By The Way escrita por Ducta


Capítulo 13
Possibility


Notas iniciais do capítulo

Possibility - Likke Ly



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A primeira coisa que Annabeth viu em Sufside foi a praia vazia iluminada pelo entardecer. Acidade não parecia ser muito grande, mas era linda até onde Annie podia ver.

- Gostou? – Percy perguntou quando eles alcançaram a passarela pra sair da balsa.

- Parece ser lindo. Você já veio aqui?

- Com os meus pais, quando eu tinha cinco anos.

Annabeth pegou a mão de Percy, quase inconsciente do seu ato, porque apesar de ser linda, ela não conhecia nada na cidade. Mas isso era estranho já que a “ameaça” a segurança dela era justamente aquele que ela buscava proteção.

Percy não estranhou o gesto de Annabeth, até gostou.

- Pra onde nós vamos? – Annabeth perguntou enquanto caminhavam.

- Pro hotel, mas nem sei por quê.

- Como assim, não sabe por quê?

- Ué, você não disse que era bom valer a pena?

Annabeth sorriu.

O hotel não era tão longe, era orla da praia. Não era o mais simples que Annabeth tinha visto, nem o mais suntuoso, mas a agradou de primeira vista.

- Pedi um quarto pra cada um ok? – Percy disse quando chegaram a recepção.

- hm? – Annabeth fez, surpresa.

- “hm” o que? Queria dividir um comigo é?

- Claro que não! Eu só não estava prestando atenção. – Annabeth negou se recuperando da surpresa.

De fato, ela imaginara que dividiria um quarto com Percy, isso era uma das coisas que a esteve preocupando nos últimos dias.

Percy segurou a risada enquanto pegava as chaves com a recepcionista. Ele fez um gesto com o braço indicando o caminho, Annabeth passou de nariz em pé.

Subiram três lances de escada em silêncio. Annabeth na frente, Percy logo atrás imaginando porque não tinha pedido um quarto só.

- Bem, é aqui que a gente se separa. – Percy disse quando chegaram ao final do corredor, oferecendo uma das chaves a Annabeth.

- E nos separamos por quanto tempo exatamente? – Ela perguntou pegando a chave.

- Se você quiser dormir, essa vai ser sua única chance a noite toda.

- E por quê?

- Você pergunta demais.

- Fala logo.

- Eu fiz planos pra essa noite.

- Planos? – Annabeth perguntou desconfiada.

Estar em um hotel com Percy, em outra cidade seria o que Thalia chamaria de “oportunidade perfeita”. E Annabeth sabia que Percy aproveitava muito bem as oportunidades.

- Relaxa. – Ele disse sorrindo – Não te nada haver com sexo selvagem a noite toda.

- Não disse nada disso.

- Mas pensou, que eu sei.

- Eu?

- Claro que pensou. Você é uma ninfomaníaca e sabe disso.

Annabeth olhou estarrecida para Percy.

- Ninfomaníaca eu? Olha quem fala!

- Claro que sim, vive pensando em sexo e selvagem ainda por cima!

- Quem me levou a sempre pensar nisso foi você!

- HÁ! Você acabou de assumir que pensar em sexo selvagem sempre!

- Claro que não! Larga de ser infantil garoto! – Annabeth disse dando um tapa estalado no braço de Percy.

Percy inclinou o corpo na direção de Annabeth e sussurrou em seu ouvido:

- Ninfomaníacas são sexys, se quiser mudar de idéia, nós passamos a noite aqui mesmo.

Annabeth afastou o rosto de Percy com um tapa enquanto segurava o riso. Ele era tão incrivelmente sem um pingo de vergonha na cara, que mais divertia do que assustava.

- Deixa de ser sem vergonha.

- Ué, você mesma disse que eu não perco uma chance de te agarrar!

 - Que você vai fazer?

- Eu vou fumar um maço de cigarros inteiro.

- Adoro sua sinceridade. – Annabeth disse sarcástica.

- Quer que eu minta pra você?

- As vezes esconder a verdade por um tempo magoa menos.

- Annie eu não posso mentir pra você. Um relacionamento deve ser construído com sinceridade. – Percy disse com um sorriso enquanto deslizava um dedo pela bochecha de Annabeth.

- Relacionamento?

- Sim, o nosso instável e irônico relacionamento.

- Não confunda. Sua namorada tem cabelos lisos e pretos e uma voz irritante.

- Quem te falou que minha namorada é a Ashley?

- E não é?

- Não quero falar dela agora.

- Deixa pra lá então. Vamos?

- Pra onde?

- Você não ia abrir a porta?

- Você não ia pro outro quarto?

 - Agora vou pro seu.

- Mas eu vou fumar.

- Eu não sou surda.

- Se você ousar encostar no meu cigarro eu te jogo da varanda. – Percy disse abrindo a porta.

- Duvido.

- Não duvide de mim. Eu sou um psicopata.

Annabeth sentou-se na cama jogando a mochila ao seu lado enquanto Percy ia até o terraço.

