Os últimos dragões escrita por Break
A Fortaleza Vermelha estava em completo silêncio quando Robert Baratheon finalmente se arrastou para sua cama, o gosto do vinho ainda na língua e o som de risos dissipados reverberando em sua cabeça. A noite havia sido uma tentativa desesperada de afogar seus demônios em prazeres carnais, uma provocação deliberada contra Jaime Lannister e sua esposa, Cersei. Ele havia enchido o quarto com prostitutas, mulheres que mal conheciam o próprio nome e menos ainda o significado de respeito.
Elas haviam rido, bebido e se deitado com o Rei, mas mesmo em meio ao prazer oferecido por corpos desconhecidos, Robert não encontrou o alívio que buscava. Cersei estava em algum lugar da Fortaleza, sabendo muito bem do que acontecia ali e para ela era indiferente. Jaime, aquele cão arrogante, também saberia e para ele não passava de um momento indigesto. E por um breve momento, Robert se deleitou com a humilhação que lhes infligira, imaginando os olhares raivosos e as palavras amargas que trocariam. Mas a satisfação durou pouco.
Agora, com o quarto vazio e o cheiro de sexo e vinho ainda pairando no ar, Robert sentiu o peso da solidão cair sobre ele como um cobertor frio. As prostitutas haviam partido, deixando-o apenas com seus pensamentos. Ele fechou os olhos, tentando buscar o sono que lhe fugia, mas a escuridão trouxe consigo algo muito mais perturbador.
A princípio, foi um sussurro, uma presença que ele mal podia definir, mas que crescia a cada batida de seu coração. A garota estava de volta. A jovem valiriana dos sonhos, com seus olhos lilases refletindo a luz de tochas invisíveis, surgiu diante dele como uma visão etérea, flutuando no limiar entre a realidade e a fantasia.
Ela estava ali, ao lado da cama, tão real quanto qualquer um dos fantasmas que Robert carregava. Seus olhos, grandes e assustadoramente calmos, fitavam-no com uma determinação que fazia seu coração gelar. Mas desta vez, ela não estava sozinha.
Ao lado dela, a sombra imensa de um dragão materializou-se. Suas escamas refletiam a luz como obsidiana polida, e seus olhos ardentes fixaram-se em Robert com uma inteligência e uma malícia ancestrais. O dragão rosnou baixo, um som gutural que fez as paredes do quarto tremerem. A boca da criatura exalava uma fumaça fina, que se enrolava no ar como um prenúncio de fogo.
E então, o homem apareceu. Alto, robusto, tão diferente de Rhaegar quanto a noite do dia. Ele vestia armadura escura, e em sua bainha descansava a Espada Irmã Sombria, a lâmina que Robert conhecia apenas de lendas e histórias, mas que desejava pois sabia o seu valor. O homem não falou, mas sua presença era ameaçadora, protetora. Ele estava ali por ela, e Robert sabia, com uma clareza aterradora, que aquele homem mataria por ela sem hesitar.
Robert tentou falar, gritar, mas as palavras morreram em sua garganta. Ele sentiu-se pequeno, um rei diante de uma força que não compreendia. A garota não disse nada, mas seus olhos lilases pareciam atravessar a alma de Robert, arrancando suas defesas, expondo suas fraquezas. O dragão, o homem com a Espada Irmã Sombria, e a garota, todos observando-o, como juízes de um tribunal secreto, prontos para sentenciar o destino de um rei que derrubara dinastias, mas que agora estava à mercê de um poder que ele não podia controlar.
A presença deles o esmagava, como rochas sobre seu corpo ou, ainda, da mesma maneira que seu martelo esmagou Rhaegar tantos anos antes. Robert sentiu algo dentro de si desmoronar. Ele já não era o caçador, mas a presa. A visão ficou mais intensa, o calor do dragão, o peso do olhar da garota, a ameaça silenciosa do guerreiro. Tudo era tão real que Robert sentiu o suor escorrer por seu rosto, seu coração batendo freneticamente contra as costelas.
Quando finalmente conseguiu abrir os olhos, estava sozinho novamente, o quarto mergulhado na escuridão. Mas o terror permanecia, uma marca indelével em sua mente. Robert se ergueu da cama, o peito arfando, como se estivesse emergindo de uma luta pela própria vida. Ele olhou em volta, esperando ver a garota, o dragão, ou o homem ainda ali, mas não havia nada além da solidão de um rei perdido em seus próprios pesadelos.
Ele soube, naquele momento, que não importava quantas taças de vinho bebesse, ou quantas mulheres trouxesse para sua cama. A garota valiriana e seus guardiões iriam assombrá-lo enquanto ele respirasse, enquanto o nome "Targaryen" ou a expressão “Sangue do Dragão” ainda tivesse algum significado no mundo. Eles estavam vindo, de alguma forma, de algum lugar. E ele, Robert Baratheon, Rei dos Sete Reinos, não estava preparado.
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A viagem ao Norte foi longa e cansativa, mas Robert Baratheon, o Demônio do Tridente, estava determinado a fazer essa jornada pessoalmente. Havia algo na tranquilidade gelada de Winterfell que ele esperava que pudesse aliviar os tormentos que o assombravam. Mas, acima de tudo, ele precisava de Ned Stark ao seu lado novamente. Precisava da sua lealdade, da sua força e do seu julgamento tranquilo. Precisava olhá-lo nos olhos e garantir que estava acordado e esperava, com todas suas forças, que Ned o ajudasse a manter sua sanidade.
Quando chegaram a Winterfell, os Stark os receberam com a hospitalidade de sempre, mas Robert não tinha paciência para as formalidades, ali não queria ser o Rei dos Sete Reinos, ele queria ser apenas Robert Baratheon, amigo de Eddard Stark. Ele queria ver Ned, falar com ele longe dos ouvidos curiosos, longe das paredes que pareciam escutar mais do que deviam. E foi por isso que, antes do jantar, Robert pediu a Ned que o acompanhasse até as criptas, onde poderia falar em privado e também ele poderia ter um vislumbre daquilo que desejava com todas suas forças: Lyanna.
Os dois caminharam em silêncio, o vento cortante do Norte uivando ao redor deles enquanto desciam para as profundezas da cripta de Winterfell. A frieza do local penetrou até os ossos de Robert, mas ele a suportou sem uma palavra, nem mesmo o cheiro o incomodou. Finalmente, pararam diante da estátua de Lyanna Stark, onde flores murchas ainda repousavam como oferendas.
Robert fixou os olhos na imagem de pedra da mulher que ele nunca deixou de amar, mesmo depois de todos esses anos ela fazia seu coração pulsar. A dor da perda ainda estava lá, uma ferida que nunca cicatrizou, e agora se misturava aos pesadelos que perturbavam suas noites.
— Lyanna… Minha doce e amada Lyanna —Robert murmurou, a voz grossa com a emoção contida. — Nunca passa, Ned. Nem mesmo o tempo pode levar isso de mim — Ned observou o amigo em silêncio, esperando que ele falasse. Ele sabia que Robert não havia feito toda essa jornada apenas para relembrar o passado, mesmo que o amor por Lyanna tivesse sido suficiente para se rebelar contra a coroa, a viagem até Winterfell era longa demais para olhar uma estátua. — Eu... tenho sonhado, Ned. Pesadelos, mais precisamente — Robert começou, hesitante. Respirou fundo, fazendo o pulmão arder com a força feita. — Uma garota valiriana, olhos lilases que me perseguem noite após noite. E ela... ela não está sozinha. Há um homem com ela, alto, robusto, como aquele merdinha do Rhaegar nunca seria, ele carrega uma espada antiga, a Espada Irmã Sombria, você sabe, a espada de Visenya, e há a porra de um dragão, grande como os de antigamente, daqueles que nunca vimos pessoalmente — Ned viu algo estranho nos olhos de Robert, como se realmente fosse medo — Eles estão sempre ali, me observando, como se esperassem algo... como se fossem me julgar.
Ned estreitou os olhos, tentando encontrar sentido nas palavras do amigo. Ele sabia que Robert não era um homem dado a temores imaginários. Se o rei estava perturbado, então esses sonhos deviam ter um impacto profundo. Robert tentava controlar o tremor na mão enquanto encarava Lyanna, ela havia sido o motivo de toda uma rebelião, Robert faria tudo de novo por ela, mas desejava tanto, com todas suas forças, que Lyanna estivesse ao seu lado quando foi coroado.
— Eu pensei que tínhamos acabado com eles, Ned — Robert voltou a falar, olhando para Ned como se buscasse resposta — Deveríamos ter queimado cada um desses malditos, garantir para que nunca mais ameacem o reino — o lábio do homem tão robusto e poderoso tremeu como o de uma criança prestes a chorar — Mas esses sonhos... me fazem sentir como se tivesse falhado. Como se tudo tivesse sido em vão —- Robert respirou fundo, como se as palavras custassem a sair, como se expor isso fosse uma tarefa árdua. — E se a garota for Daenerys? E se o irmão dela, Viserys, conseguir levantar um exército? E se os dragões voltarem? Ela não é apenas uma menina, nem ele é só um idiota. Eles são um lembrete constante de que a guerra não acabou.
Ned assentiu lentamente, absorvendo o peso das preocupações de Robert. Ele sabia que o rei estava sobrecarregado, assombrado pelos fantasmas dos Targaryens que ele tanto se esforçou para erradicar. Mas também sabia que Robert, apesar de sua força e bravura, sempre foi vulnerável às sombras do passado.
— Robert — Ned começou, calmamente, com a voz grave e reconfortante — , esses sonhos... não são presságios. Viserys é um garoto assombrado por um passado que ele nunca viveu, uma sombra que tenta imitar seu pai e irmão, mas que nunca será. Ele não é uma ameaça, Robert. É um tolo, obcecado por uma coroa que nunca lhe pertenceu e que ele nunca terá — Robert ficou em silêncio, ouvindo cada palavra com uma intensidade que era rara nele, como se as palavras de Ned fossem água numa manhã de ressaca. — E Daenerys — Ned continuou —, ela é só uma menina. Casada com um selvagem que nunca cruzará o mar. Os Dothraki temem o oceano como temem os deuses. Eles nunca virão para cá. Ela não tem exércitos, não tem dragões. Você já os venceu, Robert. O Trono de Ferro é seu. O reino está seguro.
As palavras de Ned trouxeram uma calma temporária para o coração inquieto de Robert. Ele sabia que Ned era sensato, que via o mundo com uma clareza que ele próprio às vezes perdia em meio ao vinho e ao desespero. Se Ned dizia que não havia ameaça, então talvez os pesadelos fossem apenas isso—sonhos vazios, sem significado.
No entanto, mesmo assim, enquanto Robert olhava para a estátua de Lyanna, ele não pôde deixar de sentir que algo sombrio pairava sobre ele, algo que nem a espada mais afiada ou o exército mais poderoso poderia afastar.
— Talvez você esteja certo, Ned — Robert murmurou finalmente. — Talvez tudo isso seja apenas um rei velho e cansado, assombrado por fantasmas que não existem. Mas, pelo sim, pelo não... você será minha Mão. Preciso de você ao meu lado.
Com isso, os dois amigos deixaram a cripta, as palavras de Ned ainda ecoando na mente de Robert, acalmando temporariamente seus medos. Mas, no fundo, Robert sabia que, apesar do conforto que Ned lhe oferecia, a segurança que só um amigo, os sonhos continuariam a assombrá-lo, lembrando-o de que o passado nunca está completamente enterrado.
O frio cortante de Winterfell, que costumava trazer um certo conforto ao Rei Robert, já não era suficiente para acalmar a inquietação que fervilhava dentro dele. Mesmo nas profundezas do Norte, as visões da garota valiriana continuavam a persegui-lo, cada vez mais vívidas e aterrorizantes. Como se ela tivesse vindo com a caravana.
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Naquela noite, após conversar com Ned nas criptas, Robert se retirou para seus aposentos, esperando que a longa viagem e o cansaço o ajudassem a ter uma noite tranquila, ou melhor, que o apagasse da maneira que o vinho não estava fazendo ultimamente. O sono realmente veio rápido e, com ele, os sonhos que ele tanto temia.
A garota apareceu novamente, como uma sombra etérea que pairava entre as paredes antigas e frias de Winterfell. Seus olhos lilases brilharam na penumbra, fixando-se em Robert com uma determinação assustadora. Ele tentou ignorá-la, virar-se no leito, cobrir-se melhor e fechar os olhos, mas algo o obrigava a seguir em frente, a persegui-la como se fosse o único caminho possível.
Robert se levantou da cama num bufo irritado, ele jogou as cobertas para longe e ficou de pé, sentindo o chão frio de pedra sob os pés descalços. Os corredores de Winterfell, que ele conhecia tão bem, de repente pareciam um labirinto sem fim, cada curva levando-o mais fundo na escuridão. A garota estava sempre à frente, o encarando com aqueles olhos que pareciam acusá-lo de algo que ele não compreendia, mas no fundo sabia o que era.
Ele a seguiu, seu coração martelando no peito, o som de seus próprios passos ecoando pelos corredores vazios. A Fortaleza Vermelha nunca estivera tão distante, sua fortaleza estava há dias de viagem, e o Norte, com seu silêncio , frio e mistério, parecia conspirar contra ele.
Finalmente, a garota o conduziu até o Bosque Sagrado. As árvores antigas, com seus troncos grossos e folhas escuras, criavam uma atmosfera de reverência e temor. Robert sentiu o peso do local sobre seus ombros, mas não conseguiu parar. Lá estava ela, de pé sob o coração do bosque, o rosto meio escondido pelas sombras dos represeiros, mas os olhos ainda fixos nele.
Robert tentou falar, perguntar o que ela queria, mas as palavras morreram em sua garganta, arranhando como se fossem pedras. E então ele o viu, o homem valiriano, surgindo das sombras como um espectro. Era alto, robusto, e a Espada Irmã Sombria estava em sua mão, reluzindo com uma malícia letal à luz fraca da lua que se filtrava pelas árvores.
O homem não disse nada, mas seu olhar estava cheio de julgamento, de condenação. Ele ergueu a espada, pronto para desferir o golpe final. Robert tentou se mover, gritar por ajuda, mas estava paralisado, congelado no lugar pelo terror puro que corria por suas veias. Robert odiava temer algo, detestava sentir medo, ele era o Demônio do Tridente, não deveria temer nada.
Quando a lâmina desceu, guiada para atingir o meio da cabeça do rei, Robert acordou com um grito preso na garganta, seu corpo suado e tremendo. Ele se sentou bruscamente, respirando com dificuldade, o coração disparado, doendo no peito. O quarto estava escuro e vazio, e o silêncio absoluto de Winterfell o envolvia, opressivo.
Por um momento, ele não conseguiu distinguir a realidade do sonho, e o terror ainda o agarrava com força. Ele olhou em volta, esperando ver a garota, o homem, ou mesmo a espada prestes a cravar em sua cabeça, mas não havia nada além de sua própria solidão e o vento frio assobiando no lado de fora.
Foi então que ouviu passos leves, e uma sombra surgiu na porta aberta, por onde entrava uma corrente fria de vento. Jon Snow, com o lobo gigante Fantasma ao seu lado, observava-o com olhos preocupados. O jovem bastardo não parecia o tipo de pessoa que se assustava facilmente, mas a expressão no rosto de Robert era suficiente para lhe causar apreensão.
— Está tudo bem, Vossa Graça? — Jon perguntou, sua voz baixa, mas cheia de sinceridade. Ele não se aproximou mais, respeitando o espaço do rei, mas sua preocupação era evidente. Robert respirou fundo, tentando acalmar o tumulto dentro de si. Ele passou a mão no rosto, sentindo o suor frio que ainda cobria sua testa.
— Apenas um sonho, rapaz — ele respondeu, tentando soar confiante, mas sua voz tremia ligeiramente. — Apenas um sonho… — Jon observou-o por um momento, talvez reconhecendo algo mais profundo nos olhos cansados do rei, mas não pressionou.
— Se precisar de alguma coisa, estou aqui — disse Jon calmamente, antes de fazer uma reverência respeitosa e se retirar, levando Fantasma consigo.
Robert ficou sentado na cama por um longo tempo depois disso, encarando a escuridão que agora parecia mais ameaçadora do que nunca. Ele sabia que o sonho era mais do que apenas um pesadelo. Era um presságio, uma advertência de que, não importava o quanto tentasse escapar, o passado e os fantasmas dos Targaryen continuariam a persegui-lo. E, no fundo, ele temia que, eventualmente, não haveria de acordar desse pesadelo.
Ele ainda estava sentindo o peso da espada que quase o atingira no sonho. Ele não conseguia mais distinguir a realidade dos seus medos. As sombras pareciam mais próximas, os sussurros dos fantasmas Targaryen mais altos em seus ouvidos. Sem pensar e, sem nem ao menos se vestir adequadamente, correu pelos corredores de Winterfell em direção ao quarto de Ned.
Seus passos eram pesados, cada batida no chão ecoando como um tambor de guerra. Ele empurrou a porta do quarto de Ned com tanta força que ela bateu na parede, retumbando pelo cômodo, acordando Ned e Lady Catelyn abruptamente. O rosto de Robert estava pálido, seus olhos selvagens com o medo que ele mal conseguia controlar.
— Não é Rhaegar, nem Viserys — Robert disse, a voz rouca, quase sufocada. — É o próprio Estranho de cabelos prateados! — Ele estava ofegante, as palavras saindo num turbilhão de desespero e confusão.
Ned sentou-se na cama, ainda meio atordoado pelo sono, mas imediatamente reconhecendo a gravidade da situação. Lady Catelyn, ao lado dele, observava Robert com preocupação, a mão debaixo do cobertor, pronta para acalmar Ned se necessário. Seus olhos estavam arregalados.
— Ele está bem? — Catelyn sussurrou para Ned. Ned balançou a cabeça, os olhos fixos em Robert. Ele conhecia o amigo há muitos anos, mas nunca o tinha visto assim, tão perturbado, tão à beira do colapso.
— Robert, ouça-me — Ned disse, mantendo a voz calma e firme, como fazia com seus filhos quando estavam assustados. — Falaremos ao amanhecer, com a cabeça mais fria. Volte para a cama. Descanse.
— Não posso esperar, Ned! — Robert rosnou, seu desespero agora transbordando em raiva. Algo dentro dele havia se quebrado, um terror primordial que ele não conseguia mais conter. — Esses malditos de cabelos prateados... eles estão aqui. Agora. E eu vou acabar com eles!
Antes que Ned pudesse reagir, Robert já estava de volta aos corredores de Winterfell, correndo como um homem possuído. Ele passou por alguns guardas atordoados, que se perguntavam internamente o que diabos estava acontecendo, até que ele agarrou a espada da mão de um deles, sem dizer uma palavra. Era uma lâmina pesada, mas Robert a segurou com firmeza, seus olhos faiscando com uma determinação louca.
Ele se dirigiu ao Bosque Sagrado, onde o pesadelo havia o levado, e onde ele estava certo de que terminaria. O ar frio mordia sua pele, mas ele não sentia nada além do calor de sua raiva e medo. O bosque era silencioso, as árvores antigas assistindo em sua quietude ancestral enquanto Robert avançava, os passos pesados no chão coberto de folhas.
Chegando ao centro do bosque, onde o coração de Winterfell batia mais forte, Robert ergueu a espada para o céu, a respiração saindo em nuvens brancas de sua boca. Ele estava sozinho, mas sentia os olhos sobre ele—os olhos lilases da garota, os olhos ardentes do dragão, e o olhar gelado do homem valiriano com a Espada Irmã Sombria.
— Venham! — Robert gritou, sua voz reverberando entre as árvores. — Apareçam, malditos! Se vão me assombrar, mostrem-se de uma vez! — ele girava a espada no ar, o desespero transformado em fúria cega. — Eu os matarei, como matei o maldito Rhaegar! Apareçam!
Mas o bosque permaneceu em silêncio, imperturbável pela loucura de um rei perturbado. O vento sussurrava entre as folhas, mas não havia resposta para os gritos de Robert. O peso do silêncio caiu sobre ele, mais pesado do que a espada que empunhava.
Sozinho, de pé no coração do bosque, Robert percebeu a futilidade de sua ação. Ele estava lutando contra fantasmas, contra medos que não podia matar com uma espada. E no fundo, ele sabia que o que o atormentava não era apenas a ameaça dos Targaryen sobreviventes, mas sua própria culpa e o passado que ele nunca conseguira enterrar.
O cansaço finalmente o dominou, e Robert caiu de joelhos, a espada escorregando de sua mão e caindo no chão num baque surdo, fazendo seu formato na neve. O rugido da fúria se transformou em um gemido de desespero, ecoando pelo bosque. O grande rei, o Conquistador de Dragões, o Demônio do Tridente, estava desfeito, caído, cercado pelo frio e pela escuridão, sem respostas e sem paz.
Ele permaneceu ali por um longo tempo, até que o frio finalmente o fez tremer, e ele percebeu que estava sozinho de verdade. Não havia ninguém para enfrentá-lo no Bosque Sagrado, exceto seus próprios demônios. E contra esses, ele não tinha arma.
Finalmente, ele se levantou, o corpo pesado e a alma mais ainda. Lentamente, começou a voltar para o castelo, cada passo mais arrastado que o anterior. O céu começava a clarear, e com o amanhecer, talvez, Robert pensou, ele pudesse finalmente encontrar algum descanso — se não nos braços do sono, pelo menos na companhia de seu velho amigo Ned, que estaria esperando para ouvir seus temores com a paciência de sempre.
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