Power Rangers: Esquadrão Z escrita por L R Rodrigues


Capítulo 11
Peixe Fora D'água


Notas iniciais do capítulo

Sinopse do capítulo:

O mergulho divertido no mar entre Tim, Zoe e o tio dela, um mergulhador profissional, é arruinado por um monstro de Lokknon que os persegue. Na fuga, acabam descobrindo um templo subaquático e a princesa é raptada pelo monstro. Tim se presta ao resgate antes que o pior aconteça.

Tenha uma ótima leitura (e que o poder o proteja)!



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 Se permitindo a uma leve folga dos estudos, Tim e Zoe estavam em alto mar à bordo de um barco pertencente ao tio da Ranger Rosa que a convidou para acompanha-lo na sua jornada subaquática a fim de registrar as maravilhas contemplativas da vida marinha para concorrer num concurso de fotografia. A pedido de Zoe, Stephen, que era mergulhador profissional e oceanógrafo, concedeu a participação do Ranger Azul no passeio marítimo para a sua alegria que era se abster dos deveres colegiais por divertimento e curtição.

 

Ambos se aprontavam com suas roupas de mergulho próximos da proa da embarcação de grande valia pelo seu aspecto luxuoso. 

— E então, tá preparado mesmo ou vai amarelar com medo das enguias?

— Poxa, Zoe, vê se larga de me zoar. É sábado, não é todo dia que tenho chance de me salvar da tal maratona de estudos programada pelo Damian. — resmungou Tim calçando as nadadeiras — Você devia ser grata ao seu tio por te livrar dessa. E sim, eu tô mais do que pronto, sem medo de trombar com enguias no caminho.

— Quero só ver. Mas admiro a proposta do Damian de reforçar os estudos no fim de semana, apesar das provas estarem meio longe ainda. Só não estou lá na casa dele pelo meu tio ter me chamado pra essa aventura. Iria indicar você como acompanhante. Vi que se deram muito bem, já são quase amigos. — disse Zoe terminando de se vestir.

— O Stephen é um cara legal, tomara que ele vença essa competição de fotos. Será que vamos poder tirar umas fotinhas também?

— Insisti muito pra que ele deixasse eu ajudar, acho que ele também vai permitir você. Mas nada de tirar selfies ou de coisas que não chamem muita atenção. Tem que ser fotos lindas daquelas de colocar como papel de parede e que valem expor no concurso.

— Que tal apostarmos quem tem a maior parte das fotos escolhida por ele hein? — sugeriu Tim levantando uma sobrancelha com sorrisinho.

— Apostado. — disse Zoe cedendo a brincadeira — É quase certo que todas as fotos que eu tirar vão fazer ele babar de encanto e nem é porque sou da família.

— É o que veremos, arraia rósea. — retrucou ele quase sussurrando com os olhos estreitados após se levantar.

— Vai se afogar nas próprias lágrimas, tubarão cobalto. — devolveu Zoe no mesmo tom. Ambos riram um do outro quando Stephen subia já trajado para o passeio. O mergulhador era um homem no fim da casa dos trinta anos, caucasiano, de rosto com maxilar quadrado e barba por fazer. 

— E aí, preparados? — perguntou ele, simpático.

— A todo vapor, titio. — disse Tim com a máscara de mergulho dando joinhas — Posso te chamar assim, né?

— Tudo bem, Tim, você foi uma grata surpresa. — disse Stephen rindo por dentro — Não esperava que a Zoe trouxesse alguém tão divertido pra melhorar nosso passeio.

Zoe tinha uma dúvida a sanar.

— Sobre as fotos, tio, eu queria saber se...

— Nem precisa pedir, aqui estão. — disse Stephen entregando máquinas fotográficas aos dois — Cem por cento à prova d'água e com resolução HD. Façam bom proveito, mas com responsabilidade.

— Ouviu bem, Tim? — perguntou Zoe com sorriso irônico.

— Mas é claro, vou tirar umas fotos super-iradas, pode confiar, Stephen.

— Pois bem, crianças, vou instalar os tubos de oxigênio em vocês. Zoe, primeiro você, vem cá.— disse Stephen com dois cilindros de ar. 

Após tudo prontificado, se colocaram na beirada do barco prontos para o mergulho triplo.

— Antes de mais nada, gostaria de compartilhar com vocês uma informação crucial, um segredo de estado top secreto. — disse Stephen.

— E qual é? — indagou Zoe, curiosa.

— Há evidências de uma civilização subaquática habitando abaixo de uma vala que é um vórtice que suga você diretamente até a cidade de Aquathlan, um reino que usa uma tecnologia mil anos avançada com relação a nossa.

— Caramba, ainda bem que os caras do FBI ou da CIA não bateram na sua porta. — disse Tim — Podíamos visitar essa terra, não acham?

— Me lembra o mito da Atlântida. — comentou Zoe — Será que ela existe mesmo, mas com outro nome? 

Stephen caíra na gargalhada, elevando mais a curiosidade dos seus acompanhantes.

— Qual é a graça, Stephen? Você tá escondendo mais algum segredinho do governo? — questionou Tim.

— Não, não... Não tem segredo de estado nenhum. — disse o mergulhador ainda rindo — Aquathlan não passa de uma lenda, historinha pra marinheiro dormir e sonhar com os supostos tesouros que lá se encontram. Caíram direitinho nessa hein. 

— Eu meio que já desconfiava. — disse Zoe.

— Ah, que chato. Mas quem sabe os Power Rangers investiguem um dia... 

Numa ação ágil, Zoe colocara a mangueira de respiração na boca do Ranger Azul para evitar vazamento impulsivo de informação.

— Tá bom, Tim, chega de papo furado. Quer ir nadar com os tubarões ou não?

O Ranger Azul fez que sim com cabeça, mas chateado por ser interrompido.

— Muito bem, crianças. — disse Stephen se inclinando para frente — Quando eu disser já. Um... dois... três... e já!

O trio pulara na água num mergulho devidamente sincronizado. Nadavam próximos a cardumes numerosos de peixes em meio a vasta exuberância do mundo aquático. As câmeras fotográficas eram como pingentes de colar, capturando os mais belos pontos convenientes ao objetivo de Stephen.

***

Observando a diversão do trio rangendo os dentes em incômodo, Lokknon intencionava frustrar cada segundo da aventura aquática.

— Não é pra isso que me submeto a assistir às vidas desses vermezinhos! Fico entediado e estressado sem nada de inspirador pra me fazer pensar num plano excelente! 

— Quer que eu desligue o visualizador e o acompanhe até seu quarto, mestre? — perguntou Mudok — Todo esse estresse junto ao bloqueio é cansativo demais pra suportar ao longo do dia. 

