Fragmentos de Um Coração Desfeito escrita por Eduardo Amador


Capítulo 12
Capitulo 12: Primeira vez




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Rafael entrou no consultório de Laura, mas dessa vez, algo estava diferente. Embora ele tivesse dado um passo importante na última semana, a expressão em seu rosto denunciava um peso que ainda carregava. Laura, com sua sensibilidade habitual, notou imediatamente a mudança de energia. Ele parecia cansado, como alguém que não encontrava descanso nem mesmo nos momentos de tranquilidade.

"Oi, Rafael. Tudo bem com você?" perguntou Laura, sua voz cheia de preocupação.

Rafael suspirou profundamente e se acomodou na cadeira, um tanto inquieto. "Oi, Laura. Tenho tido dificuldade para dormir esses dias. Mesmo sabendo que o meu casamento acabou, é difícil aceitar que toda a vida que eu tinha acabou também."

Ele fez uma pausa, seus olhos perdidos em alguma memória distante. "Outro dia, fui deitar bem cedo, umas nove horas da noite. Com a rotina de acordar cedo para malhar e depois ir direto para o muay thai após o trabalho, tem sido fácil dormir cedo. Mas, naquela noite, por mais que eu estivesse exausto, acabei ficando rolando no sofá o tempo todo. Não sabia o porquê, mas estava me sentindo mal e pensando muito nela."

Laura, atenta a cada palavra, inclinou a cabeça ligeiramente. "O que você fez então?"

Rafael deu um sorriso tímido, como quem sabe que vai dizer algo inusitado. "Entrei em uma consulta com você."

Laura franziu as sobrancelhas em confusão, mas antes que pudesse dizer algo, Rafael riu. "Calma, não foi uma consulta de verdade. Tenho um consultório virtual na minha cabeça, onde simulo uma consulta com você. Eu relato tudo o que está passando pela minha cabeça naquele momento, e mesmo sem saber exatamente o que você diria, imagino os questionamentos que você faria."

Laura sorriu suavemente, fascinada pela capacidade de Rafael de criar uma estratégia tão inusitada para lidar com seus sentimentos. "E o que aconteceu nessa consulta virtual?"

"Bem, naquela noite, eu comecei a chorar. E só depois disso consegui dormir," Rafael disse, sua voz carregada de um alívio melancólico. "Tenho chorado bem menos ultimamente, mas naquela noite acho que era isso que estava faltando. Eu percebi que me sentia muito sozinho. Depois de anos dormindo com alguém ao meu lado, sendo acordado toda manhã pela cachorra para ir ao quintal... Depois de ter uma rotina de trabalho e cozinha, eu percebi o quanto sinto falta de tudo isso."

Laura sentiu o peso das palavras de Rafael e decidiu oferecer-lhe uma perspectiva diferente. "Rafael, é natural sentir essa perda. Você não está apenas deixando um relacionamento para trás, mas também uma vida que você construiu ao lado de outra pessoa. Mas essa sensação de vazio pode ser o começo de algo novo. Às vezes, precisamos nos perder para nos encontrar novamente. E cada perda abre espaço para novas oportunidades, novos começos."

Rafael assentiu, absorvendo as palavras de Laura. "Sim, eu sei disso. E é por isso que decidi fazer algo novo."

Laura levantou uma sobrancelha, curiosa. "O que você fez?"

"Abri um perfil em um app de namoro gay," disse Rafael, com um sorriso tímido. "Não estou procurando namoro nem nada, mas no outro perfil onde me identifico como hétero, não me dei muito bem. Achei que talvez eu conseguisse alguma amizade nesse app."

Laura sorriu, satisfeita com a coragem de Rafael de explorar novas possibilidades. "E como tem sido essa experiência?"

Rafael suspirou, visivelmente desanimado. "É um ambiente bem tóxico. Muitas gírias que eu não conheço, tenho que ficar perguntando o que significam, explicar que não quero sexo, só conversar. E quando eu falo isso, a maioria me bloqueia. Sem falar nas fotos de paus que eu recebo sem pedir. Tenho que responder que não mando fotos minhas e que, se eu quisesse ver paus, eu abriria um site adulto."

Ele riu, mas havia um toque de tristeza em sua voz. "Acho que esse mundo não é para mim."

Laura percebeu o desânimo de Rafael e decidiu investigar mais a fundo. "Você não conseguiu conversar com ninguém?"

"Consegui sim," respondeu Rafael, seu tom um pouco mais leve. "Tem um garoto, eu o chamo de 'novinho'. Ele tem 22 anos, aparentemente mora com um tio que não aceita a homossexualidade dele e está juntando dinheiro para sair de casa. Mas ele é jovem, meio imaturo ainda. Tenho conversado com ele mais para passar o tempo e não me sentir tão só."

Rafael riu, parecendo um pouco mais relaxado. "O mais engraçado é a minha foto no app. Não posso colocar uma foto minha, imagina se alguém vê e conta para minha mãe que o filho dela está em um app de relacionamento gay. Olha o desgosto dela de ter dois filhos nesse mundo." Ele riu, mas havia algo de amargo em sua piada.

Laura, um pouco surpresa pelo preconceito que Rafael ainda carregava, decidiu não confrontá-lo naquele momento. Ela sabia que tudo isso era novo para ele, e que seria melhor deixá-lo se desenvolver nesse novo mundo antes de trazer essas questões à tona. "E que foto você colocou?"

"Tirei uma foto dos meus tênis e coloquei lá," disse ele, rindo. "A maioria deve achar que sou vendedor de sapatos."

Laura sorriu com ele, mas estava atenta ao fato de que Rafael ainda tinha muito a aprender sobre si mesmo e sobre como lidar com suas próprias inseguranças. "Essa foi uma boa atitude, Rafael. Tudo isso faz parte do processo de autodescoberta."

Rafael parecia refletir sobre as palavras de Laura, mas logo sua expressão mudou. Ele ficou mais sério, como se houvesse algo mais que precisasse compartilhar. "Na verdade, não foi só isso que aconteceu."

Laura inclinou-se para frente, interessada. "O que mais aconteceu, Rafael?"

"Eu me encontrei com o novinho na casa dele. Depois de conversarmos, acabamos indo para a cama," disse Rafael, sua voz vacilando levemente. "Foi a primeira vez que fiquei com outro homem."

Laura permaneceu calma, absorvendo a confissão de Rafael. "E como foi para você?"

Rafael respirou fundo, suas palavras carregadas de incerteza. "Foi estranho. Eu não sabia o que fazer, se o que eu estava fazendo causava dor... Era tudo muito novo. Mas foi a primeira vez que eu não me preocupei com o prazer do outro, só com o meu. Só que em um momento, o novinho me disse: 'Pode fazer comigo o que você quiser.' E eu simplesmente não sabia o que queria fazer. Eu realmente não sei o que quero na hora H."

Ele riu um pouco nervosamente, mas havia uma tristeza em sua voz. "Eu pensei em um oral que eu sempre quis, mas minha ex tinha nojo de fazer e nunca fez. Mas além disso, eu realmente não me conheço na cama."

Laura observou Rafael, vendo a profundidade da confusão e da descoberta que ele estava enfrentando. "Rafael, essa experiência é parte do processo de se conhecer melhor. Você está explorando novas partes de si mesmo e é normal não ter todas as respostas de imediato."

Rafael assentiu, mas havia algo em seu olhar que mostrava que ele ainda estava processando tudo.


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