Apesar de Percy ter passado o resto da noite de olho em Annabeth, ela não o viu mais graças a Ashley.

Quando finalmente chegou em casa, Annabeth se jogou em sua cama sem ao menos tirar o tênis. Não por cansaço, ela estava distraída, fazendo o que tentou evitar a semana inteira: Pensando em Percy.

Ela podia jurar que a semana que passaram sem se ver não tinha apagado sequer uma linha do rosto de Percy de sua mente, mas agora ela via que estava enganada. Ele mudara demais pra apenas uma semana. Jogou o cabelo de lado, o sorriso estava menos debochado, mas o que havia feito Annabeth parar e pensar foram os olhos de Percy que já não brilhavam tanto quanto ela lembrava. Talvez por estar escuro...

Logo sua mente afastou a fisionomia de Percy do primeiro plano e começou a maquinar suas “estratégias de batalha”. Um mês pro verão acabar e ela não tinha feito nada ainda. Chegou a pensar em ficar até o próximo verão, mas ela tinha sua vida em Louisiana, não que ela gostasse de lá, mas sua avó tinha vários problemas de saúde e não se importou em ficar sob os cuidados da vizinha pra que ela pudesse viajar.

Acabou adormecendo pensando em seu plano.

Há algumas quadras dali, Percy adormeceu horas mais tarde, no quarto de Ashley, pensando em Annabeth. Melhor dizendo, tentando não pensar. Mas ele tinha que pensar. Precisava de um jeito convincente de pedir desculpas. Annabeth sempre o acusara de ser cabeça dura, mas Percy estava começando a achar que ela não ficava muito atrás.

Seus olhos caíram até Ashley, já adormecida em seus braços e ele se lembrou do dia que Annabeth dormira com ele. Sentiu raiva de Annabeth de novo. Já estava cansado de tanto pensar nela, porque diabos ela não saia de sua cabeça? Uma consciência não podia pesar tudo isso, podia?

Em mais uma tentativa de tirar Annabeth da cabeça, ele escondeu o rosto nos cabelos negros e lisos de Ashley.

“Tão diferente do da Annab... Droga!” – Ele pensou.

Quando inspirou, veio o cheiro de uva do shampoo de Ashley.

“Gostoso... Mais qual seria o cheiro dos cabelos de Annabeth?” – Percy perguntou-se mentalmente e começou a xingar-se em seguida.

Aquilo já estava ficando ridículo.

Ashley aconchegou-se mais perto de seu corpo e Percy sentiu o estômago afundar.

Não devia estar ali. Por três motivos: o pai de Ashley estava no quarto ao lado, ele não amava Ashley e Annabeth não o deixava dormir.

Pensou em se levantar e ir embora, assim, na calada da noite. Mas seu estômago afundou mais um pouco.

Não podia fazer isso com Ashley. Não depois de tudo o que eles fizeram naquela cama.

“Droga, desde quando você tem escrúpulos, Perseu?” – ele se perguntou mentalmente, com raiva de si mesmo.

Passou o resto da noite deitado, mas não conseguiu dormir direito. Quando o sol nasceu, ele achou melhor ir embora. Levantou com cuidado e calçou o tênis, sairia pela janela mesmo.

“Ligo-te mais tarde.” – ele escreveu no bloquinho na cabeceira da cama de Ashley e se esgueirou pela janela deixando uma nota mental pra que se esquecesse de ligar.

Eram pouco mais de seis da manhã, segundo seu relógio, achou melhor ir pra casa tentar dormir ou aproveitar que sua mãe não estava em casa.

Annabeth por sua vez, acordou tarde. Não que tivesse tido uma noite boa. Teve três vezes o mesmo sonho: Percy a beijava e Mike corria atrás de ambos com um facão de cozinha nas mãos.

Surpreendeu-se quando viu seu relógio marcando dez e vinte e três da manhã. Passou mais alguns minutos deitada em sua cama, pensando de novo. Teve uma idéia, não era das boas, ela nem sequer via uma possibilidade pra que funcionasse, mas ela tentaria. Ligou pra sua amiga Thalia.

- Por mais que eu não queira te envolver nisso, eu vou ter que te envolver. – ela disse logo que Thalia atendeu o telefone.

- Bom dia pra você também, Jenny. Eu to bem e você? E em que você não quer me envolver?

- Não me chama de Jenny.

- é seu segundo nome não é?

- Sem piadas.

- Qual o real motivo da ligação?

- Seu pai.

- Meu pai?

- Sim.

- Que tem ele?

- Seu pai é advogado.

- Grande descoberta. – Thalia disse com sarcasmo.

- Haha. Ele está de férias?

- Acho que sim, por quê?

- Preciso dos serviços dele.

- Pra quê?

- Caso Percy Jackson.

- Annabeth, me explica isso.

- Pergunta se seu pai vai atender meu caso.

- Que você está planej... Annabeth Jennifer Chase, me diz que você não está querendo tirar o pai do cara da cadeia.

- Thalia Celine Grace eu pretendo tirar o pai do Percy da cadeia.

- Ah meu Deus, porque isso?

- ah, é que até onde eu vi, o Percy “se desviou” depois que o pai foi preso, então...

- Você é doida de pedra, sabia?

- Já me disseram algo parecido.

- Annie, isso é loucura.

- Eu sei.

- Porque você se importa tanto com ele?

- Isso eu não sei.

- Annie, para e pensa! Você sempre foi tão ajuizada, que está acontecendo com você?

- Isso eu também não sei. Mas fala com seu pai aí, vai!

- Tá. Daqui a pouco eu te ligo.

Nesse meio tempo, Annabeth foi até a cozinha e encontrou Mike com a tal faca que ela sonhara na mão, não pode conter o grito em sua garganta fazendo Mike derrubar a faca que por centímetros não caiu em seu pé.

- Menina você endoidou? – Mike perguntou sobressaltado.

Annabeth se sentou na cadeira mais próxima, arfando.

- Tive pesadelos com essa faca.

- Isso é motivo pra você querer me matar?

- Desculpa.

Annabeth desistiu do seu café e tomou apenas um copo de suco e voltou pro quarto, esperando a ligação de Thalia que só aconteceu dez minutos depois.

- Você quer as palavras do meu pai tim-tim por tim-tim? – Thalia perguntou tentando segurar o riso.

- É, eu prefiro. – Annabeth respondeu apreensiva.

- “Então a Annabeth arrumou um namorado em Miami é? Hm, eu...”

- NAMORADO? Que isso, Thalia, que diabos você falou pro seu pai?!

- Cala a boca e ouve. – Thalia rebateu ainda segurando o riso. – “Então a Annabeth arrumou um namorado em Miami é? Hm, eu posso tentar ajudar e fala pra ela que não vai custar nada, porque ela sabe que ela é como uma filha pra mim.”

- Namorado, ora essa. – Annabeth remoeu revoltada.

- Foi minha mãe que ficou felizinha e saiu disparando que você estava namorando.

- Me mato antes de namorar aquela coisa.

- Tem certeza?

- Que você quer dizer com isso?

- Você tá obcecada demais no tal do Percy.

- Não to não.

- Está sim, amiga.

- Não to!

- Não me interessa o que você disser. Pra mim, você está se...

- Nem ouse dizer que eu estou apaixonada pelo Percy, Thalia Grace.

- Ok, não digo... Mas que você está, ah está!

- Chega! Me fala, o que seu pai vai precisar e quando vocês vão vir pra cá?

- Ele só precisa da papelada do processo, sabe como é, pra saber a quantas anda e tal. Mas vai, me conta o plano.

- Quem disse que tem plano? Estou agindo conforme aparece a idéia.

- Nossa.

- Pois é, eu enlouqueci.

- Olha o que o amor me faz, fiquei tão boba, fiquei assim... – Thalia cantou aos risos.

- Não tem graça.

- Aposto que você está com as bochechas vermelhas!

- Hoje você está um terror, sabia?

Thalia simplesmente riu.

- Bom, eu vou tentar conseguir essa papelada, depois te ligo.

- Ok.

Annabeth desligou o telefone e logo em seguida a campainha tocou. Ela abriu a porta do quarto e viu Mike abrir a porta.

- Hey Percy!

Annabeth bateu a porta do quarto imediatamente e voltou pra sua cama. Não conseguia mais ouvir Percy e Mike, mas ouviu passos pelo corredor. Ela se levantou a tempo de ver uma folha de papel ser empurrada por debaixo da porta.

Ela pegou o papel e sorriu, foi até sua escrivaninha e escreveu a resposta no verso daquela folha.

E empurrou a folha de volta.

Segundos depois, a mesma folha voltou. O mesmo verso se foi.

Annabeth estava encostada na porta e sabia que Percy também estava.

Outra folha entrou por debaixo da porta.

“Qual seu filme favorito?”

“Porque você quer saber?” – ela escreveu no verso.

“Só me fala.”

“Titanic. E não ri”

Foi inútil, ele riu.

“Titanic?”

“Eu falei pra você não rir.”

“Mas Titanic é ótimo”

Ela não respondeu. Outra folha entrou em seu quarto minutos depois.

“Quer passar uma noite em outra cidade?”

“Como assim?”

“Eu e você em outra cidade por uma noite. Topa?”

“Tem alguma coisa haver com sexo selvagem na mesa da cozinha?”

Ela ouviu ele rir de novo e sorriu.

“Só se você quiser.”

Ela sorriu de novo e abriu a porta do quarto sem aviso prévio, Percy quase caiu em cima dela.

- Que proposta foi essa? – Ela perguntou sem hesitar.

- Eu não falei pra você tirar a escova?

- Desde quando eu te obedeço?

- Enfim, qual a sua resposta?

- Que cidade? Quando e por quê?

- Não sei, não sei e não sei. Mas e aí, rola?

- Porque eu deveria aceitar?

- é meu jeito de pedir desculpas.

- Como você está pensando em ir? Se formos, onde passaremos a noite?

- Não sei de nada, acabei de pensar nisso. – ele disse com um sorriso.

- Planeje direitinho tudo isso, depois você vem falar comigo, ok?

- Isso é um sim?

- Não. – ela disse sorrindo e fechou a porta na cara de Percy.