O silêncio constragendor permeou o momento, enquanto que os dois encaravam qualquer outro ponto da sala, que não um ao outro. Ele tentava achar palavras, atitude incomum no ninja mais explosivo de Konoha. Ela procurava forças, para conseguir dizer alguma coisa e acabar com aquele momento terrível. Não que não quisessem estar ali, mas nenhum dos dois estava realmente preparado para aquilo e não sabiam como proceder.
Era inevitável. Logo haveria guerra, eles teriam de lutar e não muito tempo ela havia ultrapassado a barreira e declarado seus sentimentos, não só para ele, mas para todos à sua volta. Somente o fato de que a situação quase se tornou uma fatalidade, para não dizer que foi revertida por pouquíssimo, impediu que eles tocassem no assunto antes. Agora, no entanto, era necessário que colocassem as cartas na mesa e finalmente se entendessem.
Ele mordeu os lábios, ela olhou de relance. Ele arfou de leve, quase exprimindo um Hi, ela esperou ansiosa, com um Na na ponta da língua. Ele não conseguiu e ela evitou continuar, dando a ele a oportunidade de começar a conversa. Lá fora o vento voltou a soprar e uma janela bateu a algumas casas dali. O silêncio se tornou pesado e ele precisou se encostar na parede. Ela finalmente venceu o medo e olhou para ele.
Desde quando crianças, Hinata sempre soube que Naruto era um garoto impulsivo, mas guardava para si seus sentimentos mais profundos. A paixão para Sakura era um exemplo de que ele não sabia administrar suas próprias vontades e somente quando ele percebeu os reais sentimentos entre a ruiva e o melhor amigo é que ele se tocou de si próprio. Desde então, apenas seu sonho de se tornar Hokage e as várias tentativas de trazer Sasuke de volta permearam o coração do loiro. Até o momento, mas isso Hinata não sabia.
Já Naruto relembrava tudo que já havia dito à ela antes, caçando entre suas memórias os momentos em que poderia ter percebido que a admiração da Hyuuga era mais do que simplesmente o espanto diante de sua pessoa. Ele havia dito mais de uma vez que ela era estranha, mas que isso a fazia gostar dela e só agora percebeu como isso deveria tê-la chateado. Como já fora rejeitado, sabia bem o que era estar naquela situação. E alguma coisa dentro dele dizia que não queria mesmo magoar a garota de olhos perolados.
O barulho de duas crianças passando correndo pelo corredor assustou os dois ninjas, fazendo com que o loiro se aproximasse dela. Assim que notou que não havia nenhum problema, ele se deu o trabalho de ficar envergonhado. Ela enrubesceu como há muito não acontecia e baixou novamente o olhar. O silêncio voltou. Enfim tomando coragem, Naruto disse as primeiras palavras desde que entraram naquela sala de aula, o único local em paz na vila agitada por reformas.
- Hinata-chan, eu... Queria agradecer pelo que fez por mim na luta contra o Pain.
Hinata levantou o olhar uma vez mais e havia ao mesmo tempo dureza e suavidade nele. Sua voz saiu firme, como ela não esperava, ao mesmo tempo que um tanto contida.
- Não há porque agradecer, Naruto-kun. Eu não queria que nada de mal acontecesse a você.
As palavras dela encheram Naruto de algo que ele não compreendeu e a cena da declaração logo veio à sua mente, seguida de uma dor incômoda, que há muito ele não sentia. Uma dor familiar.
- Mas eu não queria que nada acontecesse a você também, Hinata-chan. – ele disse sem saber de onde havia tirado aquilo.
A menina sorriu, um sorriso que tirou o ar de Naruto, que acabou sorrindo também. Não havia como eles notarem, dadas as circunstâncias, mas cada um deu um passo mais para perto do outro.
- Hinata-chan, por favor, nunca... Nunca mais faça uma loucura daquelas, ok? – Naruto se viu dizendo e cada vez ficava mais confuso.
- Desculpe, Naruto-kun, mas isso é algo que não posso prometer. – Hinata se forçou a responder, querendo logo expressar seus sentimentos – Eu... Eu... Eu amo você.
O Uzumaki engoliu em seco, sentindo que tremia. Por que tremia? Ele não sabia dizer, mas aquela danada sensação familiar ia e voltava e ele deu mais um passo e então outro e outro. De repente, a compreensão atravessou seu cérebro como uma kunai e ele se viu chocado. Havia algo mais ali do que ele jamais percebera, algo ainda quietinho, não muito grande, mas que crescia a olhos vistos e estava começando a aflorar para fora do shinobi. Ele se pegou rindo baixinho, deixando a Hyuuga um pouco preocupada.
- Se é assim, eu também não posso prometer me controlar se algo acontecer a você, Hinata-chan. Se você se machucar de novo, eu posso acabar perdendo o controle mais uma vez. – ele disse, brincando com ela enquanto arrumava os pensamentos – Sabe, acho que não posso deixar as coisas como estão, vou precisar tomar alguma medida para que isso não aconteça de novo.
Hinata não sabia o que ele queria dizer com aquilo e começou a temer que ele fosse dizer que nunca mais se aproximaria dela. Por um instante, ela se viu sendo deixada sozinha naquela sala e isso trouxe lágrimas aos seus olhos claros. Ela estava prestes a fraquejar e cair sentada no sofá às suas costas.
- Então eu acho que vou ter que ficar sempre perto de você, te protegendo. Assim, ninguém mais vai te fazer mal algum. E eu não vou precisar me preocupar. – ele disse se aproximando mais dois passos, ficando quase colado com ela – Espero que você goste o suficiente de mim para me aguentar. – ele sussurrou, colocando a cabeça por sobre o ombro dela e então falou ainda mais baixo algo que ela não entendeu.
- D-d-descu-cul-cul-pe, Na-na-naruto-ku-ku-kun, mas eu nã-nã-não entendi vo-vo-você. – ela gaguejou, nervosa tanto pela proximidade dele quanto pelo choro contido.
Ele então a abraçou, apertando ele contra o seu corpo, feliz por ter se entendido consigo mesmo. Em paz com seus sentimentos e pensamentos.
- Eu disse que amo você, Hinata-Chan.