Sasuke ergueu as sombrancelhas surpreso, enquanto Sakura se encolhia atrás. Assustada, apertava com mais força a mão do Uchiha, que sutilmente, se posicionou na frente da rosada trêmula.

Karin, vendo aquela cena, jogou a cabeça para trás e riu sadicamente.

- Sabe, eu ainda não entendo porque a cabeça dessa vadia vale tanto. – ela comentou divertindo-se. – Mas que estamos aqui…

A ruiva, ainda com um olhar de profundo desdém, sacou um revóver de dentro de seu casaco e apontou para frente.

- Vamos Sasuke, você sabe que eu não seria capaz de estragar a sua incomparável beleza, então mova-se. – ela exigiu com uma expressão maligna. O contornou como uma predadora contornaria sua presa, ainda com a arma firme em suas mãos.

- Revólveres são proibidos na Akatsuki Karin, você deveria saber disso. – o moreno informou tentando analisar sua situação. Se concentrou ao máximo em ignorar Sakura, que tentava puxar ar para falar alguma coisa em vão.

- Eu não estou mais na Akatsuki, estou Sasuke? – a ruiva perguntou irônica. – Creio que eles me demitiram depois daquele incidente. – explicou áspera.

Sasuke não se manisfetou, nada que lhe vinha a mente parecia lógico. Lutar parecia impossível demais para se dar ao luxo de tentar, fugir também seria, no mínimo, inútil.

- Não se preocupe, isso logo vai se resolver, já que entregarei a eles a senhorita problema e o fugitivo rebelde. – Karin explicou, rindo com escárnio.

Sakura pigarreou nervosa, sua mão apertava, quase que involuntariamente, a do Uchiha. Tão desesperadamente, que os dedos pálidos do moreno já estavam ficando vermelhos e dormentes.

- VAMOS SASUKE! – a ruiva berrou, já impaciente. – MOVA-SE.

– Paciência Karin, você vai ter tudo o que quer. – ele disse, já com um plano em mente, que mesmo parecendo improvável e quase cruel, era o único que havia bolado em tão pouco tempo e sob pressão.

Ela bufou e carregou a arma.

- Suponho que eles me queiram vivo, certo? – o moreno perguntou prontamente, tentando manter a calma. – Se eu o conheço bem, Itachi não iria apreciar ver-me sendo machucado por uma ex-funcionária. Ainda mais com uma arma.

Pela primeira vez, Karin demonstrou apreensão, o que Sasuke dissera fazia sentido afinal. Ela bufou insatisfeita e firmou novamente o revólver em suas mãos.

- Eu irei com você sem resistir, com uma condição. – ele falou, sentindo a presença feminina em suas costas tremer.

- E a vadiazinha? – Karin perguntou furiosa. Aquilo não estava indo como ela planejara.

- Você poderá matá-la do jeito que quiser. – Sasuke afirmou, apertando a mão de Sakura, que exaltada, tentava soltá-la. Se ele pudesse ver os olhos esmeraldas dela, encontraria pânico e desespero transbordando em forma de lágrimas.

A outra, com a arma ainda pronta para atirar, ergueu as sombrancelhas surpresa e perguntou, desconfiada:

- Qual é a condição?

- Eu só preciso de alguns minutos a sós com ela, para que me faça um favor.

Karin deu um sorrisinho afetado.

- Sasuke-kun, você sabe que pode pedir esses favores para mim…

- Eu te dou o tempo necessário para que você arrume um ambiente, para que não possamos fugir. – ele continuou ignorando o comentário anterior e as unhas de Sakura cravadas nas costas de sua mão.

Ela franziu o cenho, seria assim tão fácil? Apesar de sua desconfiança, resolveu ceder ao pedido do Uchiha, já que não tinha mais nada a perder.

Após alguns instantes, Karin arrumou o quarto de Sakura para que não houvesse fugas, e trancou-a junto de Sasuke, lá dentro. Assim que a rosada se viu livre da mão que a prendia, correu para um canto do quarto e se abraçou, tentando conter seus soluços.

Desolada, pensava em como foi capaz de se iludir ainda mais em relação ao Uchiha, chegou mesmo a pensar que poderia salvá-lo? Que aquele abraço era sincero? Aquela hora, ela percebeu que foi tudo uma tentativa de voltar para um sonho, que – de fato – nunca aconteceu.

Ele realmente era apenas um assassino frio e incomunicável que apenas visava seus próprios objetivos e nunca seria capaz de ter algum sentimento por ninguém. E ela, agora lúcida, se arrependia demasiadamente por ter sentido algo além de ódio por ele. De ter cedido seu carinho e sua compreensão.

– Rápido, consiga aquela lista que lhe pedi. – Sasuke exigiu, pensando que o medo de Sakura fosse apenas por Karin.

Sakura arregalou os olhos, inconformada. O egoísmo de Sasuke ia além de seu entendimento, ele estava mesmo a pedindo alguma coisa antes de sua morte?

- Vamos Sakura, Karin não é muito paciente. – falou com sua tentativa de voz gentil.

Ele se aproximou, fazendo-a se afastar. A morte, naquele momento em especial, - diferente de vários outros de sua vida -, não lhe parecia boa. Ainda faltava muito para que ela pudesse morrer em paz, sem nenhum assunto pendente, ou nenhuma coisa por fazer.

