Quando Ela Conta a História escrita por Hidden M


Capítulo 15
Ruínas


Notas iniciais do capítulo

Sim, sim, muito atraso outra vez. Mas não, eu nunca desisti da fic e não pretendo desistir nunca. Senhoras e senhores, aqui estamos com o décimo quinto capítulo! E vamos aos agradecimentos. Obrigada ao "alfa" mlcarneiro por me dar tempo pra escrever minha própria história enquanto eu enrolo pra betar a dele; e obrigada à minha beta fidelíssima LudmilaH, a quem eu faço sofrer sempre com essa demora em escrever. Vocês dois são demais.
E obrigada a todos que continuam até aqui! Sejam sempre bem-vindos, meninos e meninas =p



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Logo depois que a professora Minerva e Harry saíram, o grupo começou se desfazer. Fleur foi a primeira a ir; quando perguntaram se precisaria de um lugar para dormir, ela avisou que havia trago uma barraca e queria saber onde podia montá-la. Tonks se ofereceu para levá-la aos jardins, mas papai avisou sobre o perigo do retorno dos comensais, e sugeriu que ela dormisse no Salão Principal. A auror concordou, e a francesinha a seguiu depois de beijar Gui demoradamente. Fiz uma careta só pelo prazer de irritá-la. Neville dormia profundamente, e, segundo Madame Pomfrey, continuaria assim por mais um dia; o feitiço que o atingira tinha causado mau funcionamento nos membros ou coisa assim. Luna também dormira, encostada em Hermione, que olhava pela janela perdida em pensamentos. Lupin, num visível conflito, jogou-se numa cadeira com o rosto enterrado nas mãos. Acho que ouvi um soluço, mas ele não ergueu a cabeça até que sua expressão não estivesse perfeitamente composta.

_ Não sei o que será de Hogwarts sem Dumbledore – comentou finalmente. – A escola está em ruínas, mas ele não vai poder consertá-la.

_Consertar todos esses escombros será o menor dos nossos problemas, Remo – retrucou Madame Pomfrey, até o momento calada, fechando a cara para o professor. – Não sabemos o que nos espera. Se os Comensais foram capazes de invadir, quem garante que não o farão de novo?

_ Minerva tem esse medo, e o conselho diretor também – disse ele, seguindo-a com o olhar enquanto a enfermeira se dirigia ao outro lado da sala e afofava os travesseiros de Neville. – Ela não quer tomar a decisão de fechar a escola, mas as circunstâncias são extremas. Se for decidido pela maioria, nenhum de nós poderá retornar ao castelo.

_ Mas não podem fechar a escola – protestei, nervosa. – Hogwarts é o melhor lugar para se estar depois de casa.

_ Sem falar na proteção – argumentou Rony. Aquilo me surpreendeu; eu esperava aquele comentário da Mione, e não dele. – Ninguém vai terminar os estudos e poder trabalhar. O Ministério não aceita quem não tiver concluído os sete anos – disse, olhando em busca de confirmação para papai, que assentiu.

Lupin fez um muxoxo de impaciência.

_ De nada adianta termos pessoas qualificadas se o Ministério estiver tomado por Voldemort.

Metade da sala estremeceu à menção do nome, inclusive eu. A presença de Você-sabe-quem era muito forte naquela noite, e era difícil lembrar da insistente convicção de Dumbledore  de que temer um nome só aumentaria o medo da coisa em si. Papai e mamãe se mantiveram calados; ele parecia preocupado ao encarar o professor, e comecei a me sentir como se todos estivéssemos medindo as palavras com ele, que parecia prestes a enlouquecer com tudo o que acontecera nas últimas horas. Ante os olhares que se fixavam nele, Lupin se levantou e deixou a enfermaria, segundo disse, para averiguar os danos. Eu só esperava que ele e Tonks pudessem conversar logo, porque parecia que até ele tinha o que dizer a ela.

Meus pais voltaram para perto de meu irmão mais velho, mamãe ainda com o olhar desolado. Rony continuava parado no meio da sala, o olhar em Hermione, meio sem saber o que fazer. Eu olhei para ele e depois para o leito de nosso irmão. Ele entendeu e acenou com a cabeça, e andamos os dois na direção da nossa família.

Aproximei-me da cama que mamãe e papai rodeavam. Rony, os olhos fixos em Gui, passou o braço pelos ombros de mamãe para confortá-la. Esse gesto tinha se tornado quase involuntário desde que ele se tornara mais alto que ela. Estendi a mamãe um lenço que acabara de conjurar.

_ Obrigada, filha – disse ela, enxugando as lágrimas. – É tão difícil ver o meu Guilherme nesse estado...

