Fragmentos de Um Coração Desfeito escrita por Eduardo Amador


Capítulo 4
Capítulo 4: Desmoronando




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Eduardo entrou no consultório de Laura com passos pesados, o desânimo estampado em seu rosto. Fazia um mês desde a separação, e ele parecia ainda mais abatido. Laura o observou enquanto ele se sentava, ajeitando-se desconfortavelmente no sofá.

"Oi, Eduardo," Laura começou, com um tom suave e acolhedor. "Como você está hoje?"

Eduardo suspirou profundamente. "Não muito diferente da última vez. Minha rotina não mudou muito. Continuo indo na academia todos os dias. Minha mãe e minha irmã me acompanham."

"E como tem sido morar com sua irmã?" Laura perguntou.

"Estou dormindo no sofá da sala," ele respondeu, com um sorriso triste. "Resolvi acelerar o processo de emagrecimento e entrei para o muay thai."

"Isso parece um progresso," comentou Laura, tentando encorajá-lo.

Eduardo balançou a cabeça, e as lágrimas começaram a brotar em seus olhos. "Mas continuo chorando à toa. Esses dias, chorei cortando abobrinha para o almoço. Lembrei que, sempre que cortava abobrinha, minha cachorra aparecia para pedir um pedaço. Abobrinha e cenoura."

Ele deu uma risada amarga, mas logo as lágrimas voltaram a cair. "Desculpe," murmurou, enxugando os olhos.

Laura aproveitou a deixa. "Conte-me sobre sua cachorra."

"Tinha duas," ele disse, com um sorriso melancólico. "Tratávamos elas como filhas. Pai de pet, hahaha."

"Deve ser difícil sentir a ausência delas também," comentou Laura.

"Sim," Eduardo concordou, a voz embargada. "Sinto como se tivesse perdido tudo. Nunca me preparei para o fim do relacionamento, mesmo imaginando que um dia pudesse acontecer. Mas não perdi só minha esposa; perdi minhas filhas, um lugar para chamar de lar. Perdi os planos que tinha para o futuro, os filhos que planejava..."

Novamente, as lágrimas desceram pelo rosto de Eduardo, e Laura se inclinou para frente, tentando consolá-lo com um olhar compreensivo. Um longo silêncio se seguiu, pesado e denso.

Depois de um tempo, Laura tentou mudar de assunto. "Você mencionou que iria tentar os aplicativos de relacionamento. Conseguiu fazer isso?"

Eduardo assentiu. "Sim. Entrei em um aplicativo. Estou conversando com duas mulheres. Só quero amizade, mas é difícil manter um assunto. Não nasci para isso."

"Entendo," disse Laura. "E como tem sido essa experiência para você?"

"Complicada," ele admitiu. "Tem mulher que nem tento um match porque sei que, quando elas olharem minha foto, nem vão querer. Minha ex-esposa poderia querer o 'pretinho básico' porque sabia o que eu poderia oferecer, mas as outras pessoas não conhecem minhas qualidades. Não será pela aparência que irão me escolher."

"Isso é algo que você sente frequentemente?" Laura perguntou, tentando compreender melhor.

"Sim, é um padrão que sempre se repete," disse Eduardo, amargurado.

Laura o interrompeu, intrigada. "Quem usou essa expressão, 'pretinho básico', para descrever você?"

"Eu criei isso," explicou Eduardo. "O pretinho básico é aquilo que você veste para se sentir bem, mas não é o que você quer exibir para os outros."

Laura balançou a cabeça, compreendendo. "Sua autoestima está muito baixa, Eduardo."

Outro silêncio pesado se instalou na sala. Laura quebrou o silêncio com outra pergunta. "Você mencionou um padrão. Pode me falar mais sobre isso?"

Eduardo hesitou, claramente desconfortável. "Prefiro não falar sobre isso agora."

Laura suspirou, levemente frustrada, mas decidiu ser mais incisiva. "Eduardo, esta é a segunda coisa que você evita falar. Primeiro, foi sobre o que acontecerá em três meses. Agora, é sobre esse padrão. Para que possamos realmente avançar, é importante que você se sinta à vontade para compartilhar essas coisas."

Eduardo permaneceu em silêncio, olhando para o chão. Laura olhou para ele com preocupação, mas decidiu que não adiantaria insistir mais naquele momento. "Vamos encerrar a sessão por aqui hoje. Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar antes de irmos?"

Eduardo hesitou, depois olhou para ela com olhos cheios de desespero. "Você disse que minha autoestima está baixa. O que eu faço para aumentá-la?"

Laura sorriu suavemente, tentando transmitir esperança. "Você já está fazendo. Continue com seus exercícios, continue vindo conversar comigo. Estamos curando você através das palavras. Ainda há muita coisa dentro de você que precisa sair. Vamos lidar com isso juntos, ok?"

Eduardo assentiu lentamente, enxugando as lágrimas. "Ok. Obrigado, Laura."

Laura observou enquanto ele se levantava e saía do consultório, com passos um pouco menos pesados do que quando entrou. Sabia que a jornada de Eduardo estava apenas começando, mas tinha esperança de que, com o tempo e paciência, ele encontraria um caminho para a cura.


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