Aquilo soava tão absurdo que ela simplesmente não poderia aceitar que morreria de um jeito tão patético, por um erro de julgamento, o qual ela sempre fora muito boa.

De repente, uma idéia lhe veio a mente, tão brilhante, que se tivesse vindo antes a teria ajudado de qualquer jeito.

A insuficiência social de Sasuke o impediu de perceber qualquer receio ou planejamento da parte de Sakura, que se acalmara tão de repente.

- Claro. Só um minuto. – ela disse com sua voz mais suave. Depois, pegou o laptop que estava em cima da cama e mandou um email para sua secretária, para que lhe mandasse a lista dos pacientes que possuíam insuficiência cardíaca.

Após alguns emails trocados, alguns aflitos da parte da secretária e outros extremamente mentirosos e engenhosos da de Sakura, a rosada conseguiu a lista.

Olhou sugestivamente para Sasuke, que a encarava com seus olhos ônix completamente neutros. Ela finalmente conseguiu enxergar ali, toda a manipulação e mentira, completamente óbvias, vindas de um assassino. Como enxergou da primeira vez, no labirinto, mas fingiu esquecer.

- Aqui está. – ela falou lhe entregando um papel com diversos nomes.

Sasuke apenas pegou e o analisou rapidamente.

– Perfeito. – ele murmurou e saiu do quarto, a deixando sozinha.

Aquele gesto foi a prova que ela precisava para saber que Sasuke estava falando a verdade quando disse que só precisava de uma coisa e depois a mataria.

Rapidamente, tentando colocar o seu plano em prática, fitou a janela e depois a altura do quarto para o chão, não era muita coisa para quem tinha descido uma árvore em uma velocidade fora do normal.

Respirou fundo e colocou os pés no parapeito, com sua mochila nas costas. Tentou achar alguma coisa na qual pudesse se apoiar, e, felizmente, encontrou uma árvore próxima.

Estava prestes a se apoiar na árvore quando sentiu um puxão pela blusa, que a derrubou.

- O que estava fazendo? – Sasuke perguntou assustado. Também havia caido com o movimento, e agora se encontrava sentado no chão fitando a rosada, sem entender nada. Ele finalmente havia bolado um plano para tirá-los daquela situação e ela estava estragando tudo?

Sakura bufou e respondeu áspera:

- Fugindo! Você não precisa mais de mim, certo?

O morenou arregalou mais os olhos e ficou sem palavras, sobre o que ela estava falando?

- Não se faça de desentendido. – ela desdenhou – Eu já entendi, você conseguiu o que queria, agora vai me mandar pra Karin… Só não espere que eu colabore com isso.

Logo depois de soltar suas palavras ousadas, levantou-se e se preparou para sair pela janela novamente, convicta de que já havia decorado os movimentos da fuga pela árvore.

Sasuke levantou-se também e a observou divertindo-se, ela havia entendido tudo errado e aquilo era ironicamente engraçado.

- Sakura. – chamou. – O que eu te disse antes sobre te matar?

- Que você não ia. – ela respondeu sem virar-se. Onde ele queria chegar? Aquilo só provava o quanto ele era mentiroso. – E que se quisesse, já teria matado…

- Exatamente. – Sasuke afirmou. – E se eu não vou te matar, obviamente não deixarei que Karin faça.

Sakura virou-se e o fitou incrédula., tentando guardar o sorriso que estava prestes a formar.

- Os lucros seriam dela. – ele explicou assim que percebeu o que havia dito e o efeito que causou a ela.

Mas era tarde demais, Sakura já tinha percebido. Ela finalmente notou que ele não queria matá-la, não conseguia. E mais do que isso, a protegeria se fosse necessário.

Ela não conseguiu conter a felicidade que lhe subiu e deu um sorriso de satisfação, que aliviou Sasuke no mesmo instante, apesar dele estar irritado com sua indiscrição.

Sakura não sabia mais o que pensar, acreditar em sua capacidade reflexiva, onde todos os aspectos apontavam para um Sasuke mal e manipulador, ou confiar no seu coração, que lhe dizia, com todo o seu ar, que ele era uma pessoa boa.

Aquela confusão, aqueles conflitos e decisões em sua mente, lhe pareciam deveras cansativos e inconvenientes. Ela não queria ter que pensar naquilo tudo de novo, não queria ficar mais em dúvida sobre quem era Sasuke, havia se cansado de tentar desvendar os olhos ônix hipnotizantes.

“Sempre siga o seu coração.” – eram as palavras que ecoavam em sua mente naquele momento, foi com esta frase que sua mãe biológica se despediu dela, pouco antes de falecer. Deixando-se guiar pelas sábias palavras da mãe, decidiu, depois de tantos devaneios, confiar em seus sentimentos. E, de uma vez por todas, resolveu deixar que o tempo lhe contasse se sua decisão estava certa.

Satisfeita e temerosa com sua convicção, suspirou e ampliou seu sorriso, fitando a expressão de dúvida do homem a sua frente.

Sasuke não fazia idéia de tudo o que estava passando na mente de Sakura, e o motivo de estar sorrindo em uma situação como aquela. Por isso, apenas bufou e ergueu a mão, para que ela a pegasse.

- Você vai ter que fazer tudo o que eu disser. – ele informou. – Confia em mim?

Agora, mais do nunca, ela confiava. Acenou de leve com a cabeça e corou, indo na direção do Uchiha.