Nos últimos dias, Jacob e eu tínhamos nos aproximado mais do que eu esperava. Nossos passeios matinais eram quase uma rotina agora, algo que eu passara a aguardar com um misto de expectativa e conforto. Já fazia um mês que eu estava em Quilay, e essa permanência prolongada começava a complicar a minha relação com Hummam. Sabia que uma decisão precisaria ser tomada em breve. De acordo com os planos, partiríamos para Hummam no dia seguinte, mas antes disso, eu devia a Jacob uma resposta.

Durante um dos nossos passeios, ele me pediu que lhe desse uma chance, uma oportunidade de conhecê-lo melhor. Se, após esse tempo, eu ainda não quisesse me casar com ele, ele prometeu respeitar minha decisão e garantir minha proteção em Hummam. Disse até que nunca mais me procuraria. A proposta parecia justa, e os dias que passamos juntos foram confortáveis, quase agradáveis. Não me sentia mais desconfortável em sua presença; na verdade, percebi que aceitar Jacob como meu marido talvez não fosse o sacrifício que imaginei. Se eu me tornasse rainha de Quilay, teria o poder necessário para enfrentar Irina quando ela assumisse o trono em Hummam. Essa ideia começou a parecer... viável.

Naquela manhã, Jacob e eu faríamos um passeio pelos povoados de Quilay. Claire estava em meu quarto, ajudando-me a vestir as roupas que ela havia escolhido. O vestido que ela me deu era um esplendor de vermelho, rico em detalhes que mostravam a realeza. O tecido era macio e pesado, caindo em ondas ao redor de meus pés. A tiara em minha cabeça era adornada com pedras lapidadas em forma de lobos, o símbolo da linhagem de Quilay. Eu olhei para meu reflexo no espelho, surpresa com o quão diferente eu parecia — uma verdadeira rainha, se é que eu sabia o que isso realmente significava.

— Por que sempre me veste de vermelho, Claire? — perguntei, enquanto ajustava a tiara. A curiosidade cresceu em mim, uma chama que eu não conseguia apagar.

Claire sorriu suavemente, um brilho de algo indefinível nos olhos.

— Além de ser a cor favorita do Rei, a futura rainha sempre veste vermelho antes de se casar.

Eu retribuí o sorriso, sentindo uma mistura de nervosismo e curiosidade. Ela estava me preparando para algo maior do que eu havia imaginado. Juntas, saímos do quarto, caminhando pelos corredores antigos do castelo. Enquanto andávamos, Claire me dava instruções de como me comportar diante do Rei, mas meus pensamentos estavam longe, vagando por possibilidades e escolhas que pareciam mais reais a cada dia.

— Claire... — comecei, hesitando um pouco. — Na noite da festa, seria possível me apresentar ao Rei com a dança das espadas?

Ela parou e me olhou surpresa, um brilho de satisfação se acendendo em seus olhos.

— Todos ficariam encantados, Nessie. — Ela sorriu, um sorriso verdadeiro, e continuou: — Providenciarei sua roupa e a arma para a noite.

— Obrigada, Claire — respondi, sentindo uma onda de gratidão. 

Nos despedimos quando avistamos Jacob nos esperando do lado de fora, com dois cavalos ao seu lado. A visão dele, vestido em seus trajes reais, fez meu coração disparar. Ele parecia completamente em seu elemento, confiante e forte, algo que eu tinha aprendido a admirar.

Quando me aproximei, reverenciei-o de maneira respeitosa, como Claire havia me ensinado. Jacob me observou com um olhar de apreciação antes de se voltar para o cavalo que estava ao seu lado.

— Este é Apollo — ele disse, sua voz suave, mas firme. — Um presente para você.

Eu toquei o animal com cuidado, e para minha surpresa, o cavalo abaixou-se ligeiramente, facilitando que eu montasse.

— Quem é ele, Seth? — perguntei, rindo com a ideia de que o cavalo poderia ser o príncipe transformado. 

Jacob sorriu levemente, mas logo disfarçou.

— Acho que Apollo se sentiu ofendido — respondeu ele com um toque de humor.

Eu ri, surpresa pela leveza da nossa interação. Montei em Apollo com facilidade, sentindo-me conectada ao animal de uma forma que não esperava. Jacob subiu em seu cavalo ao meu lado, e juntos, partimos em direção aos povoados de Quilay.

Enquanto cavalgávamos lado a lado, um sentimento de tranquilidade tomou conta de mim. Havia algo quase natural em estar ali com Jacob, em compartilhar esses momentos simples e genuínos. Talvez, apenas talvez, aceitar esse caminho não fosse tão ruim. E, se eu tivesse o poder de proteger Bella, então talvez fosse o destino certo para mim.

A noite havia chegado, e meu coração batia descompassado. Eu estava nervosa, sentindo a pressão de cada decisão que tomara nos últimos dias. Aquela seria a noite em que daria minha resposta a Jacob, diante de toda a corte. O salão estava decorado com luxo e esplendor, cada detalhe refletindo a grandiosidade daquele momento. Eu sabia que todas as atenções estariam voltadas para mim, para a escolha que prestes a fazer.

Claire estava ao meu lado, sua expressão séria enquanto ajustava o véu que cobria meu rosto. Era um tecido delicado, mas pesado com o significado que carregava. 

— Confio em você, Renesmee — Claire murmurou, seus olhos fixos nos meus. — Espero que não cometa uma imprudência.

Sorri para ela, apesar da ansiedade que crescia dentro de mim. 

— Não vou decepcioná-la — sussurrei de volta, tentando passar uma confiança que não sentia completamente. Suspirei, respirando fundo para acalmar meus nervos.

Claire me deu um aceno firme e, em seguida, se afastou, entrando no salão ao lado dos guerreiros lendários, aqueles que se transformavam em lobos. Eu sabia que cada movimento meu seria observado com atenção, cada gesto analisado pelos olhos críticos da corte e, mais importante, por Jacob.

Minutos depois, Claire sinalizou para que todas nós entrássemos. Eu estava no centro do grupo, destacada pela cor vermelha que vestia. Era a única dançarina vestida dessa cor, seguindo as tradições que Claire havia explicado. O vermelho significava muitas coisas — poder, paixão, e também, a proximidade com o Rei. Era uma afirmação pública de quem eu estava me tornando.

A música começou, um ritmo hipnotizante que preenchia o salão, e nós começamos a dançar. Eu me movia com precisão, cada passo calculado, a espada em minhas mãos brilhando sob a luz das tochas. Mas meus olhos estavam fixos em Jacob. Eu podia sentir sua presença, como uma força que me atraía, e isso me deu a coragem que eu precisava para continuar.

Enquanto girava e cortava o ar com minha espada, ouvi murmúrios ao redor do salão. Elogios à minha beleza e à sensualidade de meus movimentos se espalhavam pela corte. Por mais que eu tentasse me concentrar, meu coração acelerava a cada passo, a cada movimento em direção ao fim da dança. 

Finalmente, a música chegou ao fim, e nós, dançarinas, nos curvamos em direção ao Rei. Jacob se levantou de seu trono, sua presença imponente dominando o ambiente. Ele sinalizou para que eu me aproximasse, e com o coração na boca, fiz o que ele ordenou. Caminhei até ele, sentindo o peso do olhar de todos sobre mim. Quando cheguei ao seu lado, me ajoelhei, reverenciando-o.

— Sim, eu aceito — minha voz saiu firme, apesar da tempestade de emoções dentro de mim. — Aceito ser sua rainha.

Por um momento, o salão ficou em silêncio, o tempo parecia ter parado. Então, vi o brilho nos olhos de Jacob, algo que eu nunca tinha visto antes. Um misto de satisfação, alívio, e talvez até felicidade. 

Toda a corte explodiu em comemorações, gritos e aplausos preenchendo o salão. Eu podia sentir a alegria e a aprovação ao meu redor, mas o que mais me surpreendeu foi a sensação que crescia dentro de mim. Eu não entendia completamente, mas havia uma centelha de felicidade em meu coração também, uma aceitação que eu não havia esperado.

Enquanto eu permanecia ajoelhada, Jacob estendeu a mão, e eu a tomei, permitindo que ele me levantasse. Senti a força e o calor de seu toque, e algo dentro de mim se acalmou. Talvez, apenas talvez, eu estivesse pronta para enfrentar esse novo destino, ao lado de Jacob, como sua rainha.

Na manhã que se seguiu nos partimos para Hummam para finalmente concretizar o meu destino.