O sol brilhava intensamente e o céu nunca esteve tão azul quanto quando Harry e eu saímos pela porta do castelo rumo a lugar nenhum. O incrível era que, por mais que eu dissesse isso a ele, Harry abria aquele sorriso e me dizia que não havia beleza nenhuma: eu era quem estava vendo cor e felicidade em tudo. E, ainda com a expressão mais satisfeita do mundo, perguntava "Eu tenho algo a ver com isso?", me fazendo rir junto.

  Ficamos na beira do lago por horas, encostados numa árvore. Com Rony bem longe dali, Harry não se incomodava em falar e me ouvir como se aquele fosse o último dia de nossas vidas - quando, na verdade, era só o primeiro. Contei a ele sobre o jogo, fazendo-o rir na narração da captura do pomo, o que deixou claro - e tirou um peso da minha alma - que ele não queria mais nada com Chang. Rimos um com o outro ao lembrar da estranha atitude de Rony na sala comunal, e de Hermione, armando todo esse tempo para ficarmos juntos.

  Eu não sabia se acreditava ou não que Harry Potter agora estava comigo. Que ele me amava, e que não iria me deixar por uma garota. Na dúvida, preferia aproveitar cada segundo ao lado dele. Passamos boa parte da tarde em silêncio, minha cabeça em seu ombro, seus braços ao meu redor. Aninhada no abraço dele, percebi que Harry me fitava com o mesmo olhar intenso que eu sempre notei no rosto dele quando eu o pegava me encarando. E percebi, deslumbrada, que era amor, simples e puro, como o amor que eu sentia por ele. Aqueles olhos verdes me diziam naquela hora tudo o que tinham escondido: Harry também me amava, também sempre quisera me beijar, também tinha sofrido ao me ver com outro. Meus olhos se encheram de lágrimas.

  A preocupação sumiu do rosto dele quando eu o beijei com toda a intensidade que pude a fim de aliviar a sensação que queimava dentro do meu peito. Ele retribuiu em emoção e carinho, confirmando todas os meus anseios. Assim como Harry era para mim uma parte inseparável, eu também era para ele. Nada mais me importava. E eu nunca me sentira tão feliz, nem tão jovem (pois é), nem tão impressionada.

  Como um beijo podia acalmar e tirar o fôlego ao mesmo tempo?

     ************************************************

  Já era de se esperar que uma notícia dessas se espalhasse pela escola como veneno de cobra, mas eu nunca imaginaria com que urgência. Comentei com Harry, Rony e Hermione em uma das poucas tardes em comum que tínhamos livres na sala comunal.

  _ Eu achava que as pessoas teriam mais o que fofocar - falei, segurando um Profeta Diário e ignorando o olhar de Rony. O que tinha de mais eu estar deitada nas pernas de Harry? - Três ataques de dementadores em uma semana, e só o que a Romilda Vane me pergunta é se é verdade que você tem um hipogrifo tatuado no peito.

  Rony e Hermione desataram a rir e Harry ignorou.

  _ Que foi que você respondeu?

  _ Que era um rabo-córneo húngaro - falei brincando. - Muito mais macho.

  _ Obrigado - ele riu. Ouvir o sorriso em sua voz era tudo o que eu precisava. - E o que você disse a ela que o Rony tem? - completou ele vingativo.

  Estava na hora de melhorar a situação.

  _ Um Mini-Pufe, mas eu não disse onde.

  Aquela foi demais para Hermione, que já chorava de rir. Rony me encarava, sério de repente. Pronto, lá vinha ele com a ladainha.

  _ Olha aqui - ele apontou para mim e para Harry - Só porque dei licença não quer dizer que não possa...

  _ Licença - repeti, revirando os olhos. Era só o que faltava. - Desde quando você dá licença para eu fazer alguma coisa? Aliás, foi você mesmo que disse que preferia o Harry ao Miguel ou ao Dino.

  _ Preferia mesmo - disse Rony com cara de quem daria tudo para não ter que dizer isso. - E desde que vocês não comecem a se agarrar em público...

  _ Seu hipócrita nojento! - exclamei, sem poder me controlar. Ele tinha realmente recomeçado aquela história toda por causa de uma brincadeira? - E você e a Lilá que ficavam se enroscando feito um par de enguias por toda a escola?

  A conversa parou por aí. Rony fechou a cara e desviou o olhar. Revirei os olhos numa careta, o que fez Harry rir.

  Infelizmente, o destino conspirava a favor de Rony. Era meu quinto ano, os N.O.M.s estavam chegando, e Hermione me repreendia toda vez que me via com o Harry por não estar estudando. Ela estava ficando muito parecida com Rony. Quem sabe a implicância de um curasse a do outro?

  Maggie voltara a falar comigo depois que comecei a sair com Harry. Ela parecia achar que ele ajudaria a me manter mais normal, e eu não fazia objeção. Mas, quando suas perguntas começavam a ficar pessoais demais, eu me recusava a responder. Eu sabia que teria que melhorar muito em disfarçar o ciúme, principalmente porque só o fato de estarmos juntos já chama a atenção. Além disso, eu e Hermione concordávamos que Harry era famoso demais para seu próprio bem.

  Por falar em Hermione, ela andava muito estranha. Bom, eu sabia que Hermione ficava estranha às vezes:  não dava para entender qual era o problema dela com o tal livro. Todas as vezes que eu ia na biblioteca fazer meus deveres, ela estava correndo de um lado para outro das prateleiras, murmurando "Prince" o tempo todo. Além disso, a busca não parava por aí: a sala de troféus, os arquivos dos jornais na sala de Madame Pince e até a sala de Filch era alvos de sua pesquisa.

  Mas não parecia ser isso o que a incomodava. Mais de uma vez, aparecia alguém quando eu estava por perto com um bilhete para Harry. Ele notava meu olhar e dizia ser uma carta de Dumbledore, e, sempre que dizia isso, olhava para Rony e Hermione. Eu sabia que o assunto era sério e que só os três sabiam do tal segredo, algo que Dumbledore e Harry discutiam em particular todas as vezes que aquele bilhete chegava. E eu sabia que ele dividia tudo com os dois, porque eu via Rony conversando baixo com Harry pelo restante do dia seguinte e Hermione com expressão apreensiva indo - como sempre - à biblioteca.

  Quando entrei na sala comunal, Hermione e Rony estavam sentados em duas poltronas lado a lado. Eles encaravam o fogo e pareciam estar me esperando, já que viraram as cabeças na minha direção assim que me aproximei. Hermione me encarava pronta para dizer algo, mas eu me adiantei.

  _ Onde está Harry?

  _ Em missão com Dumbledore - respondeu Rony. Eu nunca o tinha visto tão sério. - Sem mais detalhes.

  Nem discuti.

  _ E por que vocês estavam me esperando?

  Eles se entreolharam. Hermione suspirou.

  _ É melhor se sentar.