— Negativo! Eu não durmo tranquilo até ver a derrocada dos Power Rangers diante dos meus olhos e tem que ser hoje!

— Mas mestre... Não há nada que leve a ideias inteligentes se baseando nesse passeio marítimo e com apenas dois dos Rangers envolvidos. — opinou Mudok se aproximando da tela ao ver os três nadando e se divertindo com as fotografias tiradas — É uma perda de tempo.

Aracna se intrometera na conversa.

— A sua opinião de nada vale quando o mestre está tão sedento por caos e destruição, Mudok. Deixa de frescura e apoie a vontade soberana dele. Dá pra tirar uma ideia sensacional daí.

— Ah é, e o que vossa suprema inteligência tem a sugerir, hein? — indagou o androide, irônico.

Barooma pronunciou-se:

— O mestre deseja atrapalhar esse dia de lazer dos Rangers com esse tal mergulhador que tem o objetivo de vencer o concurso de fotos! Portanto, seria conveniente um monstro aquático que os atacasse para interromper a busca pelas melhores imagens do fundo do oceano!

— Barooma, seu cretino, roubou a minha ideia! — disse Aracna que disparou um raio púrpura do seu dedo iniciador direito contra a barriga do subalterno.

— Ai! Minha pele pode ser puro metal sakorguiano, mas isso queima, Aracna! Essa ideia foi unicamente minha, não tenho poder de ler mentes e mesmo se tivesse nunca leria a sua porque não existe nada significativo aí dentro!

Mudok deu uma risadinha sarcástica que elevou a irritação da colega.

— Barooma parece ter voltado melhor do que antes. Está até dando réplicas melhores. 

— Pois vamos ver se a competência também evoluiu. — disse Aracna, implicante — Porque se não tiver aprendido a lição, eu mesma faço questão de chuta-lo pra fora da nave.

— E eu chutaria você depois se tomasse essa atitude sem minha permissão, Aracna. — rebateu Lokknon, austero. A princesa aracnídea virou-se para o imperador desconcertada lançando um sorriso nervoso.

— Me desculpe, mestre, eu me exaltei.

— Ótimo, quero essa compostura de se retratar igualmente nos três. Agora, vamos ao que interessa: Barooma, prepare rápido o bio-modelador para criar esse fantástico monstro antes que a viagem desses paspalhos se conclua com sucesso. Faça valer a minha generosidade de reintegra-lo a nave.

— Agora mesmo, mestre! O boneco já foi posto na máquina e já baixei todos os dados correspondentes ao fundo do mar, sobretudo dos níveis mais profundos! — disse Barooma que em seguida moveu a alavanca — Que venha com muita saúde!

A máquina piscava intensamente suas luzes tal qual relâmpagos numa tempestade junto a fumaça de vapor exalando. A porta deslizou para o lado dando passagem ao monstro com fisionomia de um peixe com bioluminescência da região abissal combinada a uma forma humanoide. A criatura de rosto aterrorizante segurava uma âncora com formato de esqueleto de peixe e parecia hiperativa.

— Esse ambiente está quase me sufocando!

— Acho que ele quer um copo d'água. — disse Aracna com humor ácido.

O monstro disparou um raio amarelo de sua antena de luz que acertou no chão um centímetro próximo de Aracna, a assustando.

— Eu não estou brincando! Preciso abastecer meus pulmões num extenso oceano pra respirar por um longo tempo fora da água!

— Eu sei, também não precisava ser grosso! — reclamou Aracna se colocando atrás de Mudok — Ele é perigoso, Mudok, tome cuidado.

— Fácil pra você dizer me fazendo de escudo. — retrucou o androide.

— Então o mandarei imediatamente até o oceano terráqueo onde os Rangers e o humano insignificante estão nadando despreocupados. 

— Mestre, a lenda mencionada pelo terráqueo parente da Ranger Rosa. — lembrou Aracna voltando-se a ele — A tecnologia desse reino chamado Aquathlan pode ser de grande valia.

— Isso se existir. — contrariou Mudok.

— Não custa uma averiguação. Creio que saiba detectar valas submarinas dos mais diferentes tipos. — disse o imperador ao monstro.

— Não existe nada no fundo do mar que escape ao meu sensor. Nenhuma presa sobrevive ao meu instinto de caça implacável! O que eu devo fazer enquanto encho meus pulmões?

— Primeiramente, ataque esses três terráqueos, mas não vá longe demais, os deixe viverem, apenas dê um susto neles e depois procure pela fenda que conduz diretamente a Aquathlan. — disse Mudok.

— Essa sua condescendência me aborrece, Mudok! Eu profiro as ordens aqui! — vociferou Lokknon que apontou para a criatura — Destrua-os sem deixar nenhum vestígio!

— Entendido, agora estamos falando na mesma língua. Essas presas suculentas vão sentir a minha âncora com toda a força! 

— Ei, psiu! — chamou Aracna — Ahn... Não gostaria de ser nomeado? Que tal Fossogrim?

— Não ligo pra nomes, mas este até que não é ruim. — disse o monstro, menos arisco.

— Viu só? O primeiro monstro que elogia minha inquestionável habilidade de dar nomes. — disse ela para Mudok.

— Sim, mas também é o primeiro que te fez tremer e recuar de medo. — contrapôs o androide fazendo-a soca-lo de leve no braço.

— Estraga-prazeres. — reclamou ela cruzando os braços e virando-se.

***

A viagem subaquática prosseguia bem-sucedida com mais fotos das belezas naturais do mar sendo tiradas com bastante rigor e critério por parte de Stephen. Tim e Zoe tentavam se nivelar ao oceanógrafo mantendo a competição entre eles. O Ranger Azul fotografou um tubarão branco que passou por ele quase raspando. Nadou para ficar de frente ao maior predador dos mares e capturou a face do animal.

Na superfície, Fossogrim surgia em teleporte sobre uma rocha que era batida pelas ondas fortes da corrente marinha.

— Sinto que faz muito tempo que eu não mergulho num mar revolto como este! Hora de iniciar a minha caçada! 

Mergulhou habilmente e nadou se utilizando do seu poder de detecção irrestrita. Após alguns minutos, avistou Stephen, Tim e Zoe meio separados cuidando dos registros fotográficos.

— De mim eles não fogem! — disse Fossogrim nadando mais depressa e chegando a afugentar tubarões e polvos — Peguei vocês!

Tim virou-se e acabou fotografando o rosto de Fossogrim, levando um tremendo susto. Nadou em fuga o mais veloz que pôde, mas o monstro agarrou sua perna esquerda puxando-o. Felizmente, a salvação viera de Zoe que arremessou um pedra acertando a cabeça do monstro que o largou. A dupla Ranger nadou rápido até Stephen apontando para a criatura que se recompunha e tornava a persegui-los.