_ Detesto dizer isso, mamãe, mas a Fleuma tem razão – falei com um sorriso contrariado, encarando a janela. – Gui é forte, vai sobreviver. E não acho que ele vá querer que fiquemos chorando por ele.

Uma sombra de sorriso apareceu nos lábios dela.

_ Devo dizer que estou orgulhosa – comentou mamãe, apertando a mão de Rony. – Gui na ordem, enfrentando Greyback... Vocês dois lutando contra Comensais da Morte, defendendo a escola... Acho que criei bem meus filhos – completou ela, colocando a mão em meu rosto. Eu e Rony sorrimos.

Papai sorriu também, mas seu olhar era grave.

_ Também estou orgulhoso de vocês – disse ele para nós. – Souberam se defender muito bem. Não posso dizer que quero que hoje à noite se repita, mas Você sabe quem ainda está por aí. E se nem mesmo Hogwarts é mais segura...

_ Papai – interrompi, muito séria. – O senhor não está cogitando nos tirar da escola, está?

Ele abriu a boca para responder, mas mamãe o interrompeu.

_ Não diga bobagens, Gina – retrucou ela, abanando a mão num gesto de descrença. – Vocês não vão deixar este lugar.

Papai pigarreou.

_ Molly, estão falando em fechar a escola.

_ Não estarão mais seguros em casa – respondeu ela, os olhos já secos. – Acha que podemos nos defender tão bem quanto Minerva, Filio ou Pomona? Temos mais membros da Ordem reunidos aqui do que em qualquer outro lugar, Arthur! E eu realmente espero que o Ministério dê a maior proteção possível a esse castelo. Francamente! Sabem quantas crianças andam por esses corredores?

_Sim, querida, mas isso é escolha deles. Quem sabe o que vai acontecer daqui para frente? Você-sabe-quem não está mais agindo nas sombras. Se os jornais não estivessem a serviço do Ministério, suas ações estampariam todas as manchetes.

_ Mas Arthur, dizer que eles vão largar Hogwarts! Deixar a educação pela metade! Como você espera que eu...

Um bocejo alto interrompeu a discussão, e nos viramos para trás. O rosto de Hermione surgiu de trás dos cabelos de Luna.

_ Desculpem – pediu ela, envergonhada. – Já está tarde e mal dormi na noite passada. Acho melhor eu ir para o dormitório – disse, desvencilhando-se da garota adormecida em seu colo para esticar o corpo dormente.

_ Eu vou com ela, mamãe – disse Rony, bocejando também.

_ E eu também vou – falei, me voltando para eles de novo. – Vocês vão ficar?

Papai sorriu de leve.

_ Sim, até que as coisas se resolvam. Vamos continuar com Gui mais um pouco – disse ele, passando o braço pelas costas de mamãe, fazendo com que Rony a soltasse automaticamente.– e depois falar com Minerva. Ela agora é a diretora – lembrou ele como uma advertência. Hermione sacudia Luna delicadamente, tentando acordá-la. – Comportem-se.

Assenti, e os abracei com força. Rony passou os braços compridos por nós, enlaçando os três, e ficamos ali por alguns minutos. Papai foi quem nos soltou primeiro, beijando minha testa, e então nos afastamos. Ele sorriu para nós.

_ Qualquer coisa, estaremos aqui para vocês. Nunca se esqueçam disso – avisou ele, sério, e abraçou Rony outra vez. – Boa noite, Ginevra. Boa noite, Ronald.

_ Boa noite, mamãe e papai – dissemos eu e ele ao mesmo tempo. Mamãe limitou-se a beijar nossas bochechas. Ela parecia prestes a cair no choro de novo.

Hermione e Luna (que tinha os olhos inchados e a expressão aérea de sempre) se juntaram a nós na saída da enfermaria. Caminhamos por um longo tempo sem dizer nada, percorrendo as tapeçarias e observando os estragos. Havia pouco que não estivesse rasgado, quebrado, sujo ou sob uma pilha de escombros; os quadros cochichavam entre si assustados, suas pinturas saindo da moldura para comentar o infortúnio. Às vezes dizíamos alguma coisa, mas nada de importante; Rony chegou a rir de Sir Cadogan procurando Marcas Negras nos quadros vizinhos antes que Hermione lhe desse uma cotovelada. Somente quando nos despedimos de Luna é que Rony finalmente perguntou:

_ O que vão fazer... vocês sabem... com o corpo?

Hermione olhou pela janela antes de responder.

_ Devem estar decidindo. Os diretores das Casas estão reunidos agora, e o...

