By The Way escrita por Ducta


Capítulo 15
Down to Earth


Notas iniciais do capítulo

down to earth - Justin Bieber



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Naquela manhã, Annabeth acordou com o barulho da porta da sala sendo fechada com força demais. Se levantou assustada e correu pra sala a tempo de ver Mike cair no chão. Ele estava bêbado, sua camisa rasgada e os braços cheios de marcas roxas.

- Droga. – Ela murmurou indo ajudar o irmão a se levantar. - Mike, você está bem?

- Hm?

Mike tinha o olhar vago, um sorriso bobo e cheirava a várias coisas que Annabeth não conseguiu reconhecer, mas era óbvio que ele havia misturado vários tipo de bebidas com vários tipos de drogas.

- Annie... Eu... Eu quero dormir.

- De jeito nenhum. Se você tiver outra overdose você morre. Quando isso vai entrar na sua cabeça?

- Mas... Mas eu to com... Com sono. Eu... Eu dancei demais.

- E bebeu demais e se drogou demais. Você faz tudo demais, Michael! – Annabeth reclamou tirando a camiseta do irmão.

- Ah, tem que... Tem que curtir a vida. Quando morrer... Quando morrer não vai dar pra... Pra fazer nada! E não... Não me chama de Michael que... Que eu não gosto.

- Não precisa adiantar tanto sua morte, Mike! Vai tomar banho!

- Você tá... Tá igual a mamãe... Sabia?

- Você ainda lembra da sua mãe?

Os olhos de Annabeth se encheram de lágrimas.

Ela observou enquanto Mike caminhava com dificuldade até o banheiro e depois sentou no sofá, as mãos cobrindo o rosto, lembrando de todas as vezes que ela vira sua mãe dando banho em Mike, quando ele voltava bêbado ou drogado da escola.

Se perguntou onde estaria seu pai. Será que ele tinha voltado pra casa durante o fim de semana?

Sua cabeça começou a doer e ela não tentou conter as lágrimas.

Lembrou-se dos meses em que mal ficava em casa por conta dos pais não quererem sair do hospital, lembrou-se de quando olhava Mike deitado imóvel e pedia pra que ele vivesse, contava histórias pra ele. Lembrou-se de quando encontrou o corpo de sua mãe, dia que seu pai a deixara, de quando Mike a deixara, dos anos na clínica psiquiátrica, da dificuldade de cuidar da avó doente que teimava em querer trabalhar pra dar uma vida melhor a Annabeth...

Saiu de seu transe e voltou pro seu quarto onde se vestiu sem nem se importar pro que estava vestindo. Ou viu Mike escorregar no banheiro, mas não fez nada mais que suspirar.

Seu celular tocou, era Thalia. Annabeth não deu chances pra amiga falar e logo passou o endereço da casa de seu pai, implorando pra que Thalia viesse o mais rápido possível.

Thalia, preocupada com a amiga, não hesitou em correr.

- Thalia. – Annabeth disse abraçando a amiga assim que ela chegou.

Thalia era pouco mais alta que Annabeth, tinha cabelos negros e lisos na altura dos ombros e franja, seus olhos azuis marcados com delineador, contrastando com a pele quase translúcida.

- Annie o que...

- Só me acompanha.

- É bom te ver também.

Annabeth não disse mais nada enquanto puxava Thalia.

- Aonde nós...

- Chegamos. – Annabeth disse parando de repente de frente a um portão cinza.

- Que lugar é esse?

- A porta está aberta. – Annabeth disse adentrando a casa vazia.

Ela correu direto ao quarto que ela já conhecia e o encontrou lá, dormindo de jeans e tênis. Thalia ficou parada, encostada na parede do corredor ainda analisando o lugar.

Lágrimas começaram a correr pelo rosto de Annabeth quando seu olhar desceu até o braço de Percy que estava pendurado pra fora da cama.

- Annie? – Thalia chamou em voz baixa.

- Vem ver. – Annabeth chamou também em voz baixa, tentando segurar as lágrimas.

Thalia se aproximou do batente da porta e seguiu o olhar de Annabeth. Levou as mãos à boca quando se assustou com a dimensão das manchas roxo-esverdeadas espalhadas pelo braço do garoto.

Annabeth se aproximou da cama e se ajoelhou.

- Vê o que eu te digo? Ele passou o fim de semana comigo. Fumou pouco, resistiu sem álcool e nem sequer mencionou drogas. – Annabeth sussurrou e mais lágrimas caíram. – Mas foi só a gente voltar e ele fez isso.

Thalia não se moveu.

- É o Percy? – Ela sussurrou mais chocada que surpresa.

Annabeth assentiu.

- Oh Annie, mas você tem que ir com calma. Ele é viciado, não deve ser fácil pra ele largar.

- Eu sei... Mas, ele não tenta. Ele não quer ficar sem isso.

- Então...

Thalia foi interrompida porque Percy começou a se mexer. Thalia saiu logo do quarto, Annabeth só conseguiu chegar até o batente.

- Annie? – Percy chamou sem abrir os olhos, a voz falhando.

- Percy. – Ela disse engolindo seco.

- Porque você está chorando? – Percy perguntou abrindo os olhos.

Então ele seguiu o olhar de Annabeth e viu seu próprio braço.

- Droga! Annie eu...

- Não. Não me diz nada. – Annabeth disse dando as costas.

Percy se levantou rápido e ficou tonto, sua visão ainda estava embaçada.

- Desculpa.

- Você não tem que me pedir desculpas. Peça a sua alma e ao seu corpo.

Annabeth puxou Thalia pelo braço e logo elas saíram da casa, deixando um Percy revoltado consigo mesmo pra trás.

Annabeth só parou de correr quando chegou à casa de seu pai e se sentou na calçada, escondeu o rosto nas mãos. Thalia sentou ao seu lado e abraçou a amiga.

- Não gostei de ter conhecido ele nessas circunstâncias.

- Você viu o que ele faz com ele mesmo? Vê como ele é difícil!

- Annie entende, deve ser difícil pra ele ficar sem se drogar. Ele é viciado.

- Eu tenho medo Thalia!

- Medo de que Annie?

Annabeth hesitou.

- De ele ter uma overdose. Medo de ele morrer. Tenho medo de perder.

Thalia hesitou sob o olhar choroso da amiga. Era mais sério do que ela pensava.

- Cadê a Annie com a teoria de que “drogados não são coitados coisa nenhuma”?

- O Percy é só fraco. Por isso que eu tenho medo.

- Você gosta dele?

Annabeth a olhou.

- Ama ele?

- Não. De jeito nenhum.

- Seu medo maior é de estar gostando dele, isso sim.

Annabeth odiava a maneira rápida com que Thalia percebia as coisas e odiava mais ainda seu jeito cruel de dizer verdades.

- Eu não amo ele, não gosto dele, nem nada! Não dá pra gostar dele! Ele é muito idiota, infantil, irresponsável! Ele vai ser pai e nem parece se importar! – Antes que percebesse Annabeth já estava gritando. – Sem contar que eu odeio ele!

- Odeia?

- ODEIO! Odeio o jeito que ele anda! Odeio o jeito que ele fala! Odeio o jeito que se veste! Odeio o jeito que ele penteia o cabelo! Odeio o sorriso dele! Odeio os olhos dele! Odeio o beijo dele! Odeio ele! Ele é totalmente desprezível! ARGH!

- ódio é uma forma de amor sabia?

- Ah não começa Thalia!

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Percy só se acalmou quando arremessou quatro copos de vidro na parede. Estava sentado no sofá perdido em pensamentos sob o olhar preocupado de sua mãe.

 - Percy?

- Quê?

- Como foi o fim de semana?

- ótimo. – Ele respondeu sem tirar os olhos da tranca da janela.

- Então porque essa cara?

Percy estendeu o braço.

- A Annabeth viu.

- Você nunca se importou com a opinião de ninguém antes. Porque está se importando com a dela?

- Não me importo.

- Então porque tanto reboliço pra pedir desculpas a ela?

- Não sei.

- Porque você não...

- Não mãe. Eu não vou parar com isso. Nem pela Annabeth, nem por ninguém.

- Nem pelo seu filho?

Percy finalmente olhou a mãe.

- Quem te contou?

- A Ashley. Encontrei ela no caminho.

- Desculpa não ter te contado.

- Você não respondeu minha pergunta.

- Eu não quero parar. Sei que é errado, mas eu não quero parar. Nem pelo meu filho.

- Você quer que ele seja como você?

- Não.

- Que você vai fazer? Não vai deixar ele ver?

- Não.

- Acha que isso resolve?

- Deveria.

- E quando ele começar a se perguntar o que são essas marcas roxas no seu braço, você via mentir?

- Se isso vai impedir que ele se torne o que eu sou, sim.

- Você vai mentir pro seu filho a vida toda?

- Se precisar.

- Você acha que vai estar ao lado dele sempre?

- Que você quer dizer?

- E se um dia você voltar de uma dessas festas tão bêbado ou drogado e acabe fazendo alguma coisa com seu filho ou a Ashley?

Percy desviou o olhar, não queria pensar naquilo.

- E se você não sobreviver à próxima festa? Você faz tanta coisa que isso só te deixa mais próximo de uma overdose, de uma parada cardíaca... De morrer.

- Eu não vou morrer!

- Eu rezo pra isso todas as noites.

Sally saiu da sala deixando Percy preocupado e apreensivo. Como o futuro podia ser tão incerto? Isso não é justo. Mas sua mãe estava certa. Percy tomou sua decisão, teria que abrir mão de alguma coisa se quisesse ser um bom pai.

Ele ligou pra Ashley e pediu pra eles se encontrarem no clube.

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- Que cara é essa? – Ashley perguntou assim que Percy se aproximou.

- Eu tenho que te falar algumas coisas.

- Fala.

Percy estendeu o braço pra Ashley.

- Você se drogou de novo?

Ele assentiu.

- Isso explica suas olheiras tão fundas. – Ashley disse com a voz triste.

Apesar de saber que Percy era um drogado, ela nunca gostou disso, mas sempre fingiu não se importar.

- É sobre isso que eu quero falar.

- Fala então.

- Você pediu pra que eu estivesse sempre ao seu lado e do nosso filho, mas eu não posso fazer isso.

- Quê? Por quê?

- Eu não quero que ele cresça vendo o pai nesse estado.

- Pare de se drogar então.

- Não posso. É mais forte que eu.

- O que vai ser então?

- Eu vou te ajudar no que for preciso, até onde der.

- Como assim? – Ashley perguntou com medo da resposta.

- Isso é tão difícil pra mim. – Percy disse sentindo os olhos se encherem de lágrimas. – Eu... Eu não quero conhecer nosso filho?

-O quê?

- Vai ser melhor assim.

- Melhor pra você! O que eu vou dizer quando ele me perguntar onde está o pai dele? Como eu vou cuidar dele sozinha? Você me prometeu!

- Ashley, entende, eu não quero que ele veja essas marcas no meu braço, no meu rosto... Na minha alma. E... Ele não vai sentir falta de uma pessoa que ele nunca viu.

- Percy... – Ashley agora chorava – Você tem idéia do que você está falando?

- Tenho.

- Não. Não tem! Você está escolhendo drogas ao seu filho!

- Eu sei!

Ashley abriu a boca pra responder, mas desistiu. Apenas afastou a franja da testa, tentando fazer as palavras de Percy entrarem em sua cabeça.

- Eu vou estar com vocês sempre.

- Quando seu filho resolver nascer, o seu sempre vai acabar.

- Eu sei.

- Você vai sumir?

- Vou.

Eles se olharam por um longo momento.

- 18 anos. – Ashley disse quebrando o silêncio. – Quando ele fizer 18 anos eu vou contar dessa sua decisão e ele vai te odiar com todas as forças.

- Não tem problema.

- Você não liga pro fato de que eu vou fazer seu filho te odiar?

- Não. – Percy disse por cima das lágrimas.

Mia uma longa e incômoda pausa.

- Eu te odeio. – Ashley disse chorando.

- Eu sei.

Ashley virou as costas e se foi. Percy ficou parado ao lado daquela grade se xingando de todas as maneiras possíveis por ter tomado aquela decisão estúpida. Annabeth sempre estivera certa: ele nunca tentou lutar contra isso. Era fraco. Fraco e idiota.

 


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Notas finais do capítulo

Eu chorei balds e bacias escrevendo esse capítulo, comolidar? D