“Assim é a vida. Um recomeçar contínuo mesmo quando tudo está perdido.”

                                                                            J. Cronin

_O jantar está pronto, queridos. _disse Mayume, entrando na sala de estar.

Havia notado que Toshio e Sakura estavam muito silenciosos, mas não imaginava que estivessem dormindo. Sorriu diante daquela cena. Há muito tempo não via tanta paz dentro de sua casa.

Toshio dormia sentado no sofá, enquanto Sakura estava encostada no ombro do irmão. Sabia que no dia seguinte provavelmente eles acordariam com uma bela dor no pescoço, mas não tinha coragem de interromper aquele belo momento.

Saiu e após alguns segundos, voltou com um cobertor nas mãos. Cobriu os filhos e beijou a testa de ambos. Já estava saindo quando percebeu a expressão serena no rosto da filha. Pela primeira vez em dois anos, Sakura teria uma boa noite de sono.

_Saku... Tá tudo bem? Você parece péssima. _disse Ino, vendo a amiga colocar a mão diversas vezes na nuca.

_Não é nada. Apenas torcicolo. _disse Sakura, fazendo uma careta de dor ao tentar virar o rosto para encarar a amiga. _Ain! Isso doeu.

_O que você andou fazendo à noite, hein? _perguntou Ino, com um sorriso malicioso nos lábios.

_Larga de ser pervertida, Ino Yamanaka! _gritou Sakura, sentindo as bochechas esquentarem. _Eu estava conversando com Toshio e acabei pegando no sono.

_Toshio? Aquele seu irmão gato, sarado e solteiro ao qual você nunca me apresenta? _perguntou Ino, rindo da reação da amiga.

_Ino! _reclamou Sakura, olhando abismada para a amiga. _Hoje você está impossível.

_Calma, Saku! Era só brincadeira! Não tá mais aqui quem falou. _disse Ino, virando-se pra frente ao perceber a chegada do professor.

Sakura não pôde deixar de rir. Ino era sua melhor amiga, apesar de serem tão diferentes uma da outra. Ainda a loira uma baita patricinha libertina, mas ela tinha um bom coração. E ela a adorava profundamente. Tinha mais intimidade com Ino do que com as suas irmãs.

“Acho que as coisas só tendem a melhorar.” _pensou Sakura, recordando-se da visita inesperada do irmão e da longa conversa que tiveram.

_Alunos, antes de iniciar essa aula, gostaria de lhes apresentar seu novo colega de classe. _disse Asuma, indo até a porta da sala. _Entre, por favor.

A sala ficara em um completo silêncio. Era um rapaz estranhamente bonito. Tinha cabelos negros perfeitamente alinhados, uma pele extremamente pálida e um sorriso de gelar a alma.

_Senhor Teshin, apresente-se para a classe. _disse Asuma, empurrando-o levemente para frente.

_Meu nome é Sai Teshin, tenho dezessete anos e vim da China. _disse o rapaz, com um sorriso irônico nos lábios.

Sakura não soube explicar,mas no momento em que o garoto entrou, sentiu um calafrio subir-lhe pela espinha. Era uma sensação estranha e bastante incômoda.

_Da China? Que interessante! _disse Asuma, animado com a presença do novo aluno. _A educação lá é tão boa quanto falam?

Sai não respondeu, apenas afirmou com um leve balançar de cabeça. Foi um sinal claro de que não estava interessado em conversas.

_Certo. _disse Asuma, sem jeito. _Pode se sentar.

Ele não demonstrou o menor ressentimento pelo professor, seguiu para um dos poucos lugares vagos na sala, próximo a porta. Ignorava todos a sua volta, comportava-se como um senhor supremo.

A Haruno sentiu raiva. Como uma pessoa pode ser tão rude e fria? Ainda mais com Asuma-sensei que era um dos poucos professores que tinham paciência com a turma. Ela não gostara nenhum pouco dele.

Afastou o jovem rapaz de seus pensamentos. Não ficaria pensando em um ser tão egocêntrico quanto aquele. Iria ignorá-lo. Voltou sua atenção para as fórmulas geométricas que Asuma escrevia com agilidade no quadro e com certo esforço, conseguiu esquecer a presença de Sai.

_O que achou do novato? _perguntou Ino, aproximando-se da carteira da amiga.

O sinal para o recreio havia acabado de soar, Ino mal esperou o garoto estranho sair para falar dele com Sakura.

_Egocêntrico. _murmurou Sakura, guardando seus materiais.

_Eu achei ele bem gato. _disse Ino, não escondendo seu entusiasmo. _Vamos lá falar com ele?

_Nani? Nem pensar. _disse Sakura, levantando-se indignada com a loira a sua frente.

_Ah! Por que não? _perguntou Ino, fazendo bico. _Ele pode ser o futuro pai dos meus filhos e você está impedindo que a nossa história aconteça.

_Larga de ser dramática. _disse Sakura, indo até o pátio, sendo acompanhada pela Yamanaka. _Ele nem é grande coisa. Sem falar que não fui com a cara dele.

_Você tem sérios problemas, Saku. É sério! _disse Ino, andando lado a lado com a amiga. _Todas as meninas da turma ficaram babando por ele.

_Menos uma. _falou Sakura, levantando a mão e voltando a colocá-la na nuca.

_Seu pescoço ainda tá doendo? _perguntou Ino, olhando-a preocupada.

_Só dói quando eu tento virar a cabeça. E quando olho pra frente. _disse Sakura, sendo um pouco irônica. _Gomem... Nem eu estou me suportando hoje.

Ino apenas sorriu. A loira conhecia Sakura melhor do que ninguém, sabia que a amiga não estava daquele jeito de propósito. Abraçou a amiga fortemente, demonstrando todo o carinho que sentia por ela.

_Ino... Meu pescoço. _disse Sakura, choramingando de dor.

_Vem, Saku. Vamos até a enfermaria. _disse Ino, soltando a amiga e a puxando pela mão.

A enfermaria era apenas uma sala próxima à biblioteca com uma pequena maca e alguns kits de primeiros socorros, nada muito extraordinário.

Ao se aproximarem do local, Sakura e Ino pode ouvir vozes alteradas dentro do recinto.

_Sasame, se ousar contar a alguém, não terei piedade. _disse uma voz masculina, quase aos berros.

_Não seja tão rabugento, Sai. _reclamou uma voz feminina.

_Só lhe direi uma vez. Mantenha-se quieta. _disse Sai, saindo apressado da enfermaria.

Sakura e Ino estavam abismadas. Aquele garoto mal chegara ao colégio e já estava causando problemas.

_Tudo bem Sasame? _perguntou Ino, entrando na enfermaria atrás de Sakura.

Sasame Fuuma era a enfermeira do período matutino. Uma moça de longos cabelos ruivos e olhos incrivelmente negros. Bastante gentil com todos, jamais seria capaz de machucar uma mosca.

_Tudo. É só o baka do meu primo dando uma de homem pro meu lado. _resmungou Sasame, passando batendo os dedos sobre a mesa.

_Nani? O aluno novo é seu primo? _perguntou Sakura, não escondendo o choque.

_Infelizmente. _murmurou Sasame, suspirando. _E então, por que estão aqui?

Sakura ainda estava perplexa. Quem era aquele garoto? Por que era tão hostil com todos? E por que ele a afetava tanto? Eram perguntas demais para serem respondidas.

_A Sakura tá com dor no pescoço. _disse Ino, despertando Sakura de seus devaneios. _Tem alguma coisa que melhore?

_Ah sim, tenho um spray de arnica que pode dar um jeito nisso. _disse Sasame, abrindo o pequeno armário e pegando um vidro verde. _É melhor fechar os olhos e tapar o nariz.

O cheiro daquilo era quase insuportável e sua pele parecia que iria derreter, porém a dor havia passado. O que não havia passado era o incômodo que aquele estranho novato havia provocado em Sakura. Seu alarme interior apitava avisando que devia evitá-lo, mas como poderia? Precisava descobrir mais sobre ele. Iria desvendar todos os segredos por traz daquele sorriso sarcástico e daqueles olhos negros.