- Então eu supostamente deveria ter medo de estar no mesmo quarto que você?

- Aham. – Percy fez enquanto acendia um cigarro.

- Pois eu não tenho. – Annabeth disse caminhando até o terraço e abraçou Percy pro trás.

-Annie se eu fosse você eu não ficava tão perto. – Ele disse em tom de aviso.

- E porque não? – Annabeth disse jogando o cigarro de Percy pela varanda.

- O que eu disse sobre jogar o meu cigarro?

- Não ligo.

Percy se virou de frente pra Annabeth e colocou as mãos no rosto dela. Eles se olharam por um momento.

- Não te passou na cabeça nem por um segundo o que podia acontecer... Nós dois, aqui sozinhos?

- Passou na sua?

- Acabou de passar.

- hm...

- Não estou falando de sexo.

- Imaginei que não estivesse.

Annabeth encostou a cabeça no peito de Percy e eles permaneceram assim por uns minutos.

- Uma vez você me disse que você também tinha perspectivas sobre mim. – Annabeth disse quebrando o silencio.

- Eu não te odeio tanto agora. Só agora.

Annabeth sorriu.

- Viu? Nós podemos viver em paz. – Ele prosseguiu.

- Por quanto tempo?

 - Acho que até eu acender meu próximo cigarro.

- Não vai parar com isso nunca?

- Talvez não.

- Pra onde vamos?

- Até eu terminar meu maço de cigarros, não vamos a lugar nenhum.

- Quê? – Annabeth o olhou.

Percy riu.

- Brincadeirinha.

- Pra onde nós vamos?

- Não vou falar.

- Então a história do Titanic na balsa não era a única surpresa?

- Se você comentar isso com alguém eu te mato.

- É a terceira ameaça de morte que você me faz em menos de duas horas. – Annabeth constatou sorrindo.

- Vamos então. – Percy disse.

Annabeth sorriu e juntos eles saíram do quarto deixando as mochilas e os celulares pra trás.

Percy levou Annabeth pra jantar e depois foram dançar. Passavam das duas da manhã quando eles saíram da boate. Nenhum dos dois tinha consumido nenhum tipo de bebida alcoólica, porque, pra infelicidade de Percy, eles ainda eram menores de idade.

- Tá com sono? – Percy perguntou enquanto eles caminhavam de mãos dadas pelo calçadão na orla da praia.

- Não. Só estou cansada.

- Cansaço pra mim é sono reprimido, mas tudo bem.

- Porque a pergunta?

- Eu vi uma fogueira apagada na areia ali na frente, vamos reacendê-la?

- Como você viu?

- Quando você anda por becos escuros fugindo de tiros e facas você fica bom em ver no escuro.

- Brigas de gangues?

- Quatro anos mês que vem.

- Devo te parabenizar? – Ela perguntou irônica.

- Devia. Esse tempo todo e eu não matei, nem morri.

- Nunca matou ninguém?

- Nunca.

- Isso merecer os parabéns.

Percy sorriu.

- Obrigado.

Eles chegaram a fogueira mencionada por Percy.

- Vamos reacender?

- Sim, como?

Percy tirou um isqueiro do bolso e sorriu.

Annabeth sentou na areia enquanto Percy acendia a fogueira.

- Por que exatamente estamos aqui as duas e alguma coisa da manhã? – Annabeth perguntou.

- Eu não faço idéia. – Percy disse enquanto se sentava ao seu lado, olhando o fogo se espalhar pelos gravetos.

- Eu não devia estar aqui. – Annabeth disse pegando Percy de surpresa.

- Sou tão repulsível assim?

- Não é isso.

- O que é então? – Percy agora a olhava enquanto ela olhava as ondas quebrando em meio a escuridão.

- Eu não te conheço. Não sei nada sobre você.

- Eu também não sei nada sobre você. Esse é o problema?

Annabeth o olhou.

- Um deles.

- Não seja por isso. O que você quer saber? Pergunta que eu respondo. – Ele disse divertido.

Annabeth deu um sorriso tímido.

- Quem é você?

- Perseu Anthony Jackson, 16 de agosto de 1993, Miami Beach, Flórida, EUA.

Annabeth sorriu.

- Porque Perseu?

- Meu pai tem uma paixão inexplicável por mitologia. Se não fosse Perseu era Hércules ou Aquiles.

Annabeth riu.

- Então seu pai tem paixão por semideuses.

- Algo assim. – Percy disse com um sorriso.

- Fala mais.

- Hm, meu bolo favorito é de chocolate com morangos e o sorvete é de abacaxi ao vinho e...

- Vinho...

Percy sorriu antes de continuar.

- ...E minha fruta favorita é kiwi e meu filme favorito é Espíritos.

- Detalhes adicionais?

- hm... eu tenho um cd do Justin Bieber.

Annabeth riu.

- Eu vi. – Ela contou a ele quanto mexera em seus cd’s enquanto ele dormia.

- E você, quem é?