O mergulhador os orientou a percorrer uma direção de modo que o despistasse. O trio nadou pelo caminho indicado, mas Fossogrim os seguia predatório disparando raios de sua antena luminosa. Um dos raios acabou por atingir o tanque de oxigênio de Stephen. Alarmada, Zoe o segurou tentando carrega-lo para mais fundo onde Tim seguia mais a frente entre alguns recifes de corais. Chegaram numa disposição longa de rochas a uma profundidade que dificultava a visão. 

O labirinto foi uma complicação também para Fossogrim que os perdeu de vista, mas com a sua luz natural esse impeditivo era parcialmente eliminado. Tim havia encontrado um abismo escuro e sem fundo que exercia uma força sugadora extremamente árdua de resistir. Zoe e Stephen também caíram nessa área, os três rapidamente sugados pelo abismo. Fossogrim os procurava insistente, mas constatou a perda.

— Mas que droga! Como puderam me despistar estando quase no habitat natural dos meus irmãos abissais? Isso é inaceitável! Não vou desistir tão facilmente! 

***

Tim despertava com a visão meio turva estando deitado numa cama acolchoada. A figura de uma garota aparentemente da sua idade se esclarecia sorrindo para ele.

— Eu estou no paraíso, não é? Por que você só pode ser um anjo que salvou minha alma. 

— Não sei bem do que está falando, mas... sim, eu salvei sua vida de muito bom grado. — disse a simpática menina ruiva com vestes similares a uma armadura ou traje formal de um reino medieval — Como está se sentindo?

— Agora que eu acordei vendo você e esses lindos olhos... Nascido de novo. — disse o Ranger Azul flertando sorridente.

— Eu vou buscar um apoio melhor pra sua cabeça, você bateu com ela enquanto caía no nosso reino. — disse ela que teve o antebraço esquerdo segurado por Tim de súbito.

— Peraí, disse reino? — indagou ele erguendo-se da cintura para cima — Então aqui é... — olhou em volta, boquiabrindo-se com a elegante sala redonda de paredes azuis-acinzentadas, pilastras douradas e um teto de água com luz que refletia arabescos — Nossa, eu devo estar sonhando.

— Não é sonho nem ilusão. — disse a garota — É Aquathlan. Seja bem-vindo ao nosso reino. Me chamo Loah, sou a princesa. E você, forasteiro?

— Ahn... Eu sou o Timothy, mas meus amigos me chamam de Tim. Muito prazer, princesa. — disse ele tocando na mão direita dela e a beijando.

— O prazer é todo meu. Você é bem cavalheiro, não esperava essa postura de um ser da superfície, fico encantada. — disse Loah, afável.

— Não é querendo ser enxerido, mas podia me falar onde fica o banheiro? Vocês usam banheiro, não usam?

— Não se sinta um invasor, vocês caíram aqui por acidente e nós aquathlanianos costumamos ser muito hospitaleiros com visitantes inesperados.

— Disse vocês... Ah é, A Zoe e o Stephen! Sabe me dizer como eles estão?

— Ela está fora de perigo, mas o homem mais velho passou por uma oxigenação urgente, os pulmões estavam muito carentes. — informou Loah ajudando-o a levantar — Ele estava ligado a um recipiente que oferecia oxigênio limitado e por isso quase não sobreviveu. Não sei qual é o estado dele agora, vim direto cuidar de você por ter ficado inconsciente com a pancada.

— Espero que ele fique bem pra gente continuar nosso passeio e... As câmeras! Cadê as nossas câmeras? Ah, você não deve saber o que é, né? São objetos quadrados, desse tamanho aqui... — disse Tim gesticulando desesperado.

Loah foi em direção a uma mesinha na qual havia uma caixa dourada que abriu.

— Se refere à isto? — indagou, mostrando a câmera.

— É! Eu tava doido pensando que tinha perdido! Obrigado, Loah. — disse Tim recebendo a máquina das mãos da princesa. Porém, se deu conta de um detalhe problemático ao verificar as fotos registradas — Mas... essa aqui é a minha câmera. — parou na última foto tirada que mostrava Fossogrim e a exibiu para a princesa — Foi esse monstrengo aqui que nos fez cair no buraco que nos sugou até aqui.

— Não conheço essa criatura. Mas os antigos guerreiros aquathlanianos guerreavam contra seres vindos de lugares muito além do céu da superfície antes de Aquathlan afundar e se tornar o que é hoje.

— Nossa, então Aquathlan é a Atlântida real.

— Reza a lenda que assim se chamava o reino antes da submersão. Bom saber que os povos da superfície têm uma noção a respeito. — disse Loah que logo percebeu um semblante triste em Tim — Você me parece chateado. O que houve?

— É que... você só encontrou a minha câmera quando caímos, né? 

— Sim, foi a única que achamos após a queda. Por que? Os outros também tinham as suas?

— Pois é, o Stephen participava de um concurso de melhor fotografia no fundo do mar, mas agora... o sonho dele acabou, nunca vamos achar a câmera com as fotos maneiras que ele tirou. Eu também tirei umas, saca só.

Tim a mostrou várias das fotos que capturou, mas ela não parecia tão impressionada.

— Ah, não sei porque tô te mostrando, nada disso aqui é novidade pra você.

— Não me entenda mal, são lindas imagens. Você pegou os melhores ângulos. Interessante essa tecnologia da superfície de fixar momentos numa tela.

— Mas a nossa tá um tempão atrasada comparada a de vocês. — afirmou Tim estalando os dedos.

— Se quiser, posso te mostrar um pouco da tecnologia aquathlaniana que foi desenvolvida há séculos graças a todo o conhecimento da minha linhagem. Quer vir comigo? — convidou Loah estendendo sua mão esquerda.

— Demorou. — aceitou Tim com um sorriso de orelha a orelha pegando na mão da princesa.

Por um corredor com paredes idênticas ao do recinto onde estavam, ambos andaram de mãos dadas em direção a sede de recursos do reino. 

— A sede de engenharia é o coração do palácio real, nossos construtores e cientistas trabalham dia e noite com inovações sem parar. Mas não é mão de obra escrava, o rei os recompensa muito bem. — disse Loah que apontou para um quadro gigantesco — Essa pintura representa a minha família. Esse no meio é meu pai, rei Cardus.

— Hum, fiquei afim de conhece-lo.

— Ótimo, te levo até o salão real antes de fazermos um passeio pela sede. Gostei de você, Tim. Possui uma aura bastante positiva e contagiante, faz alguém se sentir bem ao lado.

