A primeira luz da manhã invadia o quarto de Lothar, um raio solitário que escapava das cortinas pesadas, iluminando a parede oposta. O jovem loiro estava deitado, mas seus pensamentos estavam longe dali. A noite anterior não havia sido comum; uma série de acontecimentos enigmáticos estavam se desenrolando em sua mente como um quebra-cabeça que se recusava a se encaixar. A lembrança do sorriso da mulher loira no bar, os olhos dela repletos de segredos, agora parecia mais um presságio do que um flerte casual.

Lothar levantou-se lentamente, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros. As memórias do incêndio na mansão de sua família adotiva surgiam à tona sempre que ele permitia que sua mente vagasse. Aquela voz sussurrante, que persistia em desafiar a versão oficial dos eventos, estava mais forte do que nunca, como se as próprias paredes de seu passado clamassem por serem ouvidas.

Determinou-se a mergulhar mais fundo naquela investigação, certo de que as respostas para suas inquietações estavam enterradas junto com os destroços da antiga casa. Preparou-se para um dia que, ele sabia, poderia ser o início de uma jornada sem retorno. Vestiu-se com uma calma meticulosa, os olhos azuis fixos no espelho, como se esperasse ver algo mais do que apenas seu reflexo.

Na saída de seu apartamento, Lothar deu de cara com um envelope jogado por debaixo da porta. Era uma carta sem remetente, o papel grosso e antiquado, selado com cera vermelha. Ele hesitou antes de abri-la, mas sua curiosidade venceu o receio. Dentro havia uma única folha, com palavras escritas em uma caligrafia elegante e sinuosa: "A verdade está onde o fogo começou, mas não onde ele terminou. Confie na sua intuição."

Lothar sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Aquilo não era uma coincidência. Alguém sabia de sua investigação, alguém estava observando. Mas quem? E por quê? Sua mente começou a considerar todas as possibilidades, desde conspirações elaboradas até intervenções sobrenaturais. Contudo, ele decidiu seguir o conselho da carta – confiar na própria intuição.

Com a carta em mãos, ele se dirigiu à antiga mansão, agora apenas um esqueleto de pedras negras e cinzas, escondido pela vegetação que lentamente reivindicava o terreno. A estrada até lá era sinuosa e coberta por árvores que pareciam se curvar para proteger um segredo sombrio. Ao chegar, Lothar sentiu o coração acelerar. O local, que deveria estar deserto, exalava uma energia estranha, como se o tempo tivesse parado ali.

Cada passo em direção à mansão parecia ecoar nas pedras antigas. A porta, que antes conduzia ao interior da casa, estava destruída, mas o que mais chamou a atenção de Lothar foi um som. Algo quase imperceptível, como um sussurro. Ele parou, tentando identificar a origem. O som vinha debaixo dos escombros, das profundezas da estrutura. A carta estava certa – a verdade estava onde o fogo começou, e não onde terminou.

Determinando-se a seguir adiante, Lothar começou a remover os destroços, pedra por pedra, até que encontrou uma passagem oculta, uma escada que descia até o subsolo. A escuridão lá embaixo era quase palpável, mas ele seguiu adiante, guiado por uma força maior que sua própria vontade. A cada degrau, os sussurros aumentavam, se transformando em vozes que ecoavam em sua mente, lembranças fragmentadas e histórias antigas se misturando com o presente.

Ao chegar ao final da escadaria, Lothar se deparou com uma câmara subterrânea, iluminada por tochas que queimavam com uma chama azulada, sem nenhum combustível visível. No centro da câmara, uma estátua de um homem segurando uma criança nos braços, ambos com expressões de dor e desespero eternizadas em pedra. Lothar aproximou-se, sentindo uma conexão inexplicável com aquelas figuras.

Foi então que uma das tochas apagou-se subitamente, lançando uma sombra densa sobre a estátua. Na escuridão, a voz que antes apenas sussurrava agora ecoava clara na mente de Lothar: "Você é o herdeiro do segredo, o guardião da chama que não pode ser extinta. A verdade é apenas o começo, a escolha é sua."

Confuso, mas determinado, Lothar tocou a estátua, sentindo uma energia percorrer seu corpo, como se uma porta estivesse se abrindo dentro dele. As peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar, revelando uma verdade que ele nunca havia imaginado. Aquele incêndio, o destino de sua família adotiva, tudo fazia parte de um plano maior, algo que transcendia o mundo mortal.

Enquanto as chamas azuis ao redor da câmara cresciam, iluminando o rosto de Lothar, ele soube que sua vida estava prestes a mudar para sempre. As escolhas que faria a partir daquele momento não apenas definiriam seu futuro, mas também o destino de todos os mundos interligados. O guardião da verdade havia despertado, e com ele, os deuses observavam, aguardando para ver se ele se tornaria um aliado ou uma ameaça.