Quando Ela Conta a História escrita por Hidden M


Capítulo 13
O vulto na torre


Notas iniciais do capítulo

Gente, me desculpe pela enorme e absurda demora em postar o capítulo, mas eu não conseguia escrevê-lo. É a cena mais difícil dos livros, e eu não sabia como terminá-la (dá pra ver pelo tamanho). Espero sinceramente que vocês gostem. Eu não parei de escrever a história, jamais vou deixar vocês! Obrigada por esperarem todo esse tempo. Aproveitem.



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Eu não podia perder Harry de vista. Ele corria como se algo o afligisse. Eu gritava seu nome enquanto descia as escadas, mas ele estava muito à frente. Mesmo parecendo impossível alcançá-lo, continuei correndo.

Mas eu tinha companhia. O Comensal ainda não se cansara do jogo, e não iria desistir de me matar tão fácil.

 _ Droga! – gritei, mergulhando atrás de uma pilastra. A maldição rachou o chão.

Ergui a varinha, enquanto a Felix Felicis me soprava uma ideia. Contei os segundos.

 _ Você não me escapa, garotinha... sei onde está...

Quando seus passos alcançaram meu esconderijo, rolei para o lado e apontei para a parede.

 _ Reducto!

Mas o grandalhão já conhecia o truque.

 _ Protego!

Vi o ódio em seus olhos e me preparei para atacar, mas novamente a Felix me ajudou. Entrei atrás de uma armadura no instante em que uma Comensal adentrava o corredor.

_ Mas o que está fazendo, Amico? Temos que ir agora!

_ Eu sei, Aleto, estou indo – rosnou ele aborrecido, e encarou a mulher, que desviou os olhos. Aproveitei a distração de ambos e passei para o corredor ao lado, murmurando um feitiço da desilusão às pressas.

O Comensal deu as costas à mulher.

_ Tenho um assunto a tratar – e cortou o ar com a varinha.

A armadura explodiu. Ele ergueu as sobrancelhas surpreso, e a Comensal se irritou.

_ Já teve seu show de mágica, Amico. Agora vamos – ela pegou o pulso do grandalhão e puxou com firmeza. – Ou prefere continuar nesse castelo caindo aos pedaços enquanto os outros ficam com a glória? – ela disse em tom de ameaça.

Ele cerrou os punhos.

_ Tudo bem. Mas eu sei que a garota estava aqui.

_ Ela pode ter desaparatado.

_ Ela não desaparatou, Aleto!  Quantas vezes eu já disse que não se pode aparatar em Hogwarts?

_ Faz diferença?

_ Cale a boca.

Quando o som da discussão sumiu por completo, desfiz o feitiço e sacudi a poeira das vestes. Eu devia a minha vida à Felix Felicis.

Foi quando me lembrei de Harry. Ele já estava muito à frente, mas eu sabia que ele fora para os jardins. Recomecei a correr.

Os corredores estavam vazios, mas eu podia ouvir os Comensais destruindo o Salão Principal e dando gargalhadas. A raiva me deixava indecisa; achar Harry ou acabar com eles? Acelerei ainda mais a corrida e, na pressa, acabei colidindo com a professora McGonagall.

Eu caí no chão, mas ela se manteve de pé e me ajudou a levantar, o olhar mais sério do que nunca.

Sacudi a poeira das vestes pela milésima vez.

_ Me desculpe, professora, eu não quis...

_ Tudo bem, Srta. Weasley, não há problema – ela cortou, seca. – Me acompanhe, por favor. Preciso de todos na enfermaria o mais breve possível.

_ Professora, eu... – tentei dizer, mas ela interrompeu mais uma vez.

_ É uma ordem.

_ Não estou ferida.

Ela encerrou o assunto com precisão.

_ Sem exceções. Sinto muito.

Trinquei os dentes, frustrada, mas concordei.

