Incursão no inferno (livro 2) escrita por Natália Alonso
“Você não pode confiar em seus olhos quando sua imaginação está fora de foco.” - Mark Twain
New Orleans
O tiquetaquear do relógio é sutil, mas agudo e rítmico, ele lembra outro ruído que a acompanhava constantemente naquela cela. O pingar das goteiras que a atormentavam desde que ela chegou, pois marcavam o ritmo dos chicotes, das unhas, dentes e cabelos arrancados. Cada tom lembrava os ossos esmagados e ácidos pela pele, pareciam brindar enquanto remexiam em suas vísceras para fora do abdômen.
— Deixe sua memória retornar à masmorra, onde tudo aconteceu.
Jekyll sopra as palavras muito próximo ao ouvido de Lucy enquanto está sentado em um banco próximo da cama, o quarto escuro auxilia o momento de concentração. Ela respira fundo, está deitada de costas sobre o edredom, sua cabeça pende na beirada, levemente inclinada com a queda onde o amigo idoso se curva avaliando sua respiração pausada.
— Onde você está? — A voz serena de Jekyll conduz as imagens na mente da vampira.
Ela é transportada mentalmente para o lugar maldito.
Faziam meses que não liberavam água, dessa vez a banheira estava cheia, ela entrou, estranhou que havia uma barra de sabão à sua disposição, será que acabou a tortura? As pernas magras se moviam devagar no amplo espaço de cerâmica. Ela pega a barra branca e escorrega na pele para desincrustar a sujeira, o sangue seco e outras coisas que preferia não lembrar. Treme e sente arder nas pontas dos dedos sem garras e ao limpar entre as coxas, mas a água fria ameniza a sensação. Ela escuta as goteiras, por um instante esse som não a incomoda, a água turva fica rapidamente tingida de marrom avermelhado.
Ela submerge até os ombros sentindo o frio no colo e pescoço, apoia a cabeça e dorme profundamente pela primeira vez em anos. Então, no meio do sono, a mão empurra a mulher até debaixo d’água, ela ouve que ele grita e impede que ela saia para respirar. Quando finalmente a mão se solta de seus cabelos ela sobe engolindo o ar o mais rápido que pode antes de sentir o aperto em sua garganta. O braço forte de pele cálida a elevou no ar e a atira facilmente contra o chão de pedra. Ela tenta rastejar, mas ele a agarra pelos tornozelos arrastando-a de volta enquanto ela tentava segurar-se nas pedras do piso ele jogou os cabelos rubros para trás antes de quebrar o braço dela no chão.
Ao fundo de gritos e ela ouve as goteiras, ecoando enquanto assistem sua humilhação.
— Lucy, onde você está? — Jekyll fala novamente, a mulher balança o rosto, tensa de horror.
Ela sente aquele de pés descalços de Mefistófeles se aproximarem. Estava confuso, poderia jurar que era outro ser a segundos atrás, mais alto. A mão com garras a virou segurando-a pelo ombro, as unhas foram fincadas em seu seio enquanto ele mordia seus lábios.
Na casa da vampira e nos tempos atuais o idoso aproxima o relógio no ouvido dela e sussurra.
— Não precisa lembrar de tudo, apenas do rosto dele.
Ele se posiciona, ela tenta não se mexer, é pior quando se move, ele se irrita, gosta que ela fique quase estática. Ela se concentra em contar o tempo, marcado pelas goteiras que pontuam cada movimento grotesco.
— No chão. Ele está sobre mim. — Ela responde trêmula na cama.
Ela sente dor no baixo ventre, ele tinha quebrado sua bacia. Os movimentos repetitivos causam asco nela, ele está arfando, seu hálito se derrama em seu rosto.
Jekyll percebe que ela está sentindo demais.
— Concentre no seu rosto, apenas nisso.
A mulher respira profundamente com as palavras do amigo, se concentrando, a dor passa instantaneamente. Ela já estava com as garras fincadas no colchão, agora fica mais relaxada, seu rosto solta a tensão.
— Ótimo. Agora, tente olhar o rosto dele.
Na prisão de sua mente a vampira vira para olhar seu agressor, a face de Mefistófeles aparece sorrindo morbidamente. Um pingo marca o momento de visão, ela oscila a respiração apreensiva.
— Descreva.
— É Mefisto, mas está errado.
— O que há de errado?
— Ele não sorri assim. É quase sempre de lado, assimétrico.
Jekyll fica pensativo.
— Como é esse?
— Tem presas, sangue e ele sorri simétrico, largo.
— Além do sorriso, o que mais?
Por um instante o rosto deformado de Vlad aparece nitidamente, seus olhos vermelhos, os cabelos longos e negros caem nela.
A vampira ainda deitada na cama do próprio quarto move sutilmente a mão, ainda sendo conduzida pela voz mansa de Jekyll ela tem as visões misturadas na memória.
— Você não está aí, é só uma lembrança.
Ela se concentra em ver seu rosto, o olho vermelho brilha mais intensamente, por um instante os longos cabelos também ficam vermelhos como sangue em uma cortina que cobria seu rosto. Ela se assusta, mas novamente os cabelos se tornam pretos, ela reconhece as feições de Vlad.
— Não!
— Ele não pode te machucar.
Os olhos vermelhos de Vlad se fecham se deleitando em prazer, ele treme em um gemido sobre ela antes de deixar seu corpo cair, ofegante, satisfeito. Uma dor em seu pescoço, uma pressão ficando mais forte aos poucos, a mão muito branca a esgana, cabelos como fogo que cobrem parte do rosto de pele muito clara. Essa imagem some, Vlad está deitado sobre ela, uma dor de rasgo em seu pescoço. Ela sente as correntes em seus pulsos, seu pescoço está quente e dolorido, ele levanta exibindo as presas tingidas de vermelho.
— Você é tão doce, meu bem. — disse o monstro.
Ela se lembra dele entrando na cela com suas botas, do momento em que aquele cheiro doce fez com que o couro lustrado virasse os pés de Mefisto.
— Meu bem. — fala a vampira para Jekyll.
— O que?
— Vlad me chama de meu bem, sempre fez isso. Eu o vejo agora. Os olhos vermelhos. As botas pretas de couro...
— Somente ele?
Vlad segura seu rosto, beijando-a. Ela vira o rosto vendo alguém se afastar de costas, sua pele é branca como leite puro, coberta de cabelos longos e vermelhos, estava nu com as pernas torneadas. A cada passo que ele dá, mais uma gota cai.
— Quem é esse?
— Lucy, fale o que está vendo.
Ela volta a olhar Vlad se levantando ofegante do chão, sua virilha está manchada de sangue, a pesada bota negra quase pisa em sua mão ao se apoiar para erguer-se.
— Eu tenho certeza que é Vlad, desgraçado nojento. O tempo todo...
O tiquetaquear do relógio está alto, e é a única coisa que ela ouve naquela masmorra. Não sente mais nada, apenas vê Vlad e sua tentativa asquerosa de demonstrar poder sobre ela.
— Você está bem?
— Sim. Eu quero matá-lo.
— Ótimo. — Ele aproxima o relógio novamente no ouvido dela e coloca a mão em sua testa. — Quando eu terminar a contagem, você vai abrir seus olhos com todas as lembranças do que viu, sentiu e do que conversamos. Cinco, quatro, três, dois, um.
Silêncio profundo, não existem mais goteiras, ela está em segurança em sua casa. Ele tira a mão da testa dela e dá um sonoro estalo ao lado de seu ouvido fechando o relógio de bolso. Ela abre os olhos verdes e desperta dessa vez mais calma. Jekyll se afasta e pega a garrafa térmica com chá para beber. O líquido sai frio na tampa, ele desiste da bebida e a coloca no chão.
— Como está se sentindo agora?
— Melhor. Na verdade, acho que é a primeira vez que não voltei atacando ninguém.
Jekyll bufa, ele aperta os olhos com os dedos massageando a face.
— Você foi muito bem, quero dizer, agora quase não teve efeito do alucinógeno que disseram ter usado.
— O que quer que seja, é poderoso. Parecia real, as vezes parecia até misturar algumas coisas.
— Como assim? Os rostos?
Cabelos curtos e cacheados castanhos de Mefisto. Cabelos longos e pretos de Vlad. Cabelos vermelhos? Não, ela não viu isso. Viu? Eram pretos, é claro que eram pretos. Provavelmente aquilo era apenas mais uma confusão dos alucinógenos.
— Sim. Foi estranho, mas o importante é que eu não estou mais vendo apenas Mefisto nesse momento. — Ela suspira aliviada. — Obrigada, Jekyll. As sessões me ajudaram muito.
— Não tem de que, eu não poderia te negar isso. Eu também já tive muitas memórias para bloquear ou desbloquear.
Ela se levanta devagar e senta-se na cama, ainda de costas para o amigo confidente, olha rapidamente o celular que piscou alertando diversas mensagens de Manson perguntando dela. Ela lê somente a primeira mensagem e desliga a tela brilhante, não quer responder agora, não quer se comunicar. O idoso que observava tudo a questiona.
— O Manson sabe que no inferno você...
— Não! — Ela responde abruptamente.
— Não seria bom ele saber? Afinal vocês são íntimos.
— E como eu explico que foi alguém se passando pelo demônio que está no meu porão? Ele nem sabe que Mefisto e eu temos... O que quer que seja que temos... Ele não precisa desse tipo de insegurança.
Ele estranha a fala dela.
— Lucy, foi você quem sofreu tortura, por que está tão protetiva com ele?
*******
Mefisto está em um dos cômodos do construto criado por Metatron, sentado apoiado na cama ele divaga enquanto os dedos passam suavemente no próprio peito sentindo a cicatriz que se formara no ataque de Lucy. A imagem da vampira o atacando em fúria quando retornara do inferno o atormenta, foi um corte profundo, mais fundo emocionalmente do que fisicamente. Ainda dói, a pele esverdeada no entorno o faz sentir raiva de ter tido que se mostrar em sua forma verdadeira em público na superfície. Foi necessário para conseguir contê-la, ele achou que assim ela se acalmaria mais fácil e, por um instante, realmente parecia ter funcionado.
Momentaneamente, seu corpo estava um pouco próximo demais do dela, ainda bem que eles estavam a uma distância considerável do grupo, não ouviriam detalhes que... merda. A irritação o faz pensar quando ela o vira pela primeira vez assim. Sua mente divaga na memória. Ele fingiu ser outra pessoa, achava que ela poderia rejeitá-lo se o visse em forma de gárgula. O efeito foi o oposto, ela o identificou no mesmo instante, se aproximou, dedilhou suas asas enaltecendo que parecia uma camurça. Disse que era lindo, que o desejava. Ele ficou surpreso pelo interesse dela, até entre demônios havia segregação pela aparência.
A massagem que acalmava a dor em seu peito ferido acabou arrancando a casca de cicatrização, a dor faz dissipar suas memórias e voltar para o porão da vampira. Ele rosna baixo, irritado pela dor, pela guerra e por ter de estar na superfície enquanto assiste ela com outro. Pior, ela ainda tinha horror de olhá-lo, isso tornava tudo insuportável. Então ouve os passos apressados no porão, ele reconheceria essa passada em qualquer superfície, seja inferno ou terra.
— O que está fazendo? — questiona o demônio já no corredor para Lucy que olhava a geladeira com as poucas unidades de sangue de doação.
— E-eu...
Ele percebe que ela recuou um passo.
— Se você quiser que eu me afaste mais...
— Não, Mefisto. Eu só, me assustei quando você chegou.
— Certo. Precisa de ajuda?
— Não. Eu vou sair para fazer compras, eu só estava conferindo o estoque de sangue, estou preocupada com quando houver um novo ataque. Eu não posso morrer de novo.
— É, de fato, seria bom se isso... não acontecesse. — Ele engasga um pouco na fala. — Espero que consiga confiar em mim novamente.
— Eu não diria que não confio em você. Eu só estou... minha mente nunca foi a mais estável, agora piorou um pouco. Mas vou me recuperar.
— Sim, claro. Eu é que não poderei mais usar minha fala orgulhosa que sempre cumpro minhas promessas.
Enquanto as palavras saíam cada uma era dita mais baixo, como se quisesse engolir por vergonha ou desaprovação própria. Ela concorda com a cabeça, isso parecia ainda pior. Sim, ele prometeu que Vlad não chegaria perto dela, e ele chegou perto de acabar com sua sanidade.
— Você fez o que podia. — Ela diz mesmo sabendo que não é uma boa resposta.
— Sim, mas não bastou. E agora você está com pavor de morrer novamente.
Ela pensa em muitas respostas, mas todas elas morrem antes de chegar em sua boca. Ele olha preocupado.
— Você não vai lutar no próximo ataque?
— Acha que eu te deixaria na mão? Você me pediu ajuda, eu farei isso.
Ele sorri lateralmente.
— Mesmo que tenha que fazer isso perto de mim?
Ela respira profundamente.
— Eu sempre lutaria ao seu lado. Eu sei que não foi você. Eu só... preciso de um tempo para tirar aquela imagem da minha cabeça.
— O tempo que precisar, Lucy.
Ela fecha a geladeira que estava conferindo e sobe as escadas em direção a parte superior da casa. Lá, ela encontra Manson que a aguardava com a lista de compras na mão.
— Certo, tudo pronto?
— Sim, eu vou ter que passar no banco de sangue essa noite, tenho poucas unidades aqui. Dependendo de como e onde for esse novo ataque posso ter dificuldades depois, quero me garantir.
— Tá, mas agora, vamos só no mercado né? Uma coisa normal de humanos, sem nada estranho...
— Nada estranho.
— Vocês precisam de uma mão? — fala Hidekki que acabara que jogar fora a gimba de cigarro pela sacada da vampira, a brasa ainda acesa cai no jardim.
— Não. Obrigada, Hidekki, eu devo volt... — A mulher observa chocada para a mão mecânica que Hidekki usava, ele movia os dedos perfeitamente e cruzou os braços para ela apoiando a peça cara na parte superior. Porém toda ela era metálica, sua pele artificial se fora deixando inteiramente expostos seus emaranhados de fios e brilhos elétricos. — Vejo que está usando a mão.
O asiático sorri debochadamente.
— Ainda não dá pra desenhar, mas logo pego o jeito. Ficou bom, né?
— Achei que não tinha se incomodado com a pele.
— Não era a minha pele, Lucy. Não fazia sentido ter uma, não importava a cor.
Ela balança a cabeça afirmativa.
— Acho que tem lógica. É... eu vou fazer as compras. Me avise se precisar de algo.
— Claro, eu aviso.
Lucy e Manson saem, entram no carro do policial rapidamente, atormentados pela visão de Hidekki. Ele liga o carro e dirige por imensos dois quarteirões em silêncio antes de vomitar seus pensamentos.
— Ele me dá arrepios.
— Ele só tem vinte e dois, foi torturado pelo Clinton e perdeu uma mão. Dá um tempo.
— Eu já prendi gente que me olhava como ele. É sério, Lucy. Ele mudou. — Manson fala com as mãos tensas no volante.
— É claro que mudou, todo mundo muda depois de tortura, Manson.
— Ele tirou a porra da pele da mão, Lucy!
— Ele não... não era pele de verdade, ele deve ter achado maneiro, uma mão mecânica, você já viu os animes que ele assiste? Tem personagens em quadrinhos assim, sem contar que ele gosta de eletrônicos e programação, sempre gostou.
— Não é a mesma coisa, ele tá frio, fala estranho, Lucy! Como você não tá vendo isso!
Ela leva as mãos no rosto para se acalmar.
— Dá pra dirigir para o mercado logo? Eu só quero resolver isso, esse monte de gente na minha casa acabou com toda minha comida e se possível, vou comprar algo para beber também.
— Ah ótimo, vai recomeçar o ciclo novamente!
— Não! Não era esse o propósito. Não assim, é para nós, seria bom passarmos uma noite mais tranquila.
Ele a espia rapidamente e volta os olhos na avenida novamente.
— Nós? Você quer dizer nós dois? Sem demônios, vovô monstro ou psicodekki?
— Nós dois, acho que precisamos desse momento.
Ela sorria tentando passar tranquilidade, internamente estava apreensiva, isso daria certo? Era cedo demais? Naquele momento ela só queria superar essa angústia, e se fosse bom com alguém que merecia, melhor ainda. Afinal, Manson merecia carinho e atenção. Ela pensava tudo isso enquanto mantinha o sorriso, enquanto nota que ele não, pelo contrário, seu rosto estava em uma clara preocupação. Ela percebe que o carro desacelera, estaciona embaixo de uma árvore, o freio de mão foi puxado ruidosamente antes dele virar para ela. Os olhos negros a avaliam, se acomoda tomando um tom de voz estranhamente mais baixo do que o costume.
— Lucy, o que está fazendo?
— O que?
Ele só inclina o rosto tentando fugir do sol, a sombra da árvore não foi o suficiente, suspira abrindo um botão da camisa clara.
— Você não quer fazer isso, não agora. Você não precisa fazer nada pra me agradar ou por estar querendo que eu não pense besteiras.
— Do que está falando, Manson? Acha que não quero ficar com você?
— Estou falando do sexo em si. — Ele foi direto, ela sempre gostou dele ser sem meias palavras. — Desde essa última morte a duas semanas não tivemos mais do que um abraço ou beijo, e está tudo bem, eu realmente não estou com pressa.
— Eu só quero superar essa merda. Eu mal lembrava de você quando retornei, e depois, são tantas lembranças de toda aquela dor, tudo o que vivi foi repassado e misturado. Toda a vida de merda que eu... eu só quero voltar a me sentir eu mesma, e se possível, queria que você me ajudasse nisso.
— E ficarei feliz em ajudar, inclusive com isso, mas não acho que seja hora.
Ela recua o corpo apreensiva, ele acha que talvez ela tenha um gatilho e o ataque? Que talvez o mate dessa vez? Ele percebe e complementa.
— Não que eu ache que vai me machucar, não tenho medo de você, Lucy.
— Não mesmo? Olha, Manson, eu estou tentando lidar com as memórias, Jekyll está me ajudando muito com isso, a hipnose me ajudou a controlar melhor.
— Está lidando melhor com o estupro?
— Isso não aconte... — Ela respondia imediatamente, mas logo observou que ele suspirava como que dizendo que ela não o convenceria do contrário.
Ela paralisa, os olhos verdes quase ficam trêmulos.
— Ele te contou? — A voz dela sai quase em um murmuro com medo da resposta.
— Você sabe que fala enquanto dorme? Naquele último pesadelo de semanas atrás...
Merda, merda, merda. Ele ouviu tudo? Ouviu que era Mefisto? Não, não era ele, era Vlad, sempre foi. Ela afoga os pensamentos quando busca em como pode desviar das palavras comprometedoras.
— O que quer que eu tenha dito, era apenas um pesadelo, não signi...
Ele segura as mãos dela a aproximando.
— Ei, você já tinha me contado que tinha sofrido esse tipo de ataque, não é de surpreender que fizessem você reviver os ataques no inferno.
— Sim. Foi... os mesmos ataques que já tinha acontecido.
Ela ficou aliviada, aparentemente ela não chegou a dizer o nome do demônio, ou ele não ouviu.
— Enfim, o que quero dizer é que eu entendo porque me afastava no começo, depois desse pesadelo, tudo ficou mais claro ainda pra mim. Isso leva tempo para você ficar a vontade de novo. Então, não quero que você se sinta que tem que me agradar de alguma...
Ele estava falando de como ela poderia tratar as próprias emoções depois de um trauma, logo pra ela, que antes mesmo da penitência tinha tantas feridas diferentes que nem ela mesma poderia contar todas. Mas tudo bem, pelo menos ele não achava que ela tinha sido atacada por Mefisto, bastava ela mesma superar ter visto assim. Nossa, como queria beber agora, sangue e vodca, quantidades obscenas de ambos.
Então ele desatou a falar continuamente, ela apenas balançava a cabeça concordando em momentos pausados, não estava ouvindo realmente, não queria, ainda menos dele. Ela observou os dentes manchados de nicotina, em como quando o conheceu ele vivia com aqueles malditos chicletes na vã tentativa de largar o vício, mas ele se entregou. Ela notou que atrás dele passaram adolescentes rindo enquanto atravessavam a rua, um avião passou deixando um rastro no céu, no calor que ainda emanava no vidro ensolarado.
Enquanto ele usava palavras como “resiliência” e “ressignificar” que provavelmente aprendeu em alguma exaustiva palestra de como lidar com vítimas ela divagava de como não se sentia uma. Por favor, não me trate como vítima. Agora ela oscilava em raiva, em vontade de atacar tudo e todos, talvez abandonar a cidade, ele, Hidekki, Jekyll e todos os demônios. Mas não, não dessa vez, ela não iria fugir agora, não iria ser um monstro. Ela tinha que ser controlada, seja a heroína que ele acha que pode ser, mesmo que esteja se cagando de medo de morrer novamente. Ela nunca teve esse receio, e agora, justo agora, era um tormento.
Infelizmente ele não parava de falar, ela não queria uma sessão de terapia, mas sim uma garrafa de vodca, de LSD de boa qualidade, queria esmurrar alguém muito grande e que jorrasse muito sangue até não sentir mais as mãos. E depois de matar algumas pessoas, demônios, condenados ou qualquer coisa, queria usar drogas e beber até cair de novo, recomeçar. Mas ele não parava de falar.
Isso estava a martirizando, e o pior, ele só estava sendo gentil, não tinha culpa que só estava piorando tudo e ela queria que isso parasse
Pare, por favor, cale a boca.
Manson, por favor, suma. Se você continuar talvez eu queira te agredir.
Eu quero sumir, deixar de existir, apenas fique quieto.
Então ela decide que vai falar a única coisa que o faria silenciar.
— Eu te amo, Manson.
As palavras dela cortaram não só a fala dele, mas como alguns de seus neurônios também. Ele dá um sorriso tolo e quando está olhando para ela a mulher sorri de volta. Era um sorriso de felicidade genuíno, não pelos motivos que ele pensava, não por ele sorrir para a declaração de amor, mas pelo silêncio tão desejado. Logo em seguida, sua feição muda para o temor. Os faróis muito próximos em alta velocidade os atinge na lateral dele. Ela só tem tempo de cortar o cinto e agarrar a cabeça dele, envolvendo-o para tentar o proteger. O impulso da batida é forte o suficiente para fazer o carro capotar.
*******
Quando os portais se abrem na superfície, Belzebu, Abigor e Abadon passam com suas tropas de demônios e amaldiçoados. Abadon abre uma caixa branca perolada e entrega duas espadas reluzentes para cada um dos dois. Abigor observa os signos dourados desenhados na lâmina.
— Não toque na lâmina, somente no cabo. — avisa Abadon com seus seis chifres e face de caveira.
Abigor fica surpreso e Belzebu já balança as espadas de um lado a outro, testando seu peso.
— Achei que não teríamos mais armas abençoadas. — Abigor tenta disfarçar a surpresa.
— O anjo acabou entrando em contato, demorou, mas chegaram. Inclusive garantiu que agora o veneno pode matar em minutos.
Abadon indica o caminhar da tropa de condenados que portam lanças, arcos e espadas reluzentes, ele mesmo flutua com seus pés ossudos que saiam do manto negro pairando pouco acima do chão. Abigor fita impressionado e apreensivo de como fará para impedir que consigam matar o grupo resistente, talvez seja melhor ele se render? Deveria avisar Baal para fugir em algum canto da superfície e não voltar mais? Essa guerra seria ganha por Astaroth, e o pior, ele mesmo teria que colaborar em seu objetivo. Sua mente estava zunido quando a ponta da lâmina abençoada toca na armadura peitoral dele, estava sendo cutucado por Belzebu.
— O que foi? Está com receio de matar nossos irmãos, serpente? — Belzebu o provoca com a ameaça das toxinas divinas presentes na lâmina.
— Eu não tenho receios de guerras, Belze, só de ser feito de marionete.
Abigor caminha se separando do grupo e avisa antes de se afastar totalmente:
— Aliás, Belzebu, a próxima vez que você apontar qualquer coisa para mim, eu farei você engolir sua própria cauda.
Os demônios se dividem nos três grupos, cada um seguindo por uma das ruas da cidade do jazz. A tropa de espanhóis coloniais seguia atrás de Abadon na rua a oeste. Na rua a leste, Abigor foi com seu pequeno grupo de mongóis enquanto Belzebu seguiu pela rua central com uma tropa de britânicos. O foco agora não era mais matar apenas o grupo, mas de sacrificar o maior número possível de mortais. Eles logo chamaram a atenção, alguns poucos tiros de policiais locais tentavam conter os ataques, mas rapidamente os bares e hotéis luxuosos estavam sendo atacados. O centro turístico era conhecido pela sua intensa movimentação, ainda mais durante o carnaval.
*
Quando o grupo chega na zona central, já haviam diversas lojas incendiadas e pessoas em pânico em fuga. Os policiais inutilmente atiravam e poucos condenados caíam alvejados. Mefisto segurou no ar com seus construtos uma viatura que voava com a explosão e por pouco mataria um grupo de pessoas. Ele fala pelo comunicador com Hidekki que ficara no porão de Lucy, vigiando as câmeras de segurança das ruas.
— Para onde eles foram, Hidekki?
— Estão em três grupos, norte, leste e oeste desse ponto que vocês estão.
— Três? É por isso que está pior dessa vez... Consegue ver se são os mesmos?
— Os dois da outra vez, mais um que tem mais chifres e parece uma caveira. O baixinho está na rua central, na leste está o demônio cobra e oeste está esse novo que agora acabou de mostrar que sabe voar.
— Maldição! Meta, preciso que você me auxilie a dar conta de Abadon.
— Achei que sua preocupação era com Abigor. — Metatron fica confusa em seus olhos brancos leitosos.
— Ah, cara anja, não tem nada tão ruim que não possa piorar.
Yuri contorce seus músculos se reposicionando no dorso, seus ombros já muito largos, garras à mostra, e corpo coberto de pelos acinzentados. Jekyll abre e toma um frasco de sua poção iniciando sua transformação e Belial brilha seus olhos vermelhos iniciando a duplicação de diversas cópias de olhos brancos. Eles se dividem nos grupos, antes de ir, Yuri questiona Mefistófeles.
— Alguma notícia da Lucy? Onde ela está?
— Eu não sei, ela deveria já ter voltado, mas ela vai ficar sabendo desse ataque, certeza que aparecerá aqui em breve.
Yuri sai e o demônio fala com Hidekki pelo comunicador.
— Você ainda está ligando pra ela?
— Não parei, só toca o celular, ninguém atende, nem o Manson. Talvez estejam em algum lugar sem sinal, ou talvez só estejam em um motel mesmo.
Mefisto estranha a fala do jovem.
— Bom, continue tentando. Se conseguir me avise.
— Claro.
Hidekki traga profundamente e joga a guimba no copo com resto de café enquanto olha para as diversas câmeras de segurança. Lentamente, olha na tela do celular e lê a notificação do banco, um depósito gordo com muitos zeros em sua conta. Ele sorri, grato pela nova posição. Pega o outro celular, o mais simples que recebera recentemente do traficante e nota a mensagem.
Pacote recolhido, destrua esse aparelho.
— Foi bom fazer negócios com você. — Ele murmura enquanto desmonta o aparelho e o joga em uma lixeira metálica, o fluido de isqueiro é jogado por cima e o fogo é aceso criando uma fogueira intensa.
O tremular da chama tem um efeito narcótico nos olhos finos de Hidekki, ele se levanta, vai até a boneca de pano antiga, protegida pela caixa de vidro, observa os detalhes bordados. Ele fica pensativo de como auxiliou Lucy a encontrar o quadro de sua família morta na idade média. Na pintura, a boneca estava presente nas pequenas mãos da criança, o casal feliz exibia a filha e o amor terno. A vampira sempre cuidou muito desse objeto, demonstrou gratidão intensa pelo jovem asiático quando ele encontrou o quadro. Isso foi a muito tempo, ele pensa, em um tempo em que o policial não estava presente dividindo a atenção dela. Ele afasta o rosto da caixa vítrea devagar, então sua mão mecânica bate na proteção de uma única vez despedaçando-a. A mão mecânica avança devagar recolhendo a frágil boneca.
*
Quando Belzebu vê Belial acompanhado de Yuri, fica surpreso. As versões do demônio em olhos brancos se distribuíram pelo espaço em defesa dos civis que eram atacados pelos condenados britânicos. Enquanto Yuri corria para destroçar os soldados, Belzebu tenta se aproximar do verdadeiro Belial, o único de olhos vermelhos.
— Achei que tivesse morrido, Bel. Da última vez que te vi, você foi feito de espeto por Vlad. Ele até ficou triste de ter perdido a espada.
— Eu não caio com facilidade, Belzebu, e nem me curvo a qualquer um.
Belzebu ri histericamente.
— Realmente, você gosta mesmo é que te tratem como vaca, já que gostava de um boi encima.
Belial vira os olhos em ojeriza.
— Satanás! Como você é infantil, Belze. Poucas coisas são mais patéticas do que um demônio moralista.
— Isso não importa agora, já que seu búfalo está morto.
— Com todo respeito, Belze, mas isso não me preocupa, você não teria tamanha competência.
— Abigor é quem fez a limpeza, eu vi o abatedouro.
Belial fica furioso e olha para os lados tentando saber onde seu irmão estaria serpenteando. Belzebu o ataca, o que Belial defende com certa facilidade.
*
Na rua onde a serafim estava, Abadon desaparecia em uma penumbra negra se transportando para próximo em ataque. Ele levanta as mãos invocando quatro diabretes de cólera que passam a circular a Metatron, causando delírios que a impediam de lutar. Feliz com o feito, ele admira a manipulação em um largo e cruel sorriso. Mefisto o ataca no ar em sua forma verdadeira, de gárgula esverdeada o chamando para lucidez.
— Abadon! Não deveria se aliar a Astaroth, ele vai acabar destruindo tudo com essa loucura!
— Eu me alimento de ira, Mefistófeles, para mim, toda guerra é lucrativa.
Abadon agarra o demônio da heresia e aspira o ar próximo ao seu rosto, inalando uma névoa rubra que sai de seus poros. Mefisto se contorce e o empurra. Atordoado, ele cambaleia e cai encima de um carro, destruindo-o com seu peso. Abadon tem seus olhos negros profundos se ramificando em outros dois pares em sua fronte. O manto negro se abre enquanto ele alça voo abrindo os braços e revelando mais ossos das costelas e bacia imersos no vazio trevoso de seu corpo. Ele parece estar em transe e plena felicidade de poder.
— Ah, irmão. Você realmente está furioso com essa guerra, eu poderia me deliciar só com você! Mas agora, eu desejo fazer uma colheita!
Mefisto fica em desespero.
*
Enquanto Baphomet usava sua lança contra os soldados que estavam dispersos, Abigor está em sua forma de naga. Suas escamas negras e amarelas deslizam rapidamente para fugir dos golpes da maça de Azazel que voa entorno da grande meia serpente. Porém Jekyll consegue agarrá-lo por trás, segurando firmemente pelos braços para que o anjo renegado o atinja. A clava bate em cheio no rosto de Abigor uma vez, mas quando Azazel volta para acertar novamente, o corpo do demônio se modificou, crescendo em uma serpente naja completa e imensa. Não há mais braços para que Jekyll o segure, o corpulento escamoso ruge com sua boca exibindo suas peçonhas. O capuz de sua cabeça abre com duas abas em cores vermelhas e amarelas em um mosaico fluido.
Azazel assim que vê a figura fica paralisado, sua clava desliza e cai de sua mão. Jekyll se movimentava atrás, mas a naja gigante se vira para ele, capturando sua atenção. O sibilar que reverbera de sua garganta sai junto de sua língua anil, sua cauda com ponta metálica se movimenta devagar, posicionando-se para um golpe fatal. Então o grito de Belial chama sua atenção, a cobra reconhece a voz e se alonga para o alto em busca do demônio negro, então nota que ele está lutando contra Belzebu.
*
Abadon sobe no ar, seus braços abertos comandam seus soldados que armam as flechas.
— Não faça isso, filho. — Lúcifer aparece, logo abaixo daquele que parece a própria visão da morte.
— O que? Pai?
Os quatro olhos negros de Abadon se surpreendem com a presença daquele que a muito tempo não via.
— Ah, filho. Você sempre está faminto, acho que eu devia ter te colocado no círculo da gula.
O caveira desce até o chão ficando frente ao seu criador e estranha sua aparência.
— Pai, você está muito magro! E estranhamente é eu que estou falando isso.
Lúcifer ri da situação, o caveira sorri de volta nas alvas saliências pontiagudas se aproximando.
— Abadon, vamos acabar com essa guerra, não precisa ser dessa forma.
— Que cheiro bom. — Abadon fala enquanto estreita os olhos de forma vagarosa, saboreando o deleite.
— O que? — Lúcifer recua o rosto, temeroso.
— Você, pai. Você ficou tão furioso por termos te traído.
Lúcifer percebe que estava sendo segurado pelos pulsos por Abadon, que começou a aspirar sua ira da prisão. A cada vez que enchia os pulmões sua capa negra parecia ficar maior. Mais uma puxada de aroma colérico e ele abre a capa negra revelando mais de seu corpo de penumbra. Mais um par de braços sai do dorso e segura o corpo do pai, aproximando-o. Lúcifer gritava em desespero quando Mefisto atingiu Abadon por trás com sua espada conjurada.
A dor faz com que Abadon solte o pai enfraquecido e caído no chão. O demônio da ira vira-se sacando suas duas espadas reluzentes em um movimento cruzado. Mefisto engole seco e rapidamente conjura uma segunda espada para tentar se igualar, internamente, ele estava apavorado. Abadon desaparece no ar e ressurge nas costas de Mefisto que defende o golpe perdendo o equilíbrio, ele responde com um golpe lateral em que Mefisto desaparece em uma névoa verde e ressurge no lado e Abadon bloqueia facilmente.
— Mefisto, você pode até ser o estrategista da família, mas não o lutador. Não devia tentar brincar comigo.
— Eu não posso deixar Astaroth vencer isso!
Abadon sorri com os dentes pontiagudos, então estreita os lábios para aspirar a ira de Mefistófeles que responde com um chute entre as espadas.
— Para com essa porra!
Abadon se afastou poucos passos, mesmo em sua forma verdadeira de gárgula, Mefisto não era forte ou ágil como ele.
*
Abigor em sua forma de serpente gigantesca tinha hipnotizado completamente Jekyll e Azazel, ambos balançavam junto do pulsar das cores em mosaico da cobra. Mesmo com os gritos de Baphomet eles não despertavam, e ela não podia simplesmente deixar de lutar com os soldados que ainda estavam dispersos na área. Abigor finalmente avista Belial, que tinha desarmado Belzebu e que agora já se rastejava para trás. O serpentino então usa seu rabo apenas para bater e afastar os hipnotizados e lançar-se contra Belial, prendendo com seu corpo alongado, porém, sem apertar demais. Belzebu respira aliviado ao ver que seu oponente estava sendo levado cada vez mais ao alto.
— Desgraçado! Você o matou! — Belial grita furioso para a serpente.
— Não, me escuta! — Abigor volta a sua forma de naga para falar, mas grita de dor após duas cópias de Belial voltarem atingindo sua cauda.
Ele se contorce voltando a serpente completa movendo a cauda longa rapidamente para afastar as cópias. Ele deixa Belial cair no chão e quando Belzebu se aproxima com a espada para o matar o irmão, Abigor volta a forma antropomórfica e vai rapidamente em suas costas prendendo-o em um mata-leão com os braços. Belzebu não pode ver que quem o esgana é na verdade Abigor que rapidamente deixa-o desacordado. Belial, surpreso com a ação, encara os olhos fendidos dele.
— Fale!
— Baal está vivo, eu fiz uma ilusão para enganar Astaroth, todos os orobas estão bem.
— Eu achei que você tinha...
— Baal sempre foi meu braço direito, eu não trairia os orobas por um capricho do porco do Astaroth.
— Lembro que você não o apoiou no golpe.
— Exatamente, além do mais, eu puno os genocidas, não me alio com eles!
Belial franze o cenho desconfiado.
— Não brique com isso.
— É sério. Ele está também agoniado achando que Vlad tinha conseguido te matar. Eu disse pra ele que você devia estar se recuperando.
— De fato, foi por pouco.
— Você tem alguma mensagem que eu deva dizer para ele?
Belial tenta se conter, mas a emoção vem a face.
— Apenas... avise para que ele não ouse morrer.
Abigor sorri em uma franca risada.
— Nossa, agressivo e romântico.
Belial ri, grato. Abigor suspira antes de falar.
— Eu preciso que vocês levem embora Belzebu, ele é um fanático e fará qualquer coisa para agradar Astaroth. Toda hora ele me atrapalha me seguindo, tenho receio dele descobrir Baal e os orobas escondidos em meu castelo.
— Levar Belzebu é perigoso, e se ele escapar?
Abigor pressiona os lábios em desdém.
— Por satã, ele é o senhor das moscas, não das armas.
Belial olha entorno e percebe que os soldados pararam, Yuri e Baphomet voltam confusos quando percebem que os soldados simplesmente pausaram a luta e ficaram estagnados em transe. Azazel e Jekyll também já estavam próximos.
— O que você planejou? — questiona Belial para Abigor.
*
Abadon dá duros golpes em Mefistófeles que se desconcentra e uma de suas espadas feitas em construto se parte, em mais um gesto, o esquelético talha o braço direito de Mefisto em um corte liso e longo. O demônio da heresia grita perdendo sua espada que se desfaz no momento de dor, ele se afasta voando em suas asas. Então sente um formigamento crescente em seu braço e vê que foi contaminado por algo branco que se ramifica rapidamente ao longo do corte extenso. Ele olha para as espadas nas mãos dele e percebe os signos dourados na lâmina.
— Mas essas armas abençoadas, nós não podemos segurar, como?
— Você é o demônio dos contratos, deveria saber que é bom ter com quem negociar.
Abadon se aproxima, Mefistófeles está com o braço direito dormente, com o esquerdo ele cria uma espada, mas o veneno parece se espalhar rapidamente por ele ter usado as asas, ele pousa titubeante no chão e vê a imagem da morte cada vez mais perto. Quando se defende e usa as asas para saltar rapidamente desviando do ataque. O caveira o rodeia, e finca a ponta da espada no joelho esquerdo de Mefistófeles que urra de dor.
— Desiste, sangue sujo! — O caveira provoca.
— Cala a boca!
Abadon torce a espada antes de puxar, arrancando um sibilo dolorido de Mefistófeles ao sentir sua rótula descolada e desalinhada, ele desaba no chão. Abadon levanta a espada no alto, alinhando a lâmina no pescoço do agonizante, que consegue escapar ao tornar-se uma fumaça verde. Ele reaparece, mas não consegue apoiar o pé, precisando sumir novamente para escapar de outro golpe envenenado.
Mefisto desaparece na névoa verde e reaparece diversas vezes, tentando cansar o caveira que finalmente para usando seus quatro olhos para captar a áurea colérica do demônio. Os olhos superiores do caveira brilharam encontrando Mefisto e que surge muito próximo dele, tentando um golpe de cima contra a caveira que responde com um gesto certeiro em seu estômago, atravessando a espada no ventre do demônio. O caveira segurava firmemente o cabo conduzindo a gárgula que tentava sair da lâmina. A mão branca e esquelética torce o cabo, o girar do aço divino fez Mefisto gritar e cuspir seu sangue azulado recuando, ele tropeça e vai ao chão. O verde se contorce em dor, sente seu corpo com diversas contrações como se ele estivesse sendo torcido internamente. Um pulsar frio se expande da lâmina fincada e do corte de seu braço, então olha a caveira sorrindo morbidamente acima, se posicionando para decapitá-lo.
Então o céu é cortado por uma luz dourada, o som de estouro só consegue chegar depois. A luz bate no chão de uma vez fazendo com que Abadon se afaste.
— Quem diabos é você?
Mefisto só vê o vulto dourado passando e lançando Abadon para o outro lado abrindo um buraco na terra. Metatron finalmente pode se livrar dos construtos que a prendiam, já que Abadon ficara finalmente desacordado. A arcanjo Jehudiel sai da cratera em uma armadura dourada no estilo egípcio, sua cabeça negra e lisa tinha desenhos dourados fazendo um adorno e também uma áurea de proteção, sua espada curva khopesh fazia um estranho som quando cortava o ar.
— Achei que os arcanjos tinham decidido não interferir. — diz Metatron se aproximando.
— Eu não cheguei a dar meu voto. E eu vim por mim mesma, não pelos arcanjos. — Jehudiel tem uma voz ressoante quase como se tivessem várias vozes juntas.
Mefisto se contorce no chão em dor, Metatron se abaixa para iniciar o processo de cura, começando em remover a espada de forma que a lâmina estivesse intangível e assim reduzir os danos. O demônio urra de sofrimento, suas garras se fincam no asfalto quente tentando se conter enquanto em seus braços sobem tremores tensos. Abadon se levanta e ataca a arcanja que voa em suas quatro asas, ambos travam uma batalha no ar onde ela gira o corpo com facilidade para confundir e cansar o demônio.
A espada abençoada fora removida e jogada de lado, a lâmina brilhante está cheia de sangue azul índigo. Metatron pode colocar suas mãos no corte profundo do abdômen de Mefisto para canalizar o contaminante divino que se distribuía em sua carne. A absorção queima por onde passa na pele verde do demônio que é contido por Lúcifer para que não se debata demais. A coloração enegrecida dos dedos da serafim passam a subir por suas mãos e pulsos, ela também sente sua mente confusa e cada vez mais colérica. Mefisto respira rápido, hiperventilando, ele rosna quando seus caninos ficam mais expostos, saindo pelas gengivas que sangram em sua boca. As escleras dos olhos foram tomadas completamente pelo amarelo e sua pupila se estreitara em um fio tão estreito que era quase ausente. Ele sente seu coração acelerado se debatendo na caixa toráxica como se quisesse escapar da contenção.
— Está muito mais forte dessa vez, mais tóxico! — avisa Metatron.
— Não pare, está funcionando! — Lúcifer fala enquanto segura o braço sangrando e contaminado do filho, de repente, a gárgula verde respira profundamente e solta um rugido de agonia que parecia fazer o terreno tremer.
Abadon vê do alto que Mefisto quase não respira depois do urro, mas esse momento de contemplação permite um golpe certeiro de Jehudiel que corta sua espada parcialmente abençoada. Desarmado, o demônio não tem escolha, a não ser desaparecer, para livrar-se dos golpes diligentes dela.
É nesse momento, em que finalmente Abigor aparece, fingindo escapar dos outros membros do grupo e junto dos soldados, ele junta-se a Abadon que estava esgueirando-se de Jehudiel.
— E Belzebu? — questiona Abadon ao aparecer junto do naga.
— Ele foi pego, eles se uniram contra nós.
— Que se foda o Belze. — conclui Abadon abrindo o portal para que Abigor passasse e ele logo em seguida.
Os amaldiçoados e condenados que não conseguiram passar nos portais aos poucos se deterioraram em uma poeira acinzentada. Jekyll, e Belial chegam logo em seguida, eles correram ao ouvir o rugido de Mefistófeles, e o demônio do Limbo ficou chocado ao ver o estado de seu irmão ao chão.
— Não, ele também! — Ele murmurava lembrando das próprias dores que sentira quando estava contaminado, mas ao olhar para o irmão ele se assusta. Aparentemente, pela quantidade de ramos brancos na pele de Mefisto, ele estava muito mais envenenado do que ele fora, mesmo que tivesse ficado com a espada por muito mais tempo no corpo.
Rapidamente ele se ajoelha para segurar seus pés que batiam com os calcanhares diretamente no asfalto e Jekyll passa a segurar os braços para que Lúcifer mantivesse sua cabeça em segurança. Com o abdômen completamente fechado e sem contaminante divino, agora Metatron precisava retirar a toxina do joelho e braço de Mefisto. Os fios brancos de veneno tinham coberto totalmente a coxa trêmula, a celestial rapidamente absorve as toxinas que recuam em queimaduras ácidas e pouco se preocupa com a rótula pendente já que estava preocupada com o avanço do veneno do braço que os fios brancos se subdividiam até seu pescoço e alguns já tinham chego ao peito.
Sentindo que seu coração estava bombeando o veneno diretamente ao seu cérebro, o gárgula se contorce apoiando as pernas no chão e movendo seus quadris para cima. A serafim sobe em sua cintura para usar o próprio peso para contê-lo, já que suas pernas não paravam e criava ainda maiores feridas os quadris com as batidas. Sua boca passa a espumar enquanto escapam guinchos disformes, seus olhos viram para cima. Ele convulsiona, sua cabeça acaba escapando das mãos do pai batendo agressivamente chão nos tremores intensos. As asas raspam freneticamente no asfalto quente, o esfolamento intenso deixa alguns de seus ossos a mostra. Foram longos minutos de espasmos horrendos e continuou até que as veias brancas diminuam somente até próximo do corte.
Os braços de Metatron já estavam completamente negros, seus olhos pareciam buracos em sua face, ela sofre com a absorção e ondas de energia saiam em símbolos geométricos intrincados. O solo em volta começa a tomar forma de seu círculo misturado a cubos intersecionados, ela sente, absorvendo não só o poluente divino, mas também muito da essência do próprio demônio que as linhas negras agora se ramificam para seu pescoço.
Quando o corte do braço de Mefisto finalmente fechou, ele respirou falhado pela boca, o ar entrou ruidoso em seu pulmão como se estivesse se afogando instantes antes. Metatron finalmente solta suas mãos da pele de camurça verde do demônio e cobre o próprio rosto com as palmas, sentindo agora sua pele queimar. Jehudiel vai até ela tentando acalmá-la de seu sofrimento. Quando se aproxima, a mão enegrecida de Metatron acaricia seu rosto com um sorriso malicioso e um gemido baixo claramente em luxúria. Jehudiel se assusta e se afasta, ouve a serafim rir em um rumorejo e depois falar em um tom normal.
— O que aconteceu? — disse com a voz oscilante em um tom angélico suave e um mais grave gutural;
— Você estava curando Mefistófeles. — responde a arcanja em seu traje egípcio.
— Ele está bem?
A angélica olha para Lúcifer que está com o rosto muito próximo da narina verde do demônio delirante. O antigo rei avisa.
— Você o salvou. Obrigado.
— Achei que me desejava morto. — responde Metatron com os olhos amarelos e sua voz mista.
— O que? — Lúcifer fica confuso, mas entende que ela acabou capturando talvez até memórias dele.
— Pensei que me odiasse por eu ter sido um dos que te colocou na prisão.
— Ainda é meu filho. Eu não dou meus filhos em sacrifício, nem mesmo em meu nome.
Jehudiel fica pensativa quanto ao que Lúcifer fala, o quanto isso poderia ter outros significados. Ela toca no ombro de Metatron que instantaneamente vira-se para ela quase em um ganido.
— Venha me saciar, deliciosa. — A voz que sai é lasciva e grave.
Jehudiel encosta a lâmina de sua espada curva no braço de Metatron que parecia oscilar em seu transe, ela grita quando o metal queima sua pele.
— Onde está Lucy?
Metatron ficara com os olhos negros e depois finalmente brancos novamente, o restante do grupo chega, Belzebu vem amarrado com eles sendo puxado por Baphomet. Estão exaustos e confusos questionando do que ocorrera ali, eles só ouviram os gritos, mas agora, o demônio no chão respirava lentamente.
Esconderijo de Nikolai
— minutos antes do ataque de Astaroth -
Quando o caminhão bateu na lateral do motorista, o carro de Mason capotou duas vezes antes de parar de ponta cabeça. A única coisa que a vampira conseguiu fazer naquele momento foi cortar o próprio cinto e usar o corpo para envolver a cabeça de Manson, já que ele não tinha o hábito de cuidar da própria segurança. Ainda caídos, ela sentira vagamente quando seu corpo foi puxado para fora do carro, alguém não se importou muito em arrastar seus pés no asfalto quente, provavelmente não eram socorristas. Ela conseguia abrir os olhos por pouco tempo até apagar novamente, uma dor latente em sua cabeça fazia um zunido constante.
Aos poucos o som abafado de algo úmido batendo começaram a ficar mais altos, e ela finalmente abriu os olhos tentando focar. A mulher ainda tonta estava tentando compreender onde estava quando um som de grito em sua mente a desperta. Ela olha assustada reconhecendo a voz de Mefisto em um urro de dor, porém ele não estava ali, apenas em sua mente. Um arrepio percorre o corpo a deixando confusa, por que estava pensando no demônio assim, do nada, como se ele estivesse tão próximo, e ainda em sofrimento. O som repetitivo de um soco na carne macia interrompe o que parece ser a alucinação dela para ver que Manson estava amarrado em uma cadeira e um dos capangas de Nikolai dava-lhe um gancho forte em seu rosto usando um soco inglês. A cabeça negra do policial virava até o limite e balançava de volta com o impulso, o sangue descia grosso de sua boca antes dele falar.
— Filhos da puta. Me soltem e lutem como homens. Covardes canalhas!
Outro capanga se aproxima com um teaser encostando o aparelho em sua jugular. Ele treme o corpo todo ao som elétrico, grita após o choque que deixara seu pescoço queimado, eles estão armados de metralhadoras, e pistolas. A mulher finalmente vê que um dos homens se aproxima de Nikolai com a máscara que a vampira usa quando luta em ação, provavelmente ele conseguiu no porta luvas do carro de Manson. O chefe recebe a peça enquanto está sentado confortavelmente ao lado de uma mesa com uma taça vazia na mão. Ele faz um movimento com a taça de cristal e olha para a vampira que o avaliava.
— Agora que ambos acordaram, podemos conversar! — fala Nikolai, em tom de grandeza.
Ela olha para cima e vê as correntes de carregamento penduradas e sentindo as algemas nas mãos.
— Não vai escapar por cima dessa vez, essa viga não é solta. — fala Nikolai enquanto derruba a máscara no chão, quebrando em uma pisada, ele se vira para Manson.
Ele anda com sua camisa entreaberta, exibe suas muitas tatuagens, a vampira observa atentamente para o russo que brinca na beira do precipício.
— Confesso que no começo eu não imaginava que uma vigilante estaria trabalhando junto de um policial. Fiquei surpreso, de verdade. — Ele fala segurando uma faca na mão direita, a leva ao peito e gesticula com a lâmina brilhante enquanto anda.
— É mesmo? Eu fiquei é surpreso com as mãos macias de seus homens. Não conseguiriam lutar comigo se eu não estivesse preso. — Manson fala com seus dentes vermelhos de sangue, ri provocativo.
— Olha, nigga, você tem o meu respeito. — Nikolai se aproxima. — É sério, você tem culhões. Mais do que muitos dos que estão a nossa volta, sabe?
Manson cospe um pouco de sangue no chão. Uma garota ruiva de no máximo catorze anos se aproxima e traz uma bandeja, serve o Blood Mary para Nikolai, que a olha com malícia. Manson apenas segue com o olhar a menina de roupas curtas, franze um pouco a testa.
— Não posso dizer o mesmo, Nikolai. Não poderia apenas vender drogas e armas como um bandido qualquer?
Nikolai ri alto, toma o drink antes de se virar para Lucy.
— É, temos ótimo gosto, Senhor policial — fala enquanto bate continência com a faca na mão. —, eu não gosto de coisas comuns. Apesar que eu nunca provei uma mutante.
— Não sou uma mutante.
— Não? Vai me dizer que é mesmo um demônio? Uma vampira como falaram na televisão? Devo usar uma estaca então?
— Por que você não tenta? — Ela se levanta colocando o corpo á frente. Ele para desconfiado, olha em volta e se aproxima. A observa de baixo para cima bebendo o líquido róseo no copo longo.
— Na verdade isso não me importa. Mas se aceitar trabalhar pra mim, isso seria realmente interessante. Eu posso lhe pagar bem.
— Ou o que? Vai me matar? Já tentou isso, lembra? — responde a mulher em russo.
— Parece que temos muito em comum. — Ele inclina o rosto com surpresa.
— Obviamente, mas eu não desonrei a junta militar, nem matei pessoas na cadeia.
Ele se aproxima desconfiado, seus olhos semicerrados exibem a raiva do que ela possa saber.
— Mas como você...
— Suas tatuagens o denunciam, cada gota pingando da adaga no pescoço é uma morte, as estrelas nos ombros são sua origem militar. As rosas...
— Fala como se tivesse conhecimento de causa. Fomos vizinhos, por acaso? — fala ele, interessado.
— Possivelmente.
Ele se aproxima, olha o seu rosto profundamente e, de repente, suas sobrancelhas levantam.
— Vanessa?
Ela responde com um sorriso discreto.
— Boa memória, você era só um garotinho.
Ele se vira confuso. Volta a olhar e começa a rir alto.
— Agora muita coisa faz sentido! Ah! Não quero te matar agora, pensando bem, quero chamar alguns velhos conhecidos. Tenho certeza que meu tio Igor iria adorar te reencontrar, doces lembranças.
— Chame, assim eu termino o que comecei. É uma pena que não possa chamar seu pai, seus irmãos, não é mesmo?
Ele ri nervoso.
— Sabe, eu realmente fiquei triste, sua mãe era linda.
Os capangas se entreolham, ele percebe.
— Vaca maldita. — Ele bebe mais um gole do líquido olhando-a como se fosse o predador. — Bom, tenho que matar o machão lá trás. Nada pessoal, questão de negócios. Não posso deixar nada inacabado.
— Eu entendo você tentar.
Ele toma o drink até o final, sorri com o canudo preso entre os dentes. Ela se debate tentando quebrar as algemas, mas nota que são grossas demais. Então começa a puxar com muita força o braço, Nikolai percebe o que ela está fazendo. Ele esmurra o seu rosto e a esfaqueia no peito, Manson urra de ódio, se levanta na cadeira e corre atropelando Nikolai de costas. Ainda preso à cadeira ele salta de costas sobre o bandido, quebrando a madeira com seu próprio peso.
Os homens começam a correr e pegar suas armas, ela quebra o pulso esquerdo para passar a mão pela algema. Liberta, agarra um dos bandidos que já estava com a pistola em mãos, apontando para Manson e o lança para o outro lado do morro de caixas de madeira.
— Manson! Sai daqui, agora!
Ela grita abaixando-o em seus braços e vira-se para ser um escudo para ele e o empurra para uma parte de caixas e possa finalmente se preparar a atacar os outros. Corre e salta cortando a garganta de um com as garras, o outro a fuzila pelas costas, mas quando ela lança o seu colega ambos caem no chão. A mulher dá uma rasteira em um para tomar sua pistola dando um tiro em sua cabeça e depois acerta os outros mais próximos.
Ela faz golpes de cotovelo na garganta de um e salta se apoiando na caixa para chutar o rosto de outro. Quando consegue pegar a arma de mais um, escuta os pesados passos de Górki se aproximando, novamente com seu taco de baseball. Ela corre em sua direção e desliza no chão desviando de seu lento golpe para atirar em suas costas repetidamente. Ele cai por um instante, atordoado apenas, o maldito deve ser resistente às balas de calibre menor.
Agora ela salta se pendurando nas correntes da transportadora, serão úteis para estrangular esse maldito, mas não consegue soltá-las. Ele a segura pelo pé e a arremessa no chão saltando encima dela em seguida esmagando alguns ossos. Quando se levanta ele ainda a chuta no abdômen, a mulher solta um gemido e vê Manson correndo em direção a empilhadeira. Ela segura o pé do gigante e tenta chutar suas partes baixas, ele agarra seu tornozelo, torcendo-o, que emite um som de palitos quebrando. Ela berra com a dor e ouve o motor da empilhadeira, correndo e atropelando o gigante até a parede. Manson deixa-o preso nas vigas, Górki finalmente cai desmaiado.
Nikolai se levanta, ele tenta escapar, mas ela corre esmagando o que sobrara de do pé para saltar sobre ele. O soca ainda no chão e nesse instante sua mente novamente é invadida com a voz do demônio Mefistófeles. O que? Parecia estar chamando seu nome, ela estava no meio de uma luta com traficantes e sente sua presença. Isso não fazia sentido algum. Foi esse estranhamento que a fez bater mais devagar, tempo o suficiente para o russo alcançar uma barra de metal e acertar em cheio na cabeça da vampira.
Quando vai acertar na segunda vez, Manson segura a barra a tomando de suas mãos. Eles se socam e o russo crava uma pequena faca na perna do policial. Manson cabeceia forte o russo, dá dois grandes ganchos em seu rosto, segura pelos louros cabelos e bate a cabeça de Nikolai na parede. Duas vezes antes de soltá-lo, apagado no chão.
A vampira olha para a garota encolhida no canto, vê suas mãos de unhas vermelhas descascadas, ela tampa os ouvidos. Sua roupa muito curta exibe a meia-calça com desfiado deixa a mostra que provavelmente Nikolai se servia de seu corpo. A vampira se aproxima com as garras prontas para matar o animal quando Manson estende sua mão.
— Chega. Ele já caiu.
— Você já me impediu uma vez, não é assim que as coisas funcionam!
— Ele vai ser preso, é o suficiente.
Ela para por um instante, mas depois empurra Manson para o afastar e se abaixa para Nikolai. O traficante conseguiu pegar uma arma que estava caída de seus capangas, o cano da arma fica entre os olhos da vampira que para seu movimento. Ela hesita, não pode morrer agora, suas mãos tremem em pânico da possibilidade da penitência novamente, porém ela não desvia, já tinha aceitado que poderia acabar no inferno novamente. O louro sorri com o rosto ferido, mas então ele redireciona a arma e atira três vezes, muito próximo de seu rosto, podia sentir o calor do cano da arma em sua têmpora. Ela vira o rosto e vê Manson caindo no chão com dois furos em seu peito.
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