- Annabeth Jennifer Chase, 23 de setembro de 1993, Louisiana, Missouri, Estados Unidos. Meu bolo e sorvete favorito é de morango, minha fruta favorita é laranja, assim como o suco e o refrigerante... E eu tenho uma queda... não, um tombo pelo Leonardo Di Caprio, é.

- Leonardo Di Caprio? Não é a toa que se seu filme favorito é Titanic. – Ele disse aos risos.

Ambos olharam pro fogo crepitando à frente.

- Percy?

- hm?

- Que está rolando entre você e a Ashley?

- Nada. Mas eu estou, em termos técnicos, preso a ela pra sempre.

- Why?*

- Ela está grávida. – Percy disse tentando ignorar o nervosismo e o coração acelerado.

Annabeth ficou mais surpresa do já estivera com alguma frase que Percy disse.

- Oh. – Foi o que ela disse.

- Mas nós conversamos e ela disse que não quer casar e nem quer ter um relacionamento forçado, só pediu pra que eu ficasse por perto.

- Isso é bom... “Em termos técnicos”.

- Acho que sim.

- E... Como você está? Sobre toda essa história...

- Eu não sei... Não caiu a ficha ainda sabe? Parece tão improvável... Mas eu estou feliz... Quando eu tiver 18 anos, vai ter alguém correndo atrás de mim gritando “papai”. Emocionante. – Ele disse quase sorrindo enquanto imaginava a cena.

- Bem, nesse caso... Parabéns “papai”. – Annabeth disse.

Eles se olharam pro uns instantes e depois se abraçaram.

Não se soltaram, ficaram em silêncio.

- Annie?

- hm?

- Você não me deu os detalhes adicionais.

- Eu estive internada em uma clínica psiquiátrica dos nove aos doze anos.

Eles se soltaram. Percy tinha uma expressão chocada.

- Quê? Por quê?

- Mike nunca te contou?

- Ele só me disse que tinha irmã quando você estava chegando.

- Nossa... Ele é super família não?

Percy continuou olhando pra ela.

- Bom, tudo começou quando o Mike teve uma overdose aos onze anos. Ele entrou em coma e, por meses, eu não vi meus pais sorrindo. Um dia, um médico disse pra minha que se ele não acordasse em suas semanas, eles desligariam os aparelhos. Minha mãe surtou, chorou ficou doida, literalmente. Meu pai mandou minha mãe pra casa pra cuidar de mim, afinal eu tinha nove anos e não entendia o que estava acontecendo. Isso, só na cabeça dele. Minha mãe me mandou deitar e disse que já vinha pra contar minha história. – Annabeth fez uma pausa. Ela tinha o olhar vago e mal parecia consciente do que falava. – Mas ela nunca voltou. Eu desci atrás dela no meio da noite e sabe o que eu encontrei?

Percy negou com a cabeça, sentindo medo da resposta.

- Eu vi o corpo da minha mãe caído no chão da cozinha, em meio a uma poça de sangue que tinha início na jugular cortada com uma faca de pão.

Lágrimas agora rolavam pelo rosto de Annabeth e sua voz falhava aqui e ali.

Percy a abraçou de novo.

- Não precisa falar mais. – Percy disse quando ela retribuiu o abraço.

- Não, eu quero falar.

- Não quero te forçar a nada.

- Livre e espontânea vontade, prometo.

- Então tá.

- Eu deitei sobre o corpo dela e chamei, chamei, chorei, implorei... Mas ela não respondeu. Naquela manhã meu pai nos achou no chão da cozinha. Eu fiquei com meus tios o resto daquela tarde enquanto meu pai cuidava do enterro. Mas eu não conseguia parar... Todo o lugar que eu olhava eu via o corpo da minha mãe no chão. Meu disse que não agüentava, que uma filha com desequilíbrio mental e um filho drogado, quase pra morrer. Nos largou e se foi. Veio pra cá e começou a beber e daí você sabe o que aconteceu com ele. Ele nem ficou pro enterro da minha mãe! Eu não pude ir. Quatro dias depois o Mike acordou e nós fomos mandados pra casa da minha avó, mas eu não conseguia parar de ver minha mãe em todos os lugares então minha avó me mandou pra uma clínica psiquiátrica. Naquelas férias, Mike se cansou e fugiu de casa, mandou uma carta quatro meses depois dizendo que tinha encontrado o papai e que estava com ele. Nessas férias foi a primeira vez que eu vi meu pai desde que eu tinha nove anos e olha o estado que eu o encontrei.

Percy não disse nada, só apertou o abraço enquanto Annabeth chorava.

Finalmente ele entendia o porquê de Annabeth ser tão anti-drogas. Afinal, as drogas tinham feito ela perder a mãe, o pai e a sanidade. Ele quase podia sentir a dor que emanava de Annabeth.

 


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Notas finais do capítulo

Fortes emoções hein?
Gente, estou indo passar o fim de semana com eu daddy, post só na segunda.
Ah, why = porque.