Ela saiu andando em passos firmes, e a segui como pude. A minha vontade era dar meia-volta e correr atrás de Harry, mas acompanhei McGonagall até a ala hospitalar, relutante. Eu não sabia o que acontecera com Harry, Gui tinha sido atacado e Luna desaparecera.  E eu estava indo à enfermaria sem um único ferimento.

Quando a diretora da Grifinória empurrou as portas, porém, a raiva toda se dissipou. Rony e Hermione vieram até mim e me abraçaram. Ela parecia aliviada em me ver. Rony, no entanto, tinha um ar um tanto calado, o que mostrava que ele estava preocupado. E aquilo não me acalmou.

_ O que aconteceu? – perguntei, olhando diretamente para ele.

Ele devolveu meu olhar, completamente tenso.

 _ Gui.

Meu estômago afundou. Eu tinha visto Greyback saltar por cima de Gui, o tinha visto caído, tinha visto o idiota do Malfoy passar correndo por cima dele, e mesmo assim não tinha ideia do que tinha acontecido.

_ Onde ele está? Ele... – não consegui terminar, olhando apavorada para Rony.

_ Não – respondeu ele sério, mais para si mesmo do que para mim. – Ele está vivo.

Ele e Hermione se viraram para o fundo da enfermaria. Madame Pomfrey tinha uma tigela nas mãos e cuidava um corte quase cicatrizado no rosto do Prof. Flitwick, que repetia sem parar que estava bem e que tinha que cuidar dos alunos da Corvinal. Tinha o olhar atordoado. Neville estava na cama ao lado, acordado, e fez um sinal para mostrar que estava bem. Tentou se levantar, mas Madame Pomfrey bradou:

_ Ora, menino, fique quieto. Uma taça de poção não é suficiente? 

Neville fez careta para o copo que ela enchia. O Prof. Flitwick aproveitou a oportunidade e pulou do banquinho onde estava.

_ Minerva! Por que a demora? Estamos aqui há horas!

_ Ora, não exagere, Filio – ela disse, movendo a mão num gesto de impaciência. – Eu estava cuidando dos alunos feridos.

_ Como eu faria, se me deixassem! – protestou ele, indignado. – A Corvinal precisa de mim, e quem garante que não estão feridos também?

Ela suspirou. 

_ Pomona, você pode liberar o Prof. Flitwick?

Madame Pomfrey lançou a ele um olhar de censura.

_ Professor, o senhor sabe que...

_ Sim, sei de tudo o que pode acontecer – e resmungou baixinho: - Como se uma tontura fosse motivo para deixar meus alunos...

_ Remo! – exclamou a professora de repente, encerrando a discussão.  Ele entrava apoiando Tonks, que mancava, e Luna vinha logo atrás. Ela sorriu e eu corri para abraçá-la.

_ Onde foi que você se meteu? Você estava do meu lado e de repente...

_ Eu estava lutando – disse Luna simplesmente, a voz distante como sempre. – Então os Comensais fugiram e o Prof. Lupin me encontrou. Tonks está ferida – ela falou para Madame Pomfrey, apontando para a maca onde Lupin a colocara. Ela segurou o pé da auror.

_ Tornozelo quebrado – ela disse com segurança. – e alguns cortes feios.

_ Minerva – chamou o Prof. Flitwick outra vez. – Estou bem. Cuidarei dos alunos da Corvinal.

_ Tudo bem, Filio – ela assentiu, e estendeu a mão para a porta. – Tem razão. Vá.

Madame Pomfrey fez uma careta de desgosto ao vê-lo sair. Atrás dela, Tonks já estava de pé, totalmente curada. 

Perguntei antes que ela dissesse qualquer coisa:

_ E o meu irmão?

Ela assentiu, como se se lembrasse de algo, e pegou a tigela outra vez. Eu a segui sem pestanejar até a última maca. Madame Pomfrey puxou as cortinas com força, irritada com McGonagall, e o rosto de Gui apareceu, pálido e desacordado, à luz da lua.

