Quando os passos foram se aproximando, eu me levantei e me postei de frente para a floresta. Mas a pessoa que saiu possuía cabelos loiro-prateados e olhos cinza-azulados. Malfoy.

– O que está fazendo aqui? – eu perguntei sem pensar

– Calma, Granger – ele respondeu com a sua voz irritante, mas incrivelmente perfeita e aveludada.

– Pode me responder, por favor? – eu me irritei e minha voz se elevou um pouco.

– Claro. Eu marquei de me encontrar com uma pessoa aqui. Mas aparentemente, ela não quer me ver.

– Por que aqui? – eu perguntei em um tom quase misericordioso.

– Porque é um dos lugares mais discretos da escola – ele respondeu em um tom baixo e calmo.

– Acredite Malfoy, você não é o único que acha isso.

– É. Eu sei, Granger.

Eu nunca tinha ouvido ele falar em um tom tão... Humano.

– Já deu para perceber que você não me quer aqui. Então, eu vou embora. Tchau, Granger – ele disse no mesmo tom.

Malfoy saiu pelo mesmo lugar de onde veio e, assim que cessou o barulho de seus passos, uma carta saiu voando da floresta e parou em frente aos meus pés. Peguei-a do chão e, na frente, a carta trazia “Hermione Granger” escrito na mesma caligrafia elegante.

Eu a abri, nervosa com o que poderia estar escrito. “Preste atenção na aula de Transfiguração amanhã.” Isso era tudo que eu não imaginava que pudesse estar escrito.

Uma lágrima escorreu pelo canto de meu olho esquerdo e caiu na carta, borrando uma palavra. Foi impossível me controlar. Depois dessa primeira, meus olhos marejaram como nunca antes.

Passado cerca de uma hora, percebi que ficar ali chorando não adiantaria de nada. Me levantei secando os olhos nas mangas e respirei fundo, tomando coragem para seguir a vida, já que aparentemente eu não veria meu príncipe hoje. Peguei a varinha no bolso e fiz um feitiço simples para que meu rosto desinchasse.

Tomei fôlego e voltei para o castelo, tentando não deixar transparecer minha tristeza.

Entrei no Salão Comunal da Grifinória, que estava quase vazio e olhei para os lados, torcendo para que Harry e Rony não estivessem ali para me encher de perguntas. Suspirei aliviada ao constatar que não estavam. Vi Gina lendo, sentada na poltrona em frente à lareira, geralmente ocupada por Harry. Andei calmamente até ela e permiti que meu corpo desabasse na poltrona ao lado da dela, geralmente ocupada por Rony. Eu devia estar com uma expressão horrível no rosto porque, assim que me viu, ela perguntou:

– O que houve, Hermione?

– Preciso dividir isso com alguém – respondi mais para mim mesma do que para ela.

Ao notar meu tom de voz nervoso, ela fechou o livro e apoiou-o no braço da poltrona. Então, não teve jeito. Desatei a contá-la toda a história. Ela ouviu tudo cautelosamente, concordando nos momentos certos. Esse era o bom de conversar com a Gina. Ela sempre sabia o que dizer, não importando se estávamos tristes ou felizes. Dessa vez não foi diferente. Assim que terminei, ela disse em um tom calmo:

– Não precisa se preocupar, Hermione! Se ele já mandou dois bilhetes em um dia, ele não vai desistir.

– Mas por que ele não apareceu na orla da floresta hoje? – eu perguntei em um tom suplicante por uma resposta convincente.

– Quem sabe ele foi, mas desistiu de aparecer quando viu o Malfoy lá?

– É, até pode ser. Mas afinal, por que eu estou me importando tanto com alguém que eu sequer sei o nome?

– Essa é fácil! Você está apaixonada, Hermione!

– Por alguém que eu, repetindo, sequer sei o nome?

– É, Hermione. Ele é bonito, simpático e o mais importante: misterioso. Os humanos sempre querem o mais difícil de se ter. Aquele alvo que parece inalcançável. Foi assim comigo e com o Harry.

– Mas vocês estão juntos agora.

– É, mas eu gosto do Harry desde o primeiro ano do Rony, quando o vi na plataforma pela primeira vez. Já ele, precisou de seis anos para sentir o mesmo por mim!

– Bom, só espero não precisar de todo esse tempo – ri, já me sentindo melhor. – Obrigada, Gina. Você é a melhor amiga que eu poderia ter.

– Não foi nada, Hermione. É para isso que os amigos servem.

Eu a abracei com força e deixei uma lágrima escapar pelo canto do olho.