_ Como você sabe? – perguntou ele. Ela rolou os olhos para o teto, impaciente.

_ O que você acha que Harry e a diretora foram fazer, Rony? Apostaria meus fundos do F.A.L.E. que estão na sala de Dumbledore... a antiga, quero dizer... resolvendo essas coisas. O Ministro provavelmente está lá também, ou então está aparatando nos terrenos nesse exato minuto para...

Foi a minha vez de interromper; aquilo era o cúmulo.

 _ O Ministro? O que Rufo Scrimgeour faz aqui? Ele ainda não teve o suficiente de Harry depois de ir vê-lo n’A Toca? Quantas visitas políticas vão ser necessárias até ele estar satisfeito?

_ Não sei se ele vai ficar satisfeito algum dia, a não ser que Harry resolva se tornar o elfo doméstico exclusivo do Ministério – comentou Rony, chutando os pedaços de pedra em seu caminho. Os escombros se espatifaram contra a parede, levantando uma nuvem de poeira e errando por pouco uma armadura.

Hermione franziu o cenho para ele, obviamente aborrecida com a comparação.

_ Não podíamos esperar que acontecesse algo tão grande e o Ministério não fosse notificado. Mas você tem razão – disse ela para mim. – Ele vai tentar contato na primeira oportunidade.

Ela parou, e eu me vi encarando a Mulher Gorda, a única que não parecia triste ou preocupada de todo o castelo.

_ Olá, queridos! – cumprimentou ela, e, ante nosso silêncio, ela desatou a falar, totalmente alheia ao que acontecera. – Espero que vocês estejam mais sãos que os outros. Não vão acreditar nos rumores que ouvi sobre Comensais da Morte na torre e o professor Dumbledore sendo derrotado por eles... Imaginem! O que andam colocando na comida dessas crianças? – completou ela com uma risadinha.

Nenhum de nós respondeu. As cenas passavam em flashes que nenhum de nós queria reviver, então Rony disse logo a senha.

_ Mandrágora – falou ele com um visível nó na garganta. A Mulher Gorda percebeu nossas expressões e seus olhos desconfiados percorreram um rosto de cada vez.

_ O que foi? – perguntou ela afinal. – Vocês não acham que essa história seja realmente verdadeira... acham?

_ Por favor, nos deixe passar – pediu Hermione, a voz cansada. – Foi uma noite longa, precisamos dormir.

Ela nos encarou espantada, mas permitiu que entrássemos na Sala Comunal, muda de espanto. Hermione suspirou ao empurrar o quadro, e parecia prestes a desabar quando botou o primeiro pé para dentro da Sala.

Praticamente a Grifinória inteira estava ali, e mesmo assim a sala estava incrivelmente silenciosa. Ninguém se atrevia a falar em voz alta; só os murmúrios eram capazes de narrar, por cima do crepitar da lareira, o que acontecera naquela noite interminável. Assim que ouviram o rangido do quadro, todos ergueram as cabeças e se calaram, encarando nossas expressões – Hermione exausta, Rony soturno, eu inquieta e impaciente – e nossos muitos cortes e hematomas. A meu lado, Hermione parecia estar encontrando forças para dizer alguma coisa, mas eu a puxei pelo braço. Nenhum de nós devia explicação a ninguém; aquilo cabia à diretora. Rony nos acompanhou até as escadas, visivelmente preocupado com a garota que eu quase carregava – Merlin, quando ele ia admitir que gostava dela - , mas não disse nada. Ao me dirigir para a escadaria da esquerda, não consegui mais conter a angústia e o encarei. Queria pedir para que ele cuidasse de Harry, mas aquilo, além de ser ridículo, não precisava ser pedido. Rony era o melhor amigo dele. Ele o ampararia.

Rony assentiu, não sei se por entender o que eu quis dizer ou por simples cumprimento, e deu as costas para nós duas enquanto eu levava Hermione até a sexta porta. Assim que a alcançamos, ela se desvencilhou de mim e bateu a porta sem olhar para trás. Eu podia ter ficado magoada, mas entendia. Hermione ainda não tivera sua chance de deixar vir as lágrimas que segurava, e não aguentava mais ser tão forte. Ela precisava ficar sozinha.

Eu, ao contrário, não sentia vontade alguma de chorar. Tanta coisa tinha acontecido que eu nem sabia direito o que pensar, como se o torpor ainda não tivesse passado por completo. Eu vira a guerra com meus próprios olhos e estivera nela vendo as pessoas se ferirem e morrerem. Vira a escola ser invadida e destruída pelos seguidores de Voc... de Voldemort. Eu precisava me acostumar àquele nome, e logo. Depois daquela noite, mamãe querendo ou não, éramos todos parte da mesma resistência, e a Armada de Dumbledore, nada mais que o grupo de pessoas que, extraoficialmente, faziam parte da Ordem da Fênix. Nenhum de nós podia mais se dar ao luxo de temer o nome. Para ter coragem de enfrentar o que viria, o medo não era mais uma opção.

Desci as escadas e abri a quinta porta; ela rangeu de leve, o suficiente para que Maggie, que estava lá esperando por mim, se sentasse na cama. Ela me seguiu com o olhar até que eu ocupasse o beliche a seu lado, e, quando a encarei de volta, ela desviou os olhos. Acho que minha expressão mostrara mais do que ela queria ver.

Apesar do dormitório vazio, ela perguntou baixinho, o olhar muito sério:

_ Sobre o professor Dumbledore, Gina...

_ É verdade – afirmei, assentindo. – O que estão dizendo sobre a morte dele?

Ela olhou pela janela como se pudesse vê-lo na vidraça.

 _ Dizem que os Comensais da Morte o mataram. Falaram numa barreira de proteção que ninguém conseguia atravessar... – ela fez uma pausa e tornou a me encarar, apreensiva. – Dizem que Harry Potter estava na torre quando ele morreu.

Aquilo definitivamente explicaria como ele surgira tão de repente.

_ O que mais você ouviu? – perguntei num sussurro, mais baixo que o vento que soprava na janela.

_ O que eu sei, é só – disse ela, os olhos no parapeito da janela outra vez. – Você sabe mais do que eu. Devia dizer você mesma o que aconteceu.

Dei de ombros.

_ Os Comensais invadiram e tomaram a torre. Foi Snape quem matou Dumbledore – revelei, e os olhos de Maggie se abriram em choque. – Eles lutaram contra a Ordem e alguns alunos até que tudo estivesse feito. Em seguida fugiram e desaparataram – completei, sombria. – Hogwarts está destruída. E há boatos de que há gente de Voldemort infiltrada no Ministério – Maggie tremeu, mas não fez objeção alguma ao nome. – Daqui para frente, são tempos de guerra.

A apreensão estava estampada no rosto dela, e eu percebi que o problema que ela enfrentava ia além da preocupação com o lugar onde estudava. Margareth Richards era nascida trouxa, e era óbvio que a ideia de viver numa era pró-Voldemort era muito mais terrível para ela do que para o restante de nós. Ainda mais agora que seus pais estavam sem custódia alguma, desprotegidos, sem Dumbledore. Eles estavam expostos, muito mais do que ela, que se protegia atrás das muralhas do castelo. E mesmo em relação a isso eu não tinha as respostas que ela precisava. Como ficaria Hogwarts dali em diante? Seria reconstruída, para ser reaberta, ou seria fechada para sempre? Era perigoso continuar ali, no castelo que fora nossa segunda casa desde os onze anos? Continuaria sendo o lugar mais seguro do mundo para se proteger?

Eu sabia que não. Não havia mais portos seguros. Mas não me atrevi a dizer aquilo a ela. A voz de Maggie tremeu ao fazer a pergunta que resumia todas as outras:

_ Gina... O que vai acontecer com a gente agora?

Os olhos dela transbordavam lágrimas de medo, e eu a abracei. Eu não podia responder. Talvez Trelawney soubesse de alguma coisa no meio daquelas previsões trágicas e malucas. Mas eu não tinha afinidade nenhuma com a clarividência, e estava tão no escuro quanto Maggie.

_ Não sei – sussurrei, apoiando sua cabeça no meu ombro. – Só podemos nos preparar para enfrentar o que vier.

Suspirei o mais baixo possível por cima da cabeça de Maggie enquanto ela chorava copiosamente em meu colo. Encarei o céu negro e sem lua pela janela do dormitório. Não sei ao certo o que tinha em mente. Só mantive o silêncio, sem sentir sono ou cansaço, enquanto minha amiga enchia minhas vestes com suas lágrimas de desespero.

Maggie chorou e chorou, e por fim adormeceu exausta no meu colo. Recostei a cabeça na parede, as costas apoiadas nos travesseiros dela, e dei graças a Merlin pelo calor que fazia. Se estivesse frio, seria difícil continuar ali imóvel sem um cobertor, e eu com certeza acordaria Maggie. Mas era só com a tranquilidade dela que eu me importava ao agradecer pela temperatura. Porque não havia a mínima possibilidade de que eu conseguisse pegar no sono naquela noite.


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Notas finais do capítulo

Mais dois capítulos e estamos encerrando, meus amores...