O choque me deixou paralisada de horror. Gui tinha feridas por todo o corpo, e as do rosto estavam amareladas de pus. O ungüento que Madame Pomfrey passava melhorava o aspecto dos cortes, que reabriam quase imediatamente. Além disso, o corpo dele exalava um cheiro horrivelmente familiar.

_ Greyback – sussurrei, os olhos vidrados.

Hermione afagou meu ombro em silêncio, solidária. Madame Pomfrey se ergueu.

_ A essência de murtisco – ela disse, mostrando a tigela vazia. – não resolve o problema, mas é o melhor que posso fazer. Nunca se viu um caso desses antes, e não tenho ideia do que pode acontecer – finalizou, sacudindo a cabeça em decepção.

Eu já não agüentava mais.

_ Professora – chamei, aflita. Ela olhava para a janela, preocupada, rígida como uma pedra, mas virou-se imediatamente. Sustentei seu olhar, séria. – Harry está nos jardins.

Rony inclinou-se para a frente, prestando atenção.

_ Eu o vi descendo a torre, ele atacou o Comensal que duelava comigo. Parecia perseguindo alguém.

McGonagall se levantou imediatamente. Era a deixa que ela esperava para deixar a ala hospitalar e correr para ajudar os alunos, exatamente como Flitwick fizera.

_ Se que quer vê-lo, Srta. Weasley, poderá me acompanhar. Também tenho algo a resolver. Preciso saber o que está acontecendo lá fora.  

Madame Pomfrey franziu os lábios, desgostosa.

_ Não devia liberar meus pacientes assim, Minerva.

_ É uma situação de emergência. Infelizmente, são medidas necessárias.

Rony se levantou também.

_ Vou com vocês.

Hermione segurou seu braço antes que ele se lançasse porta afora.

_ Não, Rony, ainda não.

Ele a encarou incrédulo, soltando-se da mão dela.

 _ Hermione, você ouviu mesmo o que a Gina disse? Harry está aqui! Espera que eu fique parado enquanto...

_ É, é exatamente o que eu espero! – Hermione exclamou, exasperada, num tom mais alto do que o dele. – Ou você acha que Harry vai escutar algum de nós? Ele deve estar lá fora, atrás dos Comensais, ou coisa pior! Sabe como é o Harry! Gina é quem tem mais chance de convencê-lo a vir...

_ E o Prof. Dumbledore não poderia?

_ Tenho certeza de que o Prof. Dumbledore apreciaria se Gina o ajudasse! Afinal, há muitas coisas a resolver no castelo, Rony, você sabe disso. E sabe que Harry vai querer saber o que aconteceu enquanto ele esteve fora, então é melhor que estejamos aqui para...

_Tudo bem, Hermione! – gritou Rony, se jogando outra vez na cadeira enquanto bufava como um gato enraivecido. – Entendi. Vamos ficar aqui sem fazer nada até que ele volte.

_ Rony, não é nada diss...

Um clarão nas janelas interrompeu a discussão, sobressaltando Madame Pomfrey. Ela sentou- se numa das camas e murmurou:

_ Por Merlin, em que essa escola se transformou...

Olhei alarmada para a professora, que fez um aceno de cabeça.

_ Pomona, cuide dos garotos. Vou verificar a situação.

_ Vá depressa, Minerva – disse Lupin. Tinha uma expressão preocupada no rosto, o que refletia todos os rostos na sala. – Todos nós precisamos saber o que está acontecendo.

Ela assentiu mais uma vez.

_ Srta. Weasley?

Lancei um último olhar para a cama de Gui. Voltei as costas para meus amigos e a acompanhei em direção à saída, tentando ignorar o estrondo do fechar das portas no corredor anormalmente vazio.