— Esse foi o maior elogio que alguém já me fez. — disse Tim seduzido pela beleza de Loah — Eu também gostei de você, pode acreditar que muito mesmo. Mas sabe o que faria você gostar ainda mais? Se soubesse que eu sou um...

Zoe vinha de encontro a eles, cortando bruscamente a fala do Ranger Azul - e impedindo um grave deslize.

— Ah, aí está você, Tim! Me falaram pra ir até a outra sala de primeiros-socorros, mas não me deram um mapa desse lugar imenso. Não é uma crítica, tá, Loah? Mas é que eu quase me perdi.

— Tudo bem, as vezes até eu me perco. — disse a princesa, compreensiva.

— Zoe?! Ué, mas já se conhecem?

— A Loah foi quem nos encontrou primeiro e chamou a guarda real. — informou Zoe — Você tava desmaiado, bateu com a cabeça. Tá tudo bem mesmo?

— Só uma dorzinha de leve, já quase passou, aqui é casca dura de rachar.

— Nem queira saber o que tem dentro dessa casca. — disse Zoe para Loah que deu uma risada.

— E o Stephen? Como tá o estado dele?

— O quadro dele é estável, acho que logo ele acorda. — disse Zoe ficando mais séria e um pouco triste devido a possibilidade fatal — Se você visse como eu tava desesperada com vocês dois inconscientes... Pensei que iria perder o meu tio, o oxigênio dele esgotou.

— Mas ele perdeu o concurso. A Loah encontrou somente a minha câmera. — lamentou Tim.

— Antes isso do que a própria vida. Mas ele vai ficar bem arrasado quando souber, tadinho.

— Você é sobrinha dele?! — disse Loah, espantada — Que surpresa, imaginei de início que vocês fossem irmãos e ele o pai.

— Eu irmão da Zoe?! Nunca, nem na próxima encarnação.

— Não liga, ele adora as minhas tiradas de sarro com as bobagens que vive fazendo e falando. — disse Zoe, convencida, para Loah.

Enquanto isso, o grupo de estudo não estava totalmente formado ainda na casa de Damian. O Ranger Preto travava um duelo virtual contra Austin num jogo de videogame focado em lutas.

— Combo Breaker! — disse Austin levantando do sofá ao comemorar — Haha! Não tem pra ninguém, eu sou fera nessa fase!

— Sabe, Austin, as vezes eu fico assombrado com toda essa competitividade que você descarrega no jogo. — comentou Damian, no fundo feliz pelo amigo ter vencido — Parece até que nossas vidas dependem disso.

— Quando é no videogame eu me deixo levar. Você também devia se entregar mais, mergulhar de cabeça no seu personagem e no mundo dele.

— Pois agora me disponho a uma boa revanche. Chega do meu histórico de vitórias sendo apenas contra o Tim. — disse Damian, empolgado para mais um round — Vou reiniciar.

— Vamos nessa, eu não canso de bater se você não cansar de apanhar.

Jessie chegava com sua mochila repleta de livros que carregava com um alça só no ombro.

— Oi, rapazes. — disse ela fechando a porta — Mas olha só, parece que o Austin te converteu pro caminho da diversão antes do dever, hein Damian.

— Ah, você tinha que chegar justo agora, Jessie? Poxa, estávamos prestes a começar uma luta sangrenta e decisiva. — disse Austin.

— Até eu que tô louco pra começar a maratona de estudos fiquei desanimado. — falou Damian, largando o controle.

— Obrigada por deixar a porta aberta. — disse Jessie pondo a mochila no sofá — Não ia aguentar esse peso todo plantada esperando um de vocês desgrudar desse jogo.

— Agradeça também por não termos começado sem você. — disse Damian, retirando o jogo do console.

— Não iria ser a mesma coisa. — disse Austin — Ainda mais sem o Tim e a Zoe. Como será que eles estão indo lá tirando fotos no fundo do mar?

— Espero que o melhor possível. Mas sei lá... — disse Jessie sentando no sofá com ar melancólico — Fica chato sem eles aqui. Ao menos espero que a Zoe não tenha comido camarão, ela é tão alérgica quanto teimosa.

— E o meu melhor amigo maluco não tenha se afogado ou feito alguma travessura. — disse Damian.

— Relaxem, eles estão bem. Eu não trocaria um passeio debaixo d'água pra ficar de cara nos livros. — disse Austin que tivera uma ideia — Já sei, vou ligar pra Zoe pelo comunicador. — apertou o botão, porém nada se ouviu — Zoe, na escuta? — deu uma batidinha com dois dedos — Zoe? — ligou para Tim — Tim, tá na escuta? Tim, responde. Ah não, os dois ficaram fora de contato, como um celular fora de área.

— Tô com um mau pressentimento. — disse Jessie. 

— Não vamos nos preocupar a toa, eles devem ter deixado os comunicadores no barco antes de mergulharem. — teorizou Austin, tranquilizando-os.

— Bem provável. — disse Damian.

— É, acho que não tem nada de errado ou suspeito acontecendo. Vamos logo começar? Trouxe um montão de livros da biblioteca e quero usar todos hoje pra que o sofrimento de traze-los tenha valido a pena.

***

Uma presença oculta aportava em Aquathlan por meio de teleporte atrás de um arbusto de plantas aquáticas na área externa do palácio. Ninguém menos que Fossogrim após ser absorvido pela força da fenda no abismo.

— Não estou de volta a superfície, muito menos em outra dimensão. Aquele vórtice me arrastou pro nível mais profundo do oceano, tenho certeza. Mas como um lugar feito esse existe? Deve ser o tal reino sobre o qual o mestre Lokknon e os outros discutiam. — disse o monstro, avistando os sentinelas do palácio, homens de grande porte que usavam elmos dourados que ocultavam metade dos seus rostos — Se eu me manter escondido nessas algas, posso entrar sem ser notado nesse lugar.

Se esgueirou pelas algas a fim de infiltrar-se na maior estrutura de Aquathlan. Dois sentinelas, cujas vestes se assemelhavam as de Loah com o diferencial das malhas de escamas que cobriam os braços e pernas serem alaranjadas, guardavam a entrada nos fundos.

— Ei, ouviu esse ruído? — indagou um deles.

— Não escutei nada. Talvez tenha sido você que soltou um gás do seu traseiro.

— Tá brincando? Não fui eu, esse cheiro de peixe apodrecido tá vindo de algum canto daqui.

De repente, a âncora de Fossogrim irrompeu das algas se enroscando no pescoço do guarda e o puxou. O outro se alarmou apontando a lança.

— Mas o que é isso? Apareça, intruso! Vou soar o alerta... 

