- Você já atendeu algum paciente que tinha insuficiência cardíaca? – ele perguntou, demonstrando um mínimo de ansiedade.

– Lógico! Eu sou cardiologista. – ela respondeu divertindo-se com o repentino anseio de Sasuke.

Idéias vieram como uma onda sem fim na mente de Sasuke, finalmente tudo parecia fazer mais sentido. Era tão óbvio, como não pensara nisso antes? Ele se perdeu totalmente em suas teorias, absorto em pensamentos que eram apenas suposições.

- Sasuke? – Sakura o chamou após alguns minutos.

- Eu preciso da lista de todos os seus pacientes que sofrem disso. – ele informou, segurando o sorriso que estava prestes a se formar.

– Mas… Por quê? – ela questionou sem entender. Por um momento, ficou completamente encantada com o entusiasmo do Uchiha, ela sabia que ocasiões como aquela não aconteciam frequentemente, então não hesitou em manter o sorriso em sua face.

- Só faça isso e você estará livre mais rápido do que pensa. – ele respondeu congelando sua expressão novamente.

- Certo… Eu… Farei. – ela concordou se levantando.  – Ei, Sasuke… - o chamou quando ele já estava com o laptop no colo novamente, digitando freneticamente, excitado com sua nova teoria.

Ele ergueu os olhos e a fitou.

- É… Me desculpe por ontem. – Sakura pediu fixando o olhar no carpete. – Eu não tinha o direito de…  - sua voz falhou.

Sasuke ergueu as sombrancelhas, pego de surpresa. Ele estava crente de que aquele assunto não seria comentado.

– Tudo bem. – ele se forçou a dizer quando a viu totalmente indefesa naquela situação totalmente constragedora e um tanto humilhante.

- O que? – a rosada perguntou incrédula, agora o encarando. O vermelho em suas bochechas ainda não havia sumido.

– Está tudo bem. – Sasuke repetiu com uma expressão indecifrável. – Você não precisa se desculpar… Eu… Obrigado.

O queixo de Sakura desceu lentamente e ela simplesmente não acreditou no que tinha acabado de ouvir. Uchiha Sasuke, o misterioso assassino que havia demonstrado ser totalmente frio e arrogante estava a agradecendo?

Ela ficou um tempo ali, piscando os olhos depressa, achando que aquilo era apenas uma visão criada por sua mente. Encarava a figura de Sasuke, agora com a cabeça virada para o outro lado, supostamente concentrado em seu laptop. Naquele instante, ela finalmente foi capaz de entender as palavras de Kakashi. Era possível mudá-lo afinal. E seria realmente um desafio, como ela havia pensado.

Sakura não podia perder essa oportunidade de começar a desvendar os olhos negros de Sasuke, afinal, ele poderia voltar ao normal a qualquer instante, ela não podia se dar ao luxo de esperar.

Deixando essa idéia tomar conta dela, sentou-se furtivamente na poltrona, o encarando.

- Posso te fazer uma pergunta? – ela pediu encantada com a sua oportunidade. – Eu vou entender perfeitamente se você não quiser responder…

Sasuke estava com a cabeça virada e não a encarou quando acenou de leve, permitindo que ela continuasse.

– Sabe, na minha profissão, eu ocasionalmente tenho que avisar as pessoas quando elas estão com uma doença sem cura. – Sakura começou cabisbaixa, tentando, sem sucesso, encontrar os olhos do moreno. -  Sempre quando eu faço isso, eu me sinto como se… Como se eu estivesse as sentenciando a morte. Então eu simplesmente não consigo dormir. Você… consegue? Sabe, dormir depois de… É… Matar alguém?

Sasuke não respondeu. Apenas ficou refletindo sobre o que ela havia dito e percebeu que aquela informação sobre ela não era facilmente adquirida, e de um modo peculiar, se sentiu especial.

Sakura sabia reconhecer quando alguém não se sentia confortável para responder uma pergunta, ainda mais uma como aquela, que de certo modo, era íntima. Então, levantou-se e se afastou.

– Não. – Sasuke murmurou quase inaudível, mas alto suficiente para Sakura ouvir quando já estava prestes a subir as escadas.

Ela sorriu maravilhada e subiu satisfeita para o quarto para providenciar as informações pedidas por ele. “Ele é realmente um humano.”, ela concluiu quando entrou e refletiu sobre o que aconteceu.

Sakura levou as mãos na cabeça, esperando conter todos aqueles pensamentos e sentimentos que voltavam tão involuntariamente como intrusos. Não, não era possível, ela havia os lacrado assim que tinha descoberto que Sasuke era um assasino. Então por que, de repente, seu coração parecia rever todas as caracteristicas do tão cruel assassino, que até então eram consideradas ruins?

Por que toda a misteriosidade dele agora lhe era sedutora? Por que sua frieza, palpável, parecia clamar por um calor? Como sua grosseria passou a ser charme? E a sua palidez morta, um marfim vivaz?

Ela bufou confusa. Aquelas infinitas horas que passou pensando nele no passado voltaram para debochar dela, a condenado pela eternidade. “Ele não é aquele homem que te chamou para sair Sakura, ele é o que tentou te matar.”, ela pensava tentando se convencer. Então, por que, sabendo daquilo, os seus sentimentos não mudavam?

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Sasuke estava apenas com a companhia de seu ódio por si mesmo no andar de baixo. Como ele, um homem que sempre fora tão irredutivelmente orgulhoso e superior, havia se rebaixado daquele jeito? Não, aquele não era Uchiha Sasuke, não mesmo.

Ele não era assim, não levaria uma vítima para a casa de Kakashi apenas por proteção, nem tentaria descobrir o verdadeiro motivo de sua sentença. O que estava acontecendo? O moreno não se entendia mais, se perdera totalmente em sentimentos que ele ao menos conhecia. 

Sasuke pegou o pingente de cereja no bolso de sua calça, desde que o achou, não conseguiu manter-se longe. O admirou, imaginando como se desfaria daquele pequeno objeto que de alguma forma estranha, o fazia menos infeliz. Bufou com sua conclusão e voltou a escrever suas teorias.

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Sakura tentava, sem sucesso, se comunicar com sua secretária para que ela pudesse lhe passar as informações exigidas por Sasuke. Após várias tentativas em vão, ela desistiu e resolveu sair do quarto, que já estava tirando seu ar.

No corredor, seu olhar se fixou na porta do cômodo desconhecido, que a seduzia para ir investigá-lo. Dominada pela curiosidade, andou sedenta até a porta, e girou a maçaneta lentamente. Kakashi não estava em casa, seria fácil entrar e sair sem problemas.

Assim que viu o que havia dentro do quarto, arrependeu-se completamente por sua invasão. Aquilo era pessoal, íntimo demais. Imediatamente pensou que ela não tinha o direito de estar ali.

Seus olhos se umideceram alguns segundos depois. Sakura não se mexeu, apenas ficou se torturando vendo um quarto de bebê perfeitamente arrumado. Suas lágrimas agora escorriam pelo seu rosto, ela sabia muito bem o que aquele quarto significava.

Cambaleou até um criado-mudo que estava ao lado do berço e comprovou sua teoria ao ver o retrato de uma família. Reconheceu Kakashi sorridente e, ao seu lado, encontrava-se uma mulher muito bonita com um bebê em seus braços.

Sakura soltou um gemido triste e recolocou o retrato no móvel, como se tivesse a queimado. Seria possível que Kakashi era sozinho por que sua família morreu, ou o abandonou?

A compaixão e pena por Kakashi tomou conta da rosada. Ela entendia como era perder a família.

- Você não deveria estar aqui. – ouviu uma voz congelante por trás.

Não se deu o trabalho de vira-se. Apenas continuou paralisada, tentando absorver toda aquela situação.

- Sasuke… - sua voz falhava. – O que aconteceu?

- Não interessa. – ele respondeu impaciente, precisava das informações que pediu antes.

Sakura se virou e ele pôde ver as lágrimas rolando descontroladamente sobre as delicadas curvas do rosto dela. Aquela imagem o destruiu, de tal forma, que seu único desejo na hora era vê-la rir novamente.

- A família dele morreu… - ele explicou.

Aquela informação só fez com que Sakura começasse a soluçar.

– Mas… Como?

Sasuke, desesperado, se aproximou e tentou manter seu olhar nas duas orbes esmeraldas marejadas.

– Foram assassinados. – ele informou tentando ser suave.

Ela arregalou os olhos e negou com a cabeça, aquilo era horrível demais.

– Por quê? – ela perguntou entre os soluços. Nenhum motivo seria o bastante, nada justificava aquilo.

O Uchiha, sem saber o que fazer, colocou a mão no ombro dela, tentando confortá-la, já que não aguentava mais vê-la chorando. Por que aquelas informações a faziam tão mal?

Sakura sentiu o calor daquela mão e, por um instante, tudo pareceu mais simples. Ela encontrou, naquela sensação, um conforto necessário e ao mesmo tempo, incomum. Incoformada com o seu repentino sentimento, fechou os olhos, tentando se concentrar. Ela se recusaria a sentir outra coisa que não fosse tristeza e incompreensão naquele momento.

- Por quê? – ela repetiu sem fitá-lo.

Sasuke bufou, aquela parte da história não a faria mais feliz, mas sabia que se não respondesse, ela não desistiria até saber.

- Kakashi trabalhava para a Akatsuki, onde eu trabalho agora. – ele começou deixando sua mão cair ao lado de seu corpo. – Ele estava insatisfeito com o novo líder da organização, então decidiu sair. Por isso, contou tudo para a sua mulher, para que ela aceitasse a mudança de país. Mas, tal revelação era considerada delito máximo na nova política da Akatsuki. E, por isso, resolveram matá-lo, junto com sua família.

Sakura fitava o chão, sem expressão.

- Obviamente não conseguiram matar ele, mas o deixaram com uma cicatriz, que hoje ele cobre com aquela máscara... – ele continuou tentando imaginar o efeito que tudo aquilo teria sob a rosada. – Como você já deve ter suposto, não tiveram piedade de sua mulher e filho, por isso estão… Mortos.

Assim que terminou, ele viu o punho de Sakura vindo violentamente em sua direção e, surpreso, não conseguiu desviar. O golpe o afetou diretamente no rosto, fazendo com que o seu corpo cedesse e ele caisse no chão, com o nariz prestes a sangrar.

- COMO VOCÊ CONSEGUE TRABALHAR EM UMA ORGANIZAÇÃO ASSIM?! – ela berrou vermelha, ainda com o rosto molhado.

Depois, simplesmente saiu correndo porta a fora. De tudo o que ela teve que acreditar nos últimos dias, aquilo era de longe o mais abominável. Sakura precisava sair dali, se livrar de toda aquela sujeira na qual se metera.