      **********************************************************************

A Profª McGonagall andava com incrível rapidez, a ponto de me fazer correr para acompanhá-la. Seu rosto era firme, mas dava sinais de cansaço que não mostrara na enfermaria. Mesmo com todos os cortes e ferimentos de batalha, ela não demonstrava a exaustão que eu via agora. Acabei por desviar o olhar. Eu me perguntava se teria a mesma expressão naquele momento.

Devido a seus longos anos em Hogwarts, a professora conhecia melhor do que muitos os caminhos da escola, e teve o cuidado de evitar armadilhas nas escadas e encontros com Pirraça. O som dos passos ecoava nos corredores desertos enquanto descíamos as escadas em alta velocidade. Não havia ninguém no caminho, já que a professora desviava dos Salões Comunais, mas o restante dos Comensais lutando lá fora era perfeitamente audível em qualquer ponto do castelo.

Viramos um corredor e estávamos no Salão Principal. Tomando cuidado para não tropeçar nos rubis que caíam da grande ampulheta da Grifinória, atravessamos o Salão; McGonagall alcançou as portas que davam para o jardim iluminado pela luz da Marca Negra e disparou para fora, enquanto eu corria em seus calcanhares. O clarão que tínhamos visto na ala hospitalar vinha da casa de Hagrid, que estava em chamas, e meia dúzia de Comensais da Morte corria em direção aos portões. Pela conversa dos dois Comensais, Amico e Aleto, eu sabia que iriam desaparatar no instante em que pusessem os pés fora de Hogwarts.   

McGonagall estava furiosa.

_ Ora essa – vociferou ela, puxando a varinha. – Eu vou mostrar a eles o que...

Ela parou tão de repente que quase trombei nela outra vez. Seus olhos se arregalaram, e ela arfou uma vez antes de baixar o braço. Olhei por cima de seu ombro, tentando entender a razão do choque.

O arrepio que senti foi tão forte que deixei cair a varinha. A dez metros, embaixo da Torre de Astronomia, havia um corpo. Alunos e professores se aproximavam da figura ali caída. Estava escuro, mas eu reconheceria a barba prateada em qualquer lugar. O Prof. Dumbledore estava morto. Caíra da torre, era o que todos sussurravam, e a Marca Negra pairava acima da Torre, dando à cena um ar sinistro.

Por um momento, eu me esqueci da batalha. Esqueci de McGonagall ao meu lado. Esqueci até mesmo de Gui. Quando vi o diretor de Hogwarts ali caído, senti como se tudo estivesse fora de foco. Me senti no lugar errado, na hora errada. Eu mal conseguia acreditar no que via. Eram de Dumbledore as palavras quando ninguém sabia o que dizer. Era ele quem sempre estava bem humorado e paciente. Talvez aquela fosse uma razão para não ter problemas com a morte, pensei, enquanto olhava para seu rosto tranquilo e sereno.

  Ainda assim, era como se um grande pedaço de Hogwarts tivesse sido arrancado. A escola jamais seria a mesma sem Dumbledore. O vento soprava, carregando os murmúrios daqueles que começavam a entender o que tinha acontecido. McGonagall tremia; eu mesma não tinha ideia da minha expressão.

  O rosto de Harry cruzou meus pensamentos e fiquei alerta imediatamente. O clarão na casa de Hagrid tinha sumido. Olhei na direção da cabana, mas não consegui enxergar nada.  Voltei os olhos para a multidão ao redor do corpo do diretor e localizei Hagrid com dificuldade. Ele estava parado ao lado do diretor, talvez há muito tempo, e poderia estar petrificado se não se mexesse de vez em quando. Parecia soluçar.