— Não vai, não! — disse Fossogrim saltando das algas e lançando uma espécie de bolha que aprisionou a cabeça do guarda — Com essa bola de ar ninguém conseguirá ouvi-lo! Obrigado pela passagem! — correu palácio adentro. O sentinela largou sua lança e correu desesperado por outra via de entrada para alardear as tropas.

Loah, Zoe e Tim atravessavam uma passarela ladeada por água que dava acesso ao salão real. O Ranger Azul esquadrinhava fascinado.

— Eu amei tudo nesse mundo. Posso fotografar?

— Fique à vontade, Tim. — concedeu Loah — Espere pra ver as áreas fora da zona real onde residem as populações das outras castas, além da fauna e da flora.

— Eu tô pasma com a beleza, dá vontade de ficar aqui o dia inteiro pra explorar. Tudo aqui é tão diferente, parece um outro planeta. — disse Zoe.

— Vocês podem ficar o tempo que desejarem. Quero que conheçam de tudo. Vamos, meu pai é um rei gentil e harmonioso, vão adora-lo.

— Uma coisa que eu não entendo, Loah. — disse Tim ficando à direita dela — O céu é de água e tem até luz, mas aqui dentro tem ar puro. Vocês não deveriam respirar embaixo d'água?

— Os aquathlanianos que nasceram após a submersão são tanto aeróbicos quanto anaeróbicos.

— O quê? Como assim? O que significa isso?

— Desculpa, Loah, ele faltou muitas aulas de ciências. — disse Zoe sorrindo para a princesa com as mãos nos ombros do amigo.

A princesa de repente tropeçou e arriscou cair para o lado, mas foi rapidamente segurada por Tim.

— Opa, peguei! Essa foi por pouco. — disse ele com tom de riso. Mas ao fitar os olhos da princesa, um rubor tomara sua face e da dela em seguida. 

— Tim, por mais que não houvesse necessidade de me impedir de cair, eu... fico grata por se preocupar. Você é digno de estar na presença do rei.

A boca do Ranger Azul se contorceu tamanha a emoção. A colocou de pé para prosseguirem.

— Por que sua boca tá tremendo, Tim? — perguntou Zoe em voz baixa no ouvido dele.

— É assim que eu fico quando tô amarradão numa garota. Ela tá muito na minha.

Enfim, quando chegavam ao salão real, o rei Cardus, um homem robusto de meia-idade ostentando uma barba grisalha e longa e uma armadura dourada com escamas verdes nos braços e nas pernas, se levantou de seu trono ao ver os visitantes.

— Loah, são os forasteiros de que me falaram?

— Sim, senhor. Este é o Tim e esta é a Zoe, eles são amigos da superfície. Garanto que são o contrário do que se conta a respeito do povo de cima.

— Hum, não temos uma boa fama. — disse Tim.

— E não é estranho. — concordou Zoe — Eles sabem melhor do que nós do mal que a humanidade causa à vida marinha.

— Mas só vejo dois deles. Onde está o terceiro?

— Se recuperando na sala de enfermos. Por favor, meu pai, peço sua concessão para acomoda-los pelo tempo que eles precisarem até retornarem a superfície. — disse Loah se ajoelhando em reverência. Tim e Zoe se entreolharam e fizeram o mesmo.

— Está bem, desde que não tenham atraído nenhum tipo de ameaça externa, afinal caíram em nosso reino acidentalmente, o que me leva a supor que estivessem fugindo.

— Sim, estávamos, mas acreditamos que ele não nos seguiu até aqui. — declarou Zoe.

— Majestade, alerta de intruso! — disse um guarda ferido vindo ao rei — Nenhum de nós foi páreo contra ele... — caiu de frente. Zoe foi ajuda-lo, preocupada.

— Responda, por favor: ele quem?

— O monstro abissal... Ele está massacrando o exército.

— Essa não, aquele cara de peixe assustador tá aqui! — disse Tim.

— O da sua foto? — indagou Loah.

— Sim, acho que ele veio do espaço atrás de mim e da Zoe. 

— Mas eu achei que... — disse Zoe, aflita — Rei Cardus, desculpe pelo engano. Nós vamos controlar a situação. Certo, Tim?

— Beleza. Mas... cadê nossos morfadores e as células?

— Ah não! Deixamos no barco! — disse Zoe — Mas pelo menos os comunicadores estão conosco. Ainda assim, quero lutar.

— Também vou. — decidiu Loah. 

— De forma alguma, você deve se esconder. Vá para o abrigo emergencial já. — ordenou Cardus — E vocês dois? Como acham que vencerão esse ser desconhecido sem armas?

— Não se preocupe, somos grandes heróis na superfície, lutamos contra malfeitores de todo tipo. — disse Zoe autoconfiante.

— É, somos os Power Rangers, os mais poderosos da galáxia. — disse Tim, empolgado para batalhar.

— Power Rangers? — indagou Loah com curiosidade.

— Mesmo sem podermos nos transformar, vamos atrasa-lo pra que a Loah se salve, a vida dela é preciosa. — disse Zoe, seriamente — Vamos, Tim! 

— A gente se vê, Loah. Eu vou voltar, prometo. — disse Tim a tocando no ombro, logo correndo atrás de Zoe e dobrando para o corredor a direita. A princesa fez menção de segui-los, mas o pai bateu com seu cajado no piso de mármore com advertência e fazendo-a fechar os olhos apertando.

— Nem pense em virar as costas pra mim, Loah.

A princesa voltou-se ao pai com postura rebelde e irritadiça.

— Eu cansei de ser a donzela que sempre se esconde do perigo!

— Mas que atrevimento! Pensa que agindo como uma guerreira inexperiente vai agradar a seus pretendentes?

— Não me importo com nenhum deles. O Tim se mostrou incrivelmente melhor, é com ele que eu quero estar e por ele vou lutar! — disse Loah se rebelando ao correr para fora do salão ouvindo os gritos retumbantes do pai a mandando voltar.

Fossogrim gabava-se por ter derrubado o exército aquathlaniano com facilidade balançando sua âncora.

— Que vergonha combater esses molengas! São uns fracotes imprestáveis! — disse o monstro que chutou um soldado caído na barriga. Tim e Zoe vieram com saltos desferindo chutes em Fossogrim. O monstro aquático conseguiu derrubar Tim com a corrente da âncora numa rasteira. Zoe partiu com chutes que ele defendia com os braços, mas foi golpeada com a ancora batendo numa parede — São os Power Rangers? Como são fraquinhos que nem esses idiotas fantasiados!

