem percebemos que  Jeb, por algum motivo levantou sua arma. Pensamos que ele iria acabar com a vida da parasita naquele instante, mas não foi bem para ela que ele mirou. Todos da sala olharam juntos para ver o que tinha atraído tanta atenção.

- Jamie. – Ela suspirou.

Jared se inclinou para perto dela, como se projetasse uma cortina para que ela não visse Jamie. Jamie olhava para a direção dela, totalmente ausente em pensamentos, ele era um dos únicos que a expressão não demonstravam ódio, tinha bem mais tristeza no seu olhar.

- Jamie? – Ela perguntou. – Jamie?

- O garoto está bem. Jared o trouxe para cá.

Jared cobriu o rosto dela com um saco, para que ela não visse mais nada. Depois deu um soco em seu rosto, ela não suportou a dor, e teve que se render a ela.

- Obrigada. – Murmurou e desmaiou.