Desviei o olhar para a figura ajoelhada a seu lado e a reconheci imediatamente. Percebi, com um sobressalto, que ele devia estar ali há tempos, horas talvez, e eu não o notara. Ele ficava praticamente invisível na multidão; não só por estar bem mais baixo que o restante, como também por estar completamente imóvel. Harry sentiria aquela morte dez vezes mais do que eu; o choque, a tristeza e o desalento seriam seus sentimentos mais fortes. Sua determinação e força características estavam ali, evidentes em seu rosto, alimentadas pela raiva. Ele não sairia dali sozinho; não poderia se quisesse, e ele não queria. Hermione tinha razão mais uma vez.

A dor nos olhos dele me atingia, mais forte que meu próprio pesar. Eu precisava ajudá-lo. Não podia vê-lo daquele jeito.

_ Professora – chamei, sacudindo-a de leve. – Eu vou falar com Harry. A senhora...

_ Vá – pediu ela, acenando com a cabeça. Sua voz era um eco fraco do tom enérgico de sempre. – Vou providenciar um lugar para o corpo. Sim, farei isso – McGonagall suspirou, as lágrimas escorrendo pelo rosto.  – Pedirei ajuda a Hagrid. E gostaria que levasse o Sr. Potter até a enfermaria, Srta. Weasley – completou ela, a força em seu tom reaparecendo.

 _ Sim, professora.

  Virei as costas e andei rumo a Harry.

      *********************************************************************

    Não foi difícil abrir caminho entre professores e alunos estarrecidos. Ninguém reagia direito; saíam do caminho por reflexo. Coloquei a varinha no bolso de trás e avancei em silêncio. Estava cansada, faminta e em choque, mas havia muito a resolver. Me concentrei apenas em Harry.

  Ele estava exatamente do mesmo jeito que eu vira havia alguns minutos. Hagrid, porém, se recuperara do baque. Suas lágrimas corriam aos montes, mas ele fazia um esforço fraco para tentar remover Harry dali. Ele se recusava com veemência.

  _ Vem cá, Harry...

  _ Não.

  _ Você não pode ficar aí, Harry... agora vem...

  _ Não.

  Hagrid jamais o convenceria daquela maneira.

  Me apoiei em um joelho e peguei sua mão com firmeza.

  _ Harry, vamos.

  Ele cedeu, levantando-se e me seguindo quase sem resistência. Fitei seu rosto e percebi que não me enganara; ele estava arrasado. Seu rosto mostrava toda sorte de emoções: choque, tristeza, raiva, pesar. Eu o levei de volta ao castelo em silêncio. Sabia que ele tinha muito a pensar.

  As escadarias do castelo nunca pareceram tão compridas. Agora o silêncio era completo; os alunos estavam dormindo em suas casas, ou aglomerados em torno da Torre. De qualquer maneira, não seria uma boa noite de sono para ninguém.

_Vamos à ala hospitalar – avisei, lembrando-me finalmente que ele não prestava atenção alguma no caminho.

_ Não estou ferido.

_ São ordens de McGonagall. Todos estão lá, Rony, Hermione, Lupin, todo o mundo...

O medo atravessou seu rosto.

_ Gina, quem mais morreu?

_ Não se preocupe, não foi nenhum dos nossos – minhas mãos tremiam ao pensar na batalha.

_ Mas a Marca Negra... Malfoy disse que passou por cima de um corpo...

_ Passou por cima de Gui, mas tudo bem, ele está vivo.

Minha voz tornou-se sombria e ele percebeu.

_ Você tem certeza?

_ Claro que tenho... ele está meio... – eu me esforçava para encontrar as palavras, mas elas não saíam. –... meio avariado, é só. Greyback o atacou. Madame Pomfrey diz que ele não será mais o mesmo... – reprimi um soluço, um arrepio percorrendo meu corpo.  – Não sabemos realmente quais serão as sequelas... quer dizer, Greyback é um lobisomem, mas na hora estava sob forma humana.

_ Mas os outros... vi outros corpos no chão...

_ Neville está na ala hospitalar, mas Madame Pomfrey acha que vai se recuperar totalmente, e o professor Flitwick foi nocauteado, mas está bem, só um pouco abalado. Ele insistiu em sair para cuidar do pessoal da Corvinal. – eu já podia ver as portas da enfermaria a alguns metros, e a adrenalina da batalha ia dando espaço para a exaustão. - E há um Comensal morto, foi atingido por uma Maldição da Morte que o louro grandalhão estava lançando para todo lado... Harry, se não tivéssemos a sua Felix Felicis, acho que teríamos sido mortos, mas tudo parecia se desviar de nós...

Harry me ajudou a empurrar as portas da ala hospitalar; todos se viraram no mesmo instante. Hermione correu para abraçá-lo enquanto eu me juntava aos outros, todos em torno da cama de Gui. Eu só tinha olhos para ele.

Ouvi Rony perguntando a Lupin como ele ficaria. Esfreguei os olhos discretamente e tornei a prestar atenção na conversa.

_ Não, não acho que Gui vá virar um lobisomem de verdade, mas isto não significa que não haja alguma contaminação. São ferimentos malditos. Provavelmente não cicatrizarão totalmente... E Gui talvez adquira alguma característica lupina daqui para a frente.

Rony permaneceu em silêncio por alguns instantes, depois despejou sua revolta

_ Dumbledore talvez saiba alguma coisa que dê jeito. Cadê ele? Gui lutou contra aqueles maníacos por ordem dele. Dumbledore tem obrigações para com ele, não pode deixar meu irmão assim...

_ Rony – cortei antes que a expressão de Harry começasse a me torturar. – Dumbledore está morto.

_ Não! – Lupin gritou, alto o bastante para fazer que todos virassem a cabeça, o olhar de quem não acredita. Ele desabou numa cadeira, desconsolado. Ninguém sabia o que dizer.

_ Como foi que ele morreu? Como foi que aconteceu? - Tonks perguntou, a voz num sussurro.

_ Snape o matou. Eu estava lá e vi. – a voz de Harry se elevou sobre o silêncio na sala, o choque se transformando em ódio. – Voltamos para a torre de Astronomia porque vimos a Marca lá... Dumbledore estava mal, fraco, mas acho que percebeu que era uma armadilha quando ouviu passos rápidos subindo a escada. Ele me imobilizou, não pude fazer nada, estava coberto pela Capa da Invisibilidade... então, Malfoy entrou e desarmou Dumbledore...

Os outros reagiam às suas palavras, mas minha atenção não estava na história. À medida que Harry falava, um som, ao mesmo tempo doce e triste, adentrava as janelas. Eu não conseguia identificar de onde vinha o canto, mas ele aumentava a cada segundo.

__... chegaram mais Comensais da Morte... depois Snape... e Snape o matou. A Avada Kedavra.

A melodia ficava mais forte e nenhum dos outros parecia ouvi-la. Quando Madame Pomfrey começou a chorar, eu a interrompi, impressionada pelo som.

_ Psiu! Escute.

Era a mais bela música que eu já tinha ouvido, e também a mais melancólica. Por alguma razão, eu sabia que era uma fênix. Me lembrei de que Dumbledore tinha uma e imaginei se ela estaria cantando para ele, um lamento de despedida, para que todos pudessem aliviar sua tristeza junto com ela. A canção era o único som da sala; parecíamos estar todos sob seu encanto, tentando diminuir a maior perda que Hogwarts já sofrera em toda a sua história.

De repente, a professora McGonagall abriu as portas da enfermaria, e o transe foi rompido. Ela parecia ainda mais cansada. Sua expressão, porém, fez com que todos se aprumassem nas cadeiras. O choque da morte do diretor nos impedira de conversar direito, mas a professora Minerva iria querer saber sobre a batalha. Aliás, era o que todos nós queríamos.

Era hora de tentar entender o que acontecera na noite mais sombria de Hogwarts.


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Notas finais do capítulo

Quem já viu HP7 parte 2 levanta a mão!