— Deixe meus amigos em paz! — disse Loah vindo correndo com uma espada emitindo um grito de guerra. O atacou diversas vezes com a lâmina bravamente, mas Fossogrim aplacava os golpes com o balançar de sua âncora. 

— Loah! — disse Tim levantando e voltando a luta. Mas Fossogrim disparou seu raio da antena causando estouros de faíscas perto dele. O Ranger Azul caiu meio ferido.

— Tim! — chamou Loah que naquele instante de distração fora pega por uma rede de pesca lançada por Fossogrim — Não, me solta! Papai, socorro!

— Tenho umas surpresinhas na manga! — zombou Fossogrim, a agarrando — Agora que descobri Aquathlan, posso usar a herdeira do trono como moeda de barganha! Adeus!

O monstro teletransportou-se carregando Loah consigo como uma mercadoria.

— Não! — disse Zoe que correu para tentar impedir, mas inutilmente — Tim, vem cá! — ajudou o amigo a levantar — Você tá legal?

— Tô, mas a Loah não! — disse Tim, apreensivo — O que diremos ao rei? Que os maiores heróis da Terra não protegeram sua filha? 

— Ela desobedeceu o pai, não foi culpa nossa. Mas vamos resgata-la.

— Eu vou resgata-la, custe o que custar! — disse Tim numa raiva que raramente externava. 

Na presença do rei, ele noticiou o sequestro de Loah ajoelhado 

— Com a sua benção, me proponho ao resgate de sua filha, nobre rei.

— Não seja tão formal, meu jovem. Sei o quanto a Loah o estima, por isso tem meu inteiro aval se é um herói valente o bastante para salva-la. — disse Cardus fazendo um gesto de aceitação com o cajado nos ombros de Tim.

— Então tá de boa chamar o senhor só de Cardus? — perguntou Tim, animando-se repentinamente.

Cardus levantou uma sobrancelha fazendo não com a cabeça num olhar severo.

— Ah, tá bom... Foi mal, majestade.

— Prometa que a trará sã e salva. Um nativo de Aquathlan só pode permanecer na superfície por apenas 24 horas. — avisou Cardus.

— Só um dia?! Caramba... — disse Tim, temeroso com a responsabilidade.

Zoe visitou seu tio na ala de cuidados médicos para um rápido aviso.

— Fico feliz que tenha acordado, tio. — disse ela, abraçando-o — Mas não posso te fazer companhia, infelizmente. Tim e eu temos uma emergência pra resolver. A gente volta logo. 

A Ranger Rosa saíra do quarto deixando Stephen com mil e uma interrogações.

— Ma-mas... que emergência, Zoe? 

— A princesa de Aquathlan foi raptada! — respondeu ela mostrando apenas a cabeça atrás da porta que fechou em seguida.

— Ah sim... — disse Stephen que logo tivera um assombro — O quê? Estamos em Aquathlan?!

Os Rangers Azul e Rosa teleportaram-se de volta ao barco e procuraram os morfadores nas suas respectivas mochilas.

— Tá aqui, célula e morfador. — disse Zoe que ficara a direita dele dentro da embarcação.

— Pronta? — indagou Tim recebendo um meneio positivo de cabeça dela — Hora de morfar!

— Tubarão Cobalto!

— Arraia Rósea!

O alerta na Central de Comando disparou alto é Karen prontamente rastreou o sinal de Fossogrim.

— E aí, Karen, qual é a bomba de hoje que Lokknon jogou em nós? — perguntou Dickerson acabando de chegar.

— Esta aqui. — disse a tecnóloga pondo na tela imagens de Fossogrim numa praia deserta carregando Loah sobre um ombro — Um dia da pesca, outro do pescador.

— Um monstro aquático em pleno dia em que Zoe e Tim estão de folga com o passeio mergulhador deles. Lokknon anda bem criativo.

De repente a imagem desapareceu da tela.

— Estranho, perdemos o sinal. — disse Karen, franzindo a testa e tentando recuperar — Percebeu ele sumindo? Mas não se teleportou.

— Ficou invisível, acha mesmo? Soa mais estranho um monstro baseado em peixes ter esse poder, mas vindo de Lokknon se espera até o mais absurdo. Chame os Rangers ou parte deles. — disse Dickerson, tomando seriedade.

Austin recebera o chamado de Karen e atendeu.

— Fala, Sr. Dickerson. A gente tá ocupado estudando, mas pode contar o problema. — disse ele sentado à mesa da sala de jantar entre Damian e Jessie.

— Lokknon lançou um peixe graúdo pra vocês pescarem, quase literalmente. Ele tem uma vítima sob custódia, a levava por uma praia que fica perto da região portuária da cidade. Se apressem pra evacuar a área antes que ele ataque.

— Mas o Tim e a Zoe estão fora de contato, tentei me comunicar com eles e nada.

— Aqui, Dickerson. Tim e Zoe restabeleceram seus sinais, acabaram de morfar.

— Ouvimos você, Karen. Já estamos indo. — disse Austin — Jessie, trouxe a célula e o morfador?

— Como spray de pimenta e batom numa bolsa feminina, não saio de casa sem. — respondeu ela mostrando.

Os três levantaram e ficaram alinhados com os braços esticados para encaixar as células abaixo dos morfadores. 

— Muito bem, é hora de morfar! — bradou Austin.

— Touro Ônix!

— Águia Flavescente!

— Leão Escarlate!

Fossogrim adentrou numa caverna praiana e seguiu uns bons metros. Largou Loah e removeu a rede.

— Por que me trouxe até aqui? Só pra me libertar?

— Quem disse que vou liberta-la? — falou o monstro criando na palma da mão uma bolha que cresceu ao ser lançada direto em Loah. A bolha a envolveu como uma prisão que flutuava — Essa bolha de ar vai acelerar seu processo de desidratação fora da água! Eu procurava pelo rei, mas os guardas me disseram que ele tinha uma filha e também falaram outras coisas, daí mudei meus planos e aqui está você prestes a morrer sem herdar a coroa! Quando eu voltar não quero vê-la respirando!

O monstro se foi a deixando aprisionada na bolha. Loah batia desesperada com as duas mãos, sua voz silenciada e o ar se esvaindo. Em paralelo, Tim corria por uma passarela no cais com um radar fornecido pelo rei Cardus.

— Esse radar funciona aqui fora? — perguntou Zoe.

— Tá perfeito. Mas a Loah parece estar muito longe. — disse Tim. Ambos foram contatados por Austin e pararam.

— Tim, Zoe, cadê vocês? Estamos indo pra zona portuária, o monstro do mar tá a caminho de lá!

— Beleza, Austin! Mas a Zoe vai sozinha daqui. Eu tenho uma missão de resgate a cumprir, fiz um juramento muito sério.

— É uma longa história, explicamos quando tudo acabar. — determinou Zoe — Tem certeza que dá conta sozinho?

— Deixa a Loah comigo, eu me viro. — respondeu Tim, firmemente.

— Vou nessa, boa sorte! — disse Zoe tocando-o no ombro e tornando a correr ao encontro dos demais. 

Na porto, Fossogrim lançava sua âncora destruindo mesas e cadeiras, aterrorizando cidadãos e turistas que corriam por toda parte. Derrubou uma pilha de barcos na água com um empurrão de ombro. Os Rangers chegavam.

— Vai parando aí, cara de peixe! — mandou Austin — O barco do Lokknon vai afundar quando acabarmos com você!

— E vocês serão arrastados juntos! — ameaçou Fossogrim que disparou um raio de sua antena cortando uma corda que segurava uma rede repleta de peixes que caía sobre os heróis — Gostam de peixe?

— Cuidado! — disse Austin que pulou para frente enquanto Damian e Jessie foram para os lados. A montanha de peixes caiu com impacto, os pescados se espalhando — Onde deixou a pessoa que sequestrou?

— Acham que vou revelar tamanho segredo? 

— Não, mas vamos te forçar a falar! — disse Jessie se posicionando para lutar.

— Afinal, dizem que o peixe morre pela boca. — complementou Damian. 

— Galera, cheguei! — disse Zoe juntando-se a eles — Foi cansativo correr até aqui. O Tim foi ao resgate da Loah.

— Quem é Loah? — indagou Jessie.

— A princesa do reino de Aquathlan, nós descobrimos uma cidade no fundo do mar semelhante a lenda da Atlântida!

— Caraca, sensacional! — disse Austin.

— Que descobriram nada, esse feito pertence a mim! — retrucou Fossogrim disparando novamente o raio que estourou faíscas frente aos Rangers os repelindo.

— Esse cara vai duro de engolir que nem espinha de peixe. Invocar armas! Punhos da Selva! — bradou Austin.

— Garras Raptoras!

— Marreta Avalanche!

— Ferrão de Arraia! 

Os Rangers foram ao ataque, um por vez, mas Fossogrim os repelia facilmente com sua âncora a manejando violentamente. Lançou-a de modo que envolveu os quatro para prende-los juntos.

— Estão acorrentados a minha âncora! Vocês foram fisgados!

— Será que não tem como separar essa coisa dele? — questionou Jessie.

— Talvez meu ferrão consiga cortar, mas ele não dá aberturas! — disse Zoe.

— Ele a movimenta rápido demais como um ioiô! — pontuou Damian.

Fossogrim canalizou uma energia que atravessou a corrente até atingir os Rangers como uma descarga elétrica. 

— Tim, cadê você? — perguntou Austin sofrendo a dor do choque compartilhada.

Tim alcançava a praia atento ao radar.

— É por aqui, sinto que tô quase lá.

— Eu diria que aqui é o seu fim da linha. — disse Aracna sobre uma rocha com as mãos na cintura — Acha que tem a manha de um cavaleiro salvando a princesa? Tenha dó.

— Aracna! Sai da minha frente, você sozinha não vai me impedir!

— Tem razão, não vou mesmo. Psycho-Bots, ataquem! — disse ela jogando as esferas que continham os soldados. Um pequeno exército caiu de pé prontos para lutar. Tim acionou suas barbatanas cortantes deixando o radar na areia. Chutava e cortava os soldados com vigor, mas levando uns golpes na barriga e nas costas também. Sacou sua pistola Z e atirou a esmo e em círculo neles para finaliza-los rapidamente. Cada robô atingido se despedaçava com faíscas. Porém, um tiro pegara no radar.

— Ah não! — disse Tim correndo para ver o dano que causou. O aparelho faiscava chamuscado — Não pode ser, meu radar já era!

— Ui, por isso dizem que a pressa é inimiga da perfeição. Sua princesa também já era. — disse Aracna que soltou uma risada maléfica, logo teleportando-se. Tim ficou em posição fetal quase chorando.

— Sou um idiota! Olha o que eu fiz... Não presto pra fazer promessas, desapontei o rei... 

— Tim... — ecoou uma voz familiar dentro da mente do Ranger Azul que se ergueu — Tim, me ouça, por favor!

— Loah?! É você? Tô te ouvindo na minha cabeça... ou tô delirando?

— Sou eu sim, os aquathlanianos se conectam psiquicamente àqueles com quem criam um vínculo afetivo muito forte. Assim aconteceu entre eu e você. Não resta muito tempo...

— Me diz onde você tá! 

— Vou te guiar mentalmente, tenha foco.

Se guiando pela voz da princesa, o Ranger Azul encontrara a caverna que servia de cárcere. Entrou depressa pisando em poças d'água. Ao dobrar para a direita, a viu presa na bolha.

— Loah! — disse ele sacando a pistola Z e disparando três lasers. A bolha estourara, libertando a princesa. Porém, estava inconsciente e com respiração fraca — Loah, fica comigo! O seu pai confiou em mim.

A tirou da caverna segurando nos braços, depois deitando-a na areia. Loah estava pálida e ressecada, mal tendo pulso.

— Essa não... Por isso não ouvi mais sua voz no meio do caminho. Não posso te levar morta de volta pro rei... — disse ele com tom choroso — Peraí... basta eu te dar um pouco de água e você recupera sua força. — olhou em volta, achando uma garrafinha plástica largada — Ótimo! 

Pegou a garrafa e correu até o mar enchendo-a com um pouco de água através da maré. Retornou à ela, se ajoelhando e a segurando pela cabeça.

— Mas desse jeito você não consegue beber... Então me resta uma opção. — determinou ele, logo retirando o capacete. Se encorajou e tomou um pouco da água marítima, mantendo na boca.

Inclinou-se para beija-la transferindo a água da sua boca para a dela. Loah recobrava os movimentos e a consciência, tossindo ao acordar revitalizada. Tim sorriu para ela, aliviado.

— Tim... É você... Obrigada, eu te amo. — disse ela que o abraçou.

— Disse... que me ama? — falou ele incrédulo, enrubescendo com expressão boba.

— Você fez por mim o que nenhum garoto aquathlaniano faria.

— Eu te salvaria mais outras mil vezes. Só tem uma coisa que eu não faria de novo... — disse Tim, um desconforto na face — E é beber água do mar. Nossa, que horror, muito salgada! — cuspiu várias vezes fazendo Loah rir.

No porto, os Rangers sofriam sendo eletrocutados ao estarem presos à corrente de Fossogrim. Karen antevia uma consequência.

— Se continuarem levando essa descarga por mais dois minutos, irão desmorfar. Acima de 220 volts, só o uniforme os protege!

Triunfante, Tim chegava ao socorro dos amigos saltando com suas barbatanas cortantes. Partiu a corrente, liberando os demais da tortura elétrica. Loah observava escondida em barris.

— O tubarão aqui vai te transformar em sushi! — disse Tim, agarrando a corrente, logo a cortando à medida que se aproximava de Fossogrim. Ao chegar perto, desferiu cortes danificando o traje de mergulho do monstro, bem como o tanque de oxigênio atrás dele.

— O meu ar! Você destruiu minha fonte de ar! Não consigo respirar...

— A fraqueza dele era... o cilindro de oxigênio?! — disse Zoe.

— Prova do seu veneno, peixe podre! — insultou Tim.

— Yeah, mandou super bem, Tim! — disse Austin vindo até ele com os outros — Cadê a Loah? Salvou ela?

— Ela tá logo ali. — apontou Tim para a princesa que acenou para eles — Lindona ela, né? — elogiou fazendo sinal de OK.

— Loah, que bom que está salva! — disse Zoe.

— Hora de formarmos o Abatedor Selvagem! — bradou Austin. O quinteto fundira suas armas, moldando o canhão duplo que seguraram — Alvo travado... Disparar! 

O laser duplo atravessou Fossogrim fatalmente, fazendo-o tombar e explodir. A fúria de Lokknon se evocou.

— Laser regenerador, Barooma, agora! 

— Positivo e operante! — disse o subalterno batendo no botão vermelho que disparou o raio retilíneo. Fossogrim retornava gigantesco, sua âncora intacta.

— Como é bom voltar a respirar bem! 

— Precisamos do poder Megazord agora! — disseram os Rangers. Os zords saíram dos hangares direto à zona portuária. Os heróis saltaram para adentrar nos cockpits.

— Aí, Zoe, que tal uma surra em dose dupla contra o peixão? 

— Eu topo! 

Os zords tubarão e arraia emergiram mantendo a velocidade.

— Torpedos Náuticos!

— Arpões Caçadores!

Os torpedos atingiram em cheio Fossogrim que tentou se equilibrar para não cair. Já os seis arpões o prenderam e o puxaram contra uma rocha após o zord mover para trás. 

— Chave de comando, ativar! — disse Austin girando a chave — Iniciar sequência Megazord!

Os zords ligaram-se uns aos outros formando o robô gigante que se manteve de pé numa rocha. Fossogrim lançara sua âncora agarrando o braço esquerdo do Megazord, consequentemente enviando sua eletricidade. O cockpit chacoalhava com raios e faíscas, atordoando os heróis.

— Aquele choque de novo, não! — reclamou Jessie.

— Arraia Rósea não responde aos controles! — disse Zoe, aflita.

— Vem pro papai. — disse Fossogrim puxando o robô.

— Sabre Selvagem! — bradou Austin.

A espada caiu na mão direita do Megazord, logo cortando a corrente. 

— Minha âncora outra vez quebrada! Malditos!

— Será que o Lokknon gosta de um peixe frito? — indagou Tim.

— Insígnia Feroz! — disseram em uníssono, o robô formando o círculo em sentido horário com a espada — Partir! — o corte diagonal fora realizado com maestria, derrubando Fossogrim que explodiu desastrosamente. Loah os aplaudia no cais, fascinada.

Na nave de Lokknon ocorria uma situação inusitada como castigo a Barooma.

— Mestre, tem certeza de que esse é o castigo mais adequado para Barooma neste momento? — indagou Mudok.

— Não pensei em nada que viesse a casar melhor com a ocasião. Veremos quanto tempo resiste, Barooma. — disse o imperador, rindo do sofrimento do subalterno que possuía um aquário preso a cabeça.

— Quer que eu ponha uns peixinhos pra te fazer companhia? — perguntou Aracna falsamente compadecida. Barooma rosnou com menção de ataca-la, as bolhas abafando sua voz.

***

Em meio ao pôr-do-sol, era chegada a hora de se despedir de Loah. Tim e a princesa estavam na praia para uma última conversa. 

— Eu bem que gostaria de ficar mais um pouco... Horas, talvez dias, conhecer a cultura da superfície... Se eu pudesse, te levaria comigo.

— Pra viver com você... tipo, pra sempre?

— Em nossa cultura, os filhos da realeza devem obrigatoriamente se casar no início da adolescência com a liberdade de escolher um pretendente.

— E... eu seria o seu escolhido?

— Sem pensar duas vezes. Mas não posso te forçar, você tem um propósito muito maior aqui. Tem sua família, seus amigos... Não podemos conviver em mundos tão opostos.

— Então isso é um adeus. Adorei te conhecer, Loah, é a garota mais gentil e doce que já vi.

— Não desanime, pode visitar Aquathlan quando quiser, traga seus amigos também. — disse Loah tocando-o nos ombros — O reino tem uma dívida de gratidão com você, Tim. É o meu herói. — o beijou na bochecha. Os Rangers se entreolhavam com expressões brincalhonas.

Soldados de Aquathlan vinham trazendo Stephen que abriu os braços para Zoe.

— Tio! — gritou ela, contente. Ambos se abraçaram forte — Loah, amei conhecer você e todo o reino. Sentiremos saudades, acredite.

— Adeus, Zoe, cuide bem do Tim por mim. — disse Loah que caminhou aos guardas.

— Princesa, hora de irmos. — disse um deles. Loah acenou se despedindo sorridente e fora com sua escolta até o mar onde se envolveram numa bolha e submergiram.

— O que ela quis dizer com você cuidar do Tim, Zoe? — perguntou Jessie.

— Espero que não seja o que estou pensando.

— Eu também. — disse Tim — Ela foi a melhor que conheci, a garota da minha vida.

— Mas e a Cindy? — indagou Damian — Ela não era sua deusa grega?

— Se a Loah ficasse, a Cindy estaria em segundo lugar. Mas como a realidade é outra... Ela volta a ser minha deusa.

— Ai, você não aprende. — disse Jessie.

— Crianças, pra comemorarmos essa incrível descoberta sobre Aquathlan, que tal jantarmos uns frutos do mar? — propôs Stephen — Por minha conta.

— Falou e disse. — disse Austin — Mas nada de camarão pra Zoe.

— Ah, vão pedir só pra eu passar vontade, né? — disse a Ranger Rosa andando com os Rangers para sair da praia. Tim parou para olhar o mar, lembrando das palavras de Loah. Olhou o pingente turquesa em forma de gota que ela lhe presenteou como lembrança e sorriu satisfeito, esperançoso de um dia